sábado, 16 de fevereiro de 2013

CONVITE


Vaticano confirma: Anna Cintra é nova reitora da PUC


"Vaticano confirma Anna Cintra na reitoria da PUC-SP. Um Estado estrangeiro decide quem é reitor de universidade brasileira! E contra a vontade dos votantes, a terceira da lista? Absurdo”. Assim o sociólogo Emir Sader protestou no Twitter contra a decisão da polêmica envolvendo a sucessão da reitoria da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).


DCI/PUC-SP
Anna Cintra
Anna Cintra recebe de Dom Odilo Pedro Scherer documento do Vaticano confirmando seu mandato como reitora
Na tarde desta sexta-feira (15), o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, entregou o decreto do Vaticano que confirma a professora Anna Cintra como reitora da PUC-SP no quadriênio 2012-2016. O texto é assinado pelo cardeal Zenon Grocholewski, prefeito da Congregação para Educação Católica.

A carta foi entregue por dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e presidente do Conselho Superior da Fundação São Paulo, órgão que administra a PUC-SP, à professora Anna Cintra em evento na tarde de ontem.

Após a ratificação, a reitora baixou um ato impondo a necessidade de autorização prévia para a realização de manifestações e eventos públicos na universidade.

Terceira colocada

Cintra ficou em terceiro lugar na votação entre estudantes, funcionários e professores. Mesmo perdendo, ela foi nomeada pelo cardeal Dom Odilo Scherer, grão-chanceler da instituição e presidente do Conselho Superior da Fundação São Paulo, órgão que administra a instituição.

A eleição, realizada em agosto, foi vencida por Dirceu de Mello, que já era reitor da universidade e concorreu ao segundo mandato. Segundo os estudantes, desde 1980 todos os vencedores das eleições para reitor assumiram efetivamente o cargo.

Por causa da nomeação da professora, funcionários, estudantes e docentes entraram em greve por 34 dias.

Da Redação do Vermelho,
Com informações da Folha online

*Matéria alterada às 12h51 para alteração de informação

Rede de Marina não será “nem oposição, nem situação”


"Nem oposição nem situação, precisamos de posição". Essas foram as palavras da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva no início do evento de lançamento do novo partido político, chamado Rede, que acontece neste sábado (16) em Brasília. De olho nas eleições presidenciais de 2014, ela inicia agora as coletas de assinaturas para a criação do novo partido.


Thays Cabette
Marina Silva
Marina Silva divulga estatuto de seu novo partido neste sábado (16) em Brasília
Ao defender princípios éticos, Marina afirmou que a sigla não será "nem oposição, nem situação" ao governo de Dilma Rousseff, mas admitiu fazer "alianças pontuais" em torno de ideias: "nós não seremos nem oposição nem situação à Dilma (Rousseff). Se a presidente estiver fazendo algo bom para o Brasil, nossa posição é favorável. Se ela for contra o Código Florestal, nossa posição é contrária", afirmou Marina, em um de seus discursos. "É um partido para questionar a si próprio. Não pode ser um partido para eleição", completou. "(O partido) não precisa ter postura de manada."

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Editorial: Marina Silva lança sua Rede

Dizendo que são "diferentes", a ex-senadora e ex-ministra do governo Lula Marina defendeu alianças partidárias. "Podemos fazer alianças pontuais. Não precisamos eliminar sonhos. Mas é preciso que fique claro que somos diferentes." Lembrou ainda que a nova legenda não tem "uma liderança única e, sim, multicêntricas."

Marina considera que o objetivo principal do partido não é disputar eleições, mas questionar a incapacidade da política atual de interferir e transformar a realidade. "O que está acontecendo aqui é um paradoxo, estamos criando um partido para questionar a si próprio. Não é um partido criado para disputar eleição, mas para disputar uma visão de mundo, de um novo sujeito político que não é espectador, é o protagonista. É para democratizarmos a democracia, reconectarmos o sujeito com a potência do fazer político", defendeu.

Para poder se candidatar à Presidência pela nova legenda em outubro de 2014, Marina e os fundadores da sigla precisam conseguir 500 mil assinaturas até setembro deste ano. "Vamos dedicar os próximos três meses para a coleta de assinaturas. Não será difícil", previu Walter Feldman. Além dele, os deputados Alfredo Sirkis (PV-RJ), que não compareceu ao evento, e Domingos Dutra (PT-MA)e a ex-senadora e vereadora por Maceió Heloisa Helena anunciaram o ingresso no novo partido. "Serei uma soldada da Marina", disse a ex-senadora, em discurso que lançou a candidatura de Marina ao Planalto, em 2014.

O estatuto do novo partido deveria ser aprovado até o final do dia de ontem. O documento prevê uma reavaliação do papel do partido em relação a sua continuidade daqui a 10 anos. Ou seja, a sigla poderá ser extinta. Também deverá ficar definido que os detentores de mandato terão direito a disputar apenas uma reeleição em cada casa parlamentar.

Com agências via Vermelho

Pixinguinha e a dificuldade de ser negro no Brasil


Pixinguinha
O mestre, Pixinguiinha

Há 40 anos, no dia 17, o grande músico deixou nosso convívio, mas sua obra continua viva e integra o rico acervo da Música Popular Brasileira.  


Por Marcos Aurélio Ruy* 



Nasceu Alfredo da Rocha Viana Filho, em 23 de abril de 1897 - dia que, em sua homenagem, foi designado como o Dia Nacional do Choro, em 2000. O compositor carioca consagrou-se com o apelido de Pixinguinha, dado pela avó africana que o chamava pinzindim (menino bom). Nascido numa família de músicos, muito cedo ele começou a trabalhar com os irmãos em casas noturnas no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira com flautista e encerrou como saxofonista. Dizem que tinha problemas com o bocal da flauta. 

Apesar de inúmeros percalços, Pixinguinha seguiu em frente e transformou-se num dos mais inventivos e importantes compositores da MPB. A importância de Pixinguinha para o chorinho é a mesma da de Tom Jobim para a bossa nova, ou seja, ele sistematizou o ritmo e lhe deu novos contornos, muito avançados para a época. Participou de diversos grupos e marcou época com Os Oito Batutas, do qual o amigo Donga também fazia parte.

Os Oito Batutas - Pixinguinha tem a flauta nas mãos 
(de pé, primeiro à esquerda)

Nas décadas seguintes à Abolição da Escravatura e desde o início do século 20 os negros brasileiros enfrentavam imensas dificuldades em todos os campos da vida, inclusive na música. Eram taxados de “malandros”, “vagabundos”, entre outras ofensas. O título deste artigo em homenagem a Pixinguinha pelo conjunto de sua obra, surgiu de dois acontecimentos. 

