quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal a todos e a todas!


Centenário de nascimento de Diógenes Arruda Câmara

 Na passagem do centenário de nascimento do grande brasileiro Diógenes Arruda Câmara, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) homenageia este destacado dirigente e construtor da legenda comunista.

Por Renato Rabelo*

No final da ditadura do Estado Novo, em 1943, Arruda esteve à frente dos organizadores da Conferência da Mantiqueira – conferência que colocou de pé a direção nacional do Partido, que fora desmantelada por feroz perseguição policial. Esse feito permitiu ao Partido Comunista do Brasil, então PCB, desempenhar um grande papel na luta contra o nazifascismo e pela reconquista da democracia em nosso país. Desde esta Conferência até 1957, ele assumiu, então, a importante Secretaria de Organização. Por isto, é impossível desassociar o seu nome das grandes vitórias do povo e do Partido ocorridas naquele período fértil da nossa história. O trabalho dele também foi decisivo ao sucesso do 4º Congresso (1954), que deu ao Partido o seu primeiro programa.

Décadas depois, entre 1978 e 1979, enfrentando outro regime de arbítrio – a ditadura militar –, Arruda atuou na organização da 7ª Conferência Nacional do PC do Brasil, realizada no exterior. Conferência que teve um papel fundamental na remontagem da direção do Partido, fortemente atingida pela Chacina da Lapa, ocorrida em 1976. João Amazonas sublinhava que Arruda era um dos melhores organizadores que o Partido teve.

Além de organizador do Partido, ele também se dedicou à formação política, ideológica e teórica dos militantes e dirigentes comunistas. Nesta frente de trabalho, incentivou a criação dos inúmeros cursos de marxismo-leninismo na primeira década de 1950, com destaque para os cursos Lênin e Stalin. Também criou as condições para que dezenas de brasileiros conseguissem estudar na Escola Superior do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) entre 1952 e 1956.

Após o golpe militar de 1964 ele continuou seu esforço na formação de quadros comunistas, especialmente jovens. Por onde chegava, logo tomava a iniciativa de organizar um curso de marxismo-leninismo, fosse na prisão (como no presídio Tiradentes), fosse no exílio dentro de uma embaixada estrangeira. Muitos conheceram Arruda dessa forma.

Na segunda metade da década de 1970 redigiu uma série de artigos para formação ideológica da militância, como “Ser Comunista: opção cotidiana”. Neles, disseminou valores de dedicação à causa revolucionária e ao Partido. Fidelidade que teve oportunidade de demonstrar nas duríssimas condições tanto no Estado Novo quanto na ditadura militar, quando foi preso e sofreu bárbaras torturas que abalaram seriamente sua saúde.

O documento do Comitê Central que sistematiza a trajetória de 90 anos de luta de nosso Partido apresenta o nome de Arruda entre os expoentes da segunda geração de comunistas, entre os quais também eram integrantes Luiz Carlos Prestes, Maurício Grabois, João Amazonas, Pedro Pomar, Carlos Marighella, Mário Alves, dentre outros.

Para homenagear Arruda, sua memória e seu legado, vamos destacar episódios de sua vida e contribuições de sua trajetória revolucionária.

A vida e militância de Diógenes de Arruda Câmara
Diógenes Alves de Arruda Câmara nasceu em 23 de dezembro de 1914 no pequeno município de Afogados de Ingazeira, sertão de Pernambuco. Um lugar marcado pela pobreza e pela violência. Viveu sua infância ouvindo histórias fantásticas de cangaceiros e suas lutas contra as volantes do governo. Arruda, pela vida toda, carregou consigo o espírito daquele menino sertanejo.

Em Recife passou a cursar engenharia e teve contato com a literatura socialista. Em 1934 se tornou militante do Partido Comunista do Brasil. Mudou-se então para a Bahia e matriculou-se em Engenharia Agronômica. Ali se transformou num atuante líder estudantil e comandou a campanha em defesa da siderurgia nacional.

Após o golpe do Estado Novo, Arruda passou alguns meses preso. Devido à sua combatividade e grande capacidade de organização, foi chamado a assumir o cargo máximo da direção estadual do PCB. Ainda na Bahia incentivou a criação da revista Seiva, que procurava articular todas as correntes democráticas e antifascistas no Estado.

Preso novamente, foi torturado durante dois meses e ficou mais oito meses incomunicável. O jovem dirigente comunista teve um comportamento digno, ganhando o respeito dos seus pares. Após ter sido libertado, transferiu-se para São Paulo com o objetivo de reorganizar o Partido, que fora desbaratado pela polícia.

No início de 1942 viajou à Argentina para restabelecer contatos com a Internacional Comunista (IC). A linha política aprovada era a de construir uma União Nacional, ao lado do governo Vargas, contra as potências nazifascistas e seus aliados. Arruda voltou ao país com essa diretiva e com a tarefa de apressar a reorganização do PC do Brasil. Procurou Maurício Grabois e Amarílio Vasconcelos. Juntos compuseram a Comissão Nacional de Organização Provisória (CNOP). A ela se agregaram outros dois jovens comunistas: João Amazonas e Pedro Pomar. Eles formariam o núcleo principal da direção nos 15 anos seguintes.

A principal tarefa dessa comissão foi a organização de um Conferência Nacional do PC do Brasil – que foi realizada em 1943 e ficou conhecida como Conferência da Mantiqueira. Nela, Arruda foi eleito secretário nacional de Organização. Sinal do reconhecimento de seu trabalho naquele difícil processo de reestruturação do partido, ainda sob a ditadura varguista.

Diógenes Arruda, deputado federal (1947 a 1950) concede entrevista.
Com a conquista da anistia e o fim do Estado Novo, o Partido Comunista emergiu como uma poderosa força política nacional.

Nas eleições de 1947 elegeu-se deputado federal por São Paulo pela legenda do Partido Social Progressista (PSP). A candidatura por essa sigla se deu por uma flexão tática, fato que salvou o seu mandato, quando da cassação dos parlamentares eleitos pela legenda comunista em janeiro de 1948. Arruda ainda esteve ainda à frente da organização do 4º Congresso do PCB, realizado em 1954 – no qual ele apresentou o informe mais importante, que tratava do novo programa – o primeiro desde a sua fundação.

Arruda estava no auge do seu prestígio. Prova disso está no fato de o escritor Jorge Amado ter-lhe dedicado a trilogia Subterrâneos da Liberdade, na qual é um dos personagens mais significativos: o camarada André. Contudo, a partir de 1956, depois do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética que desencadeou a divisão no movimento comunista internacional e impactou os partidos comunistas do mundo inteiro, os papéis de Arruda e de outros dirigentes do PCB passaram por sobressaltos.

A partir desse episódio, o núcleo dirigente do PCB passou a ser duramente criticado nas reuniões do próprio Comitê Central. O principal alvo dos ataques foi Diógenes Arruda, secretário nacional de Organização.

Em 1957 Arruda, Grabois e Amazonas foram destituídos da Comissão Executiva do PCB em decorrência do embate que se estabelecera no âmbito do Partido entre a corrente revolucionária, da qual Arruda e seus camaradas já citados eram integrantes, e a corrente revisionista.

Entre 1961 e 1962, a crise interna agravou-se, levando à reorganização do Partido Comunista do Brasil, (que passou a adotar a sigla PCdoB), se confrontando com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Arruda manteve-se equidistante desse confronto. E tal situação se prolongou até as vésperas do golpe militar, quando começou a entrar em contato com o PCdoB.

Ele retorna então a seu antigo Partido, incorporando-se à terceira geração: a dos reorganizadores. Por volta de 1966 ele já compunha a direção do PCdoB paulista. Ficou responsável, entre outras tarefas, por dar assistência às bases estudantis. Foi quase um recomeço para um homem que já tinha 54 anos, dos quais 33 dedicados à construção do Partido Comunista.

Com o golpe, o cerco ia se fechando contra os comunistas e Arruda seria preso por agentes da Operação Bandeirante em novembro de 1969. Ele foi barbaramente torturado nos porões do DOPS e do Cenimar. Nas sessões de tortura teve duas paradas cardíacas, perdeu um dos pulmões e uma das vistas e teve seus dedos quebrados para que não mais pudesse escrever. Não disse uma só palavra que pudesse comprometer seus camaradas. Na sua defesa, diante da auditoria militar, declarou: “Sou dirigente comunista. Não presto contas senão ao meu partido e ao povo. Minhas ideias marxistas e minha honra têm maior valor que minha vida”.

Arruda foi libertado apenas em 21 de março de 1972. O partido sabia que uma nova prisão lhe seria fatal. Por isso, a direção solicitou-lhe que deixasse o país e fosse ajudar no setor de relações internacionais, colaborando na divulgação da Guerrilha do Araguaia que havia se iniciado.

