sexta-feira, 14 de outubro de 2016

À OEA: “é só matar e dizer que tinha envolvimento com tráfico"


Foto: Sandra de Souza
  
Na audiência, durante dois dias, foram ouvidos familiares das vítimas e peritos sobre a execução de 26 pessoas e de tortura sexual de três adolescentes, particados por policiais civis na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, nos dias 18 de outubro de 1994 e 8 de maio de 1995.

Além dos depoimentos, foram feitas, oralmente, as alegações finais dos representantes das vítimas e do Estado brasileiro. Eles têm até o dia 11 de novembro para apresentar as alegações finais sobre o caso.

Beatriz Affonso, diretora para o Brasil do Centro pela Justiça e Direito Internacional, entidade que levou o caso à Corte, lembrou da importância da reparação econômica para os familiares, o que não ocorreu, e sugeriu medidas para serem implantadas no país para evitar a violência policial e a impunidade nesses casos.

“Há um risco natural que os crimes com envolvimento de policiais representam para as testemunhas, por ficarem vulneráveis por um elevado período de tempo, dado a obrigação a declarar inúmeras vezes perante distintas autoridades, solicitamos que se normatize a produção antecipada de provas perante o juiz, só em casos de violência perpetradas por agentes do estado”, disse.

Durante a audiência também foi sugerido que se avance na legislação brasileira para que entes da sociedade civil possam entrar no rol de legitimados para propositura de ação penal privada e que seja garantida a idoneidade e independência na investigação de violações de direitos humanos cometidas por policiais. Os representantes das vítimas sugeriram que existam normas para garantir o deslocamento de competência para o julgamento de casos de mortes causadas por policiais para o âmbito federal.

Políticas públicas
O representante do Estado brasileiro Pedro Murilo Ortega Terra, ministro conselheiro da Embaixada do Brasil em Quito, destacou as políticas públicas implantadas no país desde a época do caso, que, segundo ele, diminuíram as taxas de homicídio e de homicídio decorrente de intervenção policial, como programas sociais, melhorias de processos de acolhimento de vítimas e de investigações e as unidades de Polícia Pacificadora, implantadas em 38 comunidades do Rio de Janeiro.

Terra disse que o Estado brasileiro reconhece que seus agentes são responsáveis pelos 26 homicídios e pelos três crimes de violação sexual e também reconhece a dor e sofrimento das vítimas em decorrência desses fatos. Porém, ele destacou que a representação das vítimas tentou ampliar o escopo do julgamento, o que, para ele, não é devido no caso.

“Nós ouvimos durante o julgamento alegações de que há violações sistêmicas de direitos humanos no Brasil decorrente de ação policial, falam em padrões de falta de imparcialidade, de acobertamento das ações e que o Estado não teria contradito esse chamado contexto alegado, mas o Estado não está aqui para ser julgados por contextos, está aqui para ser julgados por fatos. Os fatos submetidos à jurisdição dessa Corte são a alegada falta de devida investigação e punição de 26 homicídios e três crimes de violência sexual, somente. Não há outro fato. O estado não foi chamado para responder por 3 mil mortes decorrentes de intervenção policial no ano de 2014, como quer fazer crer a representação das vítimas em suas alegações finais”.

Depoimentos
No depoimento desta quinta-feira (13), em nome dos familiares das vítimas, Mac Laine Farias Neves, irmã de Macmiller Farias Neves, que tinha 17 anos quando foi morto, disse, muito emocionada, que a versão que apareceu na mídia não foi confirmada pelos moradores do local.

“Eu vi pela televisão que teve uma incursão da polícia na favela e teve essa chacina. Contavam de troca de tiro, que a polícia foi fazer essa incursão na favela e teve essa troca de tiros com essas mortes todas, mas, segundo o que contam os moradores, não houve troca de tiro. Segundo eu soube, porque eu não estava lá, não vi, o meu irmão foi pego dentro de uma casa, dormindo. Ele foi morto, não trocou tiro. Eles poderiam ter prendido ele, se ele tivesse feito alguma coisa de errado, ele teria pago pelo erro que cometeu. Eles foram colocados como criminosos”.

Mac Laine lembrou que não foi ao enterro, pois o rosto do irmão foi desfigurado, e nunca foi chamada para depor sobre o caso. Mac Laine disse que as famílias sofrem muito até hoje e que a situação de violência policial nas comunidades piorou desde então e continua não havendo investigação.

