sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A defesa da legalidade, essencial para a democracia

A direita tem sido o principal fator de instabilidade política no Brasil. Em defesa de seus privilégios, nunca hesitou em dar as costas à legalidade e ameaçar a ordem institucional.

Por José Carlos Ruy


A defesa da legalidade, essencial para a democraciaA defesa da legalidade, essencial para a democracia
Um dos principais atos antidemocráticos promovidos por ela foi, em 1961, a tentativa de vetar a posse, na Presidência da República, do vice João Goulart, após a renúncia do titular, Jânio Quadros, em 25 de agosto daquele ano.

Goulart era considerado herdeiro político de Getúlio Vargas, o presidente odiado pelos conservadores que, em 24 de agosto de 1954, deu a própria vida para barrar o golpe em andamento para afastá-lo do cargo, em meio a uma campanha recheada, como hoje, por questionáveis denúncias de corrupção contra o presidente.

Ontem, como hoje, a “corrupção” era só o esfarrapado biombo para esconder os verdadeiros motivos da direita: controlar a Presidência da República e afastar qualquer ameaça a seu predomínio político e, principalmente, privilégios.

João Goulart era também inaceitável para a direita por ser um democrata, próximo aos sindicalistas e sem preconceitos contra os comunistas.

Quando Jânio renunciou, Goulart estava em viagem oficial à China – a primeira feita por um alto dirigente brasileiro, marcante sobretudo por ser a China revolucionária dirigida por Mao Tsetung.

Para a direita, isso tornava Goulart a encarnação da ameaça “comunista”.

Consumada a renúncia de Jânio os ministros militares – homens da extrema direita – almirante Silvio Heck (ministro da Marinha), marechal Odillo Denis (ministro da Guerra) e brigadeiro Grum Moss (ministro da Aeronáutica) acentuaram a crise política ao comunicar seu veto à posse de Goulart como presidente da República.

Foram duas semanas de crise intensa e aguda, encerrada em 8 de setembro de 1961 com a posse de Goulart na Presidência, com poderes diminuídos pela imposição do parlamentarismo pela direita e pelos militares.

Aquela foi a mais grave crise política provocada pela direita antes do golpe militar de 1964. O Brasil esteve às portas de uma guerra civil opondo os defensores da legalidade contra a direita e seus apoiadores.

A gravidade da crise pode ser medida por duas ordens dos ministros militares. Uma, para que o Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, fosse bombardeado por aviões da FAB. Outra, que fosse derrubado o avião que traria João Goulart de Montevidéu, onde se abrigara, para Brasília. Se estas ordens fossem cumpridas, o número de mortos seria incalculável. Não foram devido à resistência de suboficiais, sargentos, cabos e soldados legalistas que se opuseram àquelas ordens ilegais. não aceitaram cumpri-las e agiram contra elas.

O governador gaúcho Leonel Brizola dirigia o principal polo de resistência contra os golpistas. Reuniu forças democráticas e avançadas, personalidades avançadas, como João Amazonas, que então dirigia o Partido Comunista no Rio Grande do Sul, e a União Nacional dos Estudantes cujo presidente, Aldo Arantes, juntara-se em Porto Alegre à luta democrática.

Apoiado pelo povo (ao qual mandou distribuir armas para a resistência), Brigada Militar, militares democráticos (como o general José Machado Lopes, então comandante do 3º Exército, sediado em Porto Alegre, que se opôs aos golpistas), Brizola instalou no Palácio Piratini uma emissora, a Rádio Legalidade, de irradiava diariamente para todo o Brasil seus discursos convocando os democratas para a resistência contra o golpe.

Havia a ameaça concreta do Palácio Piratini ser bombardeado por aviões da FAB, ou tomado de assalto por tropas do Exército – duas ameaças que não se concretizaram principalmente pela resistência ativa de sargentos, cabos e soldados.

O movimento de resistência iniciado por Brizola, a Cadeia da Legalidade, espalhou-se pelo Brasil e foi fator fundamental para derrotar os golpistas naquele momento.

A campanha liderada por Brizola pela legalidade durou até a posse de Goulart na Presidência, em 8 de setembro de 1961. Foi um movimento fundamental para barrar o golpe naquele momento.

Um desdobramento da campanha da legalidade ocorreu dois anos depois, em 1963, quando a direita, os setores conservadores da classe dominante e seus aliados do imperialismo aprofundavam a conspiração contra a democracia.

Era 1963. Brizola convocou a formação dos Grupos de Onze Companheiros (ou “Comandos Nacionalistas”, ou “Grupo dos Onze”) em favor das Reformas de Base e da defesa da legalidade. A resposta foi rápida – em apenas três meses formaram-se mais de 5.300 grupos, reunindo mais de 58 mil pessoas no Rio Grande do Sul, estado da Guanabara, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.

Eles foram derrotados pelo golpe de estado de 1ª de abril de 1964. Não importa – demonstraram que o exemplo da Cadeia da Legalidade frutificou e levou um número enorme de brasileiros (um em cada mil brasileiros adultos na época) a mobilizar-se em defesa da democracia e da legalidade. Um exemplo que os brasileiros demonstram não esquecer, mais de cinquenta anos passados!


Do Portal Vermelho

Aldo Arantes: povo não aceita golpe

Em 1961, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, o Brasil viveu uma grave crise. Contra a tentativa de golpe, que visava impedir a posse do vice João Goulart, o povo foi às ruas. Entre os que derrotaram a aventura antidemocrática, estava o então presidente da UNE, Aldo Arantes. Hoje, momento em que há nova movimentação para impedir um presidente eleito de exercer seu mandato, Aldo concede entrevista à Rádio Vermelho para lembrar a força que o povo tem na defesa da legalidade.


  
Então com 22 anos, na condição de novo dirigente da entidade estudantil, Aldo esteve com Jânio poucos dias antes da renúncia, que desencadeou a tentativa de golpe pelos militares. Ele – que é ex-deputado constituinte e secretário da Comissão Especial de Mobilização para a Reforma Política do Conselho Federal da OAB – conta na rádio que estava em Goiás quando soube que o político havia deixado o cargo. Correu então para o Rio de Janeiro, onde descobriu que a sede da UNE já estava ocupada por militares.

Em uma reunião da diretoria da entidade, ficou decidido que ele iria para o Rio Grande do Sul, onde o então governador Leonel Brizola encabeçava a resistência aos golpistas. Lá integrou a campanha da legalidade, que, com amplo apoio popular, barrou o golpe militar e garantiu a posse de Goulart.

“A reação popular foi muito grande. O povo foi para as ruas, a juventude jogou um papel decisivo, sobretudo a juventude secundarista, que foi para a porta do Palácio Piratini [sede do governo]. Leonel Brizola fez um chamamento ao povo, e as pessoas foram se agrupando à frente do palácio. Fala-se em 50 mil pessoas”, diz Aldo.

Ele lembra que o palácio chegou a ser cercado por tanques e que um conflito parecia iminente. “Brizola recebeu o comandante do 3º Exército em clima de tensão. Já hava determinação de Brizola de nomear Amaury Kruel como ministro da Defesa, caso o general quisesse prendê-lo. Mas o general resolveu aderir à resistência, porque a maioria dos comandos militares do Rio Grande do Sul estava favorável à resistência democrática”, conta. Aldo ressalta a importância daquele momento histórico, marcado pela moblização em defesa da democracia. “As ruas eram tomadas pelo povo, a partir do chamado mata-borrão, que era um local em que se organizava a resistência popular. (...) Um processo de mobilização ampla no Brasil inteiro e que marcou a história brasileira. Num determinado momento, havia a informação de que haveria uma operação militar para atacar o Palácio Piratini, com ataque aéreo. Isso ensejou uma resistência muito grande dos sargentos, que colocaram areia para os aviões não decolarem. Quer dizer, houve uma série de acontecimentos da maior relevância no curso do processo de resistência.”

