sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Dilma percebeu que a mídia tem lado e não é o do trabalhador

 

Foto: Carla Santos

"A presidenta Dilma percebeu que a mídia tem lado e não é o lado dos trabalhadoras e trabalhadores que produzem a riqueza desse país", declarou Laurindo Leal Filho pesquisador e apresentador do programaVerTV, da TV Brasil, ao comentar suas últimas declarações da presidenta sobre o papel da mídia no Brasil. 

Joanne Mota, da Rádio Vermelho


A opinião de Laurindo Leal Filho parte do último discurso de Dilma Rousseff durante a abertura da primeira reunião ministerial do seu segundo mandato, realizada nesta terça-feira (27). Dentre as ponderações da mandatária ficou o aviso: “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação, sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente... Reajam aos boatos. Travem a batalha da comunicação”.


Laurindo Leal lembra que, a postura da presidenta Dilma sobre a mídia, apresentada no final do seu primeiro mandato, já mostrou um avanço de percepção sobre qual o papel deste setor no seio da sociedade. Ele pondera que "esse processo que ela [Dilma Rousseff] sofreu fez com que ela começasse a ter um percepção um pouco mais apurada sobre o papel da mídia na sociedade brasileira. Diferentemente, do início de seu mandato, Dilma encerra essas quarto anos falando em regulamentação econômica da mídia, o que foi, sem dúvida alguma, um grande avanço. E foi além, ao se dirigir aos seus ministros pedindo que ele respondam às inverdades que são colocadas, diariamente, pela mídia sobre seu governo", refletiu pesquisador.

Para ele, esse movimento deveria inspirar um salto em dois sentidos. Primeiro, o fortalecimento dos movimentos sociais que estão na luta para emplacar um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para um Comuncacção Democrática (PlipCom). E, segundo, iniciar um outro movimento de fortalecimento, por parte do governo, dos veículos de comunicação pública existentes no Brasil.

Ministério das Comunicações

Ao comentar a indicação de Ricardo Berzoini para o Ministério das Comunicações, Laurindo Leal destacou ser essa um escolha acertada. "A trajetória do ministro Ricardo Berzoini no partido e no movimento sindical indica uma direção muita mais afinada com interesses maiores, da sociedade, dos trabalhadores e da democracia".

E completou: "Em suas primeiras declarações, o ministro já demonstrou que está disposto a avançar, pelo menos, na proposição de uma nova legislação para a comunicação, especialmente, no que se refere a regulação econômica".


Acompanhe na Rádio Vermelho íntegra da entrevista...

A Globo não ataca o Governo, ataca o Estado nacional

 O noticiário da Globo é tendencioso. Ninguém que seja medianamente informado pensará diferente. Entretanto, não sei se as vítimas desse noticiário perceberam que no afã de denegrir o Governo, o que está perfeitamente dentro de suas prerrogativas de imprensa livre, a Tevê Globo, sobretudo nas pessoas dos comentaristas William Wack e Carlos Sardenberg, passaram a atacar o Estado brasileiro, o que sugere crime de lesa-pátria.

Por J. Carlos de Assis*

O Jornal da Globo de terça-feira (27), ultrapassou todos os limites da manipulação no sentido de execrar com a Petrobras através de uma análise distorcida de fatos e estatísticas. Os dois comentaristas tomaram por base valor de mercado, comparando-o com dívidas, para sugerir que a empresa está quebrada. É puro charlatanismo, economia de botequim, violação das mais elementares regras de jornalismo sério.

Valor de mercado não mede valor de empresa; é simplesmente um indicador de solvência de ações num dia no ambiente ultra-especulativo de bolsas de valores. O que mede o valor real de uma empresa é seu patrimônio comparado com seu endividamento. As dívidas que a Petrobras contraiu para suas atividades produtivas, notadamente do pré-sal, são muitíssimo inferiores a seu patrimônio, no qual se incluem bilhões de barris medidos de óleo do pré-sal.

Evidentemente que os dois comentaristas da Globo torcem para que o petróleo fique por tempo indefinido abaixo dos 45 dólares para inviabilizar o pré-sal brasileiro. Esqueçam isso. É uma idiotice imaginar que a baixa do petróleo durará eternamente: a própria imprensa norte-americana deu conta de que os poços em desenvolvimento do óleo e do gás de xisto, os vilões dos preços baixos, tem um tempo de vida muito inferior ao que se pensava antes.

É claro que o preço baixo do petróleo tem um forte componente geopolítico a fim de debilitar, de uma tacada, a economia russa, a economia venezuelana e a economia iraniana – e muito especialmente a primeira. Mas o fato é que atinge também empresas americanas que entraram de cabeça no xisto, assim como países “aliados” que produzem petróleo. No caso do pré-sal, ele só se tornaria inviável no mercado internacional com o barril abaixo de 45 dólares.

Os ataques dos dois comentaristas da Globo à Petrobras têm endereço certo: é parte de uma campanha contra o modelo de partilha de produção do pré-sal sob controle único da Petrobras, contra a política de conteúdo nacional nas encomendas da empresa e contra a contratação das grandes construtoras brasileiras para os serviços de construção de plataformas e outras obras civis, principalmente de refinarias.

Esses três pontos foram assinalados no discurso de Dilma como inegociáveis. É uma decisão de Estado, não apenas de Governo. Sintomaticamente, os dois comentaristas da Globo sequer mencionaram esses pontos. Preferiram dar destaque maior ao noticiário pingado da Lava Jato, que, cá pra nós, já está ficando chato na medida em que não tem nada realmente novo, mas simples repetição à exaustão de denúncias anteriores.

P.S. Talvez os dois comentaristas teriam maior simpatia pela Petrobras se parassem para dar uma olhada nos anúncios televisivos sobre a performance vitoriosa da empresa, e que ela está pagando para serem exibidos na Globo, para mim de forma absurda e injustificável.

Leia Notas Vermelhas sobre o tema.

*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.


Fonte: Vermelho

O Globo, a Petrobras e o novo golpe

 

Como alerta o editorial do Vermelho, na declaração do senador tucano José Serra pode estar a senha para a tentativa dos derrotados nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014, buscarem afinal um ajuste de contas com o campo popular.  


 
Diz Serra que Dilma provavelmente não termina o mandato e que o país vive clima parecido com o que antecedeu à queda de João Goulart. O mesmo jornal que divulgou a declaração do tucano faz hoje uma edição que busca desestabilizar o Governo, através da fraude e da manipulação.

O Globo e o “balanço da corrupção”

O sistema Globo é conhecido por sua “técnica” de manipulação que tenta ajustar os fatos aos seus interesses políticos. O jornal O Globo de hoje é um exemplo. A Petrobras divulgou quarta-feira (28/1) o balanço financeiro do terceiro trimestre de 2014. Exigiam da empresa que ela incluísse no balanço “os prejuízos com a corrupção”, como escreveu um colunista amestrado da nossa mídia hegemônica. Qualquer leigo pode perguntar com razão, como incluir um possível prejuízo de corrupção em uma investigação que está em curso, é complexa, e ainda nem foi levada a julgamento? Só existirão números mais ou menos claros ao final do processo. Mas O Globo já divulgou o seu “Balanço da Corrupção”: nada menos do que R$ 88 bilhões.

O Globo e o falso “balanço”

O próprio Ministério Público Federal (MPF) tão afeito às luzes das câmaras globais, divulgou nesta quinta-feira (29/1) um estudo onde estima as perdas com corrupção na Petrobras em 2,1 bilhão. Número gigantesco também, mas como qualquer número de uma investigação que está em andamento, ainda necessitando passar pelo crivo do julgamento e da produção de provas. De qualquer maneira, muito menos do que o “balanço” de O Globo.