“Não precisa de investigar, de julgar, de nada disso, é só matar e dizer que tinha envolvimento com tráfico ou qualquer coisa. Nada vai acontecer, nada vai mudar. As pessoas têm medo de falar, porque pode acontecer o mesmo com quem denunciar. Eu tenho medo de que aconteça algo com a minha família, de nada mudar, de continuar acontecendo a violência toda que aconteceu com o meu irmão e até hoje continua acontecendo. Não tenho confiança na polícia nem na Justiça, porque na época que meu irmão morreu não houve justiça, nada mudou, pelo contrário, só piorou”.
 

Fonte: Agência Brasil via Vermelho

Maria da Conceição Tavares: "A PEC 241 é uma invenção demoníaca"


  

Fonte: Jornal do Brasil via Vermelho

Serrano: Cerco a Lula mostra que Estado de exceção já vigora no país


Felipe Bianchi/Barão de Itararé
  
“Não posso falar sobre o caso concreto, ao qual não tenho acesso. Mas temos tido uma série de sinais nos últimos tempos de que realmente o sistema de Justiça está se transformando numa força de exceção, e não de Direito. Está suspendendo os direitos de alguns líderes, entre os quais Lula, e buscando uma condenação a qualquer preço. São medidas autoritárias, típicas de ditadura, que acabam investindo no interior do regime democrático”, diz Serrano.

Segundo o advogado, é evidente que os objetivos são políticos. “Toda a exceção se dá com fins políticos. Exceção é o afastamento do Direito para realizar uma intenção política de ataque ao inimigo. Essa é a lógica.”

A comprovação desse Estado de exceção, avalia Serrano, se deu com o julgamento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em setembro, quando decidiu que a Operação Lava Jato não precisa seguir as regras de processos comuns e que a conduta do juiz Sério Moro é “incensurável”, validando, portanto, medidas como grampos em escritórios de advocacia, divulgação de interceptações telefônicas envolvendo Dilma Rousseff e Lula, entre outras.

Segundo matéria do site Consultor Jurídico, o TRF-4 arquivou (em 22 de setembro) representação contra Moro seguindo entendimento do desembargador federal Rômulo Pizzolatti, relator do caso. “É sabido que os processos e investigações criminais decorrentes da chamada operação 'lava jato', sob a direção do magistrado representado (Moro), constituem caso inédito (único, excepcional) no Direito brasileiro. Em tais condições, neles haverá situações inéditas, que escaparão ao regramento genérico, destinado aos casos comuns”, justificou o desembargador.

“Essa é uma declaração de exceção. A exceção está declarada”, afirma Pedro Serrano. “No caso Lula, o TRF-4 assumiu que está praticando a exceção, que a Lava Jato é um caso excepcional e, portanto, devem ser suspensas as normas gerais no caso, para o juiz atuar como queira.”

Para o professor da PUC-SP, a sociedade tem que “acordar, porque a democracia está indo para o ralo”. “A vida num Estado autoritário é muito difícil para todo mundo, não só para esse ou aquele.”

Instituto Lula

Em nota divulgada hoje (13), o Instituto Lula se defende de mais uma medida que, desta vez, é da Receita Federal e resultou na suspensão das isenções fiscais da entidade relativas ao exercício de 2011. “Todas as despesas mencionadas na notificação da Receita Federal estão comprovadas por documentos, que foram fornecidos pelo Instituto Lula ao referido órgão durante o processo de fiscalização”, diz o instituto.

A entidade foi notificada pela Receita para esclarecer atividades que configurariam "desvio de finalidade". O instituto afirma que, no dia 29 de setembro, apresentou à Receita Federal sua defesa, “acompanhada de extensa documentação, demonstrando a inexistência de desvio de finalidade e a integral aplicação dos seus recursos nas suas atividades, destinadas precipuamente à divulgação e preservação da memória, do legado e do acervo do personagem histórico que é o ex-presidente Lula, tarefas essas de cunho eminentemente cultural”.

Na terça-feira (11), a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, comentou reportagem do jornal dizendo que os procuradores da Lava Jato “só aceitam delação de executivo da Odebrecht se ele incriminar Lula". Segundo a matéria do diário, os investigadores “consideram que as informações dadas pelo ex-executivo (Alexandrino Alencar) estão incompletas e que há indícios de que Alencar estaria protegendo personagens que são alvos de seus depoimentos, como o ex-presidente".

