quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Ingerência dos EUA freou integração latino-americana, opina Solís

 Os militarismos, a pobreza e a ingerência dos Estados Unidos, impediram até agora alcançar a total integração na América Latina, opinou o presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Solís, que está na China.


Durante uma palestra, pronunciada após receber o título de doutor honoris causa da Universidade Popular de Pequim, o presidente aludiu à unidade na diversidade deste continente e à urgência de conseguir a unificação com base no respeito às diferenças.


“Não há uma mas muitas Américas Latinas, diversas ecologicamente, antropologicamente, culturalmente, no político, religioso, institucional ou no econômico, apesar do espírito latino-americano que há e que às vezes se expressa em forma de música, arte e outras demonstrações culturais”, definiu.

"A América Latina deve buscar a unidade através de sua diversidade", assinalou.

Solís fez referência à velha aspiração deste continente de alcançar essa meta e considerou que isto segue pendente” pela incapacidade de nossos países de encontrar mecanismos regionais de integração, pelos militarismos, pobreza e ingerência dos Estados Unidos”.

A Universidade Popular de Pequim, uma das mais reconhecidas da China, aproveitou a estadia do presidente costa-riquenho para entregar-lhe o reconhecimento por mais de três décadas como professor universitário e pesquisador na área de Ciências Políticas e História.

"Aceito este título, ainda que não o mereça, como símbolo de valores que existem na China e na América Latina, não só na Costa Rica", declarou o governante e admitiu que se sente mais acadêmico que chefe de Estado, motivo pelo qual voltará à cátedra quando concluir sua gestão, em 2018.

"Ser professor e presidente às vezes são profissões muito similares, porque ambas nos forçam a tomar decisões nas quais devemos ser justos e corretos", afirmou, segundo o diário digital El País.

Solís participou também da inauguração nessa sede universitária do Centro de Estudos Latino-Americanos, no qual trabalham já estudantes deste continente que tentam fomentar os intercâmbios culturais e acadêmicos entre esta área geográfica e o gigante asiático.

O presidente da Costa Rica, país que ostenta a presidência temporária da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), chegou a Pequim por ocasião da cimeira entre esse bloco regional e China, nos dias 8 e 9 de janeiro.

Fonte: Prensa Latina via Vermelho

Sindicalistas avisam que trabalhadores não pagarão a conta

2014 04 09 8 Marcha da classe trabalhadora


Sindicalistas estão preocupados com o anúncio feito por integrantes do governo Dilma Rousseff que, para garantir as metas fiscais, divulgaram medidas amargas contra a classe trabalhadora.
Representantes das centrais sindicais e governo já têm data para sua primeira reunião de 2015. Como pauta principal, as centrais irão questionar o governo sobre o pacote de medidas apresentado em dezembro de 2014, que prevê mudanças no acesso a alguns benefícios trabalhistas e previdenciários.
Para o presidente da CTB, Adilson Araújo, os primeiros indícios apontam um ano de muita complexidade. E a medida provisória com mudanças nos benefícios soou como um balde de água fria para os sindicalistas. Ele avalia que os sinais vão no sentido de que tudo será voltado para um ajuste fiscal, o governo vai fazer todos os esforços para a construção da chamada austeridade monetária.
Adilson destacou que é preocupante que isso venha a resultar em cortes nos investimentos públicos e, consequentemente, em arrocho. "O mundo está diante de uma crise de grandes proporções, mas nós não podemos nos render ao discurso do mercado”, afirma.
Valorização do salário mínimo é fundamental
Outro ponto que preocupa sobremaneira os sindicalistas, diz respeito às declarações do novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, de que o governo iria enviar uma nova regra de reajuste do salário mínimo ao Congresso Nacional.
A preocupação cresce à medida que se identifica um Congresso com perfil ainda mais conservador do que o atual, o que pode abrir caminho para iniciativas de retirada ou "flexibilização" de direitos.
Para o coordenador de atendimento técnico sindical do Dieese, Airton Santos, a política de valorização do salário mínimo não é importante apenas para os trabalhadores e aposentados que o recebem, mas para os demais salários também.
Segundo o coordenador, o reajuste de 8,8%, em vigor desde 1º de janeiro, que elevou o valor do salário mínimo para R$ 788, representa uma "razoável" massa de recursos injetada na economia e cria um efeito "dinâmico" na sociedade. "Um efeito multiplicador, porque esses recursos vão para as pessoas de renda baixa e voltam diretamente para a economia, como consumo".
Airton afirma que, juntamente com as políticas de transferência de renda e os esforços do movimento sindical em conquistar aumentos reais, o salário mínimo tem sustentado o mercado interno. "Sua importância é ainda maior, pois faz com que o piso salarial de diversos setores da produção sejam puxados para cima, garantindo um aumento geral dos salários."
Sobre o aventado risco de revisão das regras de reajuste do mínimo, o coordenador do Dieese diz que qualquer mudança teria de ser discutida no Congresso.
"Mas acho que o Congresso não é suficiente para discutir isso. O movimento sindical precisa estar atento e, se necessário, pôr o bloco na rua, porque a gente sabe que tem resistência."
Para o presidente da CTB, a presidenta Dilma tem de enxergar que seu primeiro grande teste de força é não romper com os movimentos sociais. “O preço que a classe trabalhadora pode pegar em defesa do governo é lutar pela estabilidade, mas não podemos abrir mão de nossas conquistas. Precisamos pressionar o governo para estar cada vez mais próximos dos anseios da população", completou o dirigente.
Portal CTB

Fim do latifúndio é constitucional e urgente para o avanço democrático

Avançar na reforma agrária é reivindicação histórica dos movimentos sociais e meta a ser cumprida pelo segundo mandato da presidenta Dilma
Avançar na reforma agrária é reivindicação histórica dos movimentos sociais
e meta a ser cumprida pelo segundo mandato da presidenta Dilma

A polêmica tem sido a tônica desde o anúncio da nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), como ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.


Em sua primeira entrevista como ministra já empossada, ela reforçou o coro dos críticos quando disse que “não existem mais latifúndios no Brasil”. Questionada sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que tramita no Congresso Nacional e se aprovada passará a responsabilidade da demarcação de terras indígenas para o Congresso, ela resolveu atacar os indígenas, dizendo que “os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção”. 


O MST (Movimento dos Sem Terra) se posicionou contrário à nomeação de Kátia Abreu, desde quando se aventava o seu nome. Para o movimento, a declaração da ministra de que não existe latifúndio é para justificar que não é necessária uma reforma agrária em massa.

“As declarações de Kátia Abreu demonstram que a ministra representa os interesses dos segmentos mais atrasados da agricultura brasileira, que não alcançaram os patamares mínimos de produtividade, desmatam o meio ambiente e utilizam trabalho escravo”, enfatiza Igor Felippe, da coordenação nacional de comunicação do MST.

100 milhões de hectares

Segundo ele, dados mais recentes apontam que 130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. “Mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários, que possuem em média mais de 2.400 hectares. Ou seja, existem mais latifúndios no Brasil. E estão mais improdutivos”, completa Felippe.

O Movimento de Luta pela Terra (MLT) também divulgou nota de repúdio às declarações da ministra. Para a entidade, ao não reconhecer a realidade do latifúndio no Brasil, a ministra inicia um “retrocesso que pode ter como consequência a perda de direitos e benefícios conquistados pelos assentados, agricultores familiares, homens e mulheres do campo”.

“O latifúndio não acabou, ao tempo que consideramos que a declaração é uma inverdade que está revestida de intenções que não condizem com a realidade da luta pela terra no Brasil”, rechaçou o MLT.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), também repudiou as afirmações da ministra. “Quem realmente conhece a história de nosso país sabe que não são os povos indígenas que saíram ou saem das florestas. São os agentes do latifúndio, do ruralismo, do agronegócio que invadem e derrubam as florestas, expulsam e assassinam as populações que nela vivem”, rebate o Cimi.

