segunda-feira, 16 de junho de 2014

Maria da Conceição Tavares faz exortação: resistir para avançar

Cautelosa, quase reticente em falar de economia, 'numa hora em que tem tanta gente falando bobagem', Maria da Conceição Tavares, a decana dos economistas brasileiros, voz sempre ouvida com atenção quando o horizonte se anuvia, como agora, rejeita as soluções miraculosas oferecidas na praça para destravar os nós do crescimento brasileiro.

campanha eleitoral antecipada na queda de braço em torno da Copa do Mundo exacerbou a divisão do país em duas visões de futuro, diz a voz cautelosa.

Uma valoriza os avanços obtidos na construção da democracia social nos últimos doze anos.

Não considera o caminho concluído, mas é o que está sendo construído.

A outra, majoritariamente abraçada pelo conservadorismo e seu martelete midiático, equipara o resultado desse percurso a uma montanha desordenada de escombros .Um Brasil aos cacos.

Propõe-se a saneá-lo de forma radical.

Em primeiro lugar, esse 'começar de novo' retiraria o país das mãos do 'populismo petista', em outubro próximo.

Para entregá-lo em seguida a quem entende do ramo: os mercados e suas receitas de 'contração expansiva', que combinam arrocho salarial e fiscal com fastígio dos fluxos de capital 
sem  lei.

Na conversa com Carta Maior, Conceição avança com cuidado, escolhendo as palavras ao transpor o limite que havia se imposto de não mexer nesse ambiente conflagrado.

'A situação é muito delicada por conta do encavalamento de gargalos econômicos e disputa eleitoral', admite.

'Mas o fato é que o projeto em curso é o mais adequado à sociedade brasileira', afirma esticando seu divisor no campo minado.

"Avanços sociais, emprego, salário e crédito para manter a atividade -não para puxar, me entenda, mas para manter o nível de atividade', desfia a economista enquanto delimita a sua trincheira de resistência.

"São doze anos de estirão por essa via, agora é manter, enquanto se avança no investimento em infraestrutura, que vai puxar o novo ciclo. É o que tem que ser feito. E está sendo feito', enfatiza para demonstrar certo desalento em seguida:

"A maior dificuldade reside justamente nisso. Não há muito mais o que inventar, essas coisas mirabolantes que se puxa da cabeça, como se a crise fosse uma coisa mental e não uma luta social, não fazem sentido e arriscam por tudo a perder'.

Em outras palavras, os desafios graves não são endógenos ao modelo, nem superáveis na atual correlação de forças. Daí a dificuldade em se traçar um caminho reto e previsível em direção ao passo seguinte da história.

Quem fala entende de crise.

Conceição nasceu em abril de 1930, seis meses depois da 5º feira negra de outubro de 1929, quando as bolsas reduziram todo um ciclo capitalista de riqueza especulativa a pó e pânico.

'O que se passa é distinto de tudo aquilo', dizia ela em entrevista a Carta Maior no calor dos acontecimentos da desordem neoliberal, em 2011.

Aquele entendimento pioneiro é reiterado hoje quase com as mesmas palavras, agora endossadas pelos fatos em curso.

"Essa é uma crise que estreita o campo de manobra , ao invés de ampliá-lo, como em 29. Sim, você tem a comprovação empírica do fracasso neoliberal, mas são eles que persistem e dão as cartas no xadrez global. Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos neoliberais: a pasmaceira política aqui é reflexo desse paradoxo'.

A professora de reconhecida bagagem intelectual, em geral prefere não avançar na reflexão política e ideológica. Mas tem feito concessões diante do cenário de areia movediça no qual a bússola política parece ter perdido a capacidade de mediar o cipoal econômico (leia ao final desta nota trechos de um artigo de Maria da Conceição , 'A era das distopias', publicado originalmente na revista Insight Inteligência).

Preocupa-a a ansiedade que a crispação política injeta no quadro econômico.

'Os partidos estão desengonçados, os movimentos sociais fracionados, os sindicatos aquém do espaço que lhes cabe. Essa pulverização incentiva soluções redentoras', avisa com um misto de preocupação e revolta.

Conceição metaboliza o diagnóstico alguns segundos para alvejar:

'Uns querem milagre social, outros arrocho fiscal '. Repete a disjuntiva, satisfeita com a síntese extraída à força do denso nevoeiro.

'E ambos estão desastradamente equivocados!', arremete então escalando as sílabas.

A crítica aberta alveja, de um lado, movimentos avulsos que se comportam às vezes como clientes da sociedade e não corresponsáveis pela arquitetura de sua emancipação.