Na segunda (10), a defesa do ex-presidente divulgou nota sobre mais uma denúncia do Ministério Público Federal, segundo a qual Lula, o presidente da construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht, o empresário Taiguara Rodrigues e mais oito pessoas estariam envolvidas na liberação de recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) para obras em Angola. “Os vícios do processo permitem que se identifique no ‘caso Lula’ situação definida por estudos internacionais recentes como lawfare. Ou seja, o uso das leis e dos procedimentos jurídicos como arma de guerra para perseguir e destruir o inimigo”, disseram os advogados de Lula.
 

 Fonte: Rede Brasil Atual via Vermelho

Brasil é o primeiro em ranking de homofobia

Reprodução
  

Quatro de cada dez denúncias de homofobia que chegaram ao Disque Direitos Humanos, o Disque 100, eram de pessoas negras.


Homofobia


Fonte: Agência Brasil via Vermelho

Igreja Católica repudia PEC 241: Devastadora e brutal


  
Esta medida de contenção asfixiante, parte de uma premissa falsa segundo o economista Francisco Funcia, da PUC- SP, que seria a grave situação econômica do país; em nota à imprensa, foi divulgado pelo Ministério da Fazenda, em 24 de junho de 2016: "A situação do Brasil é de solidez e segurança porque os fundamentos são robustos. O país tem expressivo volume de reservas internacionais e o ingresso tem sido suficiente para financiar as transações correntes. As condições de financiamento da dívida pública brasileira permanecem sólidas neste momento de volatilidade nos mercados financeiros em função de eventos externos. A dívida publica federal Nacional conta com amplo colchão de liquidez".

Como se verifica na declaração não há no país uma situação caótica que exija um ajuste tão violento e brutal, a ponto de "congelar" as despesas federais no patamar dos valores de 2016, por um prazo de 20 anos.

1. Qual o objetivo é finalidade da PEC 241?

A agenda explícita desta proposta é como está na argumentação do governo interino: "estabilizar o crescimento da despesa primária, como instrumento para conter a expansão da dívida pública”. Esse é o objetivo desta proposta de Emenda à Constituição". No entanto traduzindo para os efeitos reais da sua aplicação, significa cortes drásticos na saúde, educação, habitação, transportes, etc ... para priorizar o absoluto do déficit nominal e da dívida pública.

Esta visão econômica, que volta aos anos 90 da hegemonia neoliberal e do Acordo de Washington, deixa claro que a dívida está muito acima da vida do povo e que a economia para ser sanada exige o sacrifício da população especialmente aqueles que não estão incluídos no mercado.

Para confirmar esta assertiva o Ministro Henrique Meirelles se posiciona em entrevista do 01/07/2016: "As despesas com educação e saúde são itens que ... junto com a previdência, inviabilizaram um controle maior das despesas nas últimas décadas. Educação e saúde inviabilizam ajustes".

Trata-se não só de limitar despesas mas de desconstruir a Arquitetura dos direitos sociais que consolidou o sistema de seguridade social da CF de 1988, quer se eliminar o Estado Social de Direito desmontando o SUS, levando-o a falência e colapso total.

2. Se passar esta PEC letal, quais serão as consequências para nossa população?

Se a PEC for aprovada, serão perdidos não somente os direitos sociais inscritos na Constituição Federal, mas a qualidade de vida da população brasileira sofrerá um forte rebaixamento, voltando a expectativas de longevidade bem inferiores às atuais. No caso particular da saúde poderão provocar a ampliação de doenças e, até mesmo, mortes diante da redução de recursos para o financiamento do SUS nos próximos 20 anos.

É importante não esquecer que está PEC estabelece que os valores de 2016 serão a base para a projeção de despesas até 2037, ou seja, que não está previsto o crescimento populacional, a mudança de perfil demográfico com o envelhecimento da família brasileira em condições de saúde mais precárias, que demandará mais o sistema, e da incorporação tecnológica crescente neste setor. Para ilustrar o recorte de recursos basta afirmar que esta proposta tivesse sido aplicada no período de 2003-2015 teriam sido retirados do SUS R$ 314,3 bilhoēs (a preços de 2015), sendo somente no ano 2015, R$ 44,7 bilhões, cerca de 44% a menos do que foi efetivado pelo Ministério da Saúde no mesmo exercício.

É conveniente alertar também que a redução de recursos federais para o financiamento do SUS atingirão fortemente Estados e Municípios, pois cerca de 2/3 das despesas do Ministério da Saúde são transferidas fundo a fundo para ações de atenção básica, média e alta complexidade, assistência farmacêutica, vigilância idemiológica e sanitária, entre outras.