Arruda foi para o Chile, presidido por Salvador Allende. Lá articulou com outros exilados a construção do comitê de solidariedade à luta do povo brasileiro. E, quando houve o golpe militar chileno, em 11 de setembro de 1973, Arruda, depois de ficar por cerca de um mês refugiado na Argentina, conseguiu asilo na França.

Arruda passaria a cuidar das relações com os partidos marxista-leninistas da Europa. Nessa condição visitou a Albânia, Itália, Suécia e Portugal – e, também, a China. Em Portugal deu grande contribuição para a organização do Partido Comunista Português Reconstruído (PCP-R) e da União Democrática e Popular (UDP).

Entre o final de 1972 e o início de 1973 foi destroçada a comissão nacional de organização do PCdoB – com a morte de Carlos Danielli, Lincoln Oest, Luiz Guilhardini e Lincoln Bicalho Roque. A situação se agravaria ainda mais com a derrota da Guerrilha do Araguaia e o assassinato da maioria dos seus combatentes, inclusive seu comandante Maurício Grabois. Pouco tempo depois, em dezembro de 1976, caiu nas mãos da repressão uma reunião do Comitê Central, quando foram assassinados três de seus dirigentes nacionais: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond.

O Partido Comunista do Brasil estava desafiado a se reestruturar novamente. Os dirigentes que estavam no exterior – João Amazonas, Arruda Câmara, Dynéas Aguiar e Renato Rabelo – começaram a restabelecer os contatos com os comitês que ainda resistiam no interior do país. Trabalho que em pouco tempo foi concluído. A 7ª Conferência reuniu-se na Albânia entre 1978 e 1979 e Arruda estava entre seus principais animadores.

Após a Chacina da Lapa, Arruda escreveu uma série de artigos sobre os deveres da militância comunista. Esses artigos, posteriormente, foram publicados em A educação revolucionária do comunista e cumpriram um grande papel na formação ideológica dos comunistas nos estertores da ditadura militar.

João Amazonas e Diógenes Arruda com Ramiz Alia, Enver Hoxha e outros comunistas albaneses no início de 1979
Outra característica de Arruda era sua grande preocupação com a formação teórica dos militantes comunistas. Sobre isso, anos mais tarde, disse Amazonas: “Onde Arruda chegava já estava pensando em fazer algumas palestras sobre problemas teóricos e, em pouco tempo, organizava um curso (...). Foi o camarada Arruda que iniciou os cursos Stalin (na década de 1950). (...) Eles jogaram um papel importante na formação dos quadros do nosso Partido (...). Depois, conseguiu que, na escola Superior do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, se realizassem cursos para os comunistas brasileiros. (...) Esse capital teórico que adquirimos foi fruto da atividade do camarada Arruda”. Na década de 1960, organizou uma série de cursos para os jovens estudantes comunistas em São Paulo. Também deu aulas de marxismo-leninismo no presídio Tiradentes. A mesma coisa fez no Chile, na Argentina e na Albânia para a pequena comunidade de comunistas brasileiros.

No exílio Arruda participou da luta pelas liberdades políticas e pela anistia no Brasil. Esteve presente e falou no Congresso Internacional pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, realizado em Roma em junho de 1979. Em setembro desse mesmo ano, após a decretação da anistia, ele retornou ao Brasil e envolveu-se numa pesada agenda política. Ele percorreu vários estados defendendo a ampliação da anistia e a unidade da oposição contra a ditadura militar. A volta ao Brasil parece ter-lhe revigorado as energias. Mas os anos de perseguição e as torturas cobrariam o seu preço.

Zé Duarte, João Amazonas e Arruda quando Amazonas volta do exílio.
No dia 25 de novembro, Arruda organizava a recepção ao camarada João Amazonas que retornava do exílio. Ele estava muito ansioso. Nada poderia dar errado na chegada do principal dirigente do PCdoB. Quando o avião aterrissou no aeroporto de Congonhas, se colocou ao lado do velho amigo. A emoção e a tensão eram grandes naquele ambiente. Ainda dentro do carro que os levaria ao ato público, começou a passar mal. O coração sertanejo marcado pelas torturas não resistiu. Arruda estava morto.

O enterro acabou se transformando na primeira manifestação pública realizada pelo PCdoB. O caixão foi coberto por uma bandeira vermelha estampada com a foice e o martelo.

À beira do túmulo, Elza Monnerat – também recém-libertada – falou em nome dos comunistas brasileiros.

 “Juntamente com as flores da nossa saudade”, declarou ela, “deixamos o nosso adeus de despedida. Mas um adeus que é também um compromisso de honra. O compromisso de que, quaisquer que sejam as vicissitudes, levaremos adiante a bandeira que ele sempre defendeu. A bandeira do Partido, a bandeira do socialismo”.

Viva o Centenário de Diógenes Arruda Câmara!

São Paulo, 19 de dezembro de 2014


*Renato Rabelo é presidente do Partido Comunista do Brasil - PCdoB

Fonte: Vermelho




Além de Economia - O tripé e a obsessão

Para iniciar o entendimento da atual crise brasileira 

A presidenta Dilma Rousseff tocou em um ponto importante do tripé macroeconômico: os juros altos. Por Paulo Daniel

A obsessão pode ser compreendida como um apego exagerado a um sentimento ou a uma ideia desarrazoada ou até mesmo uma motivação irresistível para realizar um ato irracional. Esse sentimento, ou esse transtorno, começa a aflorar em alguns analistas de mercado, principalmente quando se trata da redução dos juros ou do famoso tripé da política econômica brasileira.
Basicamente, os três pilares da economia brasileira, estruturados em conjunto com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a partir de janeiro de 1999 é o seguinte: taxa de câmbio flutuante com livre mobilidade de capitais, para ajustar as contas externas; taxa de juro real elevada, para garantir o cumprimento das metas de inflação; superavit primário crescente, para conter o endividamento do setor público.
Para se ter uma ideia, entre 1999 e 2001, os números revelaram-se não muito interessantes; taxa de crescimento médio de 2,1% do PIB; taxa média de inflação anual de 8,8%; deficit público médio de 4,4%. A dívida líquida/PIB, que era de 39% no fim de 1998, elevou-se a 51% no fim de 2002. No período acumulamos um deficit em conta corrente de US$ 80 bilhões.
Ao que tudo indica, esse arcabouço, de certa maneira, garantiu a estabilidade monetária e a preservação da riqueza financeira em moeda nacional, mesmo que no curto prazo, e tem desencadeado ciclos de expansão e retração da economia, mas não pareceu ser capaz de promover o desenvolvimento econômico e social.
Os governos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma seguiram e vem seguindo esse arcabouço, mas de forma flexível, ampliaram os gastos do Estado, elevaram a renda e a riqueza real, a economia cresceu e desenvolveu. Com a crise, principalmente em seu início, ainda no governo Lula, a meta do dito cujo superavit primário foi praticamente esquecida, uma das fortes razões para isso, é devido estar em busca, naquele momento, de, ao menos, manter a sua riqueza com a ajuda mais do que clara do Estado nacional.
Após quase um ano com reduções consecutivas da taxa de juro referencial brasileira, SELIC, incentivos para ampliação do investimento, principalmente à indústria nacional, e do consumo, as sinalizações pessimistas da economia brasileira, do ponto vista do crescimento da renda, começam a modificar-se, haja vista, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), criado e calculado pela autoridade monetária para antecipar a tendência do Produto Interno Bruto (PIB), indica que o nível de atividade econômica do país avançou. Sem ajuste sazonal, o IBC-Br teve alta de 1,87% em agosto ante julho.
No entanto, alguns analistas do mercado estão preocupados com o crescimento econômico do ano vindouro, já especulam e solicitam a freada das reduções da taxa de juro, sendo que o argumento central é a possibilidade do retorno da inflação. Primeiro, é importante salientar que um processo inflacionário brasileiro devido ao aumento do consumo não é real, pois existe uma capacidade instalada da indústria ainda ociosa, portanto, podemos consumir, produzir, gerar empregos e crescer sem criar um processo inflacionário. A única inflação que devemos nos preocupar é com a de alimentos, puxado pelo mercado futuro internacional de commodities, mas essa não se combate com elevação dos juros, mas sim, com política fiscal.
Essa obsessão pela manutenção do tripé pode revelar um despreparo de alguns analistas de mercado em trabalhar com uma realidade factível de juros menos escorchantes e mais reais ou, então, a busca insana de ganhos vultosos sem continuar passando pelas agruras do processo produtivo, a realidade monetária e financeira brasileira está aos poucos modificando, sobreviverá quem souber adaptar-se a este cenário em construção. A presidenta Dilma tocou em um ponto importante do tripé, juros altos, neste sentido, a maioria política que aí está construída desde 2003, e confirmada nessas eleições municipais, precisa agora, a ajudar desenvolver novas formas de estabilidade monetária e financeira com crescimento sustentado e inclusão social sem os malefícios da política econômica brasileira construída no final da década de 90.
Fonte: Carta Capital

Terceirização ilegal gera multa de R$ 318 milhões

Quatro bancos e três operadoras de telefonia são acusados de irregularidades pelo Ministério do Trabalho; Sindicato atua junto com Ministério Público do Trabalho em outras três ações contra terceirização ilegal

São Paulo – A responsabilidade solidária entre empresas contratantes e terceirizadas possibilitou multa milionária a quatro bancos e três operadoras de telefonia. A fiscalização do Ministério do Trabalho autuou o Bradesco, Citibank, Itaú Santander, NET, Oi e Vivo após megaoperação durante mais de um ano em sete estados apontar terceirização irregular, problemas de adoecimento em massa e assédio moral.