Primeiro, de um comentário da leitora do Vermelho Beatriz Helena Souza sobre um artigo que escrevi com o título Contra o preconceito, conhecimento. Disse ela: “acho impressionante que ainda hoje ser negro seja tão complicado neste país”. E acrescentou que “ainda somos olhados como outro e não com parte”. 

O outro fato que levou ao título liga-se diretamente com algo que ocorreu com o próprio músico nos anos 1920, como conta o flautista Altamiro Carrilho no livro Os sorrisos do choro. Pixinguinha contou a ele a história da canção composição Lamento: em 1928 Os Oito Batutas fez enorme sucesso na França sendo, por isso, homenageados em um importante hotel no Rio de Janeiro, ao retornar. Mas foram obrigados, pelo racismo vigente, a entrar pela porta dos fundos pois não se aceitava que negros entrassem pela porta principal. 

A reação de Pixinguinha foi repetir a palavra lamento algumas vezes e Donga, seu companheiro de grupo,  sugeriu que compusesse uma música com esse título na qual, trinta anos depois, Vinicius de Moraes colocou a letra. 

Várias canções do músico carioca receberiam letras tempos depois, como Carinhoso (letra de Braguinha) e Isso que é viver (letra de Hermínio Belo de Carvalho).

As canções de Pixinguinha derramam brasilidade e atingem o âmago da alma do brasileiro afirmando sua negritude. Músicas como A vida é um buracoBenguelêCafezal em flor (parceria com Eugênio Fonseca), Conversa de criouloFesta de branco (com Baiano), Patrão prenda seu gado (com Donga e João da Baiana), Vou vivendoFala baixinhoNo elevadorRosa (com Otávio de Souza), entre inúmeras outras que fazem parte da história de nossa canção popular. 

A força da música de Pixinguinha resiste ao tempo e marca a vida brasileira. Basta entoar Carinhosoou Lamento. Por isso, falar dos 40 anos da morte do grande músico é importante para trazer à tona o poder de sua obra, rica e diversa. Pixinguinha morreu em 17 de fevereiro de 1973, aos 75 anos. Mas sua música não morrerá jamais.
Pixinguinha foi forte influência às gerações futuras de músicas por orquestrar, arranjar, harmonizar, tocar instrumentos e compor como poucos. Sem dúvida está entre os maiores músicos do planeta no século 20. Ouça:
Lamento

(com Vinicius de Moraes, interpretação do MPB4)


Morena, tem pena
Mas ouve o meu lamento
Tento em vão
Te esquecer
Mas, olhe, o meu tormento é tanto
Que eu vivo em pranto e sou todo infeliz
Não há coisa mais triste, meu benzinho
Que esse chorinho que eu te fiz
Sozinha, morena
Você nem tem mais pena
Ai, meu bem
Fiquei tão só
Tem dó, tem dó de mim
Porque estou triste assim por amor de você
Não há coisa mais linda neste mundo
Que meu carinho por você

Carinhoso

(com Braguinha, comentário e interpretação de Orlando Silva)

Meu coração
Não sei por que
Bate feliz, quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim, foges de mim
Ah! Se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E muito e muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor
Dos lábios meus
À procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz
Marcos Aurélio Ruy é colaborador do Vermelho

Comissão da Verdade descobre: Fiesp e CIA, os estranhos visitantes do Dops


O que um representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) faria em um centro de torturas da ditadura civil-militar (1964-1985) duran­te madrugadas? O que levaria um cônsul dos Estados Unidos a esse mesmo lugar repetidas vezes, por longas horas? 

Por Patrícia Benvenuti, no Brasil de Fato


É sobre essas questões se que se de­bruçam atualmente os membros da Co­missão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”. Por meio de in­vestigações, a Comissão apurou que pessoas ligadas à Fiesp e ao Consula­do eram presença constante durante os dias e as noites do Departamento Esta­dual de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops), um dos órgãos represso­res criados pelo regime.

Para tentar esclarecer esses fatos, a Comissão Estadual da Verdade realiza­rá uma audiência pública na próxima segunda-feira (18), às 14h, na Assembleia Legislativa (Alesp), onde apresentará os documen­tos que embasaram as investigações. 


“Coincidência”? Cônsul estadunidense entra no Dops cinco minutos depois 
do capitão Ênio Pimentel Silveira, um dos torturadores mais famosos 
do período - Foto: Documentos do Arquivo Público do Estado de São Paulo


Visitas frequentes 
A chave para a descoberta foi uma pesquisa no “Coincidência”? Cônsul estadunidense entra no Dops cinco minutos depois do capitão Ênio Pimentel Silveira, um dos torturadores mais famosos do período. Ao checar os livros de registro de entrada e saída do pré­dio do Dops, localizado no centro da ca­pital paulista, integrantes da Comissão Estadual da Verdade perceberam a fre­quência de dois nomes, que não faziam parte das equipes policiais: “Dr. Geral­do Rezende de Matos”, que se apresen­tava no formulário como “Fiesp”, e “Dr. Halliwell”, que assinava como “Consula­do Americano”. 
Além da assiduidade, despertaram atenção os horários em que os represen­tantes da Fiesp e do consulado estaduni­dense se dirigiam ao prédio do Dops e as longas horas em que permaneciam ali. 

Somente nos meses de abril a setem­bro de 1971 (os livros com os outros me­ses deste ano desapareceram), Geral­do Rezende de Matos, da Fiesp, dirigiu­se ao local 40 vezes. Em uma dessas vi­sitas, sua entrada ocorreu às 17h30min, mas não consta horário de saída. Como os funcionários da portaria trabalhavam apenas até 22h, os movimentos feitos de­pois deste horário não eram anotados. Significa, então, que Matos teria ficado além das 22h. 

Já em outro registro, de 24 de abril de 1972, o representante da Fiesp entra no prédio às 18h20 e sai às 12h35 do dia se­guinte, 25 de abril. Foram cerca de 18 ho­ras no local. 

“O que o cara da Fiesp ia fazer lá? Essa é a pergunta que fazemos”, explica o co­ordenador da Comissão Estadual da Ver­dade, Ivan Seixas. 

Seixas, que também é ex-preso políti­co e membro da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políti­cos, conta que a Comissão já pediu escla­recimentos à Fiesp sobre o assunto. A fe­deração, por sua vez, alega não ter regis­tros de Geraldo Rezende de Matos. 