3. Existe outro caminho que os cortes na saúde, e o recuo nos direitos sociais?


A pesquisadora em saúde da ENSP/ FIOCRUZ e Diretora Executiva do CEBES, a Dra. Isabela Soares Santos, dá uma resposta positiva citando o Economista de Oxford Dr. David Stuckler que estudou a política econômica de austeridade em 27 países (1995-2011). Este renomado cientista gerou o chamado "multiplicador fiscal " que mostra o quanto de dinheiro se consegue de volta com diferentes gastos públicos. Os melhores índices multiplicadores vem de gastos com educação e saúde, os piores com a defesa. Ele argumenta: "Saúde é oportunidade de gerar economia e crescer mais rapidamente. Se cortar em saúde, gera mais mortes, aumento e surtos de infecções por HIV, TB, DIP, aumento dos índices de alcoolismo e suicidio, aumento dos problemas de saúde mental, risco de retorno de doenças erradicadas. Saúde não deve ser cortada em situação de crise, pois os governos deveriam investir mais em saúde em tempos de crise, para sair dela".

Os próprios diretores do FMI criticam as políticas recessivas de inspiração neoliberal, em vista disso, o tripé econômico de meta inflação, altos juros e superávit primário trás como consequências: o aumento da desigualdade, colocam em risco a expansão duradoura e prejudicam seriamente a sustentabilidade do crescimento.

4. Não seria o caso de ampliar os arranjos públicos privados e favorecer o seguro privado (PHI) para sair de crise? 
Na verdade, nestes arranjos públicos privados o sistema público perde (maiores e mais complexas filas), o arranjo contribui para a iniquidade no financiamento no acesso e no uso, o arranjo não diminui a demanda por serviços e financiamento, o arranjo não contribui para os objetivos gerais do SNS (equidade, universalidade e solidariedade), não há evidência que o PHI alivie o SNS.

É interessante constatar que a União Europeia proíbe os países membros de regular o PHI quando houver SNS, com o argumento de defender o "sistema estatutário", que foi escolhido pela nossa Nação na CF/1988. Lamentavelmente o que vemos é uma aposta crescente no setor privado o que contribui para a segmentação do sistema de saúde brasileiro como um todo, introduzindo a lógica mercantil, abandonando a luta histórica do movimento sanitarista brasileiro que conseguiu a implementação do SUS e sua inserção na Carta Magna, garantindo saúde integral e universal para toda a população.

5. Que fazer para impedir a PEC 241 e os seus desdobramentos perversos na seguridade social e na saúde? 
Em primeiro lugar é necessário ter clareza que esta desconstituição do SUS se apoia na ideologia do Estado Mínimo e no retorno a uma Democracia restringida, tutelada, com os direitos sociais à míngua. O problema para estes economistas sem coração é o estado, o tamanho do SUS.

Em compensação não há medidas para penalizar os mais ricos, achatar as desonerações fiscais, ou para reduzir os juros: o ajuste acaba se concentrando nas despesas que garantem os direitos sociais como meio de criar superávits primários crescentes, visando a diminuição da dívida pública, de acordo com o economista e doutor em saúde coletiva do IMS-UERJ, Carlos Otávio Ocké-Reis.

Na prática, assistiremos ao desmonte do SUS e a privatização do sistema de saúde, onde todo esforço para melhorar as condições de saúde das famílias brasileiras ficará à deriva, prejudicando os recentes avanços obtidos no combate à desigualdade e acesso universal à saúde coletiva.

Em segundo lugar devemos manifestar nosso repudio e indignação, pensando como sempre nos mais pobres que serão as vítimas principais desta política antipopular contra a vida. Conclamar a uma mobilização geral em defesa da Constituição, do Estado Social de Direito, da Seguridade Social e do SUS.

O SUS é nosso, o SUS é da gente, direito conquistado, não se compra nem se vende! Que Jesus o Rosto da misericórdia do Pai, nos ilumine e nos fortaleça na caminhada e defesa de saúde integral e universal para todos os brasileiros(as).

Campos dos Goytacazes, 18 de Julho de 2016.

*Bispo de Campos e Referencial Nacional da Pastoral da Saúde



Fonte: Vermelho

Dilma critica “PEC da Maldade” e rebate: Não tem gastança na educação


  
"A PEC 241, que se for aprovada, vai ser de fato a PEC do mal... Os investimentos tanto na área da saúde e educação vão cair progressivamente em relação ao crescimento do PIB. O gasto do PIB também vai cair. O gasto por pessoa também vai cair porque a população deve crescer em 20 milhõess nesse período que a PEC vai estar vigente. e também nas outras áreas, cultura, agricultura, direitos humanos, agricultura familiar, os recursos minguarão", afirmou Dilma.