O Globo e o número mágico

A Petrobras decidiu que não publicaria qualquer número sobre perdas com corrupção até que seja formatada uma “metodologia que tome por base valores, prazos e informações contidos nos depoimentos em conformidade com as exigências dos órgãos reguladores (CVM e SEC), visando a emissão das demonstrações contábeis revisadas” (nota da presidência da Petrobras). No entanto, pressionada, fez um relatório com diferenças contábeis na avaliação de ativos onde diversos elementos são considerados: variações do câmbio, preço do petróleo, ajustes de projetos, etc, e aí surgiu o número mágico de R$ 88 Bilhões de reais, divulgado pela empresa com a ressalva: “decidimos não utilizar a metodologia da determinação do valor justo como ‘proxy’ para ajustar os ativos imobilizados da Companhia devido à corrupção, pois o ajuste seria composto de elementos que não teriam relação direta com pagamentos indevidos” (nota da presidência da Petrobras).

O Globo e o gancho

A ingenuidade política da direção da Petrobras, ao ceder a uma pressão descabida que exigia a divulgação de uma estimativa mesmo que ela não tivesse “relação direta com pagamentos indevidos”, deu o “gancho” que a Globo queria. Na edição desta quinta-feira (29/1), o jornal que foi símbolo da ditadura militar estampa em letras garrafais na primeira página: “Balanço da Corrupção – Petrobras põe R$ 88 bi sob suspeita, e ações caem 11%". Esqueça, no caso o “sob suspeita”, o que fica para o leitor são os dois elementos mais fortes: a palavra “corrupção” e o número “R$ 88 Bi”. A junção destes dois elementos forma como que um veredito na cabeça do leitor, reforçado pelos colunistas amestrados com chamadas também na primeira página: Merval Pereira: “Balanço da Petrobras desmente Dilma”. Carlos Alberto Sardenberg: “Estatal torra R$ 2,7 bi em projetos”. Míriam Leitão: “Crise na empresa é herança nociva do PT”. O veredito está fechado: mesmo com o principal acusado de coordenar o esquema de corrupção tendo sido nomeado por FHC e ter sido demitido por Dilma em 2012, a culpa é do PT e da Dilma. Mesmo que a Petrobras tenha crescido indiscutivelmente nestes 12 anos tendo descoberto o pré-sal e mesmo que o balanço em questão traga também boas notícias: aumento na produção de petróleo e gás, aumento na exportação de óleo, maior produção de derivados, o que o sistema Globo e a mídia hegemônica passam é que a Petrobras está destruída. Tudo a serviço de um clima, como diz Serra, que se pareça com 1964.

Colabore com o Notas Vermelhas: envie sua sugestão de nota ou tema para o email wevergton@vermelho.org.br


Fonte: Vermelho

Governos Lula e Dilma transformaram o mercado de trabalho

Tendo como eixo o desenvolvimento social, os governo de Lula e Dilma promoveram resultados extraordinários do emprego e na renda
Tendo como eixo o desenvolvimento social, os governo de Lula e Dilma
 promoveram resultados extraordinários do emprego e na renda

Dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (29) revelam a evolução do mercado de trabalho brasileiro de 2003 a 2014. O país fechou o ano com a menor taxa média de desemprego da história pelo quinto ano consecutivo, com 4,8% em 2014, sendo que em 2013, o índice médio de desocupação foi de 5,4%.




Quando comparamos esse mesmo índice com a taxa de 2003 - que era de 12,5% - é possível dimensionar o tamanho da evolução garantida ao longo de 12 anos dos governos de Lula e Dilma, com apoio das forças progressistas.

O percentual médio de trabalhadores com carteira de trabalho assinada no setor privado em relação à população ocupada passou de 50,3% (11,6 milhões) em 2013, para 50,8% (11,7 milhões) em 2014. Em 2003 essa proporção era de 39,7% (7,3 milhões). Em 12 anos esse contingente cresceu 59,6% (ou mais 4,4 milhões).

Em dezembro de 2014, havia 11,807 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado, apresentando estabilidade no mês e no ano.

A ação estratégica desses governos, tendo como eixo o desenvolvimento social, promoveu resultados extraordinários. O profundo processo de inclusão social, valorização da renda, com o aumento real do salário mínimo (74%) e a geração de mais 20 milhões de empregos promoveram a ascensão em todas as camadas da sociedade, mas principalmente daqueles que ganhavam menos.

Segundo o IBGE, todos os grupamentos de atividade econômica apresentaram ganhos no poder de compra do rendimento do trabalho. Mas os grupamentos com os maiores aumentos percentuais foram aqueles com os menores rendimentos.

A aprovação da Lei das Domésticas, por exemplo, teve impacto direto na renda desses profissionais, sendo o grupamento com maior aumento registrado de 2003 a 2014, com 69,9%. Ainda em relação a 2003, outro destaque foi a construção, composto em sua maioria por pedreiros, com ganho de 58,7%.

Em 2014, o rendimento médio real domiciliar per capita (R$1.425,63) aumentou 2,4% em relação a 2013 e 49,6% comparado a 2003. Esse processo de ascensão social contribuiu para o fortalecimento do mercado interno, estimulou investimentos e gerou mais empregos.

A frase do então presidente Lula, em 2008, de que a crise financeira internacional para o Brasil seria uma marola, já havia se revelado fato naquele período e, agora, os números reforçam a afirmação. A despeito dos pessimistas de plantão, o país manteve o emprego e a renda e, enquanto boa parte do mundo desempregava e reduzia salários e direitos – o que continua a acontecer -, o Brasil registrou a menor taxa de desemprego da sua história.

Estados

Especificamente no ano de 2014, os números também confirmam o que dizia a presidenta Dilma durante toda a campanha eleitoral, a contragostos dos pessimistas e gurus econômicos do sistema financeiro. O país estava enfrentando a crise com emprego e aumento da renda. As cidades com maior redução do desemprego em 2014 foram as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, com 23,4%; São Paulo, com 16,5% e Belo Horizonte, com 12,5%.

O salário médio das pessoas ocupadas também cresceu em 2014, chegando a R$ 2.104, 16. Um aumento de 2,7% em comparação com 2013. Quando comparado com o rendimento médio recebido em 2003, depois de 8 anos de recessão e arrocho do governo FHC, o crescimento chega a 33,1%.

Desafios a vencer

A pesquisa também fez um recorte por gênero e raça, apontando os desafios que ainda temos que vencer. O nível da ocupação da população economicamente ativa alcançou 53,3%, um aumento de 3,2%, comparada a 2003. Entre as mulheres, o nível de ocupação é de 45,4%, ainda inferior aos dos homens, que é de 62,6%.

No entanto, em relação a 2003, o crescimento entre as mulheres foi superior ao dos homens. Já entre os jovens entre 18 e 24 anos aumentou o nível da ocupação, subindo de 53,8% para 57,2% e da população de cor preta ou parda de 48,5% para 53,0%.•.
O desequilíbrio entre os salários pagos a homens e a mulheres diminuiu, mas elas seguem ganham menos. No ano passado, a média salarial das mulheres correspondia a 74,2% do pago aos homens. A proporção era de 73,6% em 2013 e de 70,8% em 2003.

Desigualdade racial

O rendimento médio da população negra no Brasil cresceu 56,3% nos últimos 12 anos, em comparação com a branca, que cresceu 30,4% no período. Mas as distorções também aparecem quando comparados os rendimentos médios entre brancos e negros (pretos e pardos). Em 2014, trabalhadores de cor preta ou parda ganham, em média, 58% do que era pago aos de cor branca, segundo o IBGE. Em 2013, essa diferença era de 57,4%.