Diante da reação popular à tentativa de golpe, os militares terminaram recuando, e o presdente João Goulart foi empossado. “A força dos estudantes foi tão grande que, depois da posse, o presidente Jango foi à sede da UNE para agradecer o seu papel na luta pela legalidade”, destaca.
Com a experiência de quem ajudou a derrotar um golpe, Aldo avalia na entrevista o atual momento político no Brasil, no qual forças da direita se articulam para tentar impedir que a presidenta Dilma Rousseff conclua seu mandato. Segundo ele, é preciso que o povo retorne às ruas, para lutar “energicamente contra o golpe”, cobrando o respeito à democracia e à legalidade. “É necessário que a direita tenha claro que, primeiro, não vai ter golpe e, segundo, que, se tivesse, encontraria a resposta categórica do povo brasileiro que não ia aceitar isso pacificamente”, afirma.
Ouça abaixo a entrevista:

Aldo Arantes lembra campanha da legalidade: povo não aceita golpe


Da Redação do Vermelho

Dilma mantém ofensiva contra golpistas: Aceitem o veredicto das urnas

Durante a cerimônia que oficializou a recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral da República, a presidenta Dilma Rousseff manteve o tom de ofensiva ao afirmar que os políticos devem buscar o poder por meio do voto e aceitar o “veredicto” das urnas.


Agência Brasil
Dilma deu posse ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que assume para um mandato de mais dois anosDilma deu posse ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que assume para um mandato de mais dois anos
“Queremos um país em que políticos pleiteiem o poder por meio do voto e aceitem o veredicto das urnas. Em que os governantes se comportem rigorosamente segundo as atribuições, sem ceder a excessos. Em que os juízes julguem com liberdade e imparcialidade, sem pressões de qualquer natureza e desligados de paixões político-partidárias”, declarou Dilma, numa clara referência ao ministro Gilmar Mendes, que na quarta (16) assumiu o posto de paladino da oposição dentro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante julgamento sobre o financiamento de campanha por empresas.

Dilma também voltou a defender a “civilidade” e a “tolerância” no debate político, criticando “ofensas e insultos”.

“Queremos um país em que o confronto de ideias se dê em um ambiente de civilidade e respeito. Queremos que opiniões se imponham pelo debate de ideias e pelo contraditório, posto que ofensas e insultos serão sempre a negação da boa prática, da boa política e da ética”, afirmou Dilma.

A presidenta frisou o papel da Procuradoria-Geral da União na “estabilidade das instituições democráticas”.

“Nestes tempos em que por vezes a luta política provoca calor, quando devia emitir luz, torna-se ainda mais relevante o papel da Procuradoria-Geral da República como defensora do primado da lei, da Justiça e da estabilidade das instituições democráticas, uma missão complexa, a qual estou certa, está mais do que à altura do dr. Janot e sua competente equipe”, disse Dilma.

As declarações da presidenta foram uma resposta às afirmações do candidato derrotado nas urnas e presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que faz ilações contra o governo Dilma e o PT.

A presidenta reafirmou que o seu governo “não compactua com ilícitos e mal feitos” e tem atuado para criar mecanismos de combate à corrupção. “Poucos governos na nossa história se dedicaram de maneira tão enérgica a criar um ambiente propício ao combate à corrupção”, declarou.

Ela resgatou a era do engavetador-geral da República, durante a era FHC, ao afirmar que “nunca utilizamos o poder governamental para bloquear ou obstacularizar investigações”. Diferentemente do governo tucano, o governo Dilma sancionou leis que resultaram em maior transparência e rigor no combate a improbidades.

“Pela primeira vez assistimos à recuperação pelo Estado de vultosos recursos desviados por atos de corrupção. O resultado desse esforço é inegável”, destacou Dilma, enfatizando que “nunca se combateu a corrupção tão severamente”.

Fortalecer o Ministério Público

Na posse, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que assume para um mandato de mais dois anos, defendeu o fortalecimento do Ministério Público Federal (MPF) para que possa atuar “de forma harmônica” com os demais Poderes.

“A sociedade brasileira está amadurecida para compreender que, num Estado de direito, os poderes devem funcionar de forma harmônica, observando as suas competências institucionais e que a existência de um Ministério Público forte e autônomo é fundamental para todos os cidadãos”, disse Janot.

O procurador afirmou ainda que o diálogo “foi e continuará a ser uma das marcas da minha gestão como chefe do Ministério Público da União e presidente do Conselho Nacional do MP”.
 

Do Portal Vermelho, Dayane Santos com informações de agências

Dia 3 de outubro: A democracia vai pôr o bloco na rua

A sanha golpista recrudesceu neste início de setembro. Embalada por fatos como a perda do grau de investimento do Brasil segundo classificação da agência de risco Standard & Poor’s, no último dia 9, as forças de direita apostam no caos para conquistar o que as urnas lhes negam há quatro eleições consecutivas.

Não importa, no caso, que a citada agência tenha sido condenada por fraude em seu próprio país. Ou mesmo que muitos economistas não levem em consideração seus desacreditados prognósticos. Ou ainda que o capitalismo esteja atravessando uma das piores crises de sua história. A única coisa que conta para os golpistas é tentar levar ao paroxismo o ataque à figura da presidenta da República, no que contam com o poderoso apoio de uma mídia facciosa e descompromissada com os interesses nacionais.

E novos fatos, visando jogar mais água no moinho do golpe, podem estar sendo gestados, como seria o caso de uma injustificável rejeição, pelo TCU, das contas do governo Dilma. 

Como é inevitável, esta ofensiva conservadora vem acompanhada de uma inflexão cada vez mais à direita de setores que antes estavam situados mais próximos ao centro do espectro político.

Em nome da obsessão em atingir o poder central de qualquer forma, figuras com algum passado democrático alinham-se aos que defendem a tortura, aos que pregam um golpe militar, aos que transpiram preconceitos de toda espécie, vociferados em epítetos de ódio cada vez mais comuns.

Até o Supremo Tribunal Federal (STF) serve atualmente de palco a espetáculos desta natureza, como vimos durante o julgamento da ação sobre financiamento de campanha, nesta quarta-feira (16), quando o ministro Gilmar Mendes proferiu uma prédica que seria vergonhosa em qualquer ambiente, mas que partindo de um magistrado da nossa mais alta corte, em plena sessão, causa estupefação aos democratas, mas não ainda a reação necessária a tal despautério. 

Por mais que alguns golpistas neguem e se proclamem democratas, suas atitudes são de claro compromisso com o que existe de mais atrasado e obscurantista na sociedade brasileira.

No golpe militar de 1964, oportunistas desta espécie também faziam juras de amor à democracia, e o final da história todos conhecem.

A atual estratégia golpista, embora por caminhos e métodos diferentes do movimento que implantou o regime militar, também é o de solapar a democracia para em seguida atacar os direitos sociais, a soberania nacional, a integração da América Latina e, não se enganem os incautos, mesmo as liberdades civis mais comezinhas estarão ameaçadas se o poder central for empolgado pela poderosa aliança entre a direita e os veículos da mídia hegemônica.

Pois neste cenário, os desmandos daqueles serão acobertados por estes, reeditando o que tantas vezes aconteceu na trajetória da nação e ainda acontece em regiões onde o PSDB e seus satélites governam. 