A presidenta rebateu o discurso do governo Temer que afirma que se gasta demais. "Ao contrário do que dizem, não tem gasto a mais. Não tem gastança na educação. Temos que investir mais. Pelo contrário, o Brasil ainda gasta menos em saúde e educação, do que se gasta os nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai em termos proporcionais", salientou.

Questionada sobre o sentimento que tem contra os que conspiraram contra o seu mandato, Dilma disse que não tem "ódio", mas chamou Temer de "traidor".

"Eu não tive ódio de torturador, por que eu vou ter ódio de traidor nesse processo [de impeachment]?", afirmou ela, em referência ao período da ditadura militar, quando foi presa e torturada durante o regime militar. Segundo ela, o sentimento que a traição provoca é de "injustiça".

"Não se pode ter ódio das pessoas. O ódio faz com que você seja capturado pelo objeto que você odeia", afirmou.

Sobre os ataques que o presidente Lula tem enfrentado, Dilma afirmou que "há um objetivo claro de condená-lo na segunda instância".

A presidenta comentou ainda o tumulto causado por forças de segurança pública durante o momento em que ela foi votar, em Porto Alegre. Dilma disse que "não estará" na cidade e irá justificar o voto no segundo turno.

A confusão aconteceu após um juiz proibir o acompanhamento da imprensa. A ordem foi dada pelo juiz Niwton Carpes da Silva, da 160ª zona eleitoral de Porto Alegre, sob a justificativa de que Dilma não possui esse direito por não ser candidata nestas eleições e ser uma "cidadã comum".

No entanto, o juiz já havia chamado Dilma de "incompetente e desesperada" em seu perfil pessoal do Twitter, criado em março.
 

Do Portal Vermelho, com informações da Rádio Guaíba

PEC 241 precariza serviços e alimenta crise, dizem sindicalistas


Hugo Pereira/Mídia Ninja
  
A PEC 241 foi aprovada dia 10 de outubro em 1º turno pelo plenário da Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Rodrigo Maia, marcou a votação da proposta em segundo turno para o dia 24, quatro dias antes do dia do Servidor Público que se comemora em 28 de outubro. 

A PEC aplica o limite de gastos aos órgãos da administração federal que ficam impedidos de reajustar salários, contratar pessoal, fazer concursos públicos (exceto para reposição de vacância) e de criar novas despesas até que os gastos retornem ao limite previsto pela proposta. As regras valerão até 2036. 

José Domingos, presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB), declarou ao portal da entidade que o impacto da PEC é devastador, sobretudo em um momento de crise e desemprego em que aumenta a procura pelo serviço público. Dados recentes apontam para 12 milhões de desempregados.

“Os servidores públicos são cerca de dois milhões que serão atingidos, mas o impacto maior será sobre os 220 milhões dos usuários do serviço público, que vai ser dramaticamente reduzido e já é insuficiente em quantidade e qualidade”, analisou. De acordo com José Domingos, o Brasil retrocede aos níveis de investimento de 2004 mas com uma população de 2016.

Considerando os três niveis de governo, federal, estadual e municipal os trabalhadores do serviço público somam 15 milhões.

Ataque ao serviço público

João Paulo é funcionário público há mais de trinta anos e afirmou que os efeitos da PEC 241 sobre os direitos dos trabalhadores vão provocar a extinção da categoria. “Fomos reduzidos a nada. Somos uma categoria em extinção”, completou.

"O primeiro grande ataque que tivemos foi na refoma administrativa de FHC e perdemos vários direitos que até hoje não recuperamos, e para se ter uma ideia, Bresser (Bresser Pereira), que comandou aquela reforma em 1997, é contra a PEC 241 por julgar que é destruitiva e vai prejudicar a manutenções das questões sociais  e os serviços públicos", relembrou João Paulo, que é secretário do Serviço Público e do Trabalhador Público da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Segundo o dirigente, a PEC vai fragilizar as atividades dos trabalhadores policiais federais, vai comprometer a eficiência dos fiscais da receita e do trabalho e prejudicar a manutenção das redes públicas de institutos e universidades federais.

Direito de negociação

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, ressaltou a gravidade da natureza da PEC. “A lei dizendo que não pode negociar. Só em regime de exceção”, comparou. De acordo com o sindicalista, as greves de 78 surgiram para pressionar pelo aumento acima da inflação. 