Escolaridade aumentou

A faixa da população com 11 anos ou mais de estudo cresceu de 48,5% para 49,9%, nos últimos dois anos. Em 2003, essa fatia era de 34,3%. No mesmo sentido, o número de trabalhadores com esse nível de escolaridade subiu de 46,7% em 2003 para 65,4 % em 2014. A média de empregados que concluíram o ensino superior passou de 13,8%, em 2003, para 21,3% no ano passado.

Leia também:Desemprego fecha 2014 com a menor taxa desde 2003

Da redação do Portal Vermelho
Com informações de agências

Reforma Política emperrada: PEDIDO DE VISTA DE GILMAR COMPLETA 300 DIAS

Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), emperra desde abril do ano passado a ação que pede o fim de doações de empresas para campanhas; ele pediu vista do julgamento quando contava com 6 votos a favor e um contra; recentemente, ele afirmou que a tese de que a corrupção existe por conta do financiamento das empresas privadas é um "discurso fácil"; "O partido que desenhou essa proposta (o PT) queria o financiamento público e o voto em lista. A minha objeção é que nós temos de discutir o sistema eleitoral para saber qual é o modelo de financiamento. E não discutir o modelo de financiamento para definir o sistema eleitoral"

247 – O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), emperra há mais de 300 dias a ação que pede o fim de doações de empresas para campanhas. O magistrado pediu vista do julgamento, iniciado no dia 2 de abril de 2014, quando contava com 6 votos a favor e um contra.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650), movida pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados no Brasil (OAB), pede mudanças nas Leis 9.096/1995 e 9.504/1997, que disciplinam o financiamento de partidos políticos e campanhas eleitorais.
O ministro sinaliza não ter pressa para dar continuidade ao debate. Em entrevista à revista Istoé, no mês de dezembro, ele afirmou que a tese de que a corrupção existe por conta do financiamento das empresas privadas é um "discurso fácil". "O partido que desenhou essa proposta (o PT) queria o financiamento público e o voto em lista. A minha objeção é que nós temos de discutir o sistema eleitoral para saber qual é o modelo de financiamento. E não discutir o modelo de financiamento para definir o sistema eleitoral", defende.
Nos últimos anos, o custo das campanhas eleitorais dispararam. Ao mesmo tempo, o número de doadores privados está cada vez mais concentrado entre grandes grupos econômicos, responsáveis pela pesada maioria da oferta de dinheiro a partidos políticos e seus candidatos. Pode-se, inclusive, fazer doação oculta, com a omissão de identificação. Além disso, na prática ocorre o caixa 2, com doações não contabilizadas.
Fonte:Brasil 247

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Dilma defende criação de fórum econômico e fim do bloqueio a Cuba

Na Celac, Dilma defende união para enfrentar desafios da economia e retomar o crescimento. Foto oficial da 3ª edição da Celac.
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR.
Na Celac, Dilma defende união para enfrentar desafios da economia e retomar o crescimento. Foto oficial da 3ª edição da Celac.

Ao discursar em sessão plenária da Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nesta quarta-feira (28), na Costa Rica, a presidenta Dilma Rousseff comemorou a reaproximação das relações entre os EUA e Cuba e defendeu o fim do bloqueio econômico do país norte-americano à ilha. Dilma apresentou ainda a proposta de criação de um fórum composto por empresários dos países-membros para enfrentar a crise economia internacional e retomar um crescimento “robusto”.


Ao iniciar sua fala, Dilma elogiou a “coragem" e "responsabilidade histórica" dos presidentes Barack Obama e Raul Castro pelo passo dado. Para ela, com o gesto, “começa a se retirar da cena latino-americana e caribenha o último resquício da Guerra Fria em nossa região”.

"Não podemos esquecer, todavia, de que o embargo econômico, financeiro e comercial dos EUA a Cuba, ainda continua em vigor. Essa medida coercitiva, sem amparo no direito internacional, que afeta o bem-estar do povo cubano e prejudica o desenvolvimento do país, deve, tenho certeza, do ponto de vista de todos países aqui representados, ser superada", declarou. Há exatamente um ano, e em outras ocasiões antes da normalização das relações, a presidenta havia se manifestado no mesmo sentido.

Dilma ressaltou ainda a "importante contribuição" do papa Francisco no restabelecimento das relações entre Cuba e EUA. O anúncio da normalização das relações entre os dois países é um dos temas que serão discutidos na cúpula, ao lado da aproximação do bloco com a China, que prometeu duplicar o intercâmbio comercial com a região e investir US$ 250 bilhões na próxima década.

Dizendo-se consciente de que a recuperação da economia mundial não ocorre com a força esperada, a presidenta declarou que a situação de baixo crescimento, queda no preço das commoditties e apreciação do dólar vai exigir "cautela e esforço" dos países da América Latina e do Caribe para estimular a competitividade na região.

Na opinião de Dilma, alguns subsídios "distorcem o comércio internacional" e as reações provocam "escaladas tarifárias" que dificultam as exportações de países em desenvolvimento. "Diante desse quadro torna-se urgente nossa cooperação, priorizando o comércio intrarregional e, ao mesmo tempo, sempre que possível, estimulando o desenvolvimento e a integração de nossas cadeiras produtivas", defendeu.

Após citar fóruns da comunidade com a China e com a União Europeia e pregar que a integração começa prioritariamente pelos vizinhos, a presidenta propôs a constituição de um fórum de empresários da Celac com a participação dos governos e das empresas. “Gostaria de propor um Fórum de Empresários da Celac com a participação dos governos e das empresas. Seu objetivo será desenvolver o comércio, aproveitando as oportunidades diversificadas que nossas economias oferecem e estimular a integração produtiva no espaço Celac, promovendo nossas relações com o resto do mundo. O Brasil valoriza o papel da Celac como área de cooperação e de acordo e esse será mais um passo nessa valorização”, afirmou a presidenta.

Indicadores sociais
Durante o discurso, Dilma citou avanços alcançados pelo Brasil e outros países da região para reduzir as desigualdades sociais. Ela ressaltou os índices obtidos pelo Brasil no combate à insegurança alimentar, por exemplo, o que tirou o país do Mapa da Fome da FAO. Ela também citou os esforços do governo para garantir a retirada de 22 milhões de pessoas da extrema pobreza somente nos últimos quatro anos. “Estamos resgatando os brasileiros da extrema pobreza e criando novas oportunidades para que progridam e melhorem continuamente de vida”, afirmou.

A presidenta avaliou que os avanços na área social têm sido uma tendência em todos os países da região. “Para nós é muito importante e um grande orgulho saber que este processo de inclusão social é comum a todos os nossos vizinhos da América Latina. Todos os indicadores disponíveis mostram que, na última década, a pobreza e a extrema pobreza diminuíram muito na região”, disse.

Encontro
A presidenta participa da 3ª Cúpula da Celac em San Jose, na Costa Rica, até esta quinta (29). O evento reúne chefes de Estado, de Governo e chanceleres dos 33 países americanos, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá (que não são de origem latina). Presidentes do Uruguai, José Pepe Mujica, de Cuba, Raul Castro, da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Chile, Michele Bachelet, estão no país para o encontro.

Nesta quinta-feira (29), as lideranças se recolhem em um retiro e participam da transferência da presidência pro-tempore do bloco, da Costa Rica ao Equador.