De outro, a pregação ortodoxa, a ecoar a agenda tucana para outubro de 2014.

'Uns querem milagre, outros arrocho', reitera. E nesse corredor estreito elege a resistência histórica como o chão pelo qual vale a pena lutar nesse momento.
'Lula está certo, em geral ele está certo', pondera.

'Lula é uma pessoa sensata, ao contrário de muitos economistas visionários que estão à procura de um novo modelo; ele sabe que uma conquista histórica não se pode perder'.

'Se não há inflação de demanda, e não há, então por que arrochar o crédito?', questionou o ex-presidente em evento recente no Rio Grande do Sul, diante de autoridades da área econômica do governo.

Conceição o ampara.

'A inflação de alimentos tem origem na seca, não na exacerbação da demanda. O custo da energia, idem. Do lado externo, o dólar baixo que desestabiliza o setor externo da economia é um reflexo da fraca recuperação mundial. Vamos negociar um novo modelo com o clima ou com o Fed ?', detona.

Sem mudar o tom de voz, a economista debulha e esfarela os grãos das receitas alternativas: 'Vamos fazer um arrocho fiscal? Arrocho quem faz são eles. Eu não recomendo mexer em modelo algum. O que devemos é sustentar o nível de atividade e avançar no investimento em infraestrutura , com forte aporte estatal', discorre já inteiramente à vontade e rompida com a decisão de não discutir 'aquilo que vive um momento delicado' : a luta pelo desenvolvimento brasileiro.

Conceição não acredita que o país possa recuperar integralmente o espaço perdido pela sua indústria para a concorrência internacional. Mas preconiza uma revitalização em novas bases. Injetando nervos e musculatura à capacidade competitiva com uma dose combinada de desvalorização cambial e redução do juro -' Não agora, no próximo governo, quando a inflação climática perder seu ímpeto'.

A reinvenção do sistema industrial conta, no seu entender, com uma alavanca fortemente apoiada em três pontos de chão firme: mercado de massa, pré-sal e grandes projetos de infraestrutura. 'Não é coisa pouca', encoraja.

O ceticismo dos que enxergam uma contradição insolúvel num capitalismo que bordeja a fronteira do pleno emprego não ofusca seu campo de visão.

O emprego, o salário e o crédito ordenam a ótica histórica dessa economista que modulou a filiação keynesiana pela chave da esquerda.

Formam trunfos da luta pelo democracia social, não obstáculos.

Muito diferente da estranha ponte de consenso que se esboça entre segmentos progressistas e concepções ortodoxas acerca do passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Os pilares dessa construção híbrida constatam que o pleno emprego no capitalismo enseja ganhos salariais acima do incremento de produtividade.

Uma dissociação que resultaria em desequilíbrios esgotantes circunscrevendo a história em uma espécie de inferno de Sísifu: luta-se para gerar empregos até que, uma vez criados, eles se tornam disfuncionais e devem ser destruídos.

Pelo bem do sistema.

E ai de quem não o fizer.

O 'populismo petista' está entre os que resistem. A um custo alto para a economia.

Em miúdos e graúdos a fatura assumiria a forma de uma inflação ascendente, com retração do investimento produtivo em proveito da especulação rentista -que se beneficia da alta dos juros inerente à tensão inflacionária do conjunto.

É o diagnóstico híbrido que se dissemina.

Mas que Conceição rejeita.

A ideia de um sistema econômico intrinsecamente avesso ao pleno emprego é estranha a essa economista.

Como assim, se o que tivemos nos trinta anos do pós-guerra foi exatamente pleno emprego, com estabilidade, direitos e crescimento?', questiona.

O que existe hoje, no seu entender, é um pouco mais complexo e enervado de história do que uma fórmula fechada em si.

A desregulação financeira - que se explica em parte por erros, rendições e derrotas da esquerda mundial - catalisou e fortaleceu interesses contrários a um desenho de desenvolvimento comprometido com a maior convergência da riqueza e das oportunidades.

'Aceitá-lo como inexorável explica o funeral da socialdemocracia europeia', diz Conceição.

Mas não significa que não se possa - se deva, retruca - reinventar o espaço de um desenvolvimento cuja finalidade seja gerar empregos, salários, qualidade de vida e direitos.

Esse espaço morreu na Europa hoje.

"Mas está vivo no Brasil e partes da América Latina', lembra essa portuguesa que escolheu a luta pelo desenvolvimento com justiça social como sua pátria.

De dentro dela, Conceição encara as adversidades a sua volta e endossa a intuição de Lula e o destemor de Dilma com uma palavra tantas vezes pertinente em sua vida: resistir, resistir, resistir.