“A PEC dificulta a negociação direta do servidor público porque já tem um patamar limitador”, completou Juruna. Ele também lembrou que a proposta pode agravar a recessão. “Os servidores públicos vão receber menos. Isso vai prejudicar o consumo e consequentemente colocar em risco o emprego”, avaliou.

Com a retração do consumo, os empregadores optam pela dispensa do empregado para reduzir custos.

Refém do rentismo

“O Estado que deveria ter o papel indutor da economia se torna refém dos interesses monopolistas do capital financeiro e especulativo”, disse Adilson Araújo, presidente da CTB. Segundo ele, a PEC 241 “é uma medida de rendição ao grande capital”.
 
“Por tabela vem o negociado sobre o legislado, reforma trabalhista e previdenciária. Com o contingenciamento, a saúde vai quebrar para atender aos interesses dos planos privados. As universidades públicas vão ser sucateadas para beneficiar as privadas. Estamos falando de um retrocesso secular caso seja aprovada a PEC”, completou Adilson.

Os trabalhadores do serviço público estão desde o início da semana em mobilização permanente contra a PEC 241. No dia 24 serão intensificadas as paralisações e mobilizações de servidores públicos em todo o país, sobretudo, em aeroportos abordando parlamentares pela rejeição da PEC.
 
 


Do Portal Vermelho

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Deputados aprovam PEC 241 que congela gastos sociais por vinte anos


Foto:Richard Silva/PCdoB na Câmara
  
O líder do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA), afirmou que a legenda não é contra um ajuste fiscal, mas esta proposta não representa uma medida viável para equilibrar as contas do país. “Essa PEC só favorece os ricos. Não se fala em taxar as grandes fortunas deste país. Prefere cortar creches, postos de saúde, programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida", critica o parlamentar.

Anunciada como a salvação peemedebista para a crise brasileira, a PEC 241 vai, na verdade, continuar afetando o lado mais fraco. O texto prevê que o governo só poderá investir o mesmo valor gasto no ano anterior, corrigido pela inflação do período.

Foram quase 10 horas até que os parlamentares conseguiram aprovar o texto-base da PEC. Para garantir o feito, Temer promoveu um jantar de gala neste domingo (9), no Palácio do Alvorada, com direito a palestra de dois economistas de fora do governo para explicar a “necessidade” da aprovação da PEC 241.

A tática parece ter funcionado. Ao longo dos debates, parlamentares da base aliada rasgaram elogios à proposta, chegando a chamá-la de “PEC da Responsabilidade”.

Por outro lado, partidos de oposição apelidaram a proposta de “PEC da Maldade”. "É uma vergonha o que a Câmara vota neste momento, o congelamento das despesas da educação e da saúde por 20 anos. Isso vai para a Constituição. É um erro gravíssimo. Estamos engessando o uso dos recursos públicos, mesmo que a realidade econômica seja diferente, prejudicando o povo," destaca o vice-líder da Minoria, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

Outros afirmam que o limite de gastos é uma “estupidez” e reforçam que haverá prejuízos ao país mesmo diante de um cenário favorável.

“Imagine uma situação ótima, com inflação zero e crescimento de 5% da economia. Esse cenário torna-se péssimo para o povo brasileiro, porque boa parte dos recursos arrecadados com o crescimento não poderão ser investidos por causa do teto e acabarão servindo para pagar os juros da dívida”, argumenta o deputado Patrus Ananias (PT-MG).

A presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), enfatiza a crítica à proposta. Segundo ela, o Parlamento está rasgando o pacto social feito em 1988. Na prática, estaremos acabando com os limites mínimos para investimento em saúde e educação. Será que o Brasil suporta mais cortes nessas áreas?”, questiona.

Para a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), esse é o segundo momento mais grave da democracia brasileira, depois do impeachment. “É o desmonte do Estado e do sistema de proteção social do brasileiro. Teremos mais contração, mais recessão e mais desemprego.”

O texto ainda precisa ser aprovado em segundo turno antes de seguir para o Senado.


Assista abaixo a avaliação do deputado Orlando Silva (PCdoB/SP)


 

Fonte: PCdoB na Câmara via Vermelho

Cerca de 6 mil pessoas foram resgatadas de trabalho escravo em 3 anos

  

Submetidos a jornada extenuante, ameaças físicas e psicológicas, com documentos retidos e sendo cobrados por dívidas que na verdade não contraíram, muitas vezes esses trabalhadores são resgatados em locais isolados. E as condições são incompatíveis à dignidade humana.