Fica claro, portanto, que qualquer outra atitude que não seja a defesa intransigente do legítimo mandato da presidente Dilma, é cegueira política.

Tal compreensão vem mobilizando cada vez mais amplas parcelas da sociedade.

A resolução da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), aprovada no dia 14 (segunda-feira), faz a seguinte conclamação: “O PCdoB, nesta hora em que paira sobre a Nação brasileira essa ameaça de retrocesso, renova o chamamento a todos que têm a democracia como um dos bens mais preciosos da Nação para que se unam, para que lutem para preservá-la, tendo como condição primeira a garantia de que a presidenta Dilma Rousseff conclua, conforme determina a Constituição, o seu mandato em 2018”.

Momento fundamental desta luta será o dia 3 de outubro, data em que a Petrobras completa 62 anos.

Neste dia, a recém-organizada Frente Brasil Popular, que reúne forças de esquerda, movimentos sociais, artistas e intelectuais, programou uma agenda de mobilizações de massa, tendo como primeira palavra de ordem a defesa do mandato presidencial de Dilma Rousseff.

Assim como no dia 20 de agosto, que representou um valioso momento de resistência democrática, no dia 3 de outubro veremos de novo nas ruas todos os rostos e cores que formam o miscigenado povo brasileiro se encontrarem, em defesa da Petrobras, dos direitos sociais, e das bandeiras da democracia e do progresso.

Como asseverou a presidenta do PCdoB, deputada federal Luciana Santos: “Não vamos aceitar golpe. Esse país vai entrar num processo de conflagração e nós estaremos na trincheira, defendendo o legado de um projeto para o país que democratizou na prática e garantiu avanços significativos na vida das pessoas”.

Será fundamental, na luta para afastar do horizonte as nuvens cinzentas do golpe e da ofensiva conservadora, construir de forma exitosa o dia 3 de outubro quando, como diz o poeta, o país vai “cantar a evolução da liberdade / até o dia clarear”.


Fonte: Vermelho

STF: Financiamento de empresas a campanhas é inconstitucional

 Depois de um ano e nove meses, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, na noite de quinta (17), o julgamento a respeito do financiamento privado de campanhas políticas. Por oito votos a três, a corte considerou que as doações de empresas a candidatos e partidos é inconstitucional. A decisão já é válida para as eleições de 2016.

A resolução dá à presidenta Dilma Rousseff respaldo para vetar projeto aprovado pela Câmara dos Deputados, que vai no sentido oposto à resolução do STF, autorizando a doação de empresas para partidos políticos. A presidenta tem até o dia 30 para avaliar o projeto. Mesmo se a nova lei for sancionada sem vetos, outra ação poderá ser apresentada ao STF para invalidar o financiamento político por pessoas jurídicas. Para entrar em vigor nas eleições municipais do ano que vem, uma eventual sanção deve ser efetivada até 2 de outubro, um ano antes do primeiro turno do pleito.
A ação que contestou as contribuições empresariais foi movida em 2013 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), sob a alegação que o poder econômico desequilibra a disputa eleitoral. O julgamento começou em dezembro daquele ano e foi interrompido duas vezes. Em 2013, o ministro Teori Zavascki pediu vista e, em abril de 2014, o ministro Gilmar Mendes fez o mesmo, protelando até agora um desfecho. O julgamento só foi retomado nesta quarta (16).

Votaram a favor da proibição o relator do caso, Luiz Fux, e os ministros Joaquim Barbosa, Dias Tofffoli e Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Cármen Lúcia. A favor da manutenção das doações por empresas votaram somente Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Celso de Mello.

Na sessão desta quinta, Fux relembrou seu entendimento sobre as doações por empresas.“Chegamos a um quadro absolutamente caótico, em que o poder econômico captura de maneira ilícita o poder político”, afirmou na sessão. A ministra Rosa Weber defendeu em seu voto que as doações privadas desequilibram as chances dos candidatos, favorecendo quem consegue mais contribuições empresariais. “É de rigor, pois, concluir que a influência do poder econômico transforma o processo eleitoral em jogo político de cartas marcadas”, disse.

“No Brasil, os principais doadores de campanha contribuem para partidos que não têm identidade política e se voltam para obtenção de acordos com o governo. As empresas investem em todos os candidatos que têm chance de vitória”, afirmou Marco Aurélio.

Já para Dias Toffoli, “o financiamento público de campanha surge como a única alternativa de maior equilíbrio e lisura das eleições. Permitir que pessoas jurídicas participem do processo eleitoral é abrir um flanco para desequilíbrio da dicotomia público-privada”.

Resposta à sociedade

O resultado foi comemorado pela bancada do PCdoB. Para a líder da legenda na Câmara, Jandira Feghali (RJ), o desfecho do julgamento foi uma importante sinalização. “Isso é combate efetivo à corrupção, é estímulo a uma maior igualdade na representação partidária no Congresso Nacional, que hoje sofre com uma gravíssima distorção pela influência do poder econômico. Grande parte da sociedade brasileira desejava isso e não teve essa resposta da Câmara”, afirma.

De acordo com Aldo Arantes, representante da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, a decisão do STF não afeta diretamente a proposta recém-aprovada pelo Congresso que permite doações de empresas, mas dá respaldo à presidenta Dilma Rousseff para vetar trecho do projeto. “No entanto, se a nova lei for sancionada sem vetos, outra ação poderá ser apresentada ao STF para invalidar o financiamento de empresas com base no novo entendimento do tribunal”, avalia.

“Finalmente, o STF expurgou o financiamento empresarial das campanhas no país. A influência do poder econômico na política é algo grave, é uma das grandes causas da corrupção e da falta de legitimidade de muitos ‘representantes do povo’. O STF acerta com este resultado”, comemora o vice-líder do PCdoB, deputado Rubens Pereira Jr (MA).

Para a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), o resultado do Supremo coloca o Brasil “no caminho para a reconstrução política”.

Nas eleições de 2014, 70% do dinheiro arrecadado por partidos e candidatos vieram de empresas. Pela lei atual, pessoas jurídicas poderiam doar até 2% do faturamento bruto do ano anterior ao das eleições. Pessoas físicas também podem fazer doações, no limite de 10% de seu rendimento. Essa possibilidade foi mantida pelo STF.
 
Do Portal Vermelho, com agências

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Bancos frustram rodada econômica e Comando convoca mobilização

Crédito: Jaílton Garcia/ Contraf-CUT
Jaílton Garcia/ Contraf-CUTA Fenaban preferiu responder que ainda vai consultar as instituições

Sem avanços. Foi assim que terminou a quarta rodada de negociação da Campanha Nacional 2015, nesta quarta-feira (16), em São Paulo, com o tema remuneração. Mesmo com os lucros nas alturas, os bancos não apresentaram propostas sobre as reivindicações entregues pelo Comando Nacional dos Bancários, incluindo o reajuste salarial de 16%. A Fenaban preferiu responder que ainda vai consultar as instituições financeiras para apresentar uma proposta global para a categoria. 

A próxima reunião ficou marcada para o dia 25 de setembro, um dia após reunião dos banqueiros. Para Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT e um dos coordenadores do Comando Nacional dos Bancários, é muito tempo para que se apresente uma proposta para as reivindicações. "O comando ficou muito insatisfeito e protestou veementemente. Não parece que estão interessados em resolver nossa campanha como afirmam. Para o dia 25 os bancários esperam uma proposta que justifique essa longa espera."