Parlamentares também reagiram. O deputado Valmir Assunção (PT-BA), liderança do MST e assentado da reforma agrária, afirmou que vai entregar a lista de grandes proprietários de terra no retorno dos trabalhos da Câmara.

Segundo o parlamentar, a declaração de Kátia Abreu é conflitante com dados do próprio governo. “Eu me comprometo a entregar a lista dos latifúndios existentes no Brasil, dados que o Incra possui, assim que as atividades da Câmara dos Deputados forem retomadas.

O petista também disse que entregará publicações como o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que registra um “massacre ao povo indígena diante da invasão ao seu território pelo latifúndio e pelo agronegócio”.

Derrubar a cerca dos latifúndios

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, afirmou durante a sua posse nesta terça-feira (6) que é preciso “derrubar a cerca dos latifúndios”, reafirmando o compromisso do governo da presidenta Dilma com a reforma.

“Ignorar ou negar a existência da desigualdade e da injustiça é uma forma de perpetuá-los. Não basta derrubar a cerca dos latifúndios, é preciso derrubar também as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social”, asseverou Patrus.

Ao contrário do que a grande mídia tenta insuflar insinuando uma suposta disputa entre Patrus Ananias e Kátia Abreu, as declarações do ministro são uma reafirmação de sua trajetória política. Ananias foi ministro do Desenvolvimento Social onde desenvolveu o Bolsa Família, um dos principais instrumentos de inclusão social que retirou 36 milhões da miséria.

Além disso, a reforma agrária é atribuição do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e não do Ministério da Agricultura, que é responsável pela produção agrícola não podendo interferir no assunto.

Ouvir o povo

Num tom conciliador, Ananias, que esteve na cerimônia de posse de Kátia Abreu, ressaltou que também é possível combinar o estímulo à agricultura empresarial com o “não menos justo e inadiável” reconhecimento dos direitos dos agricultores familiares e das famílias de trabalhadores rurais sem-terra. “E isso não teria sido possível sem ouvir as vozes que vêm do nosso chão profundo. São elas que nos despertam para a dura realidade dos mais humildes e para os muitos desafios que ainda temos a enfrentar”, afirmou ele.

O ministro ressaltou que a distribuição das terras que não cumprem função social é uma determinação da Constituição Federal, cujo governo é obrigado a cumpri-la, independente da vontade de qualquer ministro. “Sabemos que é um tema que desperta polêmica, encontra resistências. Por isso, a solução não depende apenas da vontade da presidenta Dilma e de seus ministros. Passa pelo Congresso Nacional, Poder Judiciário, Ministério Público e, sobretudo, pela sociedade, meios de comunicação e organizações sociais. No fim, é uma escolha feita pela própria sociedade”, completou.

Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, considerou que a defesa da função social da terra por Patrus é uma sinalização de atenção à política da reforma agrária.

Da redação do Portal Vermelho
Com informações de agências

Metalúrgicos da Volks entram em greve contra 800 demissões

 Os metalúrgicos da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, decidiram entrar em greve por tempo indeterminado na manhã da última terça-feira (06), em protesto contra a demissão de 800 trabalhadores da planta. A decisão foi aprovada por cerca de 7 mil trabalhadores e abrange os 13 mil metalúrgicos dos três turnos na fábrica.  


Os trabalhadores souberam de sua demissão por meio de cartas que falavam para não retornarem aos seus postos de trabalho após o fim das férias coletivas. A correspondência começou a ser enviada pela empresa dia 30 de dezembro e já chegou a 800 funcionários.


Além deles, a ameaça de demissão existe para outros 1300 trabalhadores, já que a Volks anunciou publicamente sua avaliação de que existem 2100 excedentes na fábrica do ABC. No entanto, um acordo assinado com a Volks em 2012 previa estabilidade de empregos até 2016.

Onda de demissões 

Os sindicalistas denunciam que, apesar dos bilhões de reais recebidos do governo federal em incentivos fiscais, desoneração da folha de pagamento e empréstimo a juros baixos via BNDES, as montadoras vêm atacando os trabalhadores em todo país, com PDVs (Programa de Demissão Voluntária), lay-off, férias coletivas e demissões.

Marcelo toledoO balanço do total de postos de trabalho fechados no setor no último ano deve ser concluído esta semana. Até novembro, as montadoras efetuaram 10,8 mil demissões de um total de 146 mil trabalhadores. Em dezembro, outra fábrica de São Bernardo, a Mercedes-Benz, demitiu 250 metalúrgicos de um total de 1.200 que estavam com os contratos de trabalho suspensos (lay-off) até 30 abril.

“A mobilização dos companheiros da Volks tem toda nossa solidariedade. É necessário toda unidade na luta contra esses ataques”, afirma o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Marcelo Toledo (foto).

De acordo com o cetebista, a alegação de que existe uma crise no setor é falsa. “Essa é uma crise é fabricada pelas montadoras para aumentar a pressão sobre o governo por mais incentivos fiscais. As montadoras têm obtidos grandes lucros, inclusive no ano passado”, revela o dirigente, que lembra que os trabalhadores têm um acordo assinado que garante a estabilidade até 2016.

Como medida de enfrentamento da crise internacional, o governo adotou a redução do imposto desde meados de 2012 como forma de manter o mercado interno aquecido. Em julho, o governo deu sinais de que retiraria o benefício, mas prorrogou após intensa pressão dos empresários.

Sindicalistas repudiam lay-off


A preocupação dos sindicatos em garantir a contrapartida ganhou força com o lobby dos empresários, que além da manutenção da redução do IPI, pressionam pela ampliação do lay-off (suspensão temporária dos contratos de trabalho). Atualmente, o lay-off pode ser de no máximo cinco meses, mas as empresas querem que o prazo seja ampliado para pelo menos um ano. Para justificar tal medida, os empresários dizem que poderão manter vagas até que o mercado brasileiro “apresentar melhora”, o que é esperado a partir do segundo semestre de 2015.

Contudo, de acordo com Toledo, as montadoras, todas multinacionais, têm aumentado a remessa de lucros, enquanto o beneficio da redução do IPI reduz a arrecadação do Brasil.

Por outro lado, segundo dados do Banco Central, somente em 2013, as montadoras multinacionais enviaram para suas matrizes US$ 3,3 bilhões, valor 35% superior ao de 2012, sendo o setor campeão de remessas de lucros ao exterior. No período entre 2010 e 2013, o montante chegou a US$ 15,4 bilhões, o que equivale a mais de R$ 36 bilhões.

Esse lucro é pago pelo consumidor. No Brasil, a média da margem de lucro da venda de um automóvel é de cerca de 10% do valor pago pelo consumidor final, enquanto que nos Estados Unidos, por exemplo, esse índice é de cerca de 2%. A média mundial é de 5%.

“Questionamos essa crise e o lucro obtido nos últimos anos pelas montadoras, que joga nas costas dos trabalhadores preço das oscilações que são frequentes no mercado. Essa atitude da Volks exige um posicionamento firme e enfático do movimento sindical. Nosso total apoio à greve dos trabalhadores da Volks ”, ressaltou o dirigente da CTB.

Fonte: Portal CTB via Vermelho

Presidenta Dilma condena ataque a jornal francês

Polícia bloqueia as ruas próximas à redação da revista Charly Hebdo, onde homens armados mataram ao menos 12 pessoas
Agência Brasil

Polícia bloqueia as ruas próximas à redação da revista
Charly Hebdo, onde homens armados mataram ao menos 12 pessoas

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, declarou ontem, quarta-feira (7) pesar e indignação pelo atentado ocorrido a um jornal francês, em Paris. Em nota, afirmou que é inaceitável o ataque à liberdade de imprensa, um valor fundamental das sociedades democráticas.