Trabalho escravo


Fonte: Agência Brasil via Vermelho

Flávio Dino: PEC 241 congela desigualdades sociais e regionais


Reprodução: TV Vermelho
  
A PEC 241, apresentada pela equipe econômica do atual governo, estabelece que, durante 20 anos, os gastos públicos primários (sem incluir juros) só poderão crescer no máximo o equivalente à inflação do ano anterior.

Isso significa que as despesas de áreas como saúde, educação, habitação e segurança não terão aumento real por duas décadas, comprometendo a atuação dos próximos cinco presidentes do país. Por outro lado, a proposta não inclui os gastos com juros da dívida.

De acordo com Flávio Dino, a PEC 241 parte de um diagnóstico equivocado sobre a situação fiscal do país. Na avaliação do governador, ao contrário do que diz Temer, não foram os gastos primários que cresceram descontroladamente, mas as receitas que despencaram, diante da recessão. E, se é para abordar as despesas, o foco deveria ser justamente a parte do orçamento reservada ao pagamento de juros, que são as despesas que mais crescem no país, mas ficaram fora da PEC.

“Há essa premissa que questiono. Não são as despesas que cresceram mais que as receitas. São as receitas que caíram mais do que deveriam. Digo isso a partir da nossa experiência no Estado”, afirmou o governador.

Nesse sentido, a regra fiscal defendida pelo governo não resolveria o impasse das contas públicas. “O teto de gastos, além de ser equivocado, é insuficiente. Precisamos enfretar o núcleo do problema, que são a receita e as despesas financeiras. Porque, na verdade, o núcleo da crise fiscal não está nos gastos com serviços públicos, com saúde e educação”, defendeu.

Na tentativa de tornar menos impopular a medida, o governo federal tem insistido em dizer que os gastos com saúde e educação serão preservados. Mas, para Dino, a única forma de estabelecer um teto para o crescimento das despesas, sem afetar os valores investidos em políticas sociais, seria incluir os percentuais destinados aos juros na conta da regra fiscal. E fazer com que as despesas financeiras caiam, reduzindo a taxa de juros brasileira, a maior do mundo.

Perpetuar a negação de direitos


Sobre os impactos que a aprovação da PEC 241 teria para Estados e municípios, Flávio Dino destacou o efeito ainda mais “perverso” que a nova regra teria sobre os locais menos desenvolvidos socialmente.

“Nos Estados que estão ainda precisando com muita força universalizar serviços públicos, o impacto e ainda mais desastroso. Se você tem uma PEC de teto, de congelamento de gastos, você congela desigualdades. Do ponto de vista das desigualdades regionais e sociais, é ainda mais perverso”, criticou.

Segundo ele, lugares como o seu Estado precisam ainda ampliar as verbas para políticas públicas e, não, limitar. “Nós vivemos, por exemplo, no Maranhão, uma necessidade de expansão de investimentos públicos e, não, de restrição, porque, se houver restrição, estamos, na verdade, perpetuando a negação de direitos para milhões de pessoas”.

PEC, esoterismo e crescimento


A gestão de Michel Temer tem condicionado a retomada do crescimento à aprovação da PEC. Questionado se, de fato, o teto de gastos teria o poder de fazer a economia deslanchar, o governador ironizou: “Eu não acredito em pedra filosofal, Santo Graal, essas coisas. Eu acho que é uma coisa meio esotérica você acreditar que pura e simplesmente uma saída como essa vai fazer crescer a economia. Eu não consigo enxergar esse feito. Pelo contrário. Acho que temos que olhar um conceito de desenvolvimento e, não, de crescimento, e a PEC é antidesenvolvimento”.

Para Dino, a saída da recessão passa pelo fortalecimento do investimento público, o inverso do que prega o governo federal. “Não consigo imaginar como, em termos imediatos, vai haver crescimento do PIB sem ampliação de investimento público”, afirmou.

Dino defendeu que a experiência interacional e brasileira têm provado a importância do papel do Estado na economia. “A história do mundo é sempre no sentido de que você só retoma crescimento com forte ciclo de investimentos públicos. Desde o plano Marshall no fim da Segunda Guerra Mundial, até a experiência brasileira, com o chamado milagre econômico na ditadura. E, mesmo pós-2008, nos países de capitalismo avançado, você tem um forte participação do Estado”, citou.

Alternativas

Para sair do ciclo vicioso atual - que inclui queda da arrecadação, corte do gasto público e prolongamento da recessão -, Flávio Dino defende alternativas à proposta do governo. Segundo ele, é preciso mexer no que seria o núcleo do problema fiscal – as despesas financeiras e o caráter regressivo do sistema tributário – e garantir investimentos públicos.