De acordo com investigações da Co­missão, Matos era um empresário ligado aos ramos de metalurgia, além de pos­suir uma empresa de seguros e repara­ção que atendia militares. 
“A Fiesp tem que explicar isso, não es­tamos inventando nada”, destaca o pre­sidente da Comissão Estadual da Verda­de, o deputado Adriano Diogo (PT-SP). “Queremos saber por que uma pessoa que ia ao Dops, [onde] permanecia horas e madrugadas, assinava como represen­tante da Fiesp”, completa. 

A Fiesp foi convidada para prestar es­clarecimentos sobre o caso na audiên­cia pública do dia 18. A reportagem en­trou em contato com a assessoria de im­prensa da federação, que não soube in­formar se a instituição estará representa­da. 

Empresariado 

Os vínculos do empresariado com os agentes da ditadura são assunto antigo de pesquisas e estudos. O tema é a ba­se do documentário Cidadão Boilesen (2009), dirigido por Chaim Litewski. O filme, que resgata a vida do empresário dinamarquês Henning Boilesen, desve­la não apenas as contribuições financei­ras do protagonista (então presidente do grupo Ultra) ao aparato militar, mas de diversas figuras ligadas a organizações multinacionais e instituições, incluindo a Fiesp. 

Em novembro, o coordenador da Co­missão da Verdade, Cláudio Fonteles, di­vulgou um texto em que relaciona a Fiesp à produção de armas para os militares que derrubaram João Goulart da presi­dência em 1964. No documento, Fonte­les cita um relatório confidencial produ­zido pelo Serviço Nacional de Informa­ções (SNI), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, que descreve a criação do Gru­po Permanente de Mobilização Indus­trial (GPMI) em 31 de março de 1964, da­ta do golpe. De acordo com o documento, o órgão teve a função de fornecer “armas e equipamentos militares aos revolucio­nários paulistas”. 

O caso de Geraldo Rezende de Matos, no entanto, desperta na Comissão outra suspeita. Para Seixas, é provável que as idas de Matos ao Dops visassem a troca de informações entre empresários, a po­lícia e o Exército. “Vem à cabeça de todo mundo, quando se fala em empresários e repressão, o financiamento. Mas nós não estamos trabalhando com essa hipótese. Para nós, a Fiesp ia lá entregar nomes de operários para serem reprimidos”, escla­rece Seixas. 

Consulado 

Já o “Dr. Halliwell” dos livros de regis­tros era Claris Rowley Halliwell (1918­2006), cônsul estadunidense no Bra­sil entre 1971 e 1974. Junto à Universi­dade de San Diego, na Califórnia, a Co­missão apurou que Halliwell teria inte­grado o serviço secreto dos Estados Uni­dos, a CIA. 

Assim como Geraldo Rezende de Ma­tos, ele também comparecia com fre­quência ao Dops, sobretudo à noite, onde permanecia durante toda a madruga­da. De abril a setembro de 1971, Halliwell esteve no local 31 vezes, de acordo com os registros. 

Em uma das idas, em 5 de abril de 1971, seu ingresso no prédio ocorreu às 12h40min da tarde, cinco minutos de­pois da entrada do capitão Ênio Pimen­tel Silveira, torturador que ficou conhe­cido como “Dr. Ney”. Ambos permanece­ram no prédio além das 22h. 

As “coincidências” não param por aí. Nesse mesmo dia, pela manhã, havia sido preso e levado para o Dops Devanir José de Carvalho, dirigente do Movimen­to Revolucionário Tiradentes (MRT). Depois de uma série de torturas, Carva­lho faleceu em 7 de abril. 

Para Ivan Seixas, não há como negar o envolvimento do cônsul com os crimes. “Nos prédios do Dops e da Oban [Ope­ração Bandeirante], quando se torturava não era segredo. O prédio inteiro ouvia, a vizinhança também. O mínimo que se pode dizer era que o ‘cara’ [cônsul] era conivente, mas eu acho que [ele] era par­ticipante”, diz Seixas. Depois de sair do Brasil, Halliwell foi cônsul estadunidense no Chile – onde, um ano antes, um golpe de Estado havia tirado do poder Salvador Allende. 

“A gente acha que essas coisas são de filme de ficção científica, que ‘na minha terra não tem isso’. O ‘cara’ não estava le­vando os passaportes para a Disneylân­dia, era um agente da CIA”, ressalta o de­putado Adriano Diogo, que integrou a militância estudantil durante o regime. 

Para o deputado, a revelação desses registros ajudará a contar a história desse período e a revelar quem praticou e engendrou os crimes.“Os documentos evidenciam a existência de uma enor­me organização criminosa que se reunia nas dependências do Dops para tortu­rar as pessoas, matar e planejar seques­tros”, pontua. 


Fonte: Vermelho

Equador a um passo de aprovar lei que democratiza a comunicação


Democratizar a comunicação e universalizar o acesso aos meios e às tecnologias da informação são os principais objetivos do Projeto de Lei Orgânica da Comunicação no Equador, afirma Romel Jurado, professor universitário, secretário da Comissão de Justiça e Estrutura do Estado e um dos assessores da Comissão de Comunicacão que elaborou a proposta. 

Por ComunicaSul e Érika Ceconi enviada especial do Vermelho a Quito


Caio Teixeira/ComunicaSul
Romel Jurado 
Jurado: "Compreendemos a comunicação desde uma ótica social, cultural e econômica".
Em entrevista concedida nesta sexta-feira (15), ele explicou que, apesar de a Constituição de 2008 já prever pontos que garantem o direito à comunicação, a oposição tem boicotado sistematicamente as tentativas de votação do projeto que regula o setor.

Leia também:Equatorianos reafirmam apoio a Correa no último dia da campanha

Segundo Jurado, o prazo inicial para a regulamentação era de um ano a partir de 2008. Desde então, o processo de debate tem sido reiteradamente postergado por “desobediência da oposição à construção democrática da lei”. “O projeto passou por longas sessões de debate e recebeu contribuições de toda a Assembleia Nacional, até chegar à decisão de que seria votado artigo por artigo, em 2012. No entanto, a direita e a grande mídia do país ignoram a necessidade constitucional de fazê-lo”, afirma.