“Nesse momento de dor e sofrimento, desejo estender aos familiares das vítimas minhas condolências. Quero expressar, igualmente ao Presidente Hollande e ao povo francês, a solidariedade de meu governo e da nação brasileira”


Diversos outros líderes mundiais de países como Rússia, Espanha, EUA e a Liga Árabe também fizeram pronunciamentos condenando os ataques responsáveis pela morte de ao menos 12 pessoas, além de vários feridos.

Segundo testemunhas, dois homens encapuzados e armados atiraram contra o prédio no qual está a redação do jornal Charlie Hebdo, famoso por ter publicado, algumas vezes, sátiras do profeta Maomé.

O Partido Comunista Francês (PCF) emitiu uma nota na qual faz uma “chamada para a unidade nacional de todas as forças republicanas contra a barbárie que acaba de bater a equipe do Charlie Hebdo. O massacre bárbaro sofrido por eles nos leva ao horror e a dor e exige uma resposta nacional”.

Pierre Laurent e a direção nacional do PCF afirmaram que “quando vidas são massacradas, vidas essas cuja paixão era a informação e a liberdade de expressão, na verdade, cada um de nós também se torna um alvo. É a República que é atingida em seu coração. Que os autores deste crime hediondo sejam presos e julgados”.

Ainda segundo o texto, “nossos pensamentos estão com as vítimas, famílias e amigos. Esta manhã, é o mundo dos desenhos animados, impertinência, humor, amor à vida que os terroristas queriam silenciar. As relações de amizade e cumplicidade que tivemos, especialmente durante o Festival da Humanidade, com cartunistas do Charlie Hebdo, fortalecem ainda mais a nossa dor. A hora é agora para se unir em torno de valores republicanos as forças máximas e os cidadãos, milhões em todo o país, para expressar nossa determinação de viver os valores da liberdade, igualdade e fraternidade”.

O partido pede também que os militantes comunistas, funcionários comunistas e republicanos, assim como o restante da nação, independentemente do pensamento filosófico, político e das crenças religiosas, rejeitem amálgamas e estigmas, rejeitem o ódio e o racismo.

Tayguara Ribeiro, da redação do Portal Vermelho,
com informações de agências

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Os líderes da esquerda não ousam desafiar prioridades da elite. E isto é um perigo. Um artigo de Paul Krugman

Do Nobel de Economia Paul Krugman, publicado no El País:
Em 2014, a crescente desigualdade nos países desenvolvidos recebeu finalmente a atenção devida quando O Capital no século XXI, de Thomas Piketty, se transformou em um inesperado (e merecido) sucesso de vendas. Os desconfiados habituais insistem em sua lucrativa negação, mas é evidente para todos os demais que a renda e a riqueza estão mais concentradas no extremo superior do que jamais estiveram desde a Belle Époque, e que a tendência não dá mostras de atenuar.
Mas essa história fala do que ocorre dentro dos países, e portanto, é incompleta. A verdade é que é preciso completar a análise ao estilo Piketty com uma visão global, e eu diria que, ao fazê-lo, percebe-se melhor o bom, o mau, e o potencialmente muito ruim do mundo em que vivemos.
Deste modo, permitam-me sugerir-lhes que deem uma olhada em um excelente gráfico do aumento das rendas no mundo elaborado por Branko Milanovic, do Centro de Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova York (à qual me incorporarei nesse verão).
O que Milanovic mostra é que aumento das rendas desde a queda do Muro de Berlim tem sido uma história de “torres gêmeas”. É certo que as rendas cresceram muito a medida em que as elites do mundo ficavam mais e mais ricas. Mas também ocorreram benefícios enormes para o que podemos denominar de classe média mundial, formada em grande parte pelas cada vez mais numerosas classes médias da China e da Índia.
E digamos claramente: o aumento das rendas nos países emergentes gerou enormes melhorias no bem-estar humano, ao tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza agonizante e dar-lhes uma oportunidade de ter uma vida melhor.
E agora, as más notícias. Entre essas duas torres gêmeas (a elite mundial cada vez mais rica e a crescente classe média chinesa) encontra-se o que podemos chamar do vale do desespero. Para as pessoas ao redor do percentual 20 da distribuição de renda mundial, as rendas cresceram, se tanto, a um ritmo lento. E quem é essa gente? Basicamente, as classes trabalhadoras dos países desenvolvidos. E ainda que os dados de Milanovic cheguem somente até 2008, podemos estar certos de que, desde então, esse grupo até mesmo piorou, golpeado pelos efeitos do elevado desemprego, o congelamento dos salários e as políticas de austeridade.
E mais, o esforço dos trabalhadores dos países ricos é, em vários importantes sentidos, a outra face das rendas por cima e por baixo deles. A competitividade das exportações das economias emergentes sem dúvida tem sido um fator para a queda dos salários nos países mais ricos, ainda que não tenha sido a força dominante. Mais importante é que o aumento da renda na parte de cima foi obtido em grande parte espremendo os que estão por baixo reduzindo os salários, cortando os benefícios sociais, esmagando os sindicatos e desviando uma parte cada vez maior dos recursos nacionais para as negociatas financeiras.
E, talvez ainda mais importante, os ricos exercem uma influência enormemente desproporcional sobre a política. As prioridades das elites – a preocupação obsessiva pelos déficits orçamentários, com a consequente suposta necessidade de cercear os programas públicos – contribuíram em grande parte para aumentar o vale do desespero.
Desse modo, quem defende os que ficaram para trás nesse mundo de torres gêmeas? Era de se esperar que os partidos convencionais de esquerda adotassem uma atitude populista em nome das classes trabalhadoras de seus países. Mas, pelo contrário, o que vimos – por parte de líderes que vão desde François Hollande na França a Ed Miliband na Grã-Bretanha, e, também, o presidente Obama – é um reles balbucio. (Obama, na verdade, fez muito pelos trabalhadores norte-americanos, mas é costumeiramente impedido na hora de vender suas conquistas).
Eu diria que o problema com esses líderes convencionais é que não se atrevem a desafiar as prioridades das elites, em particular sua obsessão pelos déficits públicos, por medo de serem considerados irresponsáveis. E isso deixa o campo livre aos líderes não-convencionais – alguns deles seriamente alarmantes – que estão dispostos a solucionar a indignação e o desespero das pessoas necessitadas.
Os esquerdistas gregos que podem chegar ao poder no final desse mês são provavelmente os menos perigosos de todos, ainda que suas exigências para o perdão da dívida e que se ponha fim à austeridade possam provocar tensão com Bruxelas. Em outros lugares, entretanto, observamos a ascensão de partidos nacionalistas e contrários aos imigrantes, como a Frente Nacional na França ou o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, na sigla em inglês) na Grã-Bretanha. E existem pessoas ainda piores esperando nos bastidores.
Tudo isso faz pensar em algumas analogias históricas desagradáveis. Recordemos que essa é a segunda vez que experimentamos uma crise financeira global seguida por uma recessão prolongada em todo o mundo. Na época, como agora, qualquer resposta eficaz à crise foi bloqueada pelas elites que exigiam orçamentos equilibrados e moedas estáveis. E o resultado final foi deixar o poder nas mãos de pessoas, por assim dizer, não muito agradáveis.
Não estou insinuando que estamos em vias de repetir ao pé da letra a década de 1930, mas afirmaria que os líderes políticos e de opinião precisam enfrentar o fato de que nosso sistema mundial atual não está funcionando bem para todos. É fantástico para a elite e tem sido muito positivo para os países emergentes, mas o vale do desespero é algo muito real. E vão acontecer coisas ruins se não fizermos algo a respeito.
Fonte: Blog Diário do Centro do Mundo (DCM)