Leia mais:Raúl exige fim do bloqueio e respeito à soberania Celac inaugura nova diplomacia e reforça soberania na América LatinaCelac começa com foco na luta contra a pobreza
Fonte: Agência Brasil e Blog do Planalto via Vermelho

Remuneração das mulheres continua mais baixa que a dos homens

Nos últimos anos, assistiu-se à redução da desigualdade de renda atrelada sobretudo à melhora nos indicadores do mercado de trabalho. Mas diversas análises mostraram a persistência de desigualdades de rendimentos quanto ao gênero no mercado de trabalho brasileiro.
Nota Técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra, ao analisar o mercado de trabalho formal no Brasil a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais - MTE), que é persistente a desigualdade de remuneração média por sexo: em 2013, as mulheres tiveram rendimentos em média 17,7% menores que os dos homens, patamar semelhante ao dos anos anteriores.
Os patamares da desigualdade de rendimentos nos empregos formais estão nas regiões Sudeste e Sul, como mostram o gráfico, tendo, inclusive, crescido no Sudeste.
Quanto a diferentes setores, em 2013, uma trabalhadora da Indústria de Transformação recebia, em média, 34,6% menos do que um trabalhador do sexo masculino no mesmo setor, e, na Administração Pública, 24,8% menos. Nos Serviços, a diferença foi de 21,4%, na Indústria Extrativa Mineral de 2,9% e negativa no caso da Construção Civil (-5,2%), setor com pouca presença feminina.
O quadro se agrava se observamos os dados para o mercado de trabalho informal: indicadores do mercado de trabalho a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), entre os anos 2003-2013, mostram que o rendimento médio das mulheres ocupadas, considerando o mercado de trabalho em geral e não só o formal, é menor em comparação ao dos homens ocupados: se em 2002 o rendimento das mulheres ocupadas correspondia a 63% do rendimento dos homens, em 2012 esse valor já era de 70%, o que mostra a diminuição da desigualdade, mas a persistência de um patamar alto.
Assim, percebe-se que a desigualdade de rendimento para o gênero no mercado de trabalho formal é menor que no mercado de trabalho em geral. Apesar de alguns indicadores mostrarem ligeira melhora, continua grande o abismo entre a remuneração de homens e mulheres no mercado de trabalho.
Fonte: Brasil Debate via Feeb-Ba-Se

Bahia é o 2º estado mais letal para jovens; Itabuna lidera entre cidades

Ranking foi anunciado em coletiva no Rio
(Foto: Janaína Carvalho/G1) 

Índice de Homicídios na Adolescência foi divulgado na quarta-feira (28). Dentre as 20 cidades com maior índice de mortes, cinco são da Bahia.


A 5ª edição do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que foi divulgada à imprensa nesta quarta-feira (28), no Rio de Janeiro, aponta que a Bahia é o segundo estado do país com a maior concentração de assassinatos entre jovens de 12 anos a 18 anos.
Os dados da pesquisa ainda indicam que o município de Itabuna, no sul da Bahia, lidera em número de homicídios nesta faixa etária entre as cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes. Dentre as capitais, Salvadordesponta como a terceira com maior risco de morte para adolescentes.
O levantamento foi elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-UERJ) e leva em conta dados coletados no ano de 2012.
A pesquisa mostra que, dentre os cinco estados brasileiros mais letais para jovens de 12 a 18 anos, quatro ficam na região Nordeste. O estado de Alagoas lidera o ranking com um Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) de 8,82. A Bahia vem logo atrás com índice de 8,59, seguido pelo Ceará, com 7,74. Em quarto lugar aparece o estado do Espírito Santo, na região Sudeste, com índice de 7,15. Logo após, aparece a Paraíba - também no Nordeste -, com índice de 6,04.
A pesquisa coloca o município baiano de Itabuna, no sul da Bahia, com IHA de 17,11 - o maior dentre todas as cidades brasileiras com população superior a 200 mil habitantes.
Dentre as 20 cidades mais letais para jovens, cinco estão na Bahia. Além de Itabuna, a lista traz Camaçari em quinto lugar com IHA de 9,82;Vitória da Conquista em oitavo com 8,50; Salvador em nono com 8,32; e Feira de Santanaem 13º com índice de 6,79.
Por meio de nota, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) afirma que o número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) no município baiano de Itabuna teve redução de 23,6% em 2013 (133), numa comparação com o ano de 2012 (174). O decréscimo, segundo a pasta, foi resultado de operações no combate aos homicídios e ao tráfico de drogas na região, a exemplo da transferência de seis líderes de organizações criminosas, detidos no Conjunto Penal de Itabuna, para presídios federais, em março de 2013.
Ainda por meio da nota, a SSP destaca que no bairro de Monte Cristo já funciona uma Base Comunitária de Segurança (BCS) com ações de prevenção a violência voltada para crianças e jovens, além da inauguração do Centro Integrado de Comunicação (Cicom), que teria otimizado o trabalho da polícia na região.
Nordeste
De acordo com os dados, a região Nordeste apresenta a maior incidência de violência letal contra adolescentes, com um índice igual a 5,97. Em contrapartida, o Sudeste possui o menor valor, com uma perda de 2,25 jovens em cada mil.
O estudo ainda revela que a possibilidade de jovens negros serem assassinados é 2,96 vezes maior do que os brancos. Os adolescentes homens apresentam um risco 11,92 vezes superior de morte quando comparado a jovens do sexo feminino. Conforme levantamento, a arma de fogo é o principal meio utilizado nos assassinatos na faixa etária de 12 a 18 anos.
Em relação a todo o país, o estudo mostra que os homicídios representam 36,5% das causas de morte dos adolescentes no país, enquanto para a população total correspondem a 4,8%.
Para a elaboração do IHA, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República afirma que foram analisados 288 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. O levantamento tem como base os dados dos Censos 2000 e 2010, do IBGE, e do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.
O IHA faz parte das ações do Programa de Redução da Violência Letal Contra Adolescentes e Jovens (PRVL), criado em 2007. A pesquisa na íntegra está disponível online.
Fonte: http://g1.globo.com/bahia

O povo grego manda seu recado

Divanilton Pereira*
O continente europeu continua como expressão maior dos nefastos efeitos da crise capitalista entre os centros mais desenvolvidos. Sob a batuta da troika – Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu – tentam transformar as nações integrantes em meros condôminos dos interesses rentistas e, em particular, dos alemães. Nessa diretriz usurpam suas soberanias e põem em seus comandos políticos aristocratas ligados diretamente aos grandes conglomerados financeiros.
A direita e seus aliados impõem no continente uma agenda que pode ocasionar a maior regressão laboral e civilizacional dos últimos tempos. Pacotes antinacionais e antitrabalhos fazem recair sobre a classe trabalhadora, mais uma vez, o ônus dessa crise.

O resultado dessas medidas é o aprofundamento do colapso econômico e da dramática situação social, com destaque para os elevados índices de desemprego. Esses efeitos têm atingido em cheio os países mais frágeis da anexação promovida pela União Europeia.
A Grécia é uma das expressões dessa realidade. A “austeridade” aplicada naquele país – que alguns tentam emplacar novamente no Brasil – gerou uma contração no PIB de 25% nos últimos quatro anos, elevou a dívida pública para 170% do PIB, a taxa de desemprego antes em 8% ultrapassou os 25% e, entre os jovens até 35 anos, alcança 50%.
Contra essa calamidade social as trabalhadoras e os trabalhadores, destacadamente organizados pela PAME (central sindical grega), travaram fortes embates políticos. Grandes marchas nacionais e greves gerais foram as marcas da resistência social desse período.