O presidente da Contraf-CUT reforça que o momento exige grande mobilização da categoria. "Um setor que ganha tanto deveria valorizar mais seus empregados na hora da campanha. Temos que estar muito mobilizados neste momento e com muita disposição para defender nossos direitos, empregos e salários", convocou. 

Somente no primeiro semestre deste ano, os cinco maiores bancos que operam no País (Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa) lucraram R$36,3 bilhões. Um crescimento de 27,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas os negociadores dos bancos tentaram usar a retração econômica do País para justificar a falta de propostas, com a alegação de que este é um ano atípico. 

"Não existe crise para o setor, que também lucra com o aumento da Selic . Nos seis primeiros meses ganharam R$ 109,6 bilhões com receitas de títulos, crescimento de 59% em relação ao mesmo período de 2014. Mesmo com tanto dinheiro, eles demitem os trabalhadores e aumentam as taxas de juros para os clientes", disse Juvandia Moreira, vice-presidenta da Contraf-CUT e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários. 

"A Fenaban marcou nova reunião dia 25 e tem até lá para apresentar uma proposta condizente com os ganhos bilionários dos bancos para os trabalhadores", completou. 

Nas negociações desta quarta-feira foram debatidas as seguintes reivindicações:

Reajuste de 16%
O reajuste de 16%, reivindicado pelos bancários, inclui reposição da inflação mais 5,7% de aumento real. Nos últimos 10 anos (2004 a 2014), a categoria bancária conquistou aumento real de 20,7%. O Comando alertou, durante a negociação com a Fenaban, que não aceitará retrocessos. 

PLR
Estudos do Dieese apontam que quanto maior o lucro do banco, menor tende a ser o percentual de distribuição na forma de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Os percentuais do Bradesco e do Itaú, por exemplo, foram 6,70% e 5,40%, respectivamente, sobre o lucro líquido de 2014, mas já chegaram a pagar 14% em 1995, quando os bancários começaram a negociar a PLR.

Diante deste quadro desproporcional, a categoria está reivindicando PLR de três salários mais parcela fixa de R$7.246,82. Na hipótese de prejuízo, os trabalhadores querem a garantia do pagamento de um salário mínimo do Dieese, referente ao mês de divulgação do balanço.

Os bancos sinalizaram para a manutenção das regras do ano passado com correção, mas ficou de apresentar um pacote global.

14º salário
Como valorização do trabalhado executado pelos bancários, os dirigentes sindicais reivindicaram o pagamento do 14º salário a todos o empregados, inclusive aos afastados e aos que tiveram o contrato de trabalho rescindido. A Fenaban disse não. Argumentou que não há justificativa para mais uma remuneração fixa e que a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) já conta com muitos benefícios. 

Salário de ingresso
O Comando Nacional também quer garantir o piso inicial, no setor bancário, de R$3.299,66. O valor é equivalente ao salário mínimo indicado pelo Dieese, como essencial para a sobrevivência do trabalhador. A minuta da categoria também propõe o salário inicial de R$4.454,54 para caixas e operadores de atendimento e a criação dos pisos de R$ 5.609,42 para primeiro comissionado e de R$ 7.424,24 para primeiro gerente. Mas também não houve propostas por parte dos banqueiros. 

Parcelamento de adiantamento de férias
Os dirigentes sindicais também defenderam a proposta da categoria de que os trabalhadores, por ocasião das férias, possam requerer que a devolução do adiantamento feito pelo banco seja efetuada em até dez parcelas iguais e sem juros, a partir do mês subsequente ao do crédito. Vários bancos já concedem essa vantagem aos bancários. Os banqueiros ficaram de discutir entre os bancos, para responder posteriormente.

Reajuste dos auxílios
Outra reivindicação é o aumento no valor dos vales alimentação, refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá para R$788,00 ao mês, para cada, correspondendo ao valor do salário mínimo nacional vigente. Os banqueiros, mais uma vez, ficaram de responder futuramente às reivindicações.

Auxílio Educacional 
Os bancários ainda solicitaram que as despesas com ensino médio, graduação e pós-graduação sejam custeadas integralmente pelos bancos. Atualmente, o auxílio educacional é estabelecido conforme critério de cada instituição bancária. Nesta clausula, não houve consenso entre os bancos e, conseqüentemente, não houve acordo.

15 minutos
O debate sobre os 15 minutos de pausa para mulheres antecedendo a jornada extraordinária também foi realizado nesta quarta. Foram feitas as explicações do súbito cumprimento da lei, por parte dos bancos, e do que poderia ser feito para modificar este procedimento. Foi combinado uma pausa no debate enquanto o assunto tramita no STF. 

Calendário de negociações

Fenaban
Dia 25/9

Banco do Brasil 
18/9 - Remuneração e Plano de Carreira

Caixa Econômica Federal
18 /9 - Contratações, Condições das agências e Jornada de Trabalho