'Resistir para avançar. O resto é arrocho'.

Leia, abaixo, trecho de um artigo de Maria da Conceição Tavares, publicado originalmente na revista Insight Inteligência.

A era das distopias

"As pessoas estão perdidas, não sabem como se guiar do ponto de vista político, econômico. E com isso a história parece que não se move. O futurofica ilegível, amorfo"

"Na verdade, se o PIB é "pibinho" ou não, qual o problema? vai ser 2%, 3% ou 4%? O problema é ter emprego. Para mim, os critérios clássicos são emprego, salário mínimo e ascensão social das bases"

Desde o século XVIII, os movimentos políticos, sociais e econômicos deixaram de se orientar pela ideia de tradição, substituindo-a pela de um futuro diferente e melhor. Eles acreditavam que a história tinha um sentido, um objetivo, uma utopia: criar uma sociedade mais livre e mais igualitária.

A busca da liberdade pautou o século XIX: liberdade do indivíduo, política e econômica, representada pela Revolução Francesa. Depois, no século XX, veio o marxismo e a promessa do reino da igualdade, representada pela Revolução Russa. Foi também em nome da igualdade que se construiu o Estado do bem-estar, como uma alternativa ao socialismo.

O planejamento era uma ideia inseparável dessa visão de mundo. Democratização, planificação, esse é o século XX. As pessoas acreditavam que o futuro estava destinado a isso. E orientavam-se politicamente em função da reconstrução do mundo. Mas essa orientação histórica rumo à liberdade e à igualdade, elaborada no Iluminismo, acabou no final do século XX.

Acho difícil saber para onde vamos. Não dá para dizer se o resultado do que está ocorrendo será positivo ou negativo, à luz do que se conheceu até aqui. O que ocorre hoje pode ser uma transição ou um apodrecimento. Transição não sei para quê, porque não há uma utopia prévia. Você podia falar em transição para o socialismo no século XVIII ou XIX porque estavam lá as manifestações e as utopias prévias. Mas, agora, a transição para o socialismo quer dizer o quê?

Tudo bem, pode ser que seja um viés reformista da minha geração... Eu sou uma adolescente do século XX e me identifico muito com ele, a favor do que era bom, e contra o que era ruim. Por outro lado, não vejo causas que sirvam para agregar de forma propositiva tantos interesses fracionados. Ninguém sabe como reagir se não há conceito e pensamento, organizados a partir de uma utopia. Acho que esta sensação de impotência, de não se ver ninguém pensando diferente, deriva daí.

Diga-me um autor relevante que não esteja pensando dessa maneira, prostrado pela falta de alternativas? Não há ousadia em nada, pelo menos do ponto de vista do pensar. Ninguém na academia está falando nada muito diferente. Por isso, não gosto de dar entrevista, não quero engrossar o coro de lamentação dos intelectuais. Pode ser que eu já esteja ultrapassada, que esteja velha. Mas é como eu estou vendo. De qualquer forma, esse ciclo vai passar. Torcemos para que ele não seja longo'.

Fonte: Carta Maior

Pochmann: classe média não quer o Estado e classe trabalhadora precisa dele

Em mais um capítulo do embate conceitual sobre ascensão social no Brasil, o economista Marcio Pochmann acaba de lançar um livro a colocar água na fervura. Em O Mito da Grande Classe Média – Capitalismo e Estrutura Social (Editora Boitempo, 140 páginas), como o próprio título sugere, o professor do Instituto de Economia da Unicamp, desmitifica a qualificação de “nova classe média” como designação dos mais de 40 milhões de brasileiros que desde o início dos anos 2000 vêm deixando as linhas estatísticas de pobreza para ocupar um lugar entre o que Pochmann prefere chamar de “nova classe trabalhadora”.