O secretário destaca que, em 2011, ocorreu uma consulta popular (plebiscito) que resultou em ampla aprovação da regulação. “Entre as perguntas, questionamos aos equatorianos se queriam uma lei específica para a comunicação; se deveríamos criar um organismo regulatório específico; se deveríamos restringir conteúdos violentos, pornográficos e discriminatórios; e, por fim, perguntamos se as empresas de comunicação deveriam ser impedidas de terem vínculos com bancos e outras empresas”. O resultado foi sim para todas as perguntas.

Até a oposição, explica Jurado, reconhece que o projeto tem qualidade e amplia a liberdade de expressão na sociedade equatoriana. “No entanto, como estão alinhados à grande mídia privada, temem perder seus privilégios”, dispara. Ele explica que muitos proprietários midiáticos, embora não falem abertamente no tema, temem perder suas concessões. Em 2010 foi realizada uma auditoria de todos os processos de concessão e apurou-se que cerca de 500, das 1570 frequências, foram obtidas de forma ilegal ou fraudulenta. O Ministério Público, provocado a opinar sobre tal resultado, reconheceu que não eram 500, mas 330 concessões fraudulentas. A regulação prevê a devolução das frequências ilegais ou ilegítimas ao Estado, já que são bens públicos. A devolução das concessões atinge grandes grupos de mídia e emissoras de grande audiência

Democratizar a informação, democratizar a sociedade

Segundo o secretário da Comissão de Justiça e Estrutura do Estado, o projeto de Lei Orgânica de Comunicação não pretende apenas democratizar a comunicação, “mas universalizar o acesso material às tecnologias da comunicação”. Dentre os principais pontos do projeto, está a redistribuição do espaço radioelétrico. “Atualmente, 90% do espaço está na mão de veículos privados. Com a regulação, 33% do espaço será ocupado por estes meios, enquanto 33% serão destinados a veículos públicos e 34% aos comunitários”, explica.

Além disso, o financiamento da comunicação pública e comunitária também está em pauta. Em 1974, a ditadura praticamente vetou a existência dos meios comunitários, já que proibiu qualquer tipo de publicidade e impôs um cerco autoritário ao que consideravam “veículos potencialmente subversivos”. No projeto de lei, porém, estes meios têm garantido os direitos de vender publicidade pública e privada, de receber aportes de dentro do Equador ou estrangeiros, além de contarem com subvenção estatal. Os veículos públicos de abrangência nacional são os únicos que têm restrições: não podem circular publicidades comerciais. “Para suprir essa carência, estes meios já têm financiamento garantido no orçamento do governo”.

Como exemplo da necessidade de a comunicação ser democratizada no Equador, Jurado lembrou o papel da imprensa na tentativa de golpe de Estado ocorrida em setembro de 2010. “Na ocasião, alguns policiais se rebelarão contra o presidente. A TV Amazônia, porém, divulgou, sem revelar a fonte, que um setor das forças militares aderiram à insurreição e marchavam rumo aos quarteis policiais. O fato acabou criando um caos midiático e social, mas era uma mentira”, argumenta.

Assim como no Brasil, a grande imprensa e os setores conservadores da política acusam a regulação de “ferir a liberdade de expressão”, reação sintomática do risco de perderem a hegemonia da informação e da opinião em seus países. “É como uma mulher que entra numa loja, prova várias roupas e, ao tentar sair sem pagar, é abordada por um segurança e passa entáo a gritar que foi v[itima de uma tentativa de estupro. Toda vez que se tenta por uma mínima ordem no setor da comunicação, os poderosos bradam que a 'liberdade de imprensa' está morrendo”, analisa.

Sempre solicito aos interesses dos grandes conglomerados privados, o Comitê Interamericano de Direitos Humanos (CIDH), fez duras críticas ao projeto de lei equatoriano. “Em 2011, fomos até Washington e explicamos ao CIDH que eles interpretam a liberdade de expressão com uma ótica liberal, no sentido empresarial do termo. Nós optamos pela ótica social, cultura e econômica, para dar condições materiais à liberdade de expressão para todos e todas”, diz Jurado.

Calendário político e a votação da lei

Apesar de analisar com otimismo a conjuntura para o projeto ser aprovado, Jurado ressalta que é preciso ter paciência para votá-lo no momento político ideal. No próximo domingo (17) haverá eleições no país e, ainda que os mandatos comecem apenas em maio, a configuração da Assembleia pode definir a disputa pela democratização da mídia. “Se a Alianza Pais (movimento do presidente Rafael Correa) conquistar muitas cadeiras na Assembleia, mesmo os parlamentares da oposi;ao podem decidir votar o projeto em tempo, para não serem 'apagados da história'. O presidente da Assembleia, Fernando Cordero, também pode resolver convocar a votação ainda em seu mandato”.

O pior quadro, na avaliação de Jurado, seria uma vitória significativa da oposição, cujo candidato é o ex-banqueiro Guillermo Lasso. “Apesar de improvável, o triunfo da oposição, cujos interesses estão estritamente ligados aos dos impérios midiáticos equatorianos, poderia redundar até mesmo no fim do projeto”.

Veja o especial do Vermelho sobre as Eleições no Equador

Blog do Gusmão homenageia Eduardo Anunciação


EDUARDO ANUNCIAÇÃO CONTRARIOU BORGES

Direto do Blog do Gusmão

O escritor argentino, Jorge Luiz Borges, afirmou que os jornalistas escrevem para o esquecimento. Borges associou o exercício da profissão ao dia-a-dia descartado na data posterior.

O estilo de Eduardo Anunciação contrariou o escritor e eternizou o jornalista.

O “Planeta Cacau” perdeu hoje o Jornalista Eduardo Anunciação.

O velório será na câmara de vereadores de Itabuna, onde Eduardo foi parlamentar nos anos 60.

No dia 13 de junho de 2010, publicamos essa homenagem ao amigo “Duda”, como um reconhecimento à sua amizade e ao seu amor pelo jornalismo.

Eduardo Anunciação foi o maior incentivador deste blog. Sentiremos muito a sua falta. 

A nossa admiração por ele foi ousadamente resumida no texto abaixo. O amigo Duda respondeu com o comentário que pode ser lido depois do nosso texto.

Eduardo Anunciação.
Eduardo Anunciação (29/11/1945 a 15/02/2013).

O MESTRE EM SEU RITUAL

Este homem é jornalista, essencialmente jornalista.

Seus textos e sua coluna (quase diária) fluem através de um ritual peculiar, propiciado pelo reconhecimento conquistado e por um estilo único.

Ele escreve com o auxílio de uma régua, ele manuscreve mesmo tendo máquina de escrever e computador. Sua métrica é capaz de levar políticos à loucura, sua construção leva vereadores à tribuna do desespero, deputados à plenaria dos lamentos, etc e etc.