Comprovando o fracasso dessa política liberalizante e direitista, o governo do então Primeiro-ministro Andonis Samarás, do partido Nova Democracia, oficializou seu fim e antecipou as eleições no país.
No último domingo (25) o partido oposicionista Syriza – fundado em 2004 e que tem em seu interior uma frente de organizações – conseguiu capitalizar a insatisfação popular e fez história com sua marcante vitória eleitoral. O Partido Comunista da Grécia (KKE) teve uma boa performance e elegeu 15 deputados.
Esse resultado é uma expressão institucional do acúmulo político gerado por todas as lutas empreendidas pelo seu povo, particularmente, de sua classe trabalhadora. Uma forte resposta contra o cataclismo econômico e social promovido pela União Europeia contra aquela nação.
Por essa natureza essa vitória tem uma dimensão que extrapola o território grego e pode impulsionar ainda mais as lutas contra a onda liberal e direitista que ameaça o velho continente.
Não me atrevo a especular quanto as possibilidades do novo governo ou sobre o programa do Syriza. Prefiro limitar-me a realçar uma vitória eleitoral oposicionista ocorrida dentro de uma região que, há anos, os trabalhadores vivem sob uma férrea e brutal agressão civilizacional e num preocupante crescimento da influência xenófobo e fascista.
Nesse contexto, reiteramos a nossa solidariedade ao povo grego, único capaz de conquistar e descortinar seus próprios caminhos para sua efetiva libertação.
*Divanilton Pereira é  secretário de Relações Internacionais da CTB

Os artigos publicados na seção “Opinião Classista” não refletem necessariamente a opinião da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e são de responsabilidade de cada autor.

Protesto dos trabalhadores toma o Centro de Salvador

ato centrais salvadorTrabalhadores e trabalhadoras da Bahia lotam o centro de Salvador no Dia Nacional de Luta
Os trabalhadores baianos mostraram a disposição para lutar contra qualquer retirada de direitos em uma grande manifestação, realizada na manhã desta quarta-feira (28/01), em Salvador. Portando faixas e bandeiras, lideranças da CTB, CUT, UGT, Força, Nova Central, CSB e Conlutas tomaram uma das principais avenidas do centro da cidade, em protesto pela edição das Medidas Provisórias 664 e 665, que ameaçam conquistas, como o seguro desemprego, o auxílio doença e a pensão por morte.
A concentração começou cedo no Sindicato dos Bancários, de onde a marcha saiu em direção à Superintendência Regional do Trabalho – SRTE. Lá, além de realizarem um ato político, os representantes das centrais foram recebidos pela superintendente do Trabalho na Bahia, Isa Simões. Eles entregaram um documento, as ser encaminhado ao Ministério do Trabalho, no qual pedem a imediata revogação das MPs, apontando outras formas de ajuste fiscal, sem penalizar os trabalhadores.
aurino ctb baPresidente da CTB-BA, Aurino Pedreira defende nenhum direito a menos, nem que a vaca tussa!
Isa Simões prometeu encaminhar a carta ao ministro do Trabalho, Manoel Dias, enfatizando a disposição da SRTE de ser um espaço de mediação para as lutas dos trabalhadores. "As entidades sindicais são muito importantes para a democracia do país, pois representam a grande massa da população. Eu me coloco a disposição para uma discussão maior sobre as questões que estiveram na minha alçada, como as discussões sobre demandas locais. Vocês estão abrindo um canal de negociação, mas só a mobilização vai garantir avanços em algumas questões", disse a superintendente.
Todos na rua
Muito antes da entrega do documento, lideranças sindicais de diversas categorias se revezaram ao microfone do carro de som para alertar a sociedade sobre o alcance das mudanças propostas pelo governo. bancários, comerciários, trabalhadores da construção civil, da hotelaria e da indústria têxtil, servidores da saúde e da educação, vigilantes, rodoviários e aposentados mostraram seus motivos para recusar as medidas provisórias. "2015 será um ano de muita luta e mobilização. Isso requer uma unidade ainda maior do movimento sindical. As MPs 664 e 665 são uma afronta aos brasileiros, pois pretende retirar recursos dos trabalhadores e da produção para fazer superávit primário. Isto é um absurdo", argumentou o presidente da CTB-BA, Aurino Pedreira.
Para Pedreira, será preciso uma grande mobilização dos trabalhadores para mudar os rumos propostos pela equipe econômica do governo. "Nós não vamos conseguir esta mudança se não formos para as ruas disputar este projeto. Mas, a luta não pode se restringir às manifestações de rua, ela precisa ser feita dentro dos locais de trabalho, por cada sindicato em suas bases. Só assim manteremos a nossa força e capacidade de mudar os rumos do país", acrescentou.
Em sua fala, o presidente da CUT-BA, Cedro Silva, lembrou a importância de defender os avanços conquistados nos últimos anos pela classe trabalhadora, lutando contra esta ameaça de retrocesso e também por novas conquistas, como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho. Silva conclamou os trabalhadores a encamparem também a luta em defesa da Petrobras, evitando sua entrega ao capital estrangeiro.
Magno Lavinge, presidente da UGT, defendeu atenção redobrada em relação ás medidas. "A impressão que temos é de que as mudanças agora propostas foram feitas para testar o nossa reação. Caso aceitemos, outras muitas piores virão. Mas não vamos aceitar nenhum tipo de retrocesso".
A manifestação é parte do Dia Nacional de Lutas e Mobilizações por empregos e direitos, organizado pelas principais centrais sindicais do Brasil. Na Bahia, o ato foi marcado pela pluralidade de representações e de demandas, que incluiu também a luta contra abertura de capital da Caixa Econômica, a elevação das taxas de juros e dos impostos; em defesa da Petrobras, da correção da tabela do imposto de renda e a inclusão da produção local na indústria nova, além de pautas locais.
Fonte: CTB-BA