Itaú
23/9 - Emprego

Banco do Nordeste
17 e 18/9 - Igualdade de Oportunidades 

Banco da Amazônia
17/9 - Igualdade de Oportunidades

Banrisul
17/9 

Banco de Brasília
17 e 21

Banco do Pará 
18/9 

Fonte: Contraf

Carta aberta de apoio a Dilma Rousseff

Parlamentares de seis partidos da base do governo (PcdoB, PT, PSD, PROS, PP e PMDB) lançaram na terça-feira (15/9) um manifesto público de apoio ao mandato da presidenta Dilma Rousseff. O documento foi anunciado e lido ao final de um café da manhã, na Câmara dos Deputados, que reuniu lideranças dos partidos aliados, e depois foi entregue à presidenta.
A iniciativa é uma resposta à oposição que, na semana passada, lançou na Câmara um movimento a favor da abertura de um processo de impeachment da presidenta da República, em mais uma ação entendida como uma estratégia golpista de setores reacionários da sociedade brasileira.
No documento, assinado por 21 parlamentares, o grupo declara repúdio "a toda forma de retrocesso democrático que tente deslegitimar e encerrar de forma prematura o mandato popular conquistado, de forma limpa, em pleito democrático". Entre os signatários da carta estão o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, o presidente do PT, Rui Falcão, Valdir Raupp e Jandira Feghali.
Confira a íntegra do manifesto:
Declaração em Defesa da Democracia e do Mandato Popular
Nós, representantes dos partidos que dão sustentação ao governo legítimo e democrático da presidenta Dilma Rousseff.
CONSIDERANDO que a presidenta Dilma Rousseff tomou posse, há pouco mais de oito meses, para um mandato de quatro anos, após vencer um pleito democrático, limpo e livre;
ASSINALANDO que é dever cívico, constitucional e democrático da presidenta da República honrar o mandato a ela concedido pelo povo brasileiro até o seu final;
ENFATIZANDO que o cumprimento do mandato obtido legitimamente nas urnas significa, sobretudo, respeito ao voto popular, base de qualquer democracia digna desse nome;
LAMENTANDO, contudo, que, desde a apuração dos resultados das urnas, forças políticas radicais, que exibem baixo compromisso com os princípios democráticos, venham se dedicando diuturnamente a contestar e questionar o mandato popular da presidenta Dilma Rousseff, utilizando-se dos mais diversos subterfúgios políticos e jurídicos, que vão desde o absurdo e inédito questionamento da urna eletrônica, lisura do pleito até a tentativa de criminalização de práticas orçamentárias em um contexto de crise fiscal e utilizadas por vários governos no passado, incluindo a contestação intempestiva das contas de campanha previamente aprovadas na justiça eleitoral;
CONSIDERANDO que tal processo se constitui numa clara e nova forma de golpismo, a qual, embora não se utilize mais dos métodos do passado, abusa dos mecanismos solertes das mentiras, dos factóides e das tentativas canhestras de manobras pseudo-jurídicas para afrontar o voto popular e a democracia;
COLOCANDO EM RELEVO que, embora manifestações populares que expressem anseios e insatisfações sejam legítimas, elas não podem servir de escusa torpe e oportunista para que invistam contra o mandato legítimo da presidenta, pois a ordem constitucional brasileira sabiamente impõe processo rigoroso e fundamentos jurídicos muito sólidos para a recepção de contestações de mandatos populares;
SALIENTANDO, ademais, que, num regime presidencialista, a legitimidade do mandato é dada exclusivamente pelas urnas, não podendo ficar ao sabor de pesquisas de opinião que retratam uma conjuntura econômica adversa e impactada pelo crise internacional associada a volatilidade de uma crise política artificialmente cevada por aqueles que se recusam a reconhecer sua derrota na última eleição;
OBSERVANDO, a esse respeito, que o principal entrave ao reequilíbrio das contas públicas e à consequente retomada do crescimento econômico com distribuição de renda, como é o desejo de todos os brasileiros, reside no atual clima político deteriorado, gerado pelo golpismo que tenta se impor sobre a governabilidade e que dissemina sentimentos de insegurança, pessimismo e intolerância política por toda a sociedade;
CONVICTOS de que a presidenta Dilma Rousseff, cidadã incontestavelmente proba, honrada e dedicada, de forma integral, a trabalhar pelo bem do Brasil, fez avanços notáveis em seu governo para promover o combate à corrupção, ao fortalecer as instituições de controle e ampliar a transparência da administração pública, algo que seus críticos nunca fizeram;
CERTOS, do mesmo modo, de que a presidenta Dilma Rousseff, a qual enfrenta, desde o início de seu primeiro mandato, a pior crise mundial desde a Grande Depressão de 1929, esteve e está sinceramente empenhada, como o ex-presidente Lula, na promoção do desenvolvimento econômico com eliminação da pobreza e redução das desigualdades, processo até aqui exitoso, pois resultou na extinção prática da miséria e na ascensão social de 40 milhões de brasileiras e brasileiros, o que demonstra que os acertos desses governos progressistas foram muito superiores aos seus erros; e
CONSIDERANDO, por último, que é chegada a hora de todas forças sociais e políticas efetivamente comprometidas com o Brasil e sua democracia reafirmarem sua inestimável e bem-vinda contribuição para que o país supere suas atuais dificuldades e retome, o mais rapidamente possível, o desenvolvimento econômico e social, num ambiente de paz, reconciliação e respeito incondicional aos princípios democráticos;
DECLARAMOS:
I. Nosso firme e decidido apoio ao mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff, que se extinguirá somente em 31 dezembro de 2018;
II. Nosso mais veemente repúdio a toda forma de retrocesso democrático, que tente deslegitimar e encerrar de forma prematura o mandato popular conquistado, de forma limpa, em pleito democrático;
III. Nosso entendimento de que o Brasil demanda a superação do atual clima político deteriorado, o qual coloca sérios obstáculos à governabilidade e à recuperação econômica, dissemina a insegurança, o pessimismo, a intolerância e o ódio político pela sociedade, bem como envenena a democracia do país, duramente conquistada com a luta incansável de gerações de brasileiros;
IV. Nossa absoluta convicção de que o Brasil e sua democracia são muito maiores que as dificuldades econômicas e políticas que enfrentamos, e que o país superará, em breve, todos os entraves à retomada do desenvolvimento econômico e social, preservando e aprofundando o processo democrático do qual todos os brasileiros se orgulham e se beneficiam;
V. Nosso sincero convite a todas as forças políticas responsáveis do Brasil, que não apostam no "quanto pior melhor" ou não se omitem diante dos incapazes de apresentar propostas, a que dêem sua bem-vinda contribuição para que o país se reencontre no caminho do crescimento econômico, da justiça social, da soberania e do crescente aprofundamento de sua bela e jovem democracia.
Fonte: Portal CTB via Feebbase

Mendes vota a favor do financiamento de empresas em campanha eleitoral

Depois de quatro horas de exposição, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou contra a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650, que questiona as regras relativas a doações para campanhas eleitorais e partidos políticos. O julgamento ocorreu nesta quarta (16), um ano e cinco meses após pedido de vista do ministro, mesmo depois da maioria dos ministros do STF ter votado contra o financiamento privado nas campanhas. A sessão será retomada nesta quinta (17).


O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, votou contra a proibição de empresasO ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, votou contra a proibição de empresas
Em sua exposição, o ministro disse que não há vedação expressa na Constituição a doações privadas a candidatos e a partidos políticos. Após a leitura do voto, o julgamento foi interrompido e será retomado na sessão desta quinta-feira (17).

Na apresentação de voto, Gilmar Mendes afirmou que os partidos políticos devem receber apoio privado, como forma de provar que as legendas existem de fato e têm apoio da parte da sociedade. “Por essa razão, faz-se imprescindível que os partidos políticos logrem auferir recursos privados, por via de doações, que sejam de pessoas naturais, seja de pessoas jurídicas, entre aquelas cujas contribuições não estejam vedadas pelo ordenamento”, disse o ministro.

Em sua opinião, o fim do financiamento por pessoas jurídicas poderia criar uma situação em que seria possível uma empresa repassar recursos a pessoas físicas com a finalidade exclusiva de doar aos partidos políticos.

Para o ministro, o modelo atual de controle das campanhas eleitorais não permite à Justiça Eleitoral averiguar se recursos destinados a partidos são lícitos ou se os serviços declarados foram efetivamente prestados.

Criticou as críticas 
Mendes reclamou das críticas que sofreu durante os quase um ano e meio que pediu “vista” para analisar a Ação. O ministro disse ainda achar estranho que as reclamações viessem da internet, através de blogs que ele chamou de “assassinos da moral” e com interesses ocultos.

“A reclamação não veio do requerente [OAB], mas talvez do autor oculto da ação, de quem tinha interesse nesse tipo de desfecho. Blogs, esses assassinos da moral de pessoas, esses twittters automáticos, todos dedicados a esse tipo de ataque. Interessante que não se pronunciava sobre isso a OAB”, reclamou.

6x2

O placar da votação, que começou em 2013, está agora em 6 votos a 2 contra as doações. Ainda faltam votar os ministros Celso de Mello, Rosa Weber e Cármen Lúcia. Os que votaram com o relator, ministro Luiz Fux, contra o financiamento privado, foram: Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Joaquim Barbosa (aposentado), Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski.

Se o entendimento final da corte ocorrer até o dia 2 de outubro, um ano antes do pleito, passa a valer ainda para as eleições municipais de outubro de 2016.

A decisão da Corte será definitiva e não dependerá de sanção da presidenta Dilma Rousseff sobre o projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados, na semana passada, que autorizou o financiamento. Em caso de sanção pela presidenta, será necessária a impetração de outra ação para questionar a validade da lei que entrará em vigor.

Regra atual

É permitido às empresas doarem até 2% do faturamento bruto obtido no ano anterior ao da eleição. Para pessoas físicas, a doação é limitada a 10% do rendimento bruto do ano anterior.

Segundo o relator, Luiz Fux, as únicas fontes legais de recursos dos partidos devem ser doações de pessoas físicas e repasses do Fundo Partidário.