Programa Mais Médicos zera mortalidade infantil no Piauí

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Foto: Reprodução
Os médicos cubanos Olívia Rodriguez Gonzalez e Omar Diaz, professores da Universidade Che Guerava, em sua cidade natal, Pina del Rio, em Cuba, estão trabalhando há um ano no Posto de Saúde de Barras, na região norte do Piauí, e sorriem quando falam da conquista em vida que obtiveram no trabalho de atenção básica.
A médica Olívia Rodriguez Gonzalez, com mais de 30 anos de profissão, está feliz com os resultados do trabalho no Brasil.
“Há um ano não registramos nenhuma morte de criança e de gestante. Estamos sem mortalidade materna e infantil”, afirmam Olívia Rodriguez Gonzalez e Omar Diaz, no Posto de Saúde de Barras, atuando no Programa Mais Médicos, do governo federal.
Esta realidade de redução com a capacidade de zerar a mortalidade infantil e materna se espalhou nos municípios onde o Programa Mais Médicos foi implantando para oferecer atenção básica de saúde onde era difícil a permanência de médicos ou de número suficiente de médicos brasileiros para atender a população.
“Tem sido uma experiência muito boa. Encontramos uma comunidade muito carente, mas acolhedora, pessoas muito sensíveis, muito boas e necessitadas”, relata Olívia Rodriguez.
Segundo ela, as doenças mais frequentes são doenças respiratórias, doenças parasitárias, hipertensão, diabetes. Olívia Rodriguez e Omar Diaz fazem visitas domiciliares aos pacientes de Barras que não podem ir ao posto de saúde. São crianças com hidrocefalia, puérperas (mulheres que tiveram bebês recentemente), gestantes, hipertensos e idosos.
“Nós não temos mortalidade infantil, nem mortalidade materna. Temos registros de crianças e mães doentes, mas nenhuma chegou a óbito”, enfatiza Olívia Rodriguez, que tem 30 anos trabalhando como médica. “Isso é uma vitória”, comemora Omar Diaz.
Olívia Rodriguez e Omar Diaz afirmam que trabalhar nesse município é diferente de onde trabalharam antes com atenção básica na Venezuela, Paraguai e Paquistão, que não tinham uma rede constituída de atenção primária. “Na Venezuela não tínhamos nada, tudo era precário. No Paraguai igual, não tinha rede implantada. No Brasil, nós temos uma rede de atenção básica de saúde, não temos médicos, mas temos uma rede criada. Nos outros países fomos nós que criamos a rede de atenção primária”, falou Olívia Rodriguez.
Para o médico Omar Diaz, que já tem 23 anos de profissão e trabalhou durante quase dez anos na Venezuela, a experiência no Brasil tem sido muito boa.
“Temos encontrado uma população muito necessitada de atenção médica e todos são muito receptivos porque a população é muito receptiva com os médicos cubanos, fica muito contente com o nosso trabalho, muito compreensiva, porque nós estamos ajudando a melhorar a saúde na região”, falou Omar Diaz, que encontra crianças com baixo peso e desnutrição, mas não com desnutrição extrema.
Abraços e atenção ajudam na cura dos pacientes
Omar Diaz percebeu que muitos pacientes ficam curados mais rápido com um abraço, um cuidado mais afetuoso e fraterno. As pessoas ficam muito agradecidas.
Omar Diaz afirma que quando estão fazendo visitas domiciliares, os pacientes dizem que nunca um médico foi em suas casas. Pedem desculpas porque não podem oferecer refeição melhor, mas Omar Diaz e Olívia Rodriguez avisam que as famílias estão se alimentando com as mesmas refeições com que se alimentam.
“São pessoas muito carentes e quando vemos as pessoas acamadas e que não podem caminhar, elas ficam muito contentes porque elas falam dos problemas de saúde que têm e nós também falamos muitas coisas. Essas pessoas ficam muito agradecidas”, fala Omar Diaz.
Omar Diaz afirma que abraçar e ouvir o paciente ajuda psicologicamente os doentes e em sua cura.
“As pessoas que estão acamadas ficam depressivas. A gente fala com elas, falamos que vão melhorar a saúde. Essas pessoas ficam psicologicamente animadas, é a palavra do médico animando o paciente. Isso ajuda na cura”, diz Omar Diaz.
“Tem pacientes que dizem que bastou o médico olhar e já melhoraram. Dizem: ‘esse médico me olhou e eu já me senti bem’”, afirma Olívia Rodriguez.
“Quando o médico fala, conversa, é muito importante para o paciente e também é muito importante o médico escutar o que o paciente fala. Isso é muito importante para a recuperação do paciente”, falou Omar Rodriguez.
Médica cubana faz terapia contra vício em medicamentos
A médica cubana Olívia Rodriguez Gonzalez iniciou um trabalho com 42 mulheres de uma comunidade da periferia de Barras com atividades fisioterápicas para incentivar o rompimento com o ciclo fármaco, vício de medicamentos para dormir, medicamentos ansiolíticos usados como tranquilizantes e contra ansiedade.
O ciclo fármaco é formado por medicamentos como o diazepan, rivotril, contra insônia, antidepressivos e ansiolíticos.
“O resultado é que as mulheres não tomam mais cinco medicamentos que tomavam, estão mais alegres, perderam peso. São 42 mulheres integradas nas atividades fisioterápicas”, falou Olívia Rodriguez.
O trabalho é realizado com mulheres do bairro Residencial Morada de Barras. O projeto consiste em desenvolver atividades físicas com as participantes, além e conversas e conscientização. A coordenadora de Atenção Básica de Barras, Saara Serafim, disse que o trabalho dos médicos cubanos é muito positivo no município.
“Foram muito bem recebidos pela comunidade. Hoje nós temos médicos pela manhã e tarde de segunda-feira a quinta-feira atendendo os pacientes da maneira adequada e a população está muito satisfeita. Já estamos até ampliando a rede de atenção básica. Nós começamos com 17 equipes e já estamos com 19. Graças a Deus estamos conseguindo isso porque antes nós tínhamos dificuldades com médicos porque eles só atendiam duas vezes na semana”, falou Saara Serafim, adiantando que chegou a ficar seis meses sem médicos para atender a população na atenção básica. Hoje Barras tem seis equipes do Programa Mais Médicos.
“A médica pergunta, fala e sorri”, diz vendedora em Piripiri
A lavradora e vendedora Maria Aparecida Ferreira, de 48 anos, estava sendo atendida no Posto de Saúde João Mariano dos Santos, no bairro Caixa D’Água, em Piripiri. Ela vinha sendo atendida por um médico cubano que viajou de volta para Cuba e foi substituído por outra médica cubana, Maritza Duquen Labore.
Maria Aparecida Ferreira diz que os médicos cubanos dão atenção ao paciente, fazem perguntas, ficam ouvindo o que o paciente tem a dizer e sorriem.
“O médico cubano é melhor, ele dá atenção pra gente, pergunta, fica ouvindo, explica o que gente deve fazer, orienta os exames. Eu achei melhor do que os outros, já fui atendido por vários médicos. Os outros médicos não falavam, nem olhavam para a gente, não dava atenção, só escreviam no papel. O médico cubano ouve a gente, fala, sorri. Foi melhor, eu adorei”, falou Maria Aparecida.
A estudante do curso de Administração na Universidade Estadual do Piauí (Uespi) Laiana Moreira, de 25 anos, faz acompanhamento e controle de sua diabetes no Posto de Saúde no bairro Caixa D’Água, em Piripiri, e é atendida por médico cubano do Programa Mais Médicos.
“O tratamento é mais adequado, o médico cubano dá atenção, avalia o nível de glicemia (taxa de açúcar no sangue), faz exames. A diferença entre os médicos cubanos e os outros é grande. Eles são mais atenciosos. Perguntam o que a gente está sentindo, já os outros não, só passam os exames. Os médicos cubanos perguntam antes de pedir e autorizar os exames”, fala Laiana Moreira.
Fonte: Conversa Afiada via Blog do Renato Rabelo