“Você tem uma riqueza suntuária acumulada na sociedade sem ser tributada. Se você não recupera a capacidade fiscal do Estado, tributando esses setores que são privilegiados – rendas do capital, distribuição de lucros e dividendos, heranças, grandes patrimônios ou grandes fortunas -, você não vai conseguir extrair recursos necessários para alavancar um ciclo de crescimento”, previu.

Além de ser melhor para equilibrar as contas públicas, tal proposta ainda faria isso de forma mais justa que a PEC 241, apontou. “Eu imaginaria um programa em outros termos, mexendo nas despesas financeiras e no caráter regressivo do sistema tributário, tentando torná-lo mais equânime, melhorar a capacidade de arrecadação do Estado e, com isso, ampliar serviços públicos”, disse.

De acordo com o governador maranhense, o investimento do Estado é importante, inclusive, para incentivar os agentes privados a investirem . “Porque o setor privado só se anima quando tem um Estado forte puxando”, sublinhou. 


 Do Portal Vermelho

Ministra do TST, Delaíde Miranda vê cenário de ataque aos direitos


  
A Constituição Brasileira fez aniversário no dia 5 de outubro. Uma jovem lei de 28 anos, comparada aos 75 anos da Justiça do Trabalho completados no dia 1º de maio deste ano.

Na opinião da Ministra Delaíde, o momento é de valorizar a Justiça do Trabalho, o que significa defender a legislação para atuar dentro dos objetivos que a criaram: a proteção ao trabalho.
 
Ela lembrou que a Justiça do Trabalho sempre foi combatida pelos segmentos econômicos, que, segundo a magistrada, são os mesmos que defendem a desregulamentação da legislação trabalhista, questionada na atual conjuntura. 

“São recorrentes os ataques ao Direito do Trabalho e à Justiça do Trabalho e é exatamente o que acontece nesse momento com ataques também à democracia, ao Estado do Bem Estar Social e à proteção do Direito do Trabalho aos direitos sociais, previdenciários e trabalhistas”, declarou Delaíde.

Reforma Trabalhista

A terceirização para atividade meio e fim e a prevalência da negociação coletiva sobre as garantias previstas na Consolidação das Leis do Trabalho também foram tratadas pela Ministra. Ambos os temas devem fazer parte da reforma trabalhista que promete ser apresentada pelo governo Temer no próximo ano. Na opinião da Ministra são projetos “precarizantes”.
 
Sobre a terceirização, 19 ministros, de um total de 27 que compõem o TST, assinaram nota técnica apontando os prejuízos da aprovação deste projeto. Delaíde foi uma das signatárias. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) são 55 os projetos que ameaçam os direitos dos trabalhadores. 

Defesa dos direitos

“É importante que os setores organizados do mundo do trabalho, os trabalhadores, por intermédio de entidades representativas, sindicais e associativas, estejam alertas nesse momento. Os ataques não são apenas aos partidos e aos políticos atuantes na defesa da sociedade, dos trabalhadores, mas aos direitos e às formas de proteção”, disse.
 
Além dos projetos que tramitam no Congresso, a CLT tem sido alvo de campanhas que afirmam ser a legislação um entrave ao desenvolvimento do país. “Fosse verdadeira a afirmação repetida de que a CLT é negativa para o desenvolvimento econômico e a geração de emprego, existiria no País grande número de trabalhadores com elevadas condições de vida e condições financeiras bem melhores. A mobilidade social e econômica da classe trabalhadora é cada dia mais difícil”, exemplificou a Ministra.

Desregulamentação

Em decisão recente o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, decidiu em favor de uma usina pernambucana que, no acordo coletivo, substituiu o pagamento das horas extras por outros benefícios.
 
No parecer, o Ministro relatou que “não se constata (...) que o acordo coletivo em questão tenha extrapolado os limites da razoabilidade, uma vez que, embora tenha limitado direito legalmente previsto, concedeu outras vantagens em seu lugar, por meio de manifestação de vontade válida da entidade sindical”.

Segundo Delaíde “a decisão do TST foi para que os precedentes do STF não se apliquem ao caso concreto. O recurso analisado discutiu um acordo coletivo de trabalho que dava às horas de deslocamento para o trabalho (in itinere) natureza indenizatória e não remuneratória. A decisão da maioria dos ministros do TST foi no sentido de que a natureza salarial das chamadas horas ‘in itinere’