São ao todo 932 autos de infração totalizando R$ 318 milhões. Em Pernambuco, os fiscais constataram seis mil atestados médicos por mês de janeiro de 2010 a maio de 2013. As empresas utilizam os serviços de call center da Contax que conta com 185.556 trabalhadores. A fiscalização pede ainda o pagamento de R$ 1,5 bilhão em salários para os terceirizados, que deveriam ser contratados como bancários ou funcionários das teles. Somada, a cobrança (salários, FGTS) é de quase R$ 2 bilhões.

“Essas multas milionárias fazem justiça aos trabalhadores terceirizados que vivem uma rotina de trabalho desumana de exploração, baixos salários, assédio moral, que levam a adoecimentos e afastamentos. As quase mil autuações são mais uma constatação da precarização das relações de trabalho que esse tipo de regime de contratação criminoso acarreta”, afirma o secretário jurídico do Sindicato, Carlos Damarindo.

Bancos e teles alegam que cumprem a lei e vão recorrer. A questão é delicada, porque ainda não existe legislação que regule a terceirização. Para o Tribunal Superior do Trabalho (TST), a prática não pode ocorrer na atividade principal de uma empresa. O Supremo Tribunal Federal vai decidir sobre a questão.

Riscos – Tramitam na Câmara Federal e no Senado dois projetos de lei idênticos, que buscam legalizar a terceirização da atividade principal de uma empresa (ou atividade-fim). Além de liberar a terceirização nas atividades essenciais, esses PLs pretendem extinguir a responsabilidade solidária. Isso significa que se a terceirizada não arcar com as obrigações trabalhistas, a tomadora de serviços, como os bancos ou as teles, não terão qualquer responsabilidade pelos trabalhadores que prestavam serviço a ela e não poderão ser acionadas na Justiça.

Atualmente, a única salvaguarda legal que garante direitos aos trabalhadores terceirizados de forma ilegal é a súmula 331 do TST, que proíbe a terceirização da atividade fim e estabelece a responsabilidade solidária entre empresas tomadoras e prestadoras de serviços – por exemplo, entre bancos e call centers – na contratação e pagamento de direitos aos trabalhadores.

Ações – O Sindicato está auxiliando o Ministério Público do Trabalho em outras três ações de âmbito nacional. Uma delas com trânsito em julgado condenou Citibank, Itaú e Contax em R$ 800 milhões mais R$ 20 mil de multa diária para cada trabalhador encontrado na condição de terceirização ilegal nas atividades de atendimento telefônico bancário, o bankfone. Esta ação tem o número 00299000820055020055.

Em setembro de 2014, em um trabalho conjunto entre o Sindicato, o Ministério Público do Trabalho e a 55ª Vara do Trabalho de São Paulo foi feita diligência na Contax na qual procuradores, oficias de justiça e técnicos do MPT e da Justiça constataram que Itaú e Citi descumprem decisão judicial de 2005 ao continuar praticando terceirização ilegal, por meio da qual empregados da Contax possuem acesso a dados bancários, o que só é permitido a trabalhadores contratados diretamente pelos bancos.

Seeb-SP - Rodolfo Wrolli, com informações da Folha de S. Paulo

Alto Comissariado da ONU repudia ofensas de Bolsonaro

 O representante para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Amerigo Incalcaterra.
O representante para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos, Amerigo Incalcaterra.

O representante para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Amerigo Incalcaterra, repudiou na segunda-feira (15) as declarações ofensivas pronunciadas no dia 9 de dezembro, no Congresso Nacional, pelo deputado federal Jair Bolsonaro contra a também deputada Maria do Rosário.

“As declarações do deputado Bolsonaro são uma ofensa não apenas para a deputada Maria do Rosário, mas também para a dignidade das mulheres e de todas as vítimas de abusos graves como violência sexual e estupro, que no Brasil é considerado um crime hediondo”, disse Incalcaterra.

“Esses tipos de declarações são inaceitáveis em uma democracia como a brasileira, principalmente por parte de autoridades públicas e representantes eleitos por voto popular. Eles devem ser muito responsáveis com suas declarações, que têm uma importante repercussão na sociedade”, acrescentou.

O representante do ONU rechaçou ainda as palavras ofensivas do deputado Bolsonaro sobre a comemoração, no passado dia 10 de dezembro, do Dia dos Direitos Humanos. “Nesta data celebramos o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um dos instrumentos internacionais mais importantes do mundo, que relembra a capacidade da comunidade internacional de reconhecer e reivindicar a dignidade da pessoa humana”, explicou.

Expressando apoio à representação protocolada na Procuradoria Geral da República pela Secretaria de Direitos Humanos e o Conselho Nacional de Direitos Humanos contra o deputado Bolsonaro, Incalcaterra pediu para que as autoridades relevantes adotem todas as medidas necessárias a fim de evitar a recorrência deste tipo de declaração.

“Fazemos um chamado ao Congresso Nacional, às autoridades políticas, judiciárias e a toda a sociedade brasileira a condenar amplamente este tipo de discursos de ódio, e a defender a dignidade humana em todo momento”, finalizou o representante da ONU.

Leia também:
Maria do Rosário entra com duas ações na justiça contra Bolsonaro
Sobre o caso: clique aqui

Fonte: Jornal GGN - Com informações da ONUBR via Vermelho

Mulheres têm intimidade violada por ações que reforçam o machismo

Técnica do suíço Julien Blanc, que vende cursos de sedução, inclui pegar mulheres pelo pescoço
Reprodução
Técnica do suíço Julien Blanc, que vende cursos de sedução, inclui pegar mulheres pelo pescoço

“É ofensivo, é inapropriado, é emocionalmente assustador mas é muito efetivo”, propagandeia o suíço Julien Blanc sobre seu método para “pegar” mulheres neste site em que vende os cursos de sedução que dá pelo mundo, por até 3,6 mil dólares por cabeça. 

Por Andrea Dip, da Agência Pública


Entre suas técnicas estão as de abordar mulheres desconhecidas nas ruas, bares ou casas noturnas pegando-as pelo pescoço e empurrando em direção aos seus genitais, pedir à mulher que “se ajoelhe, me chame de mestre e me implore por um beijo”, atacar sua autoestima, ignorar respostas negativas e fazer ofensas racistas.

Para quem não acompanhou o barulho nas redes sociais no último mês – ou já esqueceu –, Julien é um pick-up artist (PUA) ou “artista da pegação” (em uma tradução tosca, como o termo merece) e faz parte de uma comunidade que cresce rapidamente no mundo todo, inspirada no livro “O Jogo” do jornalista Neil Strauss. De forma romanceada, Strauss conta como passou de tímido a sedutor usando técnicas de linguagem corporal, hipnose e abordagens invasivas inspiradas na programação neurolinguística e que teoricamente funcionam com qualquer mulher em qualquer lugar no mundo. É como uma combinação de botões que quando apertados no console de um videogame destravam um bônus – nesse caso uma mulher.

Blanc, que diz ter aprimorado as técnicas de PUA “deixando o jogo ainda mais forte” e chegou a divulgar em seu Twitter fotos pegando meninas pelo pescoço com a hashtag #ChokingGirlsAroundTheWorld, daria cursos em Florianópolis no começo do próximo ano. Mas uma petição no Avaaz com mais de 410 mil assinaturas (até o fechamento desta reportagem) para que sua entrada fosse barrada no país chamou a atenção do Itamaraty, que declarou “já haver elementos suficientes para denegar visto de negócios para a realização de palestras, caso este venha a ser solicitado em Consulado ou Embaixada brasileira”. O suíço também teve sua entrada negada no Reino Unido e foi expulso da Austrália.

Ainda assim não há muito a comemorar. É só digitar a sigla PUA em um site de buscas para ver quantos cursos da comunidade já existem há anos no Brasil. Alguns mais violentos, outros com propostas um pouco menos agressivas mas todos extremamente machistas e com algumas características em comum. A mais importante é abordar mulheres desconhecidas nas ruas insistindo mesmo depois de obter um “não” como resposta, como comprovou o repórter Caio Costa, enviado da Pública a um desses cursos (leia a matéria Escola de Predadores aqui). As táticas funcionam na lógica de jogo – usam termos como daygame e nightgame para definir as abordagens, “escalada” sobre o aumento progressivo de contato físico que deverá resultar em sexo, assim como outros termos e passos de conquista que devem ser repetidos à exaustão.