O tripé e o retrocesso

No artigo "O Manifesto do retrocesso" (19/11), Pedro Ferreira e Renato Fragelli criticam o "Manifesto dos economistas pelo desenvolvimento e inclusão social". Embora o manifesto critique a austeridade, nossos críticos mal justificam sua opção pela austeridade e atacam o manifesto pelo que não faz: a defesa do governo Dilma.
O manifesto rejeita sim as críticas ortodoxas feitas ao governo, que são reiteradas pelos articulistas. O governo Lula teve êxito na operação anticíclica (criticada pelos neoliberais) que defendeu o emprego e a inclusão social em 2009. A economia recuperou-se com o aumento do investimento público e incentivos ao gasto privado, e a recuperação melhorou em seguida o resultado fiscal.
Nosso dilema começa quando Henrique Meirelles, então presidente do Banco Central, pouco fez para limitar a apreciação cambial em 2010. Embora a depreciação de 2008 mal tivesse impacto inflacionário e tenha compensado apenas parte da apreciação desde 2003, foi revertida com os fluxos financeiros atraídos pelo diferencial de juros oferecido por Meirelles.
Precisamos de alternativas ao tripé do retrocesso, com plano de recuperação dos investimentos públicos
A crise global também explica a liquidez que apreciou o real, o baixo crescimento mundial e o acirramento da competição internacional. Países desenvolvidos tentam recuperar-se via exportações e exportadores asiáticos buscam novos mercados. O saldo comercial brasileiro inverteu-se em relação às economias sede das filiais na indústria enquanto exportações asiáticas tomaram parcela do mercado industrial no Brasil e na América do Sul.
Conjugada ao excesso de capacidade global, a apreciação cambial induziu uma avalanche de importações. A produção da indústria de transformação encolheu, em termos reais, 6,5% desde o terceiro trimestre de 2008 e o coeficiente de penetração de importações aumentou quase 30%. No acumulado até setembro, o comércio setorial passou de superávit de US$ 22,4 bilhões em 2005 para déficit de US$ 49,2 bilhões em 2014.
Essa avalanche iniciou-se na vigência do tripé "metas de inflação-superávit primário-apreciação cambial" e trouxe o risco do tripé do retrocesso das reformas neoliberais da década de 1990: desindustrialização, rentismo e déficit crescente de transações correntes, resultando no baixo crescimento.
Ademais, a tendência de depreciação cambial resultante desses desequilíbrios traria grande pressão inflacionária. Começávamos a voltar aonde hoje estamos: na armadilha do baixo crescimento, com pressões inflacionárias latentes e sob risco de perda do grau de investimento como no final dos 1990.
A gestão de Alexandre Tombini continuou o ciclo de elevação de juros de Henrique Meirelles e o complementou com iniciativas macroprudenciais. A economia já desacelerara no fim de 2010, quando a avalanche de importações coincidiu com a maturação de investimentos decididos antes da crise e a saturação gradual da demanda de bens de consumo duráveis que se acirrou em 2014.
Não obstante a desaceleração, o governo Dilma Rousseff ouviu o clamor ortodoxo em 2011 e deu início à contração fiscal que afetou o investimento da administração direta que, excluindo subsídios, teve queda real de 12% em 2011 e, em relação ao PIB, não deve recuperar em 2014 o nível de 2010.
Em agosto de 2011, o Banco Central iniciou redução da Selic, mas a contração fiscal era forte sinal para o recuo do investimento privado. Quando abandonou a contração em 2012, o governo não reverteu a queda do investimento público e sim apoiou o investimento privado com a redução de custos de produção, sem conter a desaceleração cíclica da demanda e seu vazamento para importações.
A crítica neoliberal ao relaxamento monetário e fiscal é que seria a causa de pressões inflacionárias e do baixo crescimento. O argumento contrafactual e injustificado é que se o governo insistisse na contração, em meio à crise europeia, o gasto privado reagiria a maiores juros e superávit primário expandindo-se...
Em 2013, a pressão inflacionária não resultou de sobreaquecimento e sim da correção cambial e de outros choques de custo, como preços agrícolas e fretes. É por isso que controlar a inflação envolve desindexar contratos, formar estoques reguladores e ampliar a oferta de bens públicos e infraestrutura.
A expansão fiscal que se iniciou em 2012 não pode ser responsabilizada pela resistência da inflação, como acusam os neoliberais. Afinal, envolveu desonerações fiscais e controle de preços administrados para reduzir custos de produção e restaurar a competitividade, mas esteve longe de levar a sobreaquecimento.
O problema é que esse tipo de "expansão fiscal" não reverte a desaceleração nem a desconfiança em relação a um futuro de receitas incertas. A correção cambial tampouco foi suficiente para reverter a apreciação herdada da gestão Meirelles e muito menos a tendência de desindustrialização, mas pressionou a inflação.
Hoje, o governo Dilma dobra a aposta em um modelo de crescimento empurrado pelo investimento privado. Como seus críticos ortodoxos, parece acreditar que a austeridade liberará espaço para o setor privado, em vez de puxá-lo para a recessão.
Consideramos, ao contrário, que atender ao clamor ortodoxo e apostar na austeridade, como em 2011, traz sério risco de reforçar a desaceleração observada em todos os itens de demanda privada e nos atirar em uma recessão.
Embora resulte das recomendações de economistas ortodoxos desinteressados e de porta-vozes dos mercados financeiros, uma recessão não deve ser bem recebida nem pelos mercados nem pelas agências de classificação de risco. Tampouco será boa para a governabilidade, sobretudo se jogar as ruas contra o governo. É por isso que precisamos de alternativas ao tripé do retrocesso, com a ampliação de investimentos públicos articulados a um plano sistemático de recuperação dos investimentos privados.
Por Pedro Paulo Zahluth Bastos e Carlos Aguiar de Medeiros são, respectivamente, professor associado (livre docente) da Unicamp e professor titular da UFRJ.
Fonte: Portal CTB

Não vamos abrir mão dos nossos direitos e conquistas

Reunido em São Paulo na tarde de quarta-feira, 28, o Conselho Político da CTB debateu a conjuntura nacional e aprovou a seguinte resolução:
1-      O Dia Nacional de Lutas contra as MPs 664 e 665 e em defesa dos direitos da classe trabalhadora mobilizou unitariamente todas as centrais sindicais brasileiras e reuniu dezenas de milhares de pessoas em todas as regiões do país no dia 28 de janeiro, superando as expectativas dos organizadores e revelando à sociedade a rejeição do povo às referidas MPs;
2-      As medidas impostas pela nova equipe econômica, sob o comando de Joaquim Levy, não só subtraem direitos dos trabalhadores e trabalhadoras como jogam água na fogueira da estagnação e recessão econômica ao deprimir o consumo, o crédito e o mercado interno. Esta é uma razão a mais para que sejam revogadas;
3-      O caminho que defendemos é outro. Supõe a mudança da política econômica, o fim do tripé do retrocesso (composto por juros altos, superávit primário e câmbio flutuante), a realização de reformas estruturais (agrária, política, tributária, urbana, da educação, da mídia e do Judiciário), o desenvolvimento nacional com valorização do trabalho, soberania e democracia;
4-      A experiência histórica mostra que os interesses da classe trabalhadora estão em harmonia com os interesses nacionais e promovem desenvolvimento, como sugerem os resultados da política de valorização do salário mínimo no Brasil. Em contraposição, os interesses dos rentistas, que hoje infelizmente influenciam fortemente a política econômica, conduzem à estagnação, à recessão e ao retrocesso social, conforme se vê hoje na Europa;
5-      Jamais admitiremos que ajustes vendidos pelo pensamento dominante como inevitáveis sejam feitos à custa da classe trabalhadora, enquanto se preservam os interesses dos grandes capitalistas. Caso seja mesmo indispensável equilibrar as contas públicas, pressionadas pelas escandalosas despesas financeiras (pagamentos dos juros), que se busquem outros meios. As centrais propõem a instituição do imposto sobre as grandes fortunas, a taxação das remessas de lucros, a revisão das desonerações, a redução dos juros. Compreendemos que o pano de fundo desta realidade é a crise sistêmica do capitalismo, mas são os ricos, e não mais os pobres, que devem arcar com seu ônus;
6-      A CTB apoiou Dilma no segundo turno e considera que o povo brasileiro obteve uma grande vitória ao garantir sua reeleição, barrando a ameaça de retrocesso neoliberal que seria inevitável com Aécio Neves. Ao mesmo tempo em que critica com energia as medidas de ajuste fiscal, e luta para revogá-las e mudar a política econômica, procura se diferenciar e demarcar claramente o campo com a oposição ao governo que é liderada pela direita neoliberal e tem por programa o retrocesso social, a recessão econômica, o arrocho dos salários, o desemprego em massa e a restrição ou quem sabe até a supressão das liberdades democráticas;
7-      Lutamos não só para preservar os direitos e conquistas do nosso povo como também para ampliá-las, evitando o retrocesso e avançando na direção de transformações sociais mais profundas no leito de um novo projeto de desenvolvimento nacional com valorização do trabalho que deve abrir caminho para a superação do decadente sistema capitalista e construção de uma nova sociedade socialista.
São Paulo, 28 de janeiro de 2015
Conselho Político da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Centrais realizam manifestações simultâneas pelo Brasil nesta quarta

Trabalhadores pedem a revogação das medidas que alteram a concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas
CTB
Trabalhadores pedem a revogação das medidas
que alteram a concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas

Em defesa do emprego e dos direitos trabalhistas, as centrais sindicais CTB, CUT, CSB, Força Sindical, NCST e UGT realizam nesta quarta-feira (28), o Dia Nacional de Luta, com marchas, paralisações e atos em todo o Brasil.


A principal reivindicação das centrais é a revogação das medidas que alteram a concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas, lançadas por Medida Provisória pelo governo no final de dezembro. Mas os trabalhadores também pedem a mudança no rumo da economia.