Do ponto de vista do alcance da renda, consideram-se estatisticamente de classe média, ou classe C, as famílias com renda per capita entre R$ 320 e R$ 1.120. Por exemplo, uma família com quatro pessoas, casal e dois filhos, e renda total entre R$ 1.280 e R$ 4.4480 é integrante da classe C. Pochmann, no entanto, considera um equívoco essa abordagem, uma vez que a estrutura de gastos na “nova classe trabalhadora”, fatia da pirâmide na qual hoje se encontram 54% da população brasileira, tem uma estrutura de gastos e de consumo diferente da “classe média” clássica.
“É inegável a mobilidade social e material alcançada pelos brasileiros desde a década de 2000, com criação de milhões de empregos, redução da miséria, ampliação das políticas públicas inclusivas, principalmente em educação e habitação, e aumento do poder de consumo dos trabalhadores”, ressaltou Pochmann, durante debate realizado na segunda-feira, 09, pelo Centro de Pesquisas 28 de Agosto, do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Entretanto, segundo ele defende, a inclusão de milhões de novos trabalhadores no mercado de trabalho, cerca de 22 milhões desde 2003, não é sinônimo “ascensão de classe”.
“A classe média poupa, investe, viaja, investe em cultura, lazer e conhecimento. Quer menos imposto e não quer o Estado”, resume. “A classe média típica se delicia no momento de declarar o imposto de renda e calcular as deduções que terá com planos de saúde, escolas particulares, fundos de previdência, enfim, gastos com serviços que recusou do Estado e foi buscar no setor privado; deduz até, pasme, despesa com a empregada doméstica.”
Segundo um estudo divulgado há dois anos, essas deduções representaram R$ 14 bilhões que deixaram de ser arrecadados. “Assim, a principalpolítica social do Estado vem do Ministério da Fazenda”, ironiza Pochmann, que é ex-presidente do Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atualmente preside a Fundação Perseu Abramo, órgão de pesquisas e publicações vinculado ao PT. “A classe trabalhadora, entretanto, precisa do Estado. Sem ele, não terá acesso a educação, saúde, serviços públicos de qualidade.”
O economista entende que mais importante do que a questão semântica ou conceitual é entender como o atual fenômeno da mobilidade social brasileira ainda mediado por uma visão predominantemente neoliberal. “Os avanços são analisados por partes, o pobre, a mulher, o negro, a moradia, a situação de rua… sem se observar no todo, no macro, que o surgimento dos novos atores sociais se dá em desconexão com os setores que deviam representar esses novos atores”, observa.
Ele exemplifica com pesquisas expostos no livro: “De cada dez novos trabalhadores que ingressaram no mercado de trabalho, apenas dois se sindicalizaram. Dos oito que não se filiaram, quatro apontaram como motivo o fato de o sindicato não os representar, e os outros quatro consideram importante, mas não se associaram por não saber como e não conhecer a entidade que os representaria. Do mesmo modo, dos milhões de jovens que conquistaram acesso à universidade, a maioria não se aproximou de movimentos estudantis”.
Marcio Pochmann alerta que o risco dessa mobilidade sem conexão com os partidos, sindicatos, movimentos e organizações tradicionais dá margem para um predomínio da visão não conectada com noção de igualdade e que pode pôr em risco as conquistas alcançadas nos últimos anos. “Estão surgindo movimentos sem pauta porque não estão representados por instituições. Não estamos sem futuro nem sem projeto, mas estamos sem agenda para esses trabalhadores e é preciso alcançá-los. Na política, não tem vaga. Se a esquerda não souber dar esses novos passos, outros darão.”
*Rede Brasil Atual via Feeb-Ba-Se

Por trás das vaias, ódio de classe e machismo

Dilma Rousseff na abertura. Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Dilma Rousseff na abertura. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

A presidenta da República, Dilma Rousseff, e o presidente da Fifa, Joseph Blatter, decidiram não discursar na abertura da Copa, como se faz nos espaços em que há civilidade num país republicano, mas isso não poupou a presidenta de ofensas das piores possíveis.

Por Gabriel Nascimento*



Da ala mais elitizada do estádio, onde estava a classe média branca, acompanhada da burguesia rentista de sempre, desde Cabral, herdeira não só dos meios sociais de produção, mas do seu atraso, ouviu-se ofensas a uma presidenta republicana. 


Que o ódio de classe ali foi retumbante eessencial, chocando inclusive colunistas de portais conservadores de nossa mídia, já sabemos bem. O ódio de classe à inclusão dos mais de 50 milhões que viviam 

sem
 consumir na massa de consumidores ativos, dos 36 milhões que passavam fome, daqueles que precisavam de um teto para morar, daqueles que viviam sem energia elétrica. Por trás das vaias a Dilma, desde aquele dia da abertura da Copa das Confederações, está o ódio dos que querem os privilégios de antes, com exclusividade, os que agora estão dividindo os aeroportos e o espaço público com esses novos consumidores. E eles querem a volta do encolhimento do espaço público, encenado aqui pelos dois governos neoliberais de FHC.

Entretanto, ao que parece, não é só ódio de classe o que está por trás das vaias e agressões.