Se portar como “macho alfa”, o “homem que mostra quem é que manda”, é o que se espera dos aprendizes como ensina o livro “A Arte Natural da Sedução”, de Richard La Ruina, um dos grandes mestres PUA: “Não dê a ela o poder de tomar decisões, e sim a opção de aceitar suas escolhas”. No Youtube há centenas de vídeos ensinando essas abordagens, com milhares de visualizações, muitos mostrando os rostos das meninas. Além dos sites que vendem os cursos, existem também fóruns de discussão onde os “pegadores” se gabam de suas conquistas, propõem desafios e trocam experiência – leitura não recomendada a quem tem estômago fraco. Aliás, leitura não recomendada em hipótese alguma.

“É necessário se posicionar bem próximo da garota, para ter ‘fisicalidade’. Quando você chegar assim perto dela pra conversar, ela vai sentir um desconforto, não vai? O que é esse desconforto? Esse desconforto é tensão sexual. Ela provavelmente vai andar pra trás. Continua conversando e depois chega perto de novo”, ouviria o repórter Caio Costa durante o bootcamp (treinamento PUA). “Se a mulher recuar, o homem avança. Se ela não se mexer, quer ser beijada. Se a menina não for embora ou ameaçar chamar o segurança, não há motivo para desistir. Cabe à mulher encerrar a abordagem. Mesmo que deixe claro que não está interessada, se a presença do homem a incomoda, é ela quem deve se mover”, ensinava o instrutor. Antes do nightgame, a dica para encorajar o assédio: “Não existe esse negócio de mulher ir pra balada pra se divertir. Mulher vai pra balada pra dar. Se quisesse se divertir ficava em casa vendo um filme com as amigas”.

Abordar mulheres desconhecidas nas ruas insistindo mesmo depois de obter um “não” como resposta pode configurar importunação ofensiva ao pudor segundo o artigo 61 da Lei das Contravenções Penais com pena de multa mas até o momento não se tem notícia da aplicação dessa lei. Além desse tipo de curso, o Brasil começa a ter os seus próprios “teóricos”. No livro “Brazilian Natural Game – O manual sobre jogo natural totalmente desenvolvido para o Brasil”, o autor Eduardo Playtool diz ter adaptado o método para a “realidade brasileira”. “Europa e EUA são países de classe média (sic) onde quase todo mundo tem o mesmo nível seja ele financeiro, social ou educacional (…) Aqui é um país de intensa desigualdade social e isso pode criar problemas para alguns e também pode ser algo a ser aproveitado independente de quanto dinheiro você tenha”. Eduardo continua destilando toda forma de preconceito no decorrer do livro. “Comparem o nível da mulherada numa balada de 15 reais e na balada de 150. Comparem o nível da mulherada em shopping luxuoso e em shopping simples de periferia. É brutal. Isso ocorre porque geralmente caras ricos se casam com mulheres mais bonitas e por isso suas filhas são mais bonitas geneticamente e tem acesso fácil a tratamentos de beleza, dermatologistas, cirurgias plásticas, bons cabeleireiros, academia, boa alimentação, etc.” e “Se um cara da periferia que se veste como ‘mano’ com a calça caída, usa gírias ridículas e fala ‘e aí mina, tá ligada nas parada’ acha que vai pegar uma bailarina do Faustão ou uma patricinha de balada top pode ter certeza que as chances estão muito contra”. Eduardo também ensina a atrair mulheres para sua casa sem deixar clara a intenção. No tópico “Arrastando o alvo para o abatedouro” ele diz: “O princípio é não deixá-la desconfortável. Ou seja: Eu não falo em ir para a minha casa jamais. Sou bem cara de pau. Simplesmente a levo, já planejando uma desculpa plausível para evitar o desconforto na hora em que ela perceber para onde está indo”. Além do desrespeito evidente, esse tipo de armadilha aparece em muitos casos de estupro como mostra esta matéria sobre culpabilização de vítimas, em que uma das entrevistadas conta que foi levada enganada para a casa do agressor e, quando negou sexo, foi estuprada e torturada.

Ilusão de poder

O psicólogo e pesquisador Vitor Muramatsu, chama a atenção para o descolamento da realidade implícito nos ensinamentos: “O PUA se baseia na Programação Neurolinguística, que por si só já é um câncer, uma semirreligião. Ela faz um apanhadão de migalhas de teorias dos grandes mestres como Reich, Freud, mistura com Gestalt e hipnose e aplica na reprogramação mental para modelar um comportamento, passar uma tinta. No livro, ele [Eduardo Playtool] diz que para ter sucesso é preciso repetir ‘eu sou o cara’, ‘eu sou foda’, ‘todas as mulheres querem dar pra mim’ para construir uma persona artificial. Quando diz ‘Sei que sou foda independente de como as pessoas reagem’ você tem uma questão com a relação do feedback do real. Ou você ignora ele ou você absorve e isso tem um efeito na sua personalidade, no seu comportamento”. E dá um exemplo: “Digamos que eu aborde a mulher da padaria e não dê certo. Ou eu absorvo aquilo ou eu blindo aquela rejeição. São duas posturas totalmente diferentes. A primeira é mais humana, dialética, contemplativa e estruturante, cria uma modificação real, te traz para o real e a outra não, você é um pirado. E a tendência é que você se blinde da realidade, porque você se blinda da resposta que ela te traz. Quando ele fala em ‘ir para o contato físico’ invade a privacidade das pessoas. Os alunos podem entender qualquer coisa dessas instruções. E se não tem limite, podem causar dano para a sociedade ou a si mesmos por viverem em um mundo de loucura, igual jogador viciado. E aí o perigo é estarmos criando uma seita de violadores irrefreáveis”.

“Uma coisa é eu autorizar você a falar comigo e a gente começar a flertar. Na rua eu não autorizei, não te conheço e não quero te conhecer. Mas a sociedade autoriza e legitima que um homem aborde uma mulher, porque historicamente o espaço público sempre foi masculino. E é contraditório que antes o espaço público era dos homens e o privado das mulheres, mas nem no espaço privado a mulher era respeitada. Ela também sofria – e ainda sofre – violência onde é chamada de rainha”, explica a antropóloga Izabel Gomes.

Para ela, a raiz de todas as violências – da doméstica ao estupro, do feminicídio ao assédio – é a mesma: “Não tem discurso novo. É violência de gênero, é patriarcado e é condição de não sujeito. Vem tudo da mesma estrutura de dominação. Como os homens podem querer nos manipular, fazer um jogo e vencer etapas para conquistar? Tomar nossa liberdade na rua? Acho que só em um esquema de dominação ainda tão forte e estruturado isso é possível. E aí não dá pra não falar das relações de patriarcado, que tratam a mulher não como sujeito ou, na melhor das hipóteses, como alguém de menor valor. Os avanços das últimas décadas nas leis – temos igualdade na lei salarial, temos uma lei para violência doméstica, temos uma mulher presidente – fazem com que a gente não perceba os retrocessos (Alô Bolsonaro). A impressão que se tem é que por conta desses direitos conquistados não se tem violência contra a mulher e quando tem, a própria mulher é responsabilizada. Nós temos hoje uma mulher sendo estuprada a cada dez minutos no Brasil. Nesse contexto, um curso desse tipo é ainda mais grave”, define a antropóloga.

Violência reiterada


“Eu tinha uns 11 anos. Era Carnaval, as ruas cheias. Eu era uma criança. Um homem passou a mão em mim e acariciou meu cabelo dizendo ‘fooofa’ mostrando a língua depois”.

“Já estava perto de dobrar a esquina da rua onde moro a noite. Um cara vinha na direção contrária à minha. Quando chegou perto disse ‘quer chupar meu pau?’ Pensei logo que seria estuprada porque a esquina da minha rua é bem deserta”.

“Eu tinha dez anos, estava andando de bicicleta e um cara, que veio andando de bicicleta, passou do meu lado e apalpou minha bunda. Fui para casa chorando muito. Eu tinha me sentido invadida, mas não tinha entendido o que tinha acontecido”.

“Andava a pé até a academia quando tinha 15 anos. Como, com o tempo, comecei a ficar muito incomodada com as cantadas, olhares, motoqueiros buzinando, acabei decidindo colocar uma calça de moletom e uma camiseta por cima da roupa de academia”.

“Escolho minhas roupas todos os dias pensando nos lugares por onde vou andar, que ônibus vou pegar para evitar cantadas”.

Esses são alguns depoimentos obtidos na pesquisa realizada pelo site Think Olga com 7762 mulheres no segundo semestre de 2013 para a campanha “Chega de Fiu Fiu”. A intenção era fazer com que as mulheres falassem sobre os sentimentos e experiências ao receber “cantadas” nas ruas. Se você é mulher, certamente tem ao menos um relato parecido e, se não for, pode perguntar para a mulher que está ao seu lado agora ou para sua mãe, amiga, namorada, filha, colega de trabalho: todas terão histórias semelhantes para contar. Nenhuma delas envolverá alegria ou gratidão. A maioria falará em raiva e medo. Na pesquisa citada, 81% das mulheres disseram que já deixaram de fazer alguma coisa (ir a algum lugar, passar na frente de uma obra) com medo de assédio, 90% disseram já ter trocado de roupa pensando no lugar onde iriam por medo de assédio e 83% declararam não gostar de receber cantadas.