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Roberto Amaral: A urgência da Frente Brasil Popular

A Frente Brasil Popular, recém lançada em Belo Horizonte (5 de setembro), é a resposta das forças populares às articulações de direita que, derrotadas nas eleições de 2014, intentam depor a presidente Dilma Rousseff mediante o artifício de um impeachment sem base fática, sem arrimo jurídico, apoiado tão simplesmente no ódio dos derrotados sem consolo.

Por Roberto Amaral*, em seu blog


  
Mas, para além de destituir a presidente, o projeto da direita visa ao retrocesso social. Seu instrumento é a tentativa de isolar a presidente e imobilizar o governo. Coube à direita colocar na liça o ódio de classe. Cabe-nos responder ao desafio.

A Frente Brasil Popular é ampla, no sentido de que, não sendo estreita (esquerdista), está aberta a todas as forças que aderirem aos compromissos de seu Manifesto, e dois são os objetivos fundamentais: (1) barrar o golpismo e (2) fazer frente à onda conservadora que pervade a sociedade brasileira, açulando os instintos políticos mais primitivos, como a intolerância, o autoritarismo, o sectarismo. A Frente é nacional não apenas no sentido de que se expande por todo o nosso território, mas porque está preocupada com as questões nacionais, a começar pela nossa soberania, pela defesa da economia nacional, de nossas riquezas e de nosso patrimônio, ameaçado, de que serve de exemplo o projeto do grande capital de desnacionalizar e privatizar o pré-sal.

A Frente é popular porque não resulta de uma engenharia de cúpula, nascida como exigência dos movimentos sociais que a criaram, que a animam e que a sustentarão. A Frente é politica – pois seus objetivos são políticos – mas não é partidária, nem hegemonizada por partidos; também não é antipartidária, pois está aberta aos partidos progressistas que dela desejem participar. Política, a Frente não é eleitoral. Não olha para os pleitos de 2016 e 2018, mas não descura de sua importância. A Frente é estratégica, mira o médio e o longo prazos, se candidata à defesa das teses progressistas e ao enfrentamento do conservadorismo, mas reconhece a necessidade de atividades táticas, como, no imediato, a defesa do mandato da presidente Dilma. A Frente é democrática, pois tem no diálogo e na construção de consensos seu método de atuação, mas não tem a veleidade de ser única: não pleiteia o monopólio do movimento social; antes, espera estimular o maior número possível de iniciativas populares em defesa da democracia, dos interesses dos assalariados e do avanço social.

Onde estiver um militante do movimento social, onde estiver um democrata, um progressista, o espírito da Frente espera estar presente.

A Frente, ao mirar o futuro, terá de, para o bem do país que queremos construir, de sobreviver às contingências de hoje, e para tal precisará de estabelecer prioridades. E, nas condições atuais, sua prioridade é a preservação do mandato da presidente Dilma, não como fim, mas como ponto essencial da resistência democrática, pois, alcançado o impeachment, por qualquer das muitas formas que os juristas de plantão sabem engendrar, estará aberta a porteira para a derrocada das conquistas sociais e econômicas dos últimos anos, estará aberto o caminho para a construção de uma sociedade autoritária.

Será a vitória do retrocesso político e do neoliberalismo arcaico. Se não for detida, agora, a onda conservadora transforma-se-á em verdadeiro tsunami que a todos devorará, e muitos serão os anos necessários para a reconstrução de um projeto de avanços sociais fincado na emergência das massas. Pois a questão fulcral é mesmo essa: a direita de hoje como a direita em 1954 e em 1964 reage à emergência as massas, emergência sempre intolerável para nossas elites rentistas. Seu ponto de ataque é o mandato da presidente, o alvo simbólico, a primeira fortaleza a ser atacada, mas não a última: na sequência, como sempre, serão devoradas as franquias democráticas, restringidos os direitos dos trabalhadores, relevada a segundo plano a soberania nacional. O impeachment, uma vez alcançado – com o lamentável concurso de pessoas honradas como Hélio Bicudo que, não sabendo envelhecer, dá as mãos antes limpas para o abraço com Bolsonaro e Caiado – será o sinal para a destruição dos partidos de esquerda, a começar pelo PT, a destruição dos quadros-ícones da esquerda, a começar pela imagem de Lula. Iluda-se quem quiser e quem quiser que aposte no ‘quanto pior melhor’. É o mais curto caminho para o suicídio político.


*Roberto Amaral é cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004.
Fonte: Vermelho

Altamiro Borges: O melancólico papel de Hélio Bicudo

O advogado Hélio Bicudo se projetou no cenário nacional no período sombrio do regime militar. De forma corajosa, ele denunciou os "esquadrões de morte" acobertados pela ditadura e tornou-se uma referência na luta pelos direitos humanos.

Por Altamiro Borges*


O melancólico papel de Hélio BicudoO melancólico papel de Hélio Bicudo
Sem nunca abdicar da sua visão liberal da democracia, ele ajudou a fundar o PT, fez parte do governo de Luiza Erundina, elegeu-se deputado federal em 1990 e foi vice-prefeito de Marta Suplicy.

Alegando "problemas pessoais", nunca explicitados, ele rompeu com o PT em 2005. Na eleição presidencial de 2010, Hélio Bicudo já garantiu os holofotes da mídia ao apoiar Marina Silva (PV), no primeiro turno, e o tucano José Serra, no segundo. Agora, porém, ele chega ao fundo do poço ao se aliar aos fascistas mirins que exigem o impeachment de Dilma.

Na semana passada, o veterano jurista se reuniu com alguns líderes das marchas golpistas que rosnam pelo 'Fora Dilma' e pela volta dos milicos ao poder. Neste papel melancólico, Hélio Bicudo autorizou que seu "parecer jurídico" sobre o impeachment seja anexado ao pedido que PSDB, DEM, PPS e SD protocolarão na Câmara dos Deputados nos próximos dias. "Procuramos o doutor Hélio para conferir mais prestígio popular ao pedido", disse Carla Zambelli, do grupelho "Nas ruas contra a corrupção". Na ocasião, o jurista voltou a expor, em vídeo, o seu ódio doentio contra o ex-presidente Lula.

O fim de carreira do jurista não surpreende apenas os democratas que o respeitaram no passado. Sua postura rancorosa gerou críticas até na sua própria família. No início de setembro, três filhos de Hélio Bicudo fizeram questão de explicitar suas divergências. José Eduardo Bicudo inclusive expôs as suas críticas na sua página no Facebook:

Sou um dos filhos de Hélio Bicudo e como meus irmãos, que já se manifestaram em público, também me manifesto contra o pedido de impeachment feito pelo meu pai. É triste ver uma pessoa que possuía um patrimônio político e uma história de vida digna juntar-se à direita mais sórdida do nosso país para fazer um papel no mínimo ridículo, extemporâneo, e se expondo de uma maneira pueril. Infelizmente, a sua luta contra o esquadrão da morte acaba ficando menor, neste momento pelo qual passa o Brasil, diante da insensatez que é o seu pedido de impeachment.

Nas entrelinhas do texto é possível verificar que o pedido de impeachment de Dilma é uma cortina de fumaça e o objetivo principal do pedido é atingir Lula, de um lado se juntando à campanha da mídia conservadora contra a candidatura de Lula para presidente em 2018 e de outro lado revelando mais uma vez a sua desesperada 'briga' pessoal com Lula, a qual vem se arrastando por mais de uma década.
 


Fonte: Vermelho

Jandira e Orlando rebatem oposição golpista no Plenário da Câmara

Na noite de terça-feira (15), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acatou questão de ordem solicitada pelo deputado Mendonça Filho (DEM-PE) sobre o andamento do processo de impeachment presidencial. Apressadamente, o deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), vice-líder do governo, e a líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), subiram à tribuna da Câmara para defender a democracia e o mandato da presidenta Dilma Rousseff.