Nele, a criticidade está sempre presente, com rigor, respeito e perspicácia, afinal, eis um jornalista, eis um instrumento da liberdade de expressão.

Seus elogios agraciam e enobrecem, seduzem aqueles anteriormente criticados. A corda da liberdade lhe impôs processos judiciais, calúnias e até mesmo infâmias, mas, ele passa longe disso, não demonstra rancor, não suporta mágoas.

Todos os dias, nesta mesa, quase sempre forrada com uma toalha vermelha (tapete vermelho?) ele escreve a história grapiúna, sentado na mesma cadeira, carinhosamente recebido por um grande amigo de “priscas eras”.

Não vou revelar o local, para que não façam romarias, para que não interropam demasiadamente a sua criação.

Este homem é jornalista, essencialmente jornalista. Um homem de erros e virtudes como outro qualquer, porém, um jornalista, um grande jornalista (de estilo e texto) meu amigo e companheiro, conselheiro e mestre.

Comentário de Anunciação.

Emílio Gusmão, meu mais velho e novo amigo. Vou descobrindo com serenidade que a felicidade, a paz não está em ser senhor de fazendas, terras nem numa luxuosa casa, num carro ou ter vacas, ter bois. Está dentro de nós, na amizade, nos amigos, sobretudo, na capacidade de resistir, conversar, debater, aprender. Ninguém é nada sem o companheirismo, sem amizades, sem amigos. Isto não é uma filosofia brasileira nem filosofia chinesa. É o meu sentimento, é o que sinto. Não preciso escrever mais: fiquei comovido com o seu depoimento.

Do amigo atento, Eduardo Anunciação.

Neste junho de 2010. Ilhéus.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Polícia flagra prostituição e cárcere privado em boate no Pará


A Polícia Civil de Altamira, no Pará, encontrou 14 mulheres e uma travesti em regime de escravidão e cárcere privado em um prostíbulo localizado em área limítrofe de um dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte. A operação foi realizada na noite de quarta-feira, 13, após denúncia de uma garota de 16 anos, que conseguiu fugir. A adolescente procurou a conselheira do Conselho Tutelar, Lucenilda Lima, que acionou a polícia.



Prostíbulo onde garotas estavam confinadas. Foto: Bruno Carachesti/Diário do Pará

De acordo com o delegado Rodrigo Spessato, que comandou a operação, as mulheres, de idade entre 18 e 20 anos – além da jovem de 16, todas provenientes dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – eram confinadas em pequenos quartos sem janelas e ventilação, com apenas uma cama de casal, e havia cadeados do lado de fora das portas. Em depoimentos ao delegado, as vítimas afirmaram que podiam ir à cidade de Altamira uma vez por semana, por uma hora, mas eram vigiadas pelos funcionários da boate.

Além da situação de cárcere privado, a polícia encontrou no local um caderno onde eram anotadas as dívidas das meninas, como gastos com passagens, alimentos e vestimentas, além de “multas” por motivos diversos.

Ameaça de morte
Após a ação, a policia civil resgatou, além da adolescente, quatro meninas e uma travesti. Segundo Lucenilda, do Conselho Tutelar, as demais disseram ter muito medo de retaliações, uma vez que o dono da boate teria ameaçado seus familiares que moram no Sul. Em entrevista à reportagem, uma das jovens resgatadas contou que, assim que a adolescente de 16 anos conseguiu fugir, o gerente a seguiu com uma arma.

“Ele saiu atrás dela armado e disse que não custava matar uma, que ninguém ficaria sabendo”, afirma a garota, que tem 18 anos. Procedente de Joaçaba, no interior de Santa Catarina, ela conta que lá trabalhava em uma boate cuja cafetina era “sócia” do dono da boate no Pará. “Viemos em nove lá de Joaçaba. Falaram para a gente que seria muito bom trabalhar em Belo Monte, que a gente ganharia até R$ 14 mil por mês, mas quando chegamos não era nada disso”, conta.

“Já de cara fizemos uma dívida de R$ 13 mil por conta das passagens [valor cobrado do grupo]. Aí temos que comprar roupas, cada vestido é quase R$ 200, e tudo fica anotado no caderninho pra gente ir pagando a dívida. E tem também a multa, qualquer coisa que a gente faz leva multa, que também fica anotada no caderno. Depois de cada cliente, a gente dava o dinheiro para o dono da boate pra pagar as nossas dívidas, eu nunca ganhei nenhum dinheiro para mim”, explica a garota.

Sobre as condições às quais foram submetidas na boate, ela conta que morava com outras três meninas em um pequeno quarto muito quente, e que realmente não tinha permissão de sair do local. “Eles ligavam o ar condicionado só por uma hora. A gente tinha que trabalhar 24 horas por dia; quando tinha cliente, tinha que atender”, afirma.

“De comida, tinha almoço e janta. Se você estava trabalhando na hora do almoço, tinha que esperar a janta. Se desse muita fome, a gente tinha que comprar um lanche. O gerente da boate dizia que a gente só poderia sair depois de pagar todas as dívidas, e que nem adiantava reclamar porque ninguém ia nos ajudar, ele era amigo da justiça e nunca ninguém ia fazer nada contra ele. Mas ele disse que se a gente falasse, eles iam atrás dos nossos filhos e parentes lá no Sul.”

Sobre os clientes, ela conta que eram exclusivamente trabalhadores de Belo Monte. “Eram operários, eram gerentes, tinha de tudo. Todo mundo que trabalha na obra vinha na boate”, explicou.

O delegado Rodrigo Spessato diz não saber se o prostíbulo está dentro ou fora dos limites do canteiro de obras. A conselheira Lucenilda Lima relata, no entanto, que para chegar à boate foi preciso atravessar o canteiro de Pimental, um dos principais da usina. “Foi uma burocracia na entrada para a gente conseguir passar. E lá mesmo toda hora passavam os carros e tratores de Belo Monte, então eu considero que a boate está na área da usina”.

Na ação, a polícia civil efetuou a prisão de dois funcionários da boate, mas não encontrou o proprietário. Segundo Spessato, além de exploração sexual de menor, cárcere privado e regime de escravidão, o caso poderá ser caracterizado como tráfico de pessoas, e os responsáveis pelo prostíbulo, processados por estes crimes.