Em entrevista à Pública, a jornalista Juliana de Faria, idealizadora da campanha, conta que decidiu dar voz às mulheres a respeito do assédio de rua depois de ter passado por situações abusivas e perceber o quanto isso era naturalizado pelas pessoas: “Eu sempre fui vítima de assédio sexual. A primeira vez aconteceu quando eu tinha 11 anos, foi um assédio verbal e me chocou muito. Eu estava esperando para atravessar a rua de casa e um carro diminuiu a velocidade e começou a falar coisas que eu nem entendi na hora mas me assustaram tanto que eu comecei a chorar. Aí no caminho de volta uma senhora me perguntou porque eu estava chorando, eu contei e ela disse ‘ah que bobagem, você deveria estar feliz, na minha idade você vai sentir falta’ e ali eu já entendi que não podia falar a respeito disso. Com 13 anos eu sofri um abuso físico, quase um estupro. Saindo do metrô o cara me puxou pelo braço falando que ia me comer e eu consegui me desvencilhar porque ele estava bêbado demais. Mas se ele não estivesse tão bêbado como isso iria acabar? Nunca falei disso publicamente porque sentia essa resistência, quase como se fosse uma frescura. Aí quando teve aquele caso do Gerald Thomas, que enfiou a mão por dentro do vestido da Panicat, que foi horrível, eu vi amigos meus defendendo aquilo. Gente que eu conhecia, amigos meus defendendo essa cultura de estupro. Foi um wake up call para começar esse trabalho”.

O site começou a publicar ilustrações e abriu espaço para as mulheres contarem suas experiências. O próximo passo foi montar um mapa interativo para que as mulheres apontem os locais onde sofreram assédio. “Uma menina me escreveu dizendo que viu que em um bar na rua dela tinha muita denúncia, então ela imprimiu e levou pro dono do bar”. A Chega de Fiu Fiu está preparando um documentário – atualmente aberto a doações no Catarse -, com meninas usando óculos com câmaras que gravam as abordagens que sofrem ao longo do dia. Recentemente, a campanha também publicou, em parceria com o Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo (Nudem) uma cartilha explicando o que é assédio sexual, porque é um comportamento nocivo, como denunciar e como encaixá-lo na lei. A cartilha está sendo distribuída em São Paulo e pode ser compartilhada, reproduzida e impressa.

Recentemente, o Instituto Avon, em parceria com o Data Popular, anunciou os resultados da pesquisa “Violência Doméstica: o jovem está ligado?” que entrevistou 2 mil jovens entre 16 e 24 anos. Do total, 68% das mulheres declararam já ter levado uma cantada ofensiva; 96% reconhecem a existência de machismo no Brasil; 66% das mulheres afirmaram positivamente quando questionadas (com base em uma lista de agressões apresentadas) terem sofrido algum tipo de ataque; 55% dos homens admitiram ter xingado, empurrado, ameaçado, ter dado tapa, impedido de sair de casa, proibido de sair à noite, impedido o uso de determinada roupa, humilhado em público, obrigado a ter relações sexuais, entre outras agressões, e 44% mulheres afirmaram terem sido tocadas ou assediadas por homens em festas.

Fora da lei
A defensora pública Ana Rita Souza Prata explica que se a abordagem PUA invade o espaço da mulher na rua ou em uma casa noturna a ponto de incomodar a mulher encaixa-se no contexto de assédio e se houver contato físico pode caracterizar violência. “Se o cara pega na mulher sem ela dar abertura isso já é uma violência. ‘Ah, mas eu só flertei, só paquerei’. Se não há consentimento e abertura é uma violência”, define. “E a gente sabe que por trás disso está uma forma de dominação. O espaço público é meu, é masculino e eu vou fazer aqui o que eu quiser. Os crimes sexuais não são só os de filme americano ou o maníaco do parque. As violências acontecem dentro dos relacionamentos e nas ruas todos os dias e por isso você treinar homens para esse tipo de abordagem é um absurdo. Com a cartilha a gente quer conscientizar de que o assédio é uma violência sexual e pode sim ser caracterizada como crime”, detalha a defensora.

Perante a lei, o assédio sexual se restringe ao ambiente de trabalho, mas existem as tipificações de importunação ofensiva ao pudor e atentado ao pudor (no caso de não haver contato físico) que podem ser aplicadas caso a vítima deseje denunciar esse tipo de abuso. A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o Ministério da Justiça, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, a 1ª e a 2ª delegacias de Defesa da Mulher de São Paulo e a Delegacia de Polícia do Metropolitano e foi informada de que não existem estatísticas específicas sobre estas contravenções. Mas a recomendação do Nudem e da própria SPM é a de que as mulheres denunciem esse tipo de assédio. “A sociedade ainda naturaliza a cantada de rua, até porque justifica essa violação de direitos das mulheres pela roupa curta, pelo decote. Como se a mulher fosse culpada. Mas quanto mais as mulheres denunciarem ao 180 ou às delegacias especializadas pra colocar isso em pauta pra a gente mobilizar o sistema de justiça, mais a gente vai conseguir combater essa impunidade”, defende a secretária adjunta de Enfrentamento à Violência da Secretaria, Rosangela Rigo. Ela reconhece que o 180 ainda não recebe muitas denúncias desse tipo mas lembra que por muito tempo a violência doméstica também não era denunciada por ser naturalizada. “Por isso essas campanhas, marchas e caminhadas de mulheres são tão importantes. Para que aumente essa conscientização e o empoderamento das mulheres e diminua a naturalização desse tipo de comportamento”.

A doutora em psicologia Daniela Rozados, que faz parte do PoliGen, grupo de estudos de gênero da Escola Politécnica da USP, vai além. Para ela, muitas vezes a própria agredida não se reconhece como vítima, tamanha é a naturalização do assédio. “Por vezes a mulher não percebe o quanto o ir e vir dela no espaço público está condicionado a esse papel. Isso que eu acho mais grave em termos psicológicos. Porque ela fica aprisionada no discurso machista de que ela não existe como sujeito. Isso em si já é bastante sofrido, mas muitas vezes a vítima não percebe que isso é produtor de sofrimento. Nessas abordagens do PUA ou no assédio de rua, o corpo está ali para satisfazer desejos. Mas quando não é física, essa violência está tão incrustada que é de baixa percepção por parte da própria vítima. E pra quem reconhece como violência gera nervosismo, ansiedade, medo de andar por determinados lugares”.

Daniela lembra um estudo da engenheira Haydee Svab para explicar como homens e mulheres se apropriam de forma diferente da cidade: “O mapa mental da cidade da mulher é menor do que o mapa mental do homem, o espaço público é extremamente condicionado ao gênero. Horários, regiões da cidade, meios de transporte, pontes. Mulheres têm medo de andar em pontes por causa das reiteradas histórias de estupro, por exemplo. Deixam de aceitar trabalhos porque teriam que andar a pé à noite ou pegar um ônibus em um lugar ermo”. Ela lembra que para o homem, às vezes, é difícil perceber a gravidade do assédio porque nunca acontece quando ele está junto. “Quando o homem é o agente da agressão, acha que está tudo bem. E quando está com sua companheira não vê acontecer porque um macho respeita o outro macho. Tem um discurso de que ‘o homem não pode se conter’, que além de tudo culpa a mulher mas na minha percepção isso tem mais a ver com uma punição. ‘Você saiu do esperado, usou uma roupa mais curta, foi mais longe, circula sozinha, então, a gente vai ter que te punir da forma mais tosca que a gente conhece’. Porque a rua é do homem. E se você está lá, seu corpo está à disposição. Se você usa seu peito pra vender cerveja ou desfilar no carnaval, ok, porque todo mundo está lucrando. Se quiser deixar o peito de fora porque está calor, quer fazer um topless na praia ou simplesmente amamentar seu bebê, não. Porque teu corpo não te pertence. Ele pertence aos homens ou ao Estado, no caso do aborto, por exemplo”.

Sobre o PUA, acrescenta: “Se você com o mesmo discurso conquista todas, não tem um sujeito ali, não existe autonomia. É um ser destituído de individualidade, de desejo, um objeto. Uma pessoa pra dizer ‘não’ precisa ser um sujeito. Pode ser que essas pessoas nem estejam necessariamente querendo ser violentas, o problema é você estar andando na rua e ter sua intimidade violada constantemente pelo desejo do outro que acha que pode te abordar. É a afirmação dessa violência constante, dessa cultura do estupro que acua as mulheres todos os dias. E isso tem que parar”.