Em meio à crise de violência, México apresenta taxa de feminicídio próxima à pandemia

Culpabilização do sexo feminino, naturalização da violência e corrupção do Judiciário contribuem para que 6 mulheres sejam mortas diariamente no país
Seis mulheres são assassinadas todos os dias no México, revela o Observatório Nacional Cidadão de feminicídio, uma coalizão de 43 grupos que documentam essa modalidade de crime no país. No entanto, somente 24% dos 3.892 femicídios identificados pelo órgão entre 2012 e 2013 foram de fato investigados pelas autoridades e apenas 1,6% resultou em condenação.
“Feminicídios são uma pandemia no México”, define Ana Güezmes, representante local da ONU Mulheres, agência dedicada às questões de gênero, à Al Jazeera America.
Para ela, a impunidade é o principal motor deste crime, impulsionado por condutas sociais que permitem que a violência contra o sexo feminino seja ignorada e vista como situação normal no país.
Além disso, a maioria desses casos se perde no corrupto sistema de Justiça do México, onde policiais culpabilizam a mulher e frequentemente são comprados por grupos criminosos, permitindo que os assassinos escapem da punição, explica Maria de la Luz Estrada, líder do Observatório, ao mesmo veículo.
A palavra feminicídio entrou no debate mexicano nos anos 1990, após uma onda de desaparecimentos e assassinatos de mulheres em Ciudad Juárez. Para ativistas do órgão, a distinção de femicídio na lei é importante, porque a natureza sexual do crime distingue as mortes de um homicídio comum.
“Em uma sociedade machista como a do México, as autoridades estão sempre questionando o que as mulheres fizeram. ‘O que ela estava vestindo? Ela era sexualmente ativa?’ Isto perpetua a impunidade”, explica Maria de la Luz. Para combater a falta de estatísticas confiáveis do governo, o Observatório realiza entrevistas porta-a-porta em bairros marginalizados, onde o feminicídio ocorre com frequência. Em geral, as vítimas são mulheres jovens vulneráveis, mães solteiras pobres ou adolescentes que não têm dinheiro ou influência para buscar uma ação legal e reivindicar seus direitos.
Tal naturalização da violação se traduz em outros dados da agência das Nações Unidas: pelo menos 63% das mulheres relatam ter sofrido abusos por mãos masculinas que, em sua maioria, tratava-se de parceiros sexuais das vítimas.
De acordo com a promotora especial para crimes violentos contra as mulheres, Nelly Montealegre Diaz, não houve um caso de feminicídio processado em 2014. Ela culpa a impunidade, a corrupção e a dificuldade que a sociedade tem em aceitar a especificidade da violência de gênero. “Se um alguém vê uma colega com um olho roxo ou um pai batendo na mãe, eles pensam que é normal. As mulheres são vistas como objetos”, critica.
Em 2014, o México enfrentou e continua enfrentando uma das maiores crises políticas e turbulências sociais após o desaparecimento de 43 estudantes da escola de Ayotzinapa que desapareceram em Iguala, no estado de Guerrero, no fim de setembro. O crime teria sido resultado de uma ação conjunta entre o governo local e os cartéis de narcotráfico.Alvo de exigências de impeachment, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, tem entre suas bandeiras o combate à violência das drogas em geral, mas nunca se pronunciou contra o feminicídio, uma preocupante tendência que se aproxima à pandemia no país.
Foto de capa: Flickr/ Beto Sanchez

Fonte: Revista Forum

"Fundamentalismo do mercado" favorece elite financeira

 As pessoas mais ricas do planeta ficaram ainda mais ricas em 2014, adquirindo pelo menos 92 mil milhões de dólares na sua fortuna coletiva, revelou o Índice de Bilionários da Bloomberg. O patrimônio líquido dos 400 multimilionários mais ricos do mundo foi de 4,1 trilhões de dólares conforme dados divulgados em 29 de dezembro de 2014. 


De acordo a agência de notícias financeira norte-americana, os lucros deste ano acontecem no meio da queda nos preços da energia. A Bloomberg também responsabiliza a “turbulência geopolítica” incitada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, que teria favorecido alguns desses multimilionários.

Em 2014, o principal vencedor foi Jack Ma, co-fundador do Alibaba Group Holding Ltd., a maior empresa de comércio eletrónico da China. Ma, um ex-professor de inglês de 50 anos que iniciou a empresa no seu apartamento em 1999, obteve um lucro anual de 25,1 bilhões de dólares, ultrapassando Li Ka-shing, o então homem mais rico da Ásia.

Além de Ma, outros dois ganhadores neste ano foram Warren Buffett e Mark Zuckerberg, nos Estados Unidos. Diretor executivo da empresa Berkshire Hathaway, Buffet obteve lucro de 13, 7 bilhões de dólares. Já o criador do Facebook acrescentou à sua riqueza mais 10,6 bilhões de dólares nos últimos 12 meses.

Em 2014, Buffet ultrapassou no posto de segundo homem mais rico do mundo o multimilionário mexicano Carlos Slim, que lidera um conglomerado de comunicações. O cargo de mais rico do planeta ainda é do co-fundador da Microsoft Bill Gates, que mantém uma fortuna de 87, 6 bilhões. No Brasil, Jorge Paulo Lemann, o mais rico do país, teve aumento de 3,2 bilhões no seu bolso.

De acordo com o grupo Oxfam, em relatório publicado em outubro deste ano, o número de multi milionários do planeta dobrou desde 2008, quando se deu inicio à crise financeira à escala global. De acordo com o material, as 85 pessoas mais ricas têm o equivalente à metade mais pobre do mundo.

Em entevista à imprensa, o diretor da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst, explicou que entre as causas da desigualdade, que aumenta cada vez mais o fosso entre ricos e pobres, está o “fundamentalismo do mercado”, que promove um crescimento económico, beneficiando apenas a elite.

O relatório "Credit Suisse 2014 Wealth Report" aponta que 0,7% da população concentra 44% da riqueza mundial, enquanto 69,8% da população mundial detém apenas 2,9% da riqueza. Em 2013 os 0,7% mais ricos concentravam 41% da riqueza mundial.

Fonte: Opera Mundi  via Vermelho

Ignacio Ramonet: O fim da televisão como a conhecemos

A televisão continua mudando rapidamente. Essencialmente, pelas novas práticas de acesso aos conteúdos audiovisuais que observamos sobretudo entre as gerações jovens. Todos os estudos realizados sobre as novas práticas de uso da televisão nos EUA e na Europa indicam uma mudança acelerada. 

Por Ignacio Ramonet*, na Carta Maior


Os jovens telespectadores passam do consumo “linear” da TV para um consumo de programas gravados e “à la carte” em uma “segunda tela” (computador, tablet, smartphone). De receptores passivos, os cidadãos estão passando a ser, mediante o uso massivo das redes sociais, “produtores-difusores”, ou produtores-consumidores (prosumers).