“A ênfase numa política econômica conservadora, ditada pelo sistema financeiro, está levando o governo a uma perigosa rota de colisão com os movimentos sociais, que tiveram papel decisivo na reeleição de Dilma. Não podemos abrir mão da luta por mudanças e por medidas que resultem na efetiva redução dos juros, controle do câmbio e fim da política de superavit primário, bem como a taxação das grandes fortunas e das remessas de lucros ao exterior”, afirma o presidente da CTB, Adílson Araújo.

Concentração no Masp

Em São Paulo, a concentração do Dia Nacional de Luta será no vão do Masp, na avenida Paulista, a partir das 10 horas. Em marcha, os trabalhadores passarão pela sede da Petrobrás e pelo Ministério da Fazenda.

Onofre Gonçalves, presidente da CTB São Paulo, revela que as centrais farão a entrega de um documento, tanto na Petrobras quanto no Ministério da Fazenda, com as reivindicações dos trabalhadores, que inclui a revogação das MPs que retiram os direitos. “Queremos a manutenção do diálogo com o governo. Para isto, as medidas devem ser retiradas ou revistas”, salientou.

As manifestações acontecerão simultaneamente em Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Belém (PA), Salvador(BA), Manaus(AM), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Fortaleza (CE) e Rio de Janeiro (RJ).

Na terça (3), dirigentes das seis centrais voltam a se reunir com os ministros Rossetto, Nelson Barbosa (Planejamento), Carlos Gabas (Previdência Social) e Manoel Dias (Trabalho e Emprego). O encontro será novamente realizado no escritório da Presidência da República em São Paulo.

Confira a agenda pelos estados:

Alagoas
Concentração às 9 horas, em frente à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, no calçadão do comércio, em Maceió

Bahia
Em Salvador, a manifestação será no Centro da cidade, com concentração ás 8 horas, em frente ao Sindicato dos Bancários e caminhada até a Superintendência Regional do Trabalho – SRTE, onde acontece um ato político.

Ceará
Concentração às 8 horas, Na Secretaria Regional do Trabalho e Emprego, na Rua 24 de Maio, 78, centro de Fortaleza.

Distrito Federal
Concentração às 14 horas, em frente ao Ministério da Fazenda, em Brasília.

Goiás
Concentração às 8 horas, na Praça do Bandeirante, centro de Goiânia.

Maranhão
Ato às 8 horas, em Frente à Delegacia Regional do Trabalho, centro de São Luiz.

Mato GrossoAto às 9h30, em frente ao INSS, na Avenida Getúlio Vargas, em Cuiabá.
Mato Grosso do Sul

Ato em frente ao Ministério do Trabalho, na Rua 13 de Maio, a partir das 7 horas. Em seguida, os manifestantes seguem para ato em frente à Caixa Econômica Federal, na mesma rua, a partir das 9 horas.

Minas GeraisOs mineiros realizam um ato na Praça Sete, centro da capital, para dialogar com a população. Durante o ato, que começará às 15 horas, as centrais sindicais distribuirão nota conjunta alertando sobre os ataques aos benefícios como seguro-desemprego, auxílio pensão e abono salarial, entre outros.

Pará
Concentração às 10 horas, na escadinha, no Boulevard Castilho França, em Belém.

Paraíba
Haverá panfletagem na CBTU e na Lagoa Parque Sólon de Lucena, em João Pessoa, durante todo o dia.

ParanáConcentração às 10 horas, na Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba.

Pernambuco
Concentração às 8 horas, em frente à Superintendência Regional do Trabalho (SRT), na Avenida Governador Agamenon Magalhães, no bairro do Espinheiro, em Recife.

Piauí
Panfletagem a partir das 7 horas na Praça João Luis Ferreira, no centro de Teresina.

Rio Grande do NorteO ato acontecerá no calçadão da Rua João Pessoa com a Princesa Isabel, às 16 horas.

Rio de JaneiroConcentração às 14 horas, na Central do Brasil, na capital.

Rio Grande do SulHaverá vigília em frente da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, localizada na Av. Mauá, nº 1013, centro de Porto Alegre, a partir das 10 horas.

São PauloConcentração às 10 horas, no vão do Masp, na avenida Paulista. A manifestação passará pela Petrobrás e pelo Ministério da Fazenda.

Sergipe
Ato às 8 horas, em frente ao INSS, na Avenida Ivo do Prado, em Aracaju.

Fonte: Portal CTB via Vermelho

Cynara Menezes: o "jornalismo" subserviente à indústria farmacêutica

 Eu estava trabalhando na revista Veja (os piores oito meses de minha carreira; leia aqui) quando saiu uma capa louvando as estatinas, pílulas usadas para controlar o colesterol “ruim” que, afirmava a revista, eram “a grande surpresa da medicina”, “a aspirina do século 21″, “um dos medicamentos que mudaram a história”. 


Por Cynara - Menezes*, blog Socialista Morena

A reportagem, de cinco páginas, parecia um anúncio pago pelos fabricantes do medicamento, comparado por Vejaà descoberta da penicilina. As estatinas seriam eficazes para tratar angina, Alzheimer, osteoporose, câncer, esclerose múltipla e diabetes (íntegra aqui). Só faltou bicho-do-pé. “Um belíssimo negócio para a indústria farmacêutica”, vibrava a semanal da editora Abril.

De lá para cá, as estatinas se transformaram na maior fonte de lucro da indústria farmacêutica. Uma delas, o Lípitor (atorvastatina, da Pfizer), se tornou o medicamento campeão de vendas no mundo e, com o providencial pontapé da “revista mais vendida”, o número dos que usam estatinas no Brasil pulou de 400 mil para 8 milhões de pessoas. Mas o que pouca gente sabe é que, após 10 anos, o que foi apresentado ao leitor incauto da revista como panacéia agora é questionado por pesquisadores, médicos e cientistas como prejudicial à saúde e, no mínimo, inútil. E o mais bizarro: hoje o uso contínuo de estatinas está associado a alguns dos males que supostamente curaria, como perda de memória, doenças cardíacas, diabetes, fraqueza muscular e câncer.

Dois anos atrás, a própria Veja reconheceu, em uma reportagem minúscula escondida no site da revista: “Acaba a lua-de-mel com as estatinas” (leia aqui). No texto, a publicação admitia que efeitos colaterais graves têm sido associados ao uso do remédio outrora “revolucionário”, até mesmo a capacidade de provocar o infarto em vez de preveni-lo – justamente a maior qualidade levantada pela propaganda, ops, reportagem anterior. Novos estudos com voluntários, advertia o artigo, comprovam que “usuários frequentes das estatinas tiveram um aumento muito maior na calcificação de placas em suas artérias coronárias. Isso poderia levar a riscos maiores de infartos nesses pacientes”.

Na época da capa-louvação, o cardiologista Sergio Vaisman, coordenador da pós-graduação em Medicina Preventiva da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, escreveu um artigo em seu blog em que condenava o excesso de otimismo da Veja em relação às estatinas. “Acho lamentável assistir a esse desfile de propaganda que enaltece produtos que irão comprometer nossa saúde se usados em demasia”, escreveu Vaisman, criticando a falta de interesse da revista em mostrar os efeitos colaterais do remédio, como as dores musculares crônicas e a rabdomiólise, uma degeneração das fibras musculares que pode levar a lesões renais graves e até à morte. Detalhe: uma estatina, a Baycol (cerivastina, da Bayer), já havia sido retirada do mercado em 2001 por causar rabdomiólise e matar 52 pessoas nos EUA por falência renal.