Fonte: Vermelho

Violência contra a mulher se oculta sob cultura de opressão e silêncio

Socióloga Patrícia Rodrigues
Reprodução
Socióloga Patrícia Rodrigues

Estudo sobre o machismo entre jovens e novas denúncias de abuso sexual revelam o grande desafio para se mudar o panorama da cultura de violência de gênero no país.

Por Sheila Fonseca, para o Vermelho


“Eles me chamaram para ir ao carro e diziam que iam me dar mais bebida. Eu não queria, mas acabei indo pela insistência. O carro estava em um local deserto. Eles começaram a me beijar à força, passar a mão nas minhas partes íntimas, nos meus seios. Fiquei desesperada e pedi para que parassem. Eles tapavam a minha passagem me impedindo de sair”, disse uma das vítimas da série de denúncias de abuso sexual sofridas por estudantes na USP, uma das mais respeitadas universidades do país, durante audiência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, no dia 11 de setembro. 


A estudante de 22 anos, que cursa o 4º período de medicina da USP (FMUSP) e prefere não se identificar, ainda revela a dor e humilhação a que estão submetidas as vítimas de violência de gênero que rompem a cultura do silêncio: “Sofro isolamento social. Sou vista como vagabunda”, sentencia.

Esse relato se soma às estatísticas alarmantes de violência contra a mulher no país, que incluem casos como estupro, assédio sexual, espancamentos e feminicídio. E assim como em outros casos, a vítima sofre com o isolamento, descrença e culpabilização.

A socióloga e feminista Patrícia Rodrigues, que é militante da Marcha Mundial das Mulheres e Conselheira Municipal de Juventude de São Paulo, ressalta que as estruturas de poder e o sistema de privilégios sociais se refletem na questão da violência e do abuso sexual como um instrumento de afirmação de status.

“O patriarcado é uma instituição que se construiu histórica e socialmente, o que significa dizer que os processos de opressão se reproduzem como algo naturalizado. Constitui-se numa estrutura hierárquica que confere aos homens o direito de dominar as mulheres, contudo esse sistema tem uma base de sustentação que é material, a qual denominamos de divisão sexual do trabalho que comporta dois processos: um de divisão do trabalho entre homens e mulheres e outro de hierarquização de que o trabalho dos homens tem mais valor que o das mulheres. A partir dessa lógica institui-se um processo sobre o qual cabe às mulheres o âmbito da esfera privada, do trabalho doméstico e reprodutivo. Aos homens à vida pública, o trabalho produtivo. Essa estruturação do patriarcado confere aos homens um sistema de privilégios que garantem a eles controle sobre os corpos das mulheres que se dá por meio do uso de diversas formas de violência que vão desde a psicológica até a física. Tais ações são respaldadas socialmente uma vez que numa sociedade machista compete aos homens serem os donos do controle sobre aquilo que se considera como conduta desviante das mulheres segundo os padrões estabelecidos. Por isso é tão difícil desconstruir o machismo, ele é cotidiana e reiteradamente afirmado em todos os espaços”, diz a socióloga.

A “caixa preta” do abuso sexual no meio acadêmico
Os recentes casos de estupro na USP deram início a uma onda de denúncias de assédio sexual e violência contra mulheres e minorias nas universidades do país trazendo à pauta questões sobre abuso e relações de poder no âmbito acadêmico.

Além da investigação dos casos individuais, os relatos de violência sexual, racismo e homofobia que teriam sido praticados na USP originaram a instauração de inquérito civil pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi criada para investigar casos de violência na USP e em outras unidades de ensino paulistas.

A Alesp recebeu mais duas denúncias de estupro contra alunas da USP. Os dois relatos de abuso chegaram ao conhecimento dos deputados por meio de um e-mail criado pela comissão para receber as denúncias. Os casos teriam ocorrido na FMUSP, em São Paulo, e na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, no interior do estado.

Contudo, a primeira sessão da CPI que seria realizada na última terça-feira (16), teve que ser adiada por falta de quórum e foi remarcada para esta quarta-feira (17). Para que a CPI fosse aberta era necessária a presença de cinco dos nove deputados estaduais titulares da Comissão de Direitos Humanos da Alesp, mas apenas quatro compareceram: Adriano Diogo (PT), presidente da comissão, e os deputados Marco Aurélio (PT), Sarah Munhoz (PCdoB) e Carlos Giannazi (PSOL).

Neste mês, durante a terceira audiência pública da Alesp, a advogada Mariana Ganzarolli trouxe a público nova denúncia de estupro, dessa vez na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), envolvendo dois alunos durante o evento Interunifesp, organizado por estudantes em Taquaritinga, interior do estado entre os dias 20 e 23 de novembro.

Em entrevista à reportagem, a advogada e militante feminista Marina Ganzarolli, uma das fundadoras do Coletivo Dandara, pertencente à Faculdade de Direito da USP, conta que o atendimento à vítima da Unifesp está sendo feito pelo Coletivo de Mulheres da respectiva faculdade e que a relutância da vítima é natural dada à vulnerabilidade: “É natural que a vítima não queira que mais detalhes sobre a agressão sejam fornecidos, a fim de preservar sua intimidade e, principalmente, garantir sua segurança dentro da faculdade. Sou uma das fundadoras do Dandara, mas já estou formada, não respondo pelo Coletivo, uma vez que sou, digamos assim, membra emérita. Uma das meninas do coletivo da Unifesp entrou em contato comigo para auxílio jurídico, ao que pedi autorização para fazer a denúncia de forma genérica, a fim de dar visibilidade para o fato de que as agressões não ocorreram há anos atrás e sim, vêm ocorrendo e continuarão a ocorrer se nada fizermos. Esta denúncia, assim como as outras que fiz, são todas iguais: a culpa é sempre do agressor. Sempre. Ninguém pede pra ser estuprada. Tampouco merece este tipo de violência.”.

Para Marina, é importante que as vítimas se sintam amparadas e acolhidas: “É importante que as vítimas se sintam seguras e amparadas para denunciar os agressores, preservado o sigilo de suas identidades, já que a culpabilização da vítima é tão naturalizada em nossa sociedade que infelizmente é um dos maiores obstáculos no enfrentamento das denúncias, sendo, em minha opinião, um dos principais fatores que levam à subnotificação das agressões, somada naturalmente ao despreparo dos policiais, não funcionamento das delegacias da mulher à noite e aos finais de semana, horários em que ocorrem mais violências contra a mulher entre outros diversos fatores”, opina Marina.


Thaís Moya 
Seguindo a onda de denúncias de abuso sexual nas universidades, a doutoranda de sociologia da Ufscar Thais Santos Moya utilizou a sua página pessoal na rede social Facebook para denunciar o assédio moral e sexual que teria sofrido. Thais conta que raspou a cabeça em um ato de protesto “Raspei meus cabelos porque eu fui, duas vezes, agarrada e beijada por meu professor e ex-orientador sem o meu consentimento. Como quase toda vítima de assédio, passei dois anos amedrontada e coagida pelas relações de poder que perpassam as consequências de denunciar o ocorrido. Senti-me responsável não apenas pela minha carreira profissional, mas pela do professor em questão e pelas consequências negativas que recairiam no Programa de Pós Graduação e nos colegas do núcleo de estudos. Calei-me, acovardada”, revela a estudante.

De acordo com a psicóloga Telma Low, que é docente do Instituto de Psicologia da UFAL, pesquisadora vinculada ao GEMA (Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades da UFPE) e também ao Grupo de pesquisa em psicologia discursiva da UFAL, com mestrado e doutorado no Institut Universitari d`Estudis de la Dona, na Universidade de Valencia, Espanha, o espaço acadêmico é um cenário propício em decorrência da mentalidade classista.

“A academia é mais uma instituição que se constrói com base no sistema patriarcal, heternormativo, racista, classista etc., ao longo do tempo, constituindo-se enquanto lugar de um saber e poder que muitas vezes se apresenta como absoluto, verdadeiro e hierárquico. Porém, esse modelo de ciência positivista vem sendo questionado, por exemplo, com a entrada do feminismo na academia. Através das teorias feministas, começamos a construir uma leitura crítica e política não somente de como as relações de poder, especialmente entre homens e mulheres, se constroem na sociedade lá fora, mas também aqui dentro. De modo que podemos pensar que essas práticas de violência dentro da academia, ao mesmo tempo que legitimam e perpetuam o modelo de relações desiguais fruto do patriarcado, também são questionadas e denunciadas por sujeitos que se posicionam contra as assimetrias de poder, sujeitos que vêm tentando romper com essas hierarquizações. Não é por acaso que vemos cada vez mais denúncias de casos de racismo no contexto das universidades, de lesbo, homo e transfobia.”, diz Telma.

Fonte: Vermelho

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Caixa Econômica Federal: abertura de capital - azedo presente de Natal!