Orlando Silva e Jandira Feghali rebatem pedido de impeachment encabeçado pela oposiçãoOrlando Silva e Jandira Feghali rebatem pedido de impeachment encabeçado pela oposição
“Aqueles que pensam que Dilma Rousseff é igual a Fernando Collor de Melo irão se surpreender. Haverá luta política de nosso povo. Aqui no Brasil tem organização, os trabalhadores irão defender as conquistas. Não adianta querer fazer atalhos. Na mão grande ninguém levará o mandato da presidenta Dilma”, rebateu o více-líder do governo, Orlando Silva (PCdoB-SP).

Nos bastidores da Câmara, já haviam rumores de que partidos da oposição fariam o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff esta semana, mas eles aproveitaram a sessão no Plenário da Casa para dar início às tratativas de impeachment. A questão de ordem foi subscrita por deputados do PSDB, do Solidariedade, do PPS, do PSC e do PTB – mesmo grupo que na última semana lançou um movimento pró-impeachment. O líder do DEM pediu que todas as dúvidas sejam esclarecidas em três sessões.

“O DEM quando se presta a este papel demonstra que é legítimo herdeiro da Arena, o partido que sustentou o regime militar no Brasil. Não adianta querer cortar caminho, atitude democrática é aguardar as eleições de 2018. Vocês têm de ir para a rua ganhar voto a voto. Hora de crise é momento de refletir e construir alternativas para retomar o crescimento nacional. O povo lá fora não quer saber de briga entre governo e oposição, mas que responda aos desafios que o país enfrenta”, destacou o deputado Orlando Silva, em um tocante discurso. Assista a íntegra abaixo:


O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), defendeu a legitimidade do mandato da presidenta Dilma Rousseff. “Nós ganhamos a eleição e é com base nesse mandato popular que vamos governar pelos próximos três anos e seis meses. A oposição disputou a eleição e não aceita o resultado do voto popular”, disse.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) acusou os oposicionistas de tentarem patrocinar um golpe de Estado: “Anunciaram aqui que estão dispostos, através do golpe, a tentar abreviar o mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff”.

A líder do PCdoB na Casa, deputada Jandira Feghali (RJ), também saiu em defesa da estabilidade democrática no país. “Quem faz política tem lado e neste momento nosso lado é o da democracia brasileira. Uma democracia que veio depois de muita luta, de muita morte, e que não admite que sem nenhum delito da Presidência da República seja acatado um pedido de impeachment. Não há base técnica, política ou jurídica para isso. Estamos aqui defendendo um projeto de mais Estado, de mais políticas públicas, de mais emprego, de mais renda. Tentar emplacar um processo de impeachment agora é golpe.”

Após a fala de Orlando Silva, o deputado Jair Bolsonaro, enfurecido, fez ao microfone da Câmara acusações injustas e injuriosas à presidenta Dilma e ao deputado Orlando Silva. Já na Tribuna, a deputada Jandira tentou acalmar os ânimos. E fez um excelente discurso. Assista abaixo a íntegra:
 

O presidente da Casa, Eduardo Cunha, não deu prazo para a resposta sobre a questão de ordem, mas, segundo fontes, ele deverá tratar do assunto na próxima semana.


Do Portal Vermelho, Eliz Brandão, com informações do PCdoB na Câmara

“Nós somos as vítimas do maior genocídio da humanidade”, denuncia militante indígena

Um depoimento gravado pela militante indígena Daiara Tukano ganhou repercussão nas redes sociais, na última semana. O vídeo fazia um apelo aos movimentos sociais e ativistas para que se unissem à luta contra o massacre do povo Guarani-Kaiowá, vítima da disputa por terras no município de Antônio João, no Mato Grosso do Sul (MS).
Daiara é indígena do povo Tukano, formada em artes pela Universidade de Brasília, mestranda em direitos humanos, educadora, artista e militante indígena e feminista.
Em entrevista ao Brasil de Fato, ela fala sobre a miséria e as ameaças sofridas dentro dos territórios em que os Guarani-Kaiowás vivem, sobre a articulação dos proprietários de terra no Congresso e a dificuldade na mediação de conflitos ligados à demarcação de terras indígenas.
“Nós somos as vítimas do maior genocídio da humanidade”, denuncia a militante, relembrando as práticas de ocupação e colonização no continente americano.
daiara tukano
Na semana passada, um vídeo publicado por você nas redes sociais denunciando o ataque dos fazendeiros aos Guarani-Kaiowás no Mato Grosso do Sul foi amplamente compartilhado. Ele surtiu efeito?
O vídeo que eu fiz foi um desabafo e acredito que tenha incomodado. Não retiro a minha opinião. Ali eu disse que ‘qualquer pessoa que acha que levanta uma bandeira pedindo democracia e o fim da violência, precisa abraçar a causa indígena. Caso contrário, ela estará marchando em cima do nosso sangue’. E de repende o vídeo viralizou de uma forma muito louca e as respostas estão aparecendo. Temos recebido o apoio de vários coletivos de mulheres, coletivos negros, LGBT, trans e de trabalhadores. Precisamos nos reunir todos, não apenas em favor da causa indígena, mas nos articular muito bem, pois estamos em um momento político onde há ameaças de retrocesso. A movimentação que acontece hoje no Congresso é muito bem articulada, principalmente pela bancada “BBB” [boi, bíblia e bala] que consegue aprovar diversas propostas. A frente parlamentar que ainda defende a democracia neste país está muito reduzida.
Sobre o conflito naquela região, qual é a situação do território reivindicado hoje pelos Guarani-Kaiowás?
Os Guarani-Kaiowás tiveram esta terra homologada em 2005 pelo Presidente da República, na época o Luiz Inácio Lula da Silva. No mesmo ano, uma articulação de proprietários de terra pressionou o Supremo Tribunal Federal para que o então ministro Nelson Jobim retrocedesse na decisão final. Isso gerou um conflito legal, pois segundo a Constituição o único poder que tem autoridade para a demarcação o dos territórios indígenas é o Executivo. O território homologado tinha mais ou menos 9.317 hectares e de repente os indígenas foram colocados em 2 hectares somente, sem água, sem terra fértil e sem possibilidade de plantio. Foi um golpe do Judiciário na decisão presidencial. Vimos a ação do Ministério Público Federal retirar os indígenas da terra que havia sido aprovada no mesmo ano- depois de anos de luta-, e jogá-los abandonados na beira da estrada, em uma situação de miséria.