Como o canteiro de Pimental fica no município de Vitória do Xingu, o caso está sendo apurado pela delegacia dessa cidade. O delegado local chegou a Altamira na manhã desta quinta-feira para tomar os depoimentos das vítimas e dos dois funcionários presos, e uma nova ação voltará à boate ainda esta tarde, para fechar o estabelecimento e resgatar 1o mulheres que permaneceram no local.

Fonte: Repórter Brasil via Vermelho

Os bilionários e a fome no mundo


De acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg, o mexicano Carlos Slim, dono de negócios no ramo de telecomunicações em 18 países, com uma fortuna avaliada em US$ 78,4 bilhões, é o maior bilionário do planeta. 

Por Marcus Eduardo de Oliveira, na Adital


Pobreza
 
Depois dele, vem o cofundador da Microsoft, o norte-americano Bill Gates, com fortuna de US$ 65,8 bilhões, seguido pelo espanhol Amancio Ortega, fundador do grupo têxtil Inditex, dono da marca Zara, com US$ 58,6 bilhões. A soma dessas três maiores fortunas atinge US$ 202,8 bilhões.

Pelo lado dos brasileiros, os quatro maiores bilionários são: Jorge Paulo Lemann, investidor controlador da Anheuser-Busch InBev, maior cervejaria do mundo, com fortuna avaliada em US$ 19,6 bilhões. Em segundo lugar vem o banqueiro Joseph Safra, com patrimônio de US$ 12 bilhões. O terceiro e quarto lugares, respectivamente, ficam com Dirce Camargo, herdeira do grupo Camargo Correa, com fortuna estimada em US$ 14,1 bilhões e, com o empresário Eike Batista, com fortuna avaliada em US$ 11,4 bilhões. A soma das fortunas desses quatro maiores bilionários brasileiros atinge a cifra de US$ 57,1 bilhões. Já a fortuna somada desses sete "imperadores do dinheiro” chega a US$ 259,9 bilhões.

De um lado, rios de dinheiro; do outro, um oceano de tristeza e miséria evidenciada pela fome e subnutrição que atinge, segundo dados da FAO (Fundo para a Agricultura e Alimentação), 1 bilhão de pessoas no mundo. Os que todos os dias tem estômagos vazios e bocas esfaimadas são 14% da população mundial, um entre seis habitantes.

Com US$ 44 bilhões (17% da fortuna dos 7 bilionários citados) resolveria o problema desse 1 bilhão de famintos espalhados pelo mundo. O drama da fome é tão intenso que dizima uma criança com menos de cinco anos de idade a cada minuto. Isso mesmo: uma criança menor de 5 anos morre a cada 60 segundos vítima da falta de alimentos em seus estômagos. Isso porque estamos num mundo em que a produção de grãos (arroz, feijão, soja, milho e trigo) seria suficiente para alimentar mais de 10 bilhões de pessoas.

Somente o Brasil, terceiro maior produtor de alimentos do mundo, atrás apenas dos EUA e da China, verá sua safra de grãos aumentar em mais de 20% na próxima década. No entanto, essa ignomínia chamada fome vai derrubando corpos inocentes ao chão também em nosso pedaço de terra. A situação aqui não é muito diferente da mundial. Em meio às controvérsias em torno do real número de famintos (50 milhões para a FGV, 34 milhões para o IBGE e 14 milhões de pessoas para o governo federal) a fome oculta (caracterizada pela falta de vitaminas e minerais que afeta o crescimento físico e cognitivo, bem como todo o sistema imunológico) atinge 40% das crianças brasileiras. No mapa mundial da subnutrição, estamos na 27ª posição, com 9% da população.

Em pleno século 21, num mundo em que a tecnologia desenvolve técnicas apuradíssimas para clonar tudo o que bem entender, a fome mata atualmente mais pessoas do que a Aids, a malária e a tuberculose juntas. Numa época em que o dinheiro corre solto pelos cassinos e praças financeiras em busca de lucro e especulação, a Syngenta, multinacional suíça da área agrícola, investe todos os anos a importância de US$ 1 bilhão em pesquisas agrícolas, mas fecha as mãos para a ajuda internacional aos famintos.

Nunca é demasiado lembrar que habitamos um mundo em que o custo diário para alimentar uma criança com todas as vitaminas e os nutrientes necessários custa apenas 25 centavos de dólar. Contudo, em decorrência da desnutrição crônica, cerca de 500 milhões de crianças correm risco de sequelas permanentes no organismo nos próximos 15 anos. De acordo com a ONG (Salvem as Crianças), a morte de 2 milhões de crianças por ano poderia ser prevenida se a desnutrição fosse combatida.

Mas, poucas são as mãos levantadas em prol dos famintos do mundo. A preocupação dos "Imperadores do Mundo” é outra. Refresquemos a memória em relação a isso: em apenas uma semana os líderes das maiores potências do planeta "fizeram” surgir 2,2 trilhões de dólares (US$ 700 bilhões nos Estados Unidos e mais US$ 1,5 trilhão na Europa) para salvar instituições bancárias no auge da crise econômica que se abateu (e ainda vem se abatendo) sobre as mais importantes economias mundiais desde 2008.

Se a preocupação fosse salvar vidas de desnutridos, incluindo a vida de 900 mil crianças no mundo (30% delas residentes em Burundi, Congo, Eritréia, Comores, Suazilândia e Costa do Marfim), esses mesmos "imperadores” tirariam dos bolsos a importância de US$ 25 milhões por ano, que é o custo estimado para salvaguardar com nutrientes esse contingente de crianças até 2015.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana - Cuba


Fonte: vermelho

Basf e Shell propõem fundo de R$ 50 milhões para tratar contaminados


Em audiência de conciliação realizada no Tribunal Superior do Trabalho (TST) na tarde desta quinta-feira (14) representantes da Basf e da Shell ofereceram um fundo de R$ 50 milhões para tratamento médico das vítimas da contaminação por uma indústria em Paulínia (SP). 


Foto: Antonio Cruz/ABr
A Shell e a Basf são as antigas donas da fábrica. As discussões com os trabalhadores foram suspensas no meio da tarde e serão retomadas em audiência no Ministério Público do Trabalho na próxima terça-feira (19), às 9 horas.

O processo corre desde 2007 e é considerado o maior da Justiça do Trabalho. O Ministério Público e sindicatos de ex-funcionários cobram reparação das empresas devido à contaminação por substâncias tóxicas emitidas pelo complexo industrial, criado em 1970. Na primeira e segunda instâncias, as empresas foram condenadas a pagar tratamento médico aos trabalhadores e familiares, além de danos morais e materiais, com valor atualizado em cerca de R$ 1 bilhão.