Verdadeira contradição, numa visão extremamente comedida, a proposta anunciada pela presidenta Dilma Rousseff de abertura do capital da Caixa. Justamente após uma  dura disputa eleitoral quando a então candidata comprometeu-se através de carta aberta aos bancários dos bancos públicos a fortalecer as instituições “que são indispensáveis para a economia brasileira e um patrimônio da sociedade”. E concluiu: “Juntos, bancos públicos, seus funcionários e o governo federal fizemos muito e faremos muito mais”.

Desde o governo Sarney (1985-1990) passando por Collor (1990-1992) e FHC (1994-2002), que são tramadas nos gabinetes iniciativas visando enfraquecer, privatizar e/ou extinguir a Caixa Econômica Federal. Todas elas refutadas pela sociedade, através dos seus empregados, do movimento sindical, partidos políticos contrários ao neoliberalismo e demais segmentos.

O governo Dilma tem buscado a todo custo a governabilidade, cedendo espaço ao chamado “mercado” – bancos, indústrias e demais corporações. Contudo, não deve confundir amplitude política com capitulação diante dos representantes do capital, que, diga-se de passagem, tudo fizeram para derrotar o projeto da candidata Dilma que busca uma alternativa de desenvolvimento em relação aos clássicos preceitos do neoliberalismo.

A ideia de abertura do capital da Caixa é certamente uma exigência do mercado financeiro (bancos) de reduzir ou cessar os investimentos governamentais nos bancos públicos, seus concorrentes, além de possibilitar num primeiro momento o auferimento de lucros por parte dos investidores e num segundo facilitar a fusão com outra instituição financeira ou até mesmo a privatização.

O mercado está de olho em uma empresa que conta hoje com 3.362 agências, 100 mil empregados, ativos totais da ordem de R$ 1,01 trilhão e que obteve de janeiro a setembro de 2014 o lucro líquido de R$ 5,3 bilhões e as transações somaram R$ 1, 72 bilhão. Sem falar que é o maior agente financeiro de habitação e administra fundos e programas (FGTS, PIS, FIES, FAT, Bolsa Família) do governo federal.

Não podemos nos esquecer do pioneiro e decisivo papel desempenhado pela Caixa, como agente do governo federal, no enfrentamento aos impactos da crise financeira de 2008 em ações anticíclicas como a redução dos juros e do spread, enquanto que no Banco do Brasil o então presidente Lula teve que despedir o presidente para que tais políticas fossem executadas. Enquanto isso, os bancos privados fizeram justamente o contrário com o objetivo de provocar a retração do crédito.

Fica claro que é fundamental a um governo que busca o crescimento econômico com a valorização do trabalho um banco totalmente a ele vinculado, principalmente em momentos de crise e dificuldades. Certamente a Caixa deve estar a serviço do Brasil e dos brasileiros e não do mercado financeiro.

É totalmente incoerente, um verdadeiro estelionato eleitoral a tese apresentada pela equipe econômica e defendida pela presidenta Dilma de abertura do capital da Caixa Econômica Federal. Esse projeto constava nos programas eleitorais do PSDB e do PSB, ambos derrotados.

Exigimos coerência política e respeito ao programa eleitoral!


Sindicato dos Bancários de Itabuna e Região

Dois filmes latino-americanos são finalistas ao Oscar

Elenco do filme Relatos Selvagens
Divulgação
Elenco do filme Relatos Selvagens

O filme argentino Relatos Selvagens e o venezuelano Libertador são os finalistas ao Oscar nas categorias Melhor Longa Metragem de Língua Não Inglesa. 


O filme venezuelanoLibertador, de Alberto Arvelo, é uma produção entre Venezuela e Espanha e está baseado na vida de Simón Bolívar (1783-1830), líder da independência da Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia e Peru, que estavam sob domínio espanhol. 


Bolívar advertiu sobre o perigo que o suposto império estadunidense significava para a unidade da América Latina e Caribe. Se Libertador for escolhido será o primeiro filme venezuelano a competir por um Oscar nesta categoria.

O filme argentino Relatos Selvagens, de Damián Szifrón, contém seis episódios envoltos em violência, intriga e humor negro. Szifrón explora a perda de equilíbrio e catarse. A obra conta ainda com bons efeitos especiais e a crítica destaca o alto conteúdo psicológico.

Até o momento, o filme argentino recebeu 10 galardões, entre eles os outorgados pelo festival de Cannes e de San Sebastián. Na Argentina já ganhou o Prêmio Sul de Melhor Filme de 2014. Damián Szifrón também recebeu o galardão de Melhor Diretor, Roteiro Original e Montagem.

Ambos os filmes latino-americanos competem com sete produções de países como Rússia, Suécia, Polônia e Holanda, entre outros. Cinco serão nomeados para competir na 87ª edição do Oscar, que será realizada no próximo dia 22 de fevereiro.

Fonte: Telesur via Vermelho

Wikileaks revela manual da CIA para assassinatos políticos

REUTERS/Petar Kujundzic
WikiLeaks

Um manual secreto da Agência Central de Inteligência (CIA) que define o assassinato político como forma de limitar a ação de grupos insurgentes circula atualmente na internet, após ter sido revelado pelo site Wikileaks.


O relatório secreto da agência de espionagem estadunidense analisa diversas operações de assassinato em vários países, principalmente contra líderes afegãos do Talibã, do grupo terrorista Al-Qaida e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Também aparecem como possíveis pontos de ataque dirigentes do grupo libanês Hezbolá, a Organização para a Libertação de Palestina (OLP), Hamas, o grupo guerrilheiro peruano Sendero Luminoso, Os Tigres de Libertação do Tamil Eelam (LTTE), o Exército Republicano Irlandês (IRA) e a Frente de Libertação Nacional de Argélia (FLN).

A publicação do Wikileaks chegou às redes sociais apenas dez dias depois que o Comitê de Inteligência do Senado estadounidense tornasse público um polêmico relatório secreto sobre o emprego da tortura em suas formas mais brutais contra prisioneiros supostamente vinculados a ações terroristas.

O manual revelado pelo Wikileaks data de 7 de julho de 2009, seis meses depois de Leon Panetta assumir a direção da CIA e pouco depois de que o agente John Kiriakou – atualmente preso – denunciasse pela primeira vez a prática de crueis torturas por parte de oficiais interrogadores.

Segundo o Wikileaks, o relatório da CIA inclui estudos de casos no Afeganistão (2001-2009), Argélia (1954-1962), Colômbia (2002-2009), Iraque (2004-2009), Israel (de 1972 até meados dos anos 1990 e dos anos 1990 a 2009), Peru (1980-1999), Irlanda do Norte (1969-1998) e Sri Lanka (1983-2009).

As operações descritas no plano da CIA incluem: assassinatos políticos, sequestros, remoção de lideranças, neutralização e marginalização de dirigentes guerrilheiros.

Ademais, encontram-se evidências sobre a participação da CIA na luta contra as guerrilhas na Colômbia durante o mandato de Álvaro Uribe, através de ataques a objetivos de alto valor combinando operações militares e de informação e programas para provocar e tratar desertores.

Fonte: Prensa Latina via Vermelho

UJS encerra seu primeiro curso autogestionado, Geração Valente

Cerca de 300 militantes participaram do curso de formação que durou uma semana
UJS
Cerca de 300 militantes participaram do curso de formação que durou uma semana

Chegou ao fim o curso de formação da UJS “Geração Valente”. Durante seis dias jovens do Brasil inteiro ficaram concentrados na Escola Nacional Florestan Fernandes, tendo aulas sobre marxismo e suas aplicações, e debatendo a atual conjuntura política do país e suas possíveis reformas.


A aula inaugural aconteceu no final da tarde da segunda-feira (15), com o tema “A luta pelas Reformas Estruturais no Brasil e nova luta pelo socialismo”, tendo como expositor o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.


Renato falou sobre a necessidade de convergência da esquerda no Brasil, sobre o papel histórico das eleições desse ano com a vitória o quarto mandato popular, e de como a oposição ganhou espaço na base social. Ele também criticou o atual posicionamento defensivo da esquerda, e alegou que é preciso voltar a ofensiva. Para ele a juventude tem um importante papel dentro dos movimentos sociais para conquistar as reformas democráticas.

Após a aula os participantes foram divididos em 16 grupos de 10 pessoas, cada grupo foi designado para tarefas específicas através de sorteio, para cuidar da limpeza e manutenção da escola durante todo o curso. Os grupos também tinham atividades determinadas por cada professor ao final das aulas, entre elas a produção de um vídeo que seria transmitido na sexta-feira.

Na terça-feira (16), o segundo dia do curso começou com a aula “A modernidade e o surgimento do marxismo”, ministrada por Monique Lemos, historiadora e assessora da secretaria de juventude do PCdoB. A tarde foi ministrada a aula “A formação do Brasil contemporâneo” e “Contradições e dialética na perspectiva marxista”.

No terceiro dia aconteceram as aulas “Imperialismo e a atualidade da questão nacional” com Socorro Gomes (Cebrapaz), “O capitalismo e suas dinâmicas”, e o debate “A crise mundial do Capitalismo e alternativas”, com participação do ex-presidente da UJS, André Tokarski.