Entrevistei Vaisman pelo telefone. Ele está cada vez mais cético em relação às estatinas, que só prescreve a seus pacientes em casos muito graves e por um período apenas. “Sou contra o uso contínuo de estatinas, mas vou contra a corrente, porque o establishment da medicina manda fazer isso. Existe uma pressão muito grande da indústria farmacêutica, principalmente sobre os médicos recém-formados”, diz. E ressalta: “Não existe nenhuma evidência científica de que as estatinas protegem o coração de um infarto”.

Outro aspecto que mudou neste meio tempo foi a própria visão da ciência (não da indústria farmacêutica) sobre o “colesterol ruim” (LDL), antes o grande inimigo do homem moderno e razão de existir das estatinas. “Hoje o colesterol não é o vilão que se pensava. É considerado, por exemplo, fundamental para a produção dos hormônios sexuais. Claro que tudo em excesso é ruim, mas o colesterol tem papéis benéficos”, defende Vaisman. O colesterol também é necessário para o bom funcionamento dos intestinos e do cérebro.

Em outubro de 2013, a Sociedade Brasileira de Cardiologia causou polêmica ao rebaixar o limite considerado saudável de colesterol “ruim” de 100 miligramas por decilitro de sangue para 70 miligramas por decilitro, o que fez aumentar ainda mais as prescrições das estatinas nos consultórios médicos. Na época, especialistas contrários à medicalização excessiva chamaram a atenção para os efeitos colaterais da droga, sem sucesso. Como disse Vaisman, o establishment da medicina no Brasil abraçou as estatinas sem restrições. E o pseudo jornalismo de “saúde” praticado por alguns veículos foi junto.

Nos EUA e na Inglaterra, grandes consumidores das estatinas, a rejeição ao medicamento vem crescendo. O norte-americano Raymond Francis, químico formado pelo MIT (Massachusetts Institute of Tecnology) que se dedica a pesquisas sobre qualidade de vida, contesta, inclusive, que o colesterol seja mesmo responsável pelos problemas cardíacos. “O colesterol não causa doenças do coração”, afirma. “Os franceses têm a mais alta taxa de colesterol da Europa, ao redor de 250, mas as menores incidências de doenças do coração e metade dos ataques cardíacos dos Estados Unidos. Na ilha de Creta, berço da saudável dieta mediterrânea, um estudo de 10 anos falhou ao não conseguir encontrar um só ataque cardíaco, apesar das taxas de colesterol acima de 200″ (leia mais aqui). Outros estudos recentes dizem o mesmo: colesterol alto não é sinônimo de risco para o coração.

Raymond Francis publicou um vídeo no youtube onde diz com todas as letras: “Estatinas são veneno. Não previnem doenças do coração e não são seguras. Pelo contrário, há um aumento dos infartos entre as pessoas que usam estatinas. Ou seja, as estatinas causam doenças do coração”. Ele cita o cardiologista texano Peter Langsjoen, autor do estudo Estatinas podem causar problemas cardíacos, apresentado aos órgãos de saúde norte-americanos em 2002, em que advertia para o bloqueio, pelas estatinas, da produção da coenzima Q10 ou Ubiquinona, molécula que previne as doenças cardíacas. Em 2010, a FDA (Food and Drug Administration) finalmente advertiu para os riscos cardiovasculares com o uso de sinvastatina (Zocor, da Merck). É a estatina mais vendida no Brasil.

No site spacedoc, médicos norte-americanos anti-estatinas listam uma série de efeitos colaterais causados pelo medicamento: danos musculares, amnésia, diabetes, disfunção erétil, pancreatite, insônia, câncer, perda de energia… (leia os artigos aqui). Autor do livro 29 Bilhões de Razões Para Mentir Sobre o Colesterol, o britânico Justin Smith produziu um documentário e está preparando outro sobre os interesses financeiros por trás das estatinas, que, afirma, têm seus benefícios exagerados pela medicina tradicional. Entrevistei Smith por e-mail.

Socialista Morena – O que há de errado com as estatinas?

Justin Smith – Há muitos questionamentos. Primeiramente, temos que perguntar se a droga realmente beneficia as pessoas diante dos efeitos colaterais que acarreta. É preciso separar dois tipos de pessoas: as que foram diagnosticadas com um problema no coração e aquelas que não o foram. Para quem não foi diagnosticado como cardíaco, não há nenhum benefício em tomar estatinas, mas estas pessoas estarão expostas aos efeitos colaterais do remédio. Em uma estimativa realista, 20% das pessoas sofrem efeitos colaterais significativos. Milhares de pessoas têm relatado consequências muito sérias durante anos e muitas delas sofreram danos permanentes. Para quem foi diagnosticado com problema cardíaco há um argumento para usar estatinas. Mas os benefícios que estas pessoas podem ter não estão relacionados com a redução do colesterol. Este é um tema complicado e muitos médicos ainda estão debatendo os efeitos das estatinas. Para as pessoas com problemas cardíacos, as estatinas podem ser ao mesmo tempo boas e ruins. O lado positivo é que as estatinas podem estabilizar as placas nas artérias, reduzir a coagulação e melhorar o metabolismo do ferro –tudo isso é muito bom. No entanto, pelo lado negativo, as estatinas aumentam a quantidade de placas calcificadas nas artérias e potencialmente enfraquecem o músculo do coração ao bloquear a produção da coenzima Q10. Além disso, há uma ligação muito forte entre os baixos níveis de colesterol e uma vida mais curta. Como você vê, é uma decisão muito difícil para as pessoas diagnosticadas com problemas cardíacos tomarem.

SM – Alguns médicos me disseram que as estatinas não previnem ataques cardíacos. É isso mesmo?

JS – Há evidências de que as estatinas podem prevenir um segundo ou terceiro ataque cardíaco para quem já teve um infarto. Mas, para a população em geral, as estatinas têm um impacto muito pequeno contra os riscos de ataques do coração, possivelmente nenhum. Por outro lado, as estatinas têm sido associadas com mais de 300 efeitos adversos, em parte pelo fato de o colesterol ser uma substância extremamente importante para o corpo humano e a deficiência de colesterol ter enormes efeitos negativos para a saúde. As áreas mais afetadas são os músculos, o cérebro e o sistema nervoso e os olhos. Em alguns estudos, as estatinas foram associadas a um dramático crescimento no risco de câncer.

SM – Na época em que você lançou seu livro, falou em uma movimentação de 29 bilhões de dólares anuais com as estatinas. Quanto dinheiro elas estão rendendo à indústria farmacêutica atualmente?

JS – É muito difícil dizer, porque a maior parte delas teve a patente quebrada. No entanto, se olharmos para o mercado mais amplo das drogas redutoras de colesterol, há novos remédios surgindo e é um negócio que continua movimentando dezenas de bilhões de dólares cada ano.

SM – Você foi alvo de alguma ameaça por denunciar as estatinas?

JS – Não.

Em seu documentário, Statin Nation, Smith faz questão de destacar três pontos que vão em direção contrária ao que é apregoado pela medicina ocidental: as pessoas com colesterol alto tendem a viver mais; as pessoas com doenças no coração têm baixos níveis de colesterol; baixar o colesterol de uma população não reduz os índices de doenças cardíacas. E pergunta: “Será que os fatos sobre os problemas do coração, o colesterol e os remédios contra o colesterol têm sido distorcidos pela indústria farmacêutica para aumentar seus lucros?”

Não duvido. O que posso dizer com toda certeza, como jornalista, é: desconfie de médicos que prescrevem a torto e a direito remédios de uso contínuo cuja eficácia é controversa. Desconfie de reportagens que atribuem à “ciência” ou à “medicina” pesquisas patrocinadas pela indústria farmacêutica. Desconfie de revistas que colocam um medicamento como “milagroso” numa capa sem alertar devidamente para os riscos. Desconfie das estatinas.


Fonte: Vermelho