De acordo com a proposta dos representantes da Basf e da Shell, os procedimentos do fundo para o tratamento das centenas de pessoas afetadas devem ser administrados pelas próprias vítimas. O valor de R$ 50 milhões pode ser reajustado conforme a necessidade. As empresas ainda garantiram a disponibilidade de hospitais para atendimentos de emergência.

Segundo a proposta, as indenizações individuais devem ser calculadas conforme período trabalhado. A média, por grupo familiar, pode variar entre R$ 120 mil e R$ 330 mil. A empresa pretende indenizar 884 trabalhadores e dependentes, mas o Ministério Público do Trabalho acredita que o número correto de vítimas é 1.068.

Os empregadores não apresentaram proposta para indenização por danos morais coletivos, sugerindo entendimento usual do TST para esses casos. Ofereceram, ainda, alternativa de pagamento para as famílias que optarem por não receber o tratamento de saúde, além da possibilidade de abrir negociações individuais caso o acordo geral não seja aceito.

Embora reconheçam que houve avanço nas propostas apresentadas hoje – foram feitas oito tentativas de conciliação, sem sucesso - representantes dos trabalhadores e do Ministério Público demonstraram preocupação com alguns pontos do acordo. Entre eles, a possibilidade de pagamento alternativo para quem recusar tratamento médico e a necessidade de identificação nominal prévia dos beneficiários.

A audiência da próxima terça-feira, no MPT, tentará superar essas questões e uma nova audiência deve ocorrer no TST no dia 28. Caso as partes não cheguem a um acordo, a proposta de conciliação será apresentada pelo mediador do caso, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, João Oreste Dalazen.

Fonte: EBC via Vermelho

Bancos privados lucram R$ 27,7 bilhões em 2012


Os números reafirmam que o setor financeiro vai muito bem, mesmo com a crise financeira mundial. O Itaú, Bradesco e Santander, juntos, lucraram R$ 27,7 bilhões em 2012. O resultado representa uma queda de 5,3% e foi divulgado pela empresa de informações financeiras Austin Rating.
 
O desempenho é explicado, entre outras coisas, pela derrubada de juros, estimulada pelo governo e pela alta na inadimplência, que forçou as organizações financeiras a fazerem provisões contra perdas. Os custos dos mesmos três bancos somaram R$ 48,3 bilhões, expansão de 27%. 
 
O cenário de risco levou a um menor crescimento no crédito. A carteira total do Itaú aumentou 6%, a do Bradesco, 8,3% e a do Santander, 7,6%. A elevação foi menor do que a do mercado, de 16,2%, segundo o Banco Central. 
 
Apesar da leve retração na lucratividade, o setor bancário ainda é um dos mais rentáveis do mundo. Os ganhos continuam altos. Em contrapartida, os empregados permanecem em condições, muitas vezes, precárias nas agências, com sobrecarga de trabalho e sem segurança necessária. 

Fonte: O Bancário

Debate sobre guerra cambial opõe países ricos e emergentes no G-20

Crédito: humbertocapellari.wordpress.comhumbertocapellari.wordpress.comO Estado de S.Paulo - Cláudia Trevisan, de Moscou

O risco de uma guerra cambial de proporções globais voltou a estar no centro da agenda do G-20 e provocou divisão ontem entre representantes de nações desenvolvidas e emergentes, que criticaram políticas monetárias expansionistas cujo efeito é a desvalorização de moedas de países ricos.

Os ministros de Finanças do grupo se reúnem hoje em Moscou - o presidente russo, Vladimir Putin, será o anfitrião do encontro - sob o impacto das medidas adotadas pelo Japão para tentar ressuscitar sua economia, que provocaram depreciação de 17% do iene em relação ao dólar nos últimos três meses.

Na opinião de Paulo Nogueira Batista Júnior (foto), diretor executivo do Brasil e mais dez países no Fundo Monetário Internacional (FMI), a possibilidade de uma corrida de depreciações cambiais é maior hoje do que em 2010, quando o ministro Guido Mantega cunhou a expressão "guerra cambial" no âmbito do G-20.

"Os países estão tentando resolver suas crises domésticas exportando suas dificuldades por meio do câmbio", disse Nogueira, ressaltando que falava a título pessoal.

A desvalorização de moedas favorece as exportações, o que pode auxiliar no processo de recuperação de economias em dificuldades.

A queixa dos emergentes foi apresentada em encontro preparatório da reunião de ministros realizado ontem na capital russa. Os representantes dos países ricos responderam que a intenção das medidas não é a desvalorização cambial, mas a reativação de economias estagnadas.

Comunicado. O G-7, clube das nações mais industrializadas do mundo, provocou um rebuliço no mercado de câmbio nos últimos dois dias, depois de divulgar na quarta-feira um comunicado no qual afirmava que suas políticas monetária e fiscal têm objetivos domésticos e não buscam alcançar taxas de câmbio específicas. 

Representantes do grupo deram interpretações contraditórias e anônimas ao comunicado, alguns dizendo que era um ataque e outros, uma defesa do Japão. Em resposta à volatilidade, o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, defendeu em entrevista à TV Bloomberg que o comunicado final do G-20 seja mais "específico" que os anteriores na condenação da guerra cambial. Nos documentos divulgados anteriormente, os países se comprometem a evitar a "desvalorização competitiva de suas moedas". 

Os ministros também vão discutir a questão fiscal e a velocidade com que países endividados devem reduzir seus déficits e o tamanho de suas dívidas. A divisão nessa área não opõe emergentes e desenvolvidos, mas sim grupos de países que defendem a manutenção de medidas pró-crescimento, como o Brasil, e os que são favoráveis a cortes de gastos que produzam rápida redução do déficit, ainda que isso sacrifique a expansão de curto prazo.

Novos temas. Outros temas que estão na agenda são a reforma do sistema de cotas do FMI, com aumento do peso dos países emergentes, e o desenvolvimento de mecanismos de financiamento de longo prazo, especialmente para projetos de infraestrutura.

Com a crise global de 2008, o bancos reduziram sua atuação como fontes de financiamento. Para compensar a queda, a economia mundial precisa criar mecanismos novos, que canalizem recursos para investimentos cujo retorno não é imediato. Essa é uma das prioridades da presidência da Rússia no G-20, que começa oficialmente hoje. 

O G-20 deve retomar o espírito de cooperação que marcou sua atuação no início da crise financeira internacional, em 2008 e 2009, e evitar o crescente risco de "fragmentação, balcanização e protecionismo", afirmou ontem em Moscou o dirigente da entidade que é a principal representante de instituições financeiras de todo o mundo. 