Ouvimos a todo o momento muitos relatos de que a retirada das terras dos indígenas acaba afetando as tradições, a saúde e a própria vida desses povos. Você pode descrever melhor esta situação de miséria em que vivem?
Miséria é miséria. Isso quer dizer que eles sofrem ameaça física constante, violência psicológica, violência moral e violência patrimonial o tempo inteiro. Os pistoleiros- pagos pelos fazendeiros-, são criminosos convictos. Eles andam pelas terras e matam livremente. Enquanto isso os indígenas são obrigados a morar em barracos de lona de plástico, passando frio, enfrentando geadas e sem água para beber. Os fazendeiros fazem questão de envenenar as fontes de água próximas, jogando detrito tóxico. Ou então passam com os aviões de agrotóxico em cima dos barracos e das crianças.
Como não vão existir problemas de saúde em uma situação dessas, onde existe um estado de miséria que é provocado de maneira intencional e criminosa? O número de óbitos de crianças e idosos, por exemplo, causado por intoxicação, é decorrente desse tipo de ataque. Da mesma forma que temos um número de suicídios que é decorrente dos ataques psicológicos, inclusive físicos. Há mulheres da região que foram estupradas e após o estupro se suicidaram. Isto consta nos relatórios do Conselho Indigenista Missionário, está nos relatórios da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e do Sendo Federal e também consta nos relatórios que foram parar no STF e na ONU. E mesmo assim o Estado continua sem conseguir mediar o conflito, porque quem comanda o Brasil são os latifundiários.
Você acredita que a saída para este conflito passe por qual tipo de mediação?
É uma incógnita, mas existem algumas tentativas que estão sendo feitas. Tenho muitas ressalvas, mas agora conseguiram aprovar no Senado Federal a PEC 71, que determina o pagamento de indenização aos proprietários de terra. E é claro que não é possível unicamente demonizar estes pioneiros que foram colonizar a terra dos estados de fronteira, pois lá existem famílias e trabalhadores. O problema são as práticas que os acompanham. São gerações que sofrem incessantemente com a violência. E sempre vemos vídeos dos netos de fazendeiros dizendo ‘meu avô chegou aqui há 80 anos’, clamando seu direito a terra. Mas eu conheço avôs indígenas de mais de 100 anos que viram seus pais serem expulsos das terras, que foram expulsos quando crianças, que enterraram seus filhos e netos, que tiveram suas filhas estupradas, que tiveram parte da família que se suicidou e outra que adoeceu devido à violência e que nunca serão indenizados por isso. Essas pessoas resistem orando, fazendo seus cantos sagrados para que seu povo sobreviva. Desse modo, é impossível negar que hoje exista um genocídio indígena.
E sobre o tema do conflito cultural?
O fazendeiro e o indígena têm relações diferentes com a terra. Enquanto que para o fazendeiro a terra é produção, dinheiro e pedaço de chão, para o indígena a terra é espírito, cultura, família, raiz e identidade. Então, é necessário mediar o conflito entre esses dois entendimentos de o que significa a terra. Enquanto um vê a terra apenas como algo a ser explorado, a cultura indígena vê a terra como algo a ser reverenciado, protegido, cultuado e preservado. E é complicado encontrar pontes de diálogo entre duas culturas com valores diferentes. Vale a pena reafirmar que quando há demarcação de um território, ele não se torna propriedade de um povo indígena e sim da União. Ele é propriedade do Brasil, de todos nós. E ali acontece a preservação dos recursos naturais conjugada com a proteção de um patrimônio cultural enorme que são nossos povos indígenas.
Você mencionou a PEC 71, mas também existe nesse momento uma pressão da bancada ruralista para votar a PEC 215. Como esta proposta pode afetar ainda mais os direitos indígenas?
A PEC 215 é totalmente anticonstitucional. Ela quer passar do Executivo para o Legislativo o poder de determinação sobre as terras indígenas. Mas o Legislativo demonstra diariamente não ter conhecimento do quão complexo é o relacionamento indígena com a sua terra de origem, além de subjulgar o jogo de poder dos grandes proprietários, dos grandes industriais, das grandes mídias e das grandes multinacionais. Ou seja, não são pessoas que estão em uma posição de autonomia política para poder se dar o trabalho de estudar a vivência dos envolvidos em uma situação de demarcação de terras. Essas pessoas têm um financiamento declarado e vão trabalhar a favor do interesse de seus partidos e de seus financiadores, justamente aqueles que não querem ver o indígena morando na sua terra e que atualmente estão numa campanha escrachada de ódio contra os povos originários. Tem até gente dizendo que queremos tomar Copacabana de volta. Isto é uma completa alucinação coletiva. Além disso, a PEC 215 está se tornando um amontoado de várias propostas que atravessam questões já garantidas pela Constituição e por tratados internacionais, como o direito à consulta, o direito à autodemarcação e o direito à autoidentificação. Uma PEC adiciona coisas e não anula aquilo que já está garantido.
Outro ponto é que estão tentando incluir o marco temporal nessa proposta de texto final que foi apresentada na semana passada. O marco temporal foi uma artimanha criada pela AGU [Advocacia-Geral da União] para fazer de conta que não existe genocídio e que os únicos territórios a ser demarcados são aquele que têm ocupação permanente desde, pelo menos, 1988. Mas as práticas de genocídio são constantes desde a descoberta do Brasil e, obviamente, existe um êxodo indígena, que é o êxodo pela sobrevivência. Se você está em sua casa e chega alguém que arromba a sua porta, mata seu pai, estupra a sua mãe e diz que também vai te matar, o que você faz? Você corre. E isso é a realidade da maioria das populações indígenas do Brasil, principalmente daquelas que ainda não estão em território demarcado. É o caso dos povos do sul, do sudeste e do centro-oeste, que são justamente os povos que estão fora do território considerado Amazônia Legal.
Como você avalia as ações por parte do Estado? Ainda existe a perspectiva da tutela?
Nossa constituição democrática derrubou isso em 1988. O índio não é mais considerado incapaz. Temos direito a votar, a casar, à cidadania, entre outras coisas. O que temos hoje são atendimentos adequados às especificidades da diversidade cultural dos povos originários. O indígena tem como língua materna sua língua originária. Para preservar a sua cultura ele precisa de uma educação diferenciada e para ter um atendimento médico de qualidade ele vai precisar de atendimento diferenciado. Ele fala outra língua, mas não é um estrangeiro, pois está em sua terra. Permitir que essa cultura morra é um crime enorme. Não podemos achar que os povos originários devam adotar a cultura do colonizador para sobreviver.
Além dos Guarani-Kaiowás, quais outras etnias estão ameaçadas no Brasil?
O genocídio indígena é generalizado. No Mato Grosso do Sul também há os Terena que sofrem o mesmo tipo de perseguição e violência. No Brasil também é muito simbólica a luta dos Mundurukus, que estão resistindo a Belo Monte. Os Kariri Xocós no nordeste enfrentam um dos genocídios mais violentos que existem e eles resistem até hoje. Tem os Maxakali que, apenas no ano passado, foram vítimas de 100 assassinatos. A gente está dando apoio nesse momento à luta Guarani-Kaiowá, porque consideramos que ela é extremamente simbólica. Nos consideramos todos uma família, por isso é importante que essa luta seja vencida para que todas as outras também possam ser. Nós fazemos parte da construção do país, da identidade nacional, do patrimônio cultural, do patrimônio humano vivo e se quiserem nos matar, nós iremos enfrentá-los. Se retomarmos a história do nosso continente veremos que nós somos as vítimas do maior genocídio da humanidade. E essas práticas são incessantes, institucionais, categóricas e cotidianas.
E o que pode ser feito pela sociedade civil e movimentos solidários à causa indígena para ajudar essas lutas?
Nosso grande desafio há dezenas de anos continua sendo a questão da visibilidade. Os movimentos sociais são oprimidos quando são invisibilizados. As pessoas se comovem com as situações fora do território nacional- e, realmente, não é uma coisa pequena, porque os conflitos no Oriente Médio são realmente desastrosos e horríveis-, mas não podemos fechar os olhos para situações semelhantes que acontecem no Brasil. O que pode ser feito é dar visibilidade aos nossos problemas internos, pois ainda existem coisas que estão ao alcance de nossas mãos e outras que não estão. Nós devemos conhecer melhor a história da formação do nosso país, revisar a nossa própria história e identidade para podermos nos orgulhar da nossa raiz indígena.
Fonte: Rede Brasil Atual, por Camilla Hoshino via Portal CTB