Cuba foi citada durante a aula de Socorro Gomes e horas depois os participantes do curso ficaram sabendo do restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA e a libertação dos agentes antiterroristas cubanos, Ramón Labañino, Gerardo Hernández e Antonio Guerrero, os últimos do grupo conhecido como “Cinco Cubanos”.

Na quinta-feira (18) aconteceram as aulas “Conceitos Marxistas de Estado e Classe”, ministrada pelo secretário de formação da UJS, Mateus Fiorentini, o debate “A luta pela Reforma Política democrática” com Aldo Arantes e a exibição do filme “Osvaldão” e debate com os diretores do filme.

A primeira aula do quinto dia “Experiências socialistas do século 20” com Ricardo Alemão Abreu, falou sobre as guerras imperialistas, sobre URSS, China, Coreia do Norte, Vietnã e Cuba e como a narrativa desses fatos ainda obedece um viés imperialista. Para Ricardo, para avançar na luta socialista nesse século é preciso discutir comunicação.

A Prof Mary Castro, uma das alunas do curso, participou da intervenção e debate no final da aula quando a discussão chegou na volta das relações diplomáticas entre EUA e Cuba. Segundo ela, o presidente estadunidense governa um país de grande população latina, que em breve vai ultrapassar a população branca e isso acaba influenciando as decisões políticas do país. “Nós invadimos o império, podemos destruí-lo de dentro para fora”.

A tarde da sexta-feira foi dedicada a comunicação. Rodrigo Viana (blog O Escrevinhador), Renata Mieli (Barão de Itararé) e Ignácio Rojas (JJCC) debateram a democratização dos meios de comunicação no Brasil e na América Latina. Simultaneamente a esse debate aconteceram as oficinas “Transmissão ao vivo de vídeo pela internet”, “Mobilização e produção de conteúdo para redes sociais”, “Web rádio e Podcast”, e “Monitoramento de rede”, com a Mídia Ninja, CEMJ e Barão de Itararé.

A mesa “Somos milhões de faces que dão a cara jovem ao Brasil. Somos socialistas porque somos jovens e andamos abraçados com o futuro e a busca da felicidade” encerrou o curso na manhã de sábado (20), com a participação da Prof Mary Castro, Angela Guimarães, Flávio Renegado e Fora do Eixo.

Além das aulas, os participantes promoveram atos simbólicos contra machismo, homofobia e questionando a heteronormatividade, com intervenções contra a incitação ao estupro no discurso do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), beijaços, saiaços, entre outras atividades.


Por Dandara Lima, no portal da UJS via Vermelho

Chico Lopes: “Os comunistas são os maiores defensores da democracia”

Chico Lopes seguiu sua vida parlamentar em defesa da melhoria da educação.
Foto Montagem
Chico Lopes seguiu sua vida parlamentar em defesa da melhoria da educação.

Portal Vermelho, no intuito de relembrar as principais ações dos comunistas nos espaços de poder, dá início à série “Retrospectiva Parlamentares PCdoB 2014”. Na estreia, o entrevistado é o deputado federal pelo estado do Ceará, Chico Lopes. Conhecido pela sua forte atuação na área da educação, o dirigente recém-eleito para seu terceiro mandato na Câmara aponta os principais avanços e perspectivas a serem alcançadas no Congresso Nacional.

Laís Gouveia, da Redação do Vermelho


Chico Lopes afirma que na área da educação, uma das principais conquistas foi o direito a 1/3 da carga horária dos professores para planejamento e atividades extrassala: “Isso faz com que os docentes tenham condições de planejar mais e de melhorar as aulas, tenho recebido muitos recados de professores dizendo que a qualidade de vida e o relacionamento familiar melhoraram muito após a aprovação desta lei”.


Outra conquista de máxima relevância para o deputado foi a aprovação da lei do Piso Salarial Nacional dos Professores, reinvindicação frequente dos movimentos sociais e que levou para votação no Congresso Nacional. “No interior do Ceará, conheci professores que ganhavam R$ 200, R$ 400 e isso chegou ao fim estabelecendo um patamar de pagamento. Isso é um avanço.”

No que diz respeito ao financiamento da educação, o deputado aponta o papel protagonista que a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e União Nacional dos Estudantes jogaram na luta pelos 10% do PIB e 75% dos royalties do pré-sal para a educação, “esses avanços inclusos no Plano Nacional de Educação irão projetar a qualidade educacional nos próximos anos em outro patamar”.

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Educação a serviço da soberania e desenvolvimento do país


Chico afirma que mesmo garantindo consecutivas vitórias no campo educacional, o Brasil possui grandes gargalos a serem sanados, “o salário do professor continua o pior entre os profissionais liberais, qualquer país que queira disputar a hegemonia do conhecimento precisa investir na educação. A formação continuada do professor é fundamental e também a remuneração salarial”.

O deputado faz uma análise do acesso ao ensino superior e a necessidade de preenchermos o país com profissionais qualificados, com salários justos, “precisamos proporcionar à sociedade a educação continuada, mas com coerência. Se o cidadão não quiser fazer o ensino superior, ele pode sim optar por outra qualificação profissional e oferta no mercado de trabalho, ganhando como qualquer outro trabalhador. Ele não é obrigado a ser doutor porque todo mundo é doutor e pode sim contribuir com sua profissão para o desenvolvimento do país”.

Perspectivas politicas no Ceará

Chico Lopes, membro do Comitê Central do PCdoB e do Comitê Estadual do Ceará, diz que o Partido saiu dessas eleições um pouco menor do que entrou, “nós conquistamos a reeleição ao governo do estado com Camilo Santana, dando continuidade ao projeto de Cid Gomes. Elegemos prefeitos e dois deputados estaduais. Na Câmara, perdemos um deputado federal que não pôde se candidatar, eu fui eleito ao meu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e o atual senador, Inácio Arruda, atingiu a suplência na vaga a deputado federal”.

“Porém, essa característica negativa foi algo que ocorreu com vários partidos, mostrando o quando é urgente uma reforma política no país, que garanta o voto proporcional para deputado federal e financiamento público de campanha. Não existe nenhum partido mais preocupado com as reformas estruturais no país quanto o PCdoB, pois são os comunistas maiores defensores da democracia”, conclui.

Conheça mais a história de Chico Lopes em seu site ou em sua página no Facebook. 


Fonte: Vermelho

Dilma: Medidas do novo mandato não atingirão os programas sociais

 A presidenta Dilma Rousseff afirmou na segunda-feira (22), durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, que o governo terá que anunciar medidas “drásticas”, mas garantiu que “isso não significa [mexer com] os programas sociais". "Teremos que ter controle maior sobre outros gastos e fazer algumas reformas.”


Na saída do evento, Dilma Rousseff admitiu que pretende abrir o capital da Caixa Econômica Federal, mas disse que esse é um processo “demorado”. A informação foi confirmada por assessores da Presidência da República.


Ainda sobre os programas sociais, no café da manhã, a presidenta citou o exemplo do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que cria estímulos para diversos setores com linhas de investimento diferenciadas. “É possível balancear, reduzindo a zero o subsídio, mantendo apenas os de áreas melhores”, explicou.

Apesar de antecipar o cenário econômico difícil a partir do próximo ano, a presidenta mostrou otimismo e afirmou ter certeza de que o Brasil sentirá uma recuperação, independentemente dos resultados de outras economias. “A inflação não saiu do controle. O Brasil continua com grandes reservas e estamos tomando providências para melhorar nossa produtividade”, destacou.

Perguntada sobre o valor que será buscado pelo governo para o ajuste fiscal no próximo ano, a presidenta não confirmou que a cifra seja de R$ 100 bilhões, como foi divulgado na imprensa paulista. Segundo ela, o assunto ainda não foi discutido pelo governo e é preciso esperar. “Não vou discutir quais medidas tomar de forma teórica. O tempo de vocês é um e o meu é outro”, afirmou.

Ao analisar o cenário mundial, Dilma Rousseff afirmou que o processo de crise que atingiu todos as nações perdurou por mais tempo do que o estimado pelo mercado internacional e a recuperação da economia internacional “anda de lado”, mesmo para os Estados Unidos “que têm uma economia muito dinâmica”.

A presidenta reconheceu os problemas enfrentados pelos países emergentes, mas, ao comentar a situação do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), negou que a Rússia esteja vivendo “à beira de uma crise econômica”. Segundo ela, a economia russa passou por uma turbulência monetária, “mas tem reservas suficientes”.

Para a presidenta, o mundo ainda passará por uma nova turbulência, mas não haverá uma grande crise com especulações sobre moedas e países. “Não acho que o Brics terá grande problema. O problema do Brics não é financeiro. Não há nenhum na beira da catástrofe. Todos têm reservas, são todos países [que] de uma forma ou de outra estão numa situação estável”, avaliou.

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Fonte: Agência Brasil via Vermelho