"A coordenação é uma das questões centrais que devem ser enfrentadas pelo G-20", disse Tim Adams, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), espécie de xerife mundial dos bancos, que reúne 470 companhias do setor financeiro.

O discurso unificado do período pós-crise deu lugar a um cenário no qual realidades domésticas se chocam com as exigências de coordenação e regulação globais, avaliaram participantes de seminário promovido pela entidade. Segundo Adams, há um aumento de iniciativas "unilaterais" de regulação do mercado financeiro, que ameaçam os "avanços" na harmonização global de regras.

Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor executivo do Brasil, avaliou que o papel do G-20 se enfraqueceu a partir de 2011, com o deslocamento da crise para a Europa e a persistência das dificuldades de retomada de crescimento no Japão e nos Estados Unidos. "A grande questão é saber se o G-20 conseguirá recuperar seu papel de coordenador de questões globais", observou, ressaltando que falava a título pessoal. / C. T. 


Fonte: Contraf

EUA e União Europeia negociam livre comércio para enfrentar China

Carta Maior - Marcelo Justo

Os Estados Unidos e a União Europeia (UE) anunciaram o início de negociações para a formação da maior zona de livre comércio do mundo. Em uma declaração conjunta, o presidente Barack Obama, o do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e o da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, assinalaram que estão comprometidos a aprofundar uma relação transatlântica "equivalente à metade da produção global e a quase um trilhão de dólares anuais".

O anúncio foi acompanhado por uma solitária frase do discurso do Estado da União, proferido terça-feira à noite por Obama, quando ele anunciou o início das negociações "porque um comércio livre e justo é a base de milhões de postos de trabalho nos Estados Unidos". Essa frase foi o ponto de partida que estavam esperando na Europa mandatários como a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron que se manifestaram em mais de uma oportunidade a favor de um tratado. "Eliminar as barreiras comerciais que restam para assegurar um amplo acordo não será fácil e exigirá valentia de ambas as partes, mas será amplamente benéfico", disse Cameron, um dos primeiros políticos europeus a reagir ao anúncio.

Com um 2013 incerto à vista e o permanente desafio da Ásia no horizonte, a possibilidade de um Tratado de Livre Comércio é um dos poucos caminhos que os países desenvolvidos têm para sair no médio prazo da areia movediça deixada pelo estouro da crise financeira de 2008. Nos EUA estava claro quem era o principal competidor. "Os Estados Unidos e a União Europeia estão enfrentando o desafio global colocado pela China. Creio que a melhor maneira de combater esse desafio é nos unirmos", assinalou Bill Reinsch, presidente do National Foreign Trade Council dos Estados Unidos, um grupo que promove o livre comércio.

Um caminho cheio de pedras

O potencial é indiscutivelmente imenso. Segundo algumas estimativas, os intercâmbios comerciais e de serviços chegam a cerca de US$ 3 bilhões diários. As tarifas alfandegárias são baixas - uma média de 3% -, mas sua eliminação em um intercâmbio tão massivo suporia um gigantesco estímulo e uma significativa poupança que poderia ser dirigida para o consumo doméstico, um setor que precisa de estímulo dos dois lados do Atlântico apesar do sobreendividamento ocorrido na década passada do dinheiro fácil.

Não resta dúvida que ambas as partes precisam disso. Enquanto Ásia, América Latina e África tem uma respeitável perspectiva de crescimento para este ano, a União Europeia, com o marasmo da zona do euro, o gigantesco endividamento e os programas de austeridade, está lutando para evitar a recessão, enquanto que os Estados Unidos sofreram uma contração no último trimestre do ano passado e necessitam um crescimento menos esquelético que o atual para recuperar o terreno perdido.

O reiterado fracasso da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que começou em 2001 depois dos atentados contra as torres gêmeas e teve uma tentativa de retomada em 2011, é parte do plano de fundo desta busca de acordos bilaterais que se multiplicaram nos últimos anos. Mas os obstáculos para uma zona de livre comércio EUA-UE também são gigantescos. Se o anúncio de Obama foi música da Merkel e Cameron, o som foi um pouco mais dissonante para o presidente da França, François Hollande, sempre preocupado com qualquer ameaça aos subsídios agrícolas que equivalem a quase 40% do orçamento europeu.

O tema agrícola - que atravancou a negociação de um tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia - não é o único obstáculo. Um verdadeiro pesadelo é a harmonização regulatória das indústrias automotriz, farmacêutica, alimentar e de brinquedos em ambos os lados do Atlântico. Esta harmonização é tão complicada que não está inteiramente resolvida no interior dos 27 países que compõem a UE. Outro caso que promete longas batalhas diz respeito aos alimentos geneticamente modificados que enfrentam fortes obstáculos na Europa.

O fantasma do Mercosul-UE

A brevidade do anúncio de Obama - uma única frase com um infinito potencial - pode se dever a que não havia muito mais o que dizer ou a que, segundo a imprensa estadunidense, o grupo da UE e dos EUA que está trabalhando sobre o tema só pode dar a luz verde na própria terça-feira, poucas horas antes do discurso do presidente. Esse grupo discutiu durante mais de um ano para ver se as negociações serão para chegar a um acordo limitado a tarifas alfandegárias ou a um acordo mais amplo, cobrindo meio ambiente, agricultura, indústria farmacêutica e automobilística.

Os pessimistas assinalam que uma negociação de fundo levará anos. O modelo Mercosul-UE é um exemplo das dificuldades. No final de 1995, ambos firmaram um Acordo Marco Interregional (AMI), passagem prévia a um Tratado de Associação, baseado no livre comércio, na cooperação e no diálogo político. Dezoito anos depois está claro que o livre comércio foi a tumba do assunto, apesar do que, na última sessão plenária da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em dezembro, a presidenta argentina, Cristina Fernández, apoiou uma aceleração das negociações com a União Europeia, desde que se "fale de igual para igual".

Segundo o professor de Relações Internacionais da Universidade de Nottingham, Andreas Bieler, a crise econômica mundial, que pode complicar a negociação EUA-UE, poderia também acelerá-la, sobretudo quando o fantasma asiático está batendo à porta dos países desenvolvidos. "Este tipo de competição com a China pode empurrar para um acordo, apesar de que em muitas áreas ainda não há uma competição direta com a China que tem muito mais comércio em exportações baratas, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia estão mais centrados em produtos mais sofisticados", disse Bieler à Carta Maior.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer via Contraf