Nos primeiros anos da televisão, o comportamento tradicional do telespectador era olhar os programas diretamente na tela de seu televisor da sala, mantendo-se frequentemente fiel a um mesmo (e quase único) canal. Com o tempo, tudo isso mudou. E chegou a era digital. Na televisão analógica, já não cabiam mais canais e não existia a possibilidade física para acrescentar novos, pois um bloco de frequência de seis mega-hertz equivale a um só sinal, um só canal. Mas, com a digitalização, o espectro radioelétrico se fraciona e se otimiza. A cada frequência de 6 MHz, em vez de um só canal, podem-se transmitir até seis ou oito canais, e dessa forma se multiplica a quantidade de canais. Onde antes havia sete, oito ou dez canais agora existem cinquenta, sessenta, setenta ou centenas de canais digitais...

Essa explosão do número de canais disponíveis, particularmente por cabo e satélite, tornou obsoleta a fidelidade do telespectador a um canal de preferência e suprimiu a linearidade. Como consequência, abandonou-se a fórmula do menu único para consumir pratos à la carte, simplesmente zapeando com o controle remoto entre a multiplicidade de canais.

A invenção da web – há 25 anos – favoreceu o desenvolvimento da internet e o surgimento do que chamamos de “sociedade conectada” mediante todo tipo de links, desde o correio eletrônico até as diferentes redes sociais (Facebook, Twitter, etc.) e mensagens de texto e imagem (WhatsApp, Instagram etc.). A multiplicação das novas telas, agora nômades (computadores portáteis, tablets, smartphones) mudou totalmente as regras do jogo.

A televisão está deixando de ser progressivamente uma ferramenta de massas para se transformar em um meio de comunicação consumido individualmente através de diversas plataformas, de forma posterior e personalizada.

Essa forma de ver programas gravados se alimenta em particular dos sites de replay dos próprios canais de televisão, que permitem, via internet, um acesso não linear aos programas. Estamos presenciando o surgimento de um público que conhece os programas e as emissões, mas não conhece obrigatoriamente a grade de programação e nem sequer o canal de difusão ao qual esses programas originalmente pertencem.

A essa oferta, já muito abundante, se somam agora os canais online da Galáxia da Internet. Por exemplo, as dezenas de canais difundidos pelo YouTube, ou os sites de vídeos alugados sob demanda. Até o ponto de já não sabermos sequer o que significa a palavra “televisão”. Reed Hastings, diretor da Netflix, o gigante norte-americano de vídeos online (com mais de 50 milhões de assinantes), declarou recentemente que “a televisão linear terá desaparecido em vinte anos porque todos os programas estarão disponíveis na internet”. É possível, mas não é certo.

Os próprios televisores também estão desaparecendo. Nos aviões da companhia aérea American Airlines, por exemplo, os passageiros da classe executiva já não dispõem de telas de televisão, nem individuais nem coletivas. Agora, cada passageiro recebe um tablet para que ele mesmo faça seu próprio programa e se instale com o dispositivo da forma como achar melhor (encostado, por exemplo). Na Norvegian Air Shuttle, se vai ainda mais longe. Não existem telas de televisão no avião, nem tampouco entregam tablets, mas o avião tem internet wifi e a empresa parte do princípio que cada passageiro leva uma tela (um computador portátil, ou tablet, ou smartphone) e que basta com que se conecte ao site da Norvegian para ver filmes, séries, programas de TV ou ler jornais (que já não são mais partilhados...).

Jeffrey Cole, professor norte-americano da UCLA, especialista em internet e redes sociais, confirma que a televisão será vista cada vez mais pela Rede. “Na sociedade conectada, a televisão sobreviverá, mas diminuirá seu protagonismo social, ao passo que as indústrias cinematográfica e musical poderiam se desvanecer”, diz.

No entanto, Jeffrey Cole é muito mais otimista do que o diretor da Netflix pois afirma que, nos próximos anos, a média de tempo dedicada à televisão passará de entre 16 a 18 horas semanais atualmente para até 60 horas, dado que a televisão, segundo Cole, “vai saindo das casas” e poderá ser vista “a todo momento” graças a qualquer dispositivo com tela, apenas se conectando à internet ou mediante a nova telefonia 5G.

Também é preciso contar com a competência das redes sociais. Segundo o último relatório do Facebook, quase 30% dos adultos norte-americanos se informam por meio do Facebook e 20% do tráfego das notícias provêm dessa rede social. Mark Zuckerberg afirmou há alguns dias que o futuro do Facebook será em vídeo: “Há cinco anos, a maior parte do conteúdo do Facebook era texto. Agora, evolui para o vídeo porque é cada vez mais fácil gravar e compartilhar”.

Por sua vez, o Twitter também está mudando de estratégia: está passando do texto ao vídeo. Em um recente encontro com os analistas de Wall Street, Dick Costolo, conselheiro do Twitter, revelou os planos do futuro próximo dessa rede social: “2015 será o ano do vídeo no Twitter”. Para os usuários mais antigos, isso tem o sabor de traição. Mas, segundo Costolo, o texto, sua essência, os célebres 140 caracteres iniciais, está perdendo importância. E o Twitter quer ser o ganhador na guerra do vídeo dos telefones portáteis.

Segundo os planos da direção do Twitter, podem-se subir vídeos do smartphone para a rede social a partir de agora, início de 2015. Passará dos escassos seis segundos atuais (possibilitados pelo aplicativo Vine) até acrescentar um vídeo tão logo quanto possível diretamente na mensagem.

O Google também quer agora difundir conteúdos visuais destinados a sua gigantesca clientela de mais de 1,3 bilhões de usuários que consomem cerca de seis bilhões de horas de vídeo por mês... Por isso, comprou o YouTube. Com mais de 130 milhões de visitantes únicos por mês nos Estados Unidos, o YouTube tem uma audiência superior à do Yahoo!. Nos EUA, os 25 principais canais online do YouTube têm mais de um milhão de visitantes únicos por semana. O YouTube capta mais jovens entre 18 e 34 anos do que qualquer outro canal norte-americano de televisão a cabo.

A aposta do Google é que o vídeo na internet vai pouco a pouco acabar com a televisão. John Farrell, diretor do YouTube na América do Sul, prevê que 75% dos conteúdos audiovisuais serão consumidos via internet em 2020.

No Canadá, por exemplo, o vídeo na internet já está a ponto de substituir a televisão como meio de consumo massivo. Segundo um estudo do instituto de pesquisa Ipsos Reid and M Consulting, “80% dos canadenses reconhecem que, cada vez mais, veem mais vídeos online na rede”, o que significa que, com tal massa crítica (80%!), aproxima-se o momento em que os canadenses verão mais vídeos e programas online do que na televisão.

Todas essas mudanças são percebidas claramente não apenas nos países ricos e desenvolvidos. Também são vistas na América Latina. Por exemplo, os resultados de um estudo realizado pela pesquisadora mexicana Ana Cristina Covarrubias (diretora da empresa Pulso Mercadológico) confirmam que a rede e o ciberespaço estão mudando aceleradamente os modelos de uso dos meios de comunicação no México – em particular, da televisão. A pesquisa trata exclusivamente dos habitantes do Distrito Federal do México e abrange grupos precisos da população: 1) jovens de 15 a 19 anos; 2) a geração anterior, pais de família entre 35 e 55 anos de idade com filhos de 15 a 19 anos. Os resultados revelam as seguintes tendências: 1) tanto no grupo dos jovens como na geração anterior, as novas tecnologias penetraram em grandes proporções: 77% possuem telefone móvel, 74% possuem computador e 21%, tablet, e 80% têm acesso à internet. 2) O uso da televisão aberta e gratuita está caindo e se situa apenas em 69%, ao passo que o da televisão paga está subindo e já alcança os 50%. 3) Por outro lado, aproximadamente a metade dos jovens que assistem televisão (29%) usam o televisor como tela para ver filmes que não estão na programação de TV: assistem DVD/Blu-ray ou Internet/Netflix. 4) O tempo de uso diário do telefone móvel é o mais alto de todos os aparelhos digitais de comunicação. O celular registra 3 horas e 45 minutos. O computador tem um tempo de uso diário de 2 horas e 16 minutos, e o tablet de 1 hora e 25 minutos; e a televisão de apenas 2 horas e 17 minutos. 5) O tempo de visita a redes sociais é de 138 minutos diários para Facebook e 137 para WhatsApp; para a televisão, é de apenas 133 minutos. Se somarmos todos os tempos de visitas a redes sociais, o tempo de exposição diária à internet é de 480 minutos, o equivalente a 8 horas diárias, ao passo que o da televisão é de apenas 133 minutos, equivalentes a 2 horas e 13 minutos. A tendência indica claramente que o tempo dedicado à televisão foi rebaixado amplamente pelo tempo dedicado às redes sociais.