Qualquer homem pode ser vaiado e ofendido com um sonoro “vá tomar no c***”, mas não há registro, até onde se saiba, de outras chefes de Estado do mundo que foram agredidas da mesma forma. As ofensas que a presidenta recebeu também são resultado de uma nação com história mal resolvida, cheia de tentativas de golpe, em que as mulheres representam 8% do congresso nacional, ainda recebem os menores salários comparados aos homens e não gozam da cidadania plena em diversos espaços. Não é só uma questão feminista ou de gênero, é uma questão de respeito e fidelidade aos dados. Pela primeira vez uma mulher foi eleita Presidenta da República em um governo de centro-esquerda, advinda de uma base de esquerda, que reúne um bloco de um projeto que há dez anos luta pela soberania do povo brasileiro. Dilma é, sobretudo, a maior liderança feminina do Brasil na contemporaneidade. Vai entrar para a história como a líder mundial que enfrentou o desrespeito dos Estados Unidos em relação à privacidade, como a economista que prefere acelerar a economia sem perder o foco na busca pela queda do desemprego, como a presidenta que deu continuidade ao programa de desenvolvimento macroeconômico, sem perder os investimentos na distribuição de renda e no salário social, do ex-presidente Lula. Mas, sobretudo, Dilma vai entrar para a história como uma mulher. É duro para essa elite vira-lata engolir isso.

Dilma é a presidenta que causou furor nos jornalistas gramatiqueiros da grandeimprensa que insistem em chamá-la de presidente. Mesmo sendo “presidenta” um termo dicionarizado desde o século 19, tais jornalistas insistem em chama-la de “presidente”, com o falso morfema neutro de gênero (porque a língua está longede ser neutra), não por obediência a um padrão gramatical que nem eles mesmos sabem ou seguem, embora se proponham rigorosamente nas asneiras a perder de vista a dizer que seguem, mas por machismo. A grande imprensa, ao insistir em chama-la de presidente, atende aos aspectos que as políticas culturais machistas sempre fizeram funcionar nas mais diversas alas conservadora da sociedade. O lugar da mulher, nessas alas, ainda se restringe ao lar, às comendas de resolução exclusiva dos problemas familiares e da distancia do espaço público.

Foram as mulheres da classe trabalhadora que iniciaram suas lutas na esfera pública, travando combates para conseguir legitimidade no espaço público, zelando pela luta em prol da cidadania plena, do direito ao voto, da redução da carga horária de trabalho etc. Se o espaço social, nessa máxima conservadora, é restrito aos homens, caso uma mulher brigue por chegar até lá e consiga, como é o caso de Dilma, o falso morfema neutro está ali para provar que a língua é o espaço mais intenso da luta de classes, entraves de gênero e políticas culturais, como diria o linguista e historiador russo Mikhail Bakhtin, e que a mulher pode até ocupar aquele espaço, mas que, ao fim e ao cabo, ali é um espaço de homens. Não vamos ser ingênuos, senhoras e senhores.

O furor das vaias e o do suposto morfema neutro de “presidente” utilizado para Dilma, mostram tanto o desconhecimento linguístico desses jornalistas e pseudo manifestantes mal educados dessa classe média branca, quanto a raiva de ter que assistir uma mulher figurar como a maior liderança política do Brasil na atualidade. Em tempo de vaias, é bom sempre lembrar que se trata de uma elite perdedora e, nesse caso, vaias e ofensas de elite atrasada chegam a ser um elogio.

*Gabriel Nascimento é da União da Juventude Socialista (UJS) e mestrando em Linguística Aplicada (UnB)

Urariano Mota: A falta de educação da nossa elite

 

Roberto Stuckert Filho/PR

O jornalista e escritor pernambucano Urariano Mota, em sua coluna “Prosa, Poesia e Política”, fala sobre as vaias sofridas pela presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo no Brasil na quinta-feira (12). “O chamado ‘publico diferenciado’, na abertura da Copa, retratou bem a elite que vaia os médicos cubanos, chamando-os de negros escravos”, falou.

Por Ramon de Castro, para a Rádio Vermelho


Para Urariano, asconquistas nos governos progressistas de Lula e Dilma, com osprogramas sociais, ameaçou diminuir o poder secular da elite brasileira. “Essa elite é a mesma dos protestos nas ruas doano passado, são dela as vaias, os palavrões contra a primeira presidenta do Brasil; as notícias informam que as vaias e os palavrões começaram na área VIP do estádio”, disse.


Segundo o escritor, não existe festa no mundo que a elite não tente estragar com a sua secular falta de educação, que ela confunde com boas maneiras. “Educação é a do homem do povo, que socorre e ajuda outro, que manifesta solidariedade, mas essa educação, de classe, está certa, enfim: cada macaco no seu galho, como cantava um compositor baiano; o nosso é ficar junto a quem trabalha e sonha pela humanidade”, contou.



Ouça a coluna na íntegra na 
Rádio Vermelho:


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