A era digital e a sociedade conectada já são, portanto, realidades para vários grupos sociais na Cidade do México. E uma de suas principais consequências é o declínio da atração pela televisão, especialmente a de sinal aberto, como resultados do acesso aos novos formatos de comunicação e aos conteúdos oferecidos pelos meios digitais. O grande monopólio do entretenimento que era a televisão aberta está deixando de sê-lo para ceder espaço aos meios digitais. Quando antes um cantor popular poderia ser visto por vários milhões de telespectadores (cerca de 20 milhões na Espanha) em um programa de sábado à noite, por exemplo, agora esse mesmo cantor precisa passar por 20 canais diferentes para ser visto por cerca de 1 milhão de telespectadores.

De agora em diante, o televisor estará cada vez mais conectado à internet (é o caso da França, para 47% dos jovens entre 15 e 24 anos). O televisor se reduz a uma mera tela grande de conforto, simples extensão da web que procura os programas no ciberespaço e na Cloud (“Nuvem”). Os únicos momentos massivos de audiência ao vivo, de “sincronização social” que continuam reunindo milhões de telespectadores, serão então os noticiários em caso de atualidade nacional ou internacional de caráter espetacular (eleições, catástrofes, atentados etc.), os grandes eventos esportivos ou as finais de jogos do tipo reality show.

Tudo isso não é apenas uma mudança tecnológica. Não é só uma técnica, a digital, que substitui a outra, a analógica, ou a internet que substitui a televisão. Isso tem implicações de muitas ordens. Algumas positivas: as redes sociais, por exemplo, favorecem o intercâmbio rápido de informação, ajudam a organização dos movimentos sociais, permitem a verificação da informação, como é o caso do WikiLeaks... não restam dúvidas de que os aspectos positivos são numerosos e importantes.

Mas também é preciso considerar que o fato de a internet estar tomando o poder nas comunicações de massas significa que as grandes empresas da Galáxia da Internet – ou seja, Google, Facebook, Facebook, YouTube, Twitter, Yahoo!, Apple, Amazon etc.–, todas elas norte-americanas (o que já constitui um problema em si mesmo...), estão dominando a informação planetária. Marshall McLuhan dizia que “o meio é a mensagem”, e a questão que se coloca agora é: qual é o meio? Quando vejo um programa de TV na web, qual é o meio? A televisão ou a internet? E, em função disso, qual é a mensagem?

Sobretudo, conforme revelou Edward Snowden e como afirma Julian Assange em seu novo livro “Quando Google encontrou o WikiLeaks”, todas essas megaempresas acumulam informações sobre cada um de nós a cada vez que utilizamos a rede. Informações que são comercializadas, vendidas a outras empresas. Ou também cedidas às agências de inteligência dos EUA, em particular a Agência Nacional de Segurança, a temida NSA. Não nos esqueçamos de que uma sociedade conectada é uma sociedade vigiada, e uma sociedade vigiada é uma sociedade controlada.

*Ignacio Ramonet é jornalista espanhol. Presidente do Conselho de Administração e diretor de redação do “Le Monde Diplomatique” em espanhol. Editorial Nº: 231. Janeiro de 2015. 


Fonte: Vermelho

Piso nacional dos professores: MEC anuncia aumento de 13,01%

 

No início da noite de ontem, terça-feira (6), o Ministério da Educação (MEC) anunciou o aumento do piso salarial dos professores em 13,01%. O novo valor será de R$ 1.917,78 e passa a valer a partir deste mês.  


O novo valor foi apresentado após encontro entre o novo ministro da Educação, Cid Gomes, e representantes do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) e da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).

O piso salarial passou de R$ 950, em 2009, para R$ 1.024,67, em 2010, e R$ 1.187,14, em 2011, conforme valores informados no site do MEC. Em 2012, o valor vigente era R$ 1.451; em 2013, passou para R$ 1.567; e, em 2014 foi reajustado para R$ 1.697,39. O maior reajuste foi 22,22%, em 2012.

Marco legal

O reajuste está previsto no artigo 5º da Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. O piso salarial do magistério foi criado em cumprimento ao que estabelece a Constituição Federal, no artigo 60, inciso III, alínea e, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

“Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta emenda constitucional, os estados, o Distrito Federal e os municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições:

(...)

III — observadas as garantias estabelecidas nos incisos I, II, III e IV do caput do art. 208 da Constituição Federal e as metas de universalização da educação básica estabelecidas no Plano Nacional de Educação, a lei disporá sobre:

(...)

e) prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica; (...).”

Esse dispositivo constitucional foi regulamentado pela Lei nº 11.738/2008. Conforme a legislação vigente, a correção do piso reflete a variação ocorrida no valor anual mínimo por aluno definido nacionalmente pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Da Redação do Vermelho
Com informações das agências

O PLANO DE DILMA PARA REGULAR A MÍDIA

Como fazer o PMDB apoiar um projeto do governo para regular a mídia se a maioria dos parlamentares do partido detém meios de comunicação?
Durante a cerimônia de posse de Dilma no Palácio do Planalto este blogueiro teve chance de conversar com personalidades da política que confirmaram que, ao menos no discurso, a presidente pode ter se convencido de que regular a mídia pode até não vir a ajudá-la em seu mandato, mas pode dar ao país, no futuro, uma comunicação mais plural e democrática.
Qualquer projeto que consiga avançar nesse sentido, de acordo com os planos do governo, não iria vigorar no mandato da atual presidente. E, mesmo que isso fosse possível, os efeitos dessa regulação ainda iriam demorar anos e anos para se fazer notar.
Por exemplo, a produção regional de conteúdo. Mesmo sendo viabilizada legalmente, ainda dependeria de tempo e investimentos para, um dia, fazer frente à produção dos grandes grupos de mídia.
Em tese, porém, o plano em questão pode funcionar – desde que, é claro, não tenha sido anunciado (extraoficialmente) com vistas, apenas, a acalmar a militância de esquerda, cada vez mais impaciente diante das concessões que um governo de coalizão tem que fazer para conseguir funcionar minimamente, o que é difícil explicar a movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda que têm sua própria agenda.
E essa impaciência não se resume mais, apenas, a partidos como o PSOL e congêneres, ou ao MST, ou à CUT, entre outros. Altos escalões do próprio PT dizem que já não dá mais para o governo ficar nas cordas desse jeito diante de uma mídia que já provou que pode até não estar conseguindo vencer eleições, mas que consegue travar o governo e até sabotar a economia.
Infelizmente, a perda de paciência da esquerda com a situação e a crença em que Dilma só não regula a mídia porque não quer tem muito mais de wishful thinking do que de visão realista dos fatos.
Para que se entenda o poder da mídia, basta comparar o escândalo dos trens de São Paulo com o da Petrobrás. Basicamente, são iguais. Cartel aqui (em SP), cartel lá (em nível federal). Porém, um escândalo (o de SP) é tratado burocraticamente pela mídia, com matérias esparsas, pouquíssima opinião crítica, enfim, de forma despolitizada, enquanto que o caso Petrobrás é alçado ao ponto que todos têm visto.
A artilharia incessante contra a Petrobrás, que já dura quase meio ano e é disparada 24 horas por dia, 7 dias por semana, bem como o terrorismo econômico, estão afundando a economia. Claro que há problemas nas contas públicas, mas eles decorrem muito mais do bombardeio do que de problemas reais.
As dificuldades nas contas públicas poderiam ser contornadas, mas, aí, a mídia produz um fenômeno conhecido, o da profecia autorrealizável. Qual seja: se se consegue espalhar boato de que um banco vai quebrar ele pode acabar quebrando mesmo, pois os clientes, temerosos, começam a sacar seus recursos, aprofundando uma crise pequena ou até criando uma que não existia antes do boato.
Nesse contexto, falar em regulação da mídia soa um tanto quanto irreal. Porém, o governo tem um plano. Ou diz que tem.
Basicamente, seria envolver a sociedade civil com a proposta de regulação ECONÔMICA da mídia. Note bem, leitor, que não existe plano do governo para regular conteúdo, como acontece na Inglaterra, na França, enfim, em vários países que permitem à sociedade cobrar a mídia através de órgãos governamentais e para-governamentais que captam as queixas da sociedade e cobram e até punem os veículos denunciados.
Os órgãos que regulam conteúdo, nos países desenvolvidos, funcionam como aquelas seções dos jornais que publicam queixas dos consumidores contra empresas. Divulgam essas queixas e as empresas que prejudicam consumidores são obrigadas a responder e até a reparar danos. O que, aliás, funciona, apesar de que para muito pouca gente.
Mas não se pensa em ir tão longe, neste momento. Não somos um país de Primeiro Mundo, a sociedade não tem a dimensão do quanto pode ser maléfico que poucas mãos controlem grupos imensos de mídia, com poder para derrubar ministros etc., e que podem vender suas preferências políticas a partidos ou a caciques políticos.
O que se planeja é uma regulação econômica da mídia, ou seja, tratar a comunicação como qualquer outro setor da economia, impedindo a formação de oligopólios (controle de poucos sobre um segmento de mercado). Nesse aspecto, poderia se estender ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a tarefa de impedir oligopólios no setor de comunicação assim como o órgão faz em qualquer outro setor da economia.
Mas como, se metade dos parlamentares do Congresso Nacional detém propriedade de meios de comunicação eletrônicos, sobretudo rádios e tevês? Como conseguir maioria entre políticos que dependem de controlar meios de comunicação em seus Estados para se manterem politicamente fortes?
O plano do governo é simples: discutir a regulação econômica da mídia com a sociedade em fóruns oficiais criados para esse fim.
Todavia, já houve, no fim do governo Lula, uma Conferência Nacional de Comunicação, a Confecom, da qual este blogueiro participou como delegado por São Paulo. Porém, após dias discutindo a regulação da mídia, aquilo tudo deu em nada. Dilma assumiu em 2011 acreditando que poderia se compor com a mídia e deixou os trabalhos da Confecom engavetados.
Agora, com um ministro das Comunicações entusiasta do tema regulação da mídia, acende-se uma esperança de que alguma coisa possa acontecer. Contudo, no Brasil o poder dos ministros de Estado é superestimado. E ainda mais em um governo como o de Dilma, que centraliza decisões nas mãos da titular.
Mas, claro, com aval da presidente o primeiro passo do plano que o governo alega ter para regular a mídia pode vingar, mas teria que haver uma disposição que não se sabe se haverá.
Como fazer o PMDB apoiar um projeto do governo para regular a mídia se a maioria dos parlamentares do partido detém meios de comunicação? Aliás, essa gente anuncia que não vai apoiar essa regulação.
Dá para fazer sem o PMDB? Não dá. E os partidos que apoiariam, em princípio, são pouquíssimos. PT, PC do B, PSOL e olhe lá. Juntos, não representam nem um quinto do Congresso.
O jeito é colocar a sociedade a favor dessa proposta, explicando-lhe os malefícios de uma mídia oligopolizada, informando-a de que os países mais avançados e democráticos do planeta regulam a mídia.
Porém, se a iniciativa for tímida, com pessoas trancadas em auditórios falando para si mesmas, não vai funcionar. Seria preciso uma grande campanha publicitária, que seria tachada pela mídia como ímpeto censor enquanto haveria uma radicalização midiática ainda maior, com “escandalização” de qualquer denúncia frágil – estamos em um país em que um ministro de Estado quase foi demitido por ter comprado uma tapioca com o cartão corporativo do governo.
Terá o governo Dilma força para levar até o fim esse plano (anunciado) de regulação da mídia? Não cederá quando se multiplicar por dez o bombardeio midiático? Será, então, que esse plano de regulação da mídia é real ou é só uma cortina de fumaça para acalmar a militância de esquerda?
São muitas perguntas e, até aqui, nenhuma resposta concreta. Só o que se pode fazer é confiar no espírito de estadista da presidente Dilma. Estará ela disposta a se sacrificar para dotar o país de uma legislação para a Comunicação à altura de um país como este?
Em teoria, é possível. Dilma não buscará a reeleição. Sabe que no dia 1º de janeiro de 2019 estará fora do poder e, assim, pode decidir comprar essa briga. Porém, neste momento, com a economia tão fragilizada, uma ofensiva maior da mídia pode jogar o país em uma crise econômica brutal que fará a popularidade do governo despencar, pavimentando o caminho da direita em 2018.
Um acordo com a mídia é praticamente impossível. Simplesmente porque, no mínimo, empresas como a Globo, com regulação econômica da atividade Comunicação, terão que parar de crescer exponencialmente. Aliás, terão que parar de crescer de qualquer forma, ainda que o ideal fosse reduzir o tamanho desses conglomerados de mídia, inaceitáveis em qualquer sociedade civilizada.
O mundo desenvolvido já entendeu, há muito, que é nefasto para um país colocar nas mãos de uma única família um poder como o da Globo. Ou melhor, que é nefasto colocar em pouquíssimas mãos o controle quase hegemônico da comunicação. Mas o Brasil ainda não é um país suficientemente educado e civilizado para entender isso. O povo nem pensa sobre tais questões.
Não somos ingleses ou franceses, para o bem e para o mal.
Sob o prisma apresentado, portanto, parece distante a possibilidade de dotar o país de uma legislação avançada nas comunicações quando nem conseguimos aprovar direito de resposta para pessoas físicas e jurídicas que se sintam prejudicadas pelo noticiário ou pela publicidade.
Aliás, o Brasil até tem uma legislação para controlar excessos da mídia quanto à política. Tenho dito que se a legislação eleitoral sobre a mídia funcionasse o tempo todo, o problema estaria resolvido.
Vimos o que aconteceu com a famosa capa da Veja, divulgada a 48 horas da eleição presidencial. A Justiça Eleitoral agiu e a revista teve que publicar direito de resposta do PT e isso influiu na percepção do eleitorado, que intuiu que se a Justiça tinha condenado a Veja alguma coisa que ela fez com aquela capa acusando Dilma e Lula, estava errada.
Enfim, essa é a realidade sobre a questão da regulação da mídia. Qualquer coisa que lhe disseram fora do que vai acima, é balela. Não se pode nutrir tantas esperanças, portanto. Mas esperança existe. Há que ver, primeiro, se Dilma está disposta a comprar a terceira guerra mundial e, segundo, se ela vai conseguir lutar essa guerra. Mesmo querendo.

Fonte: Portal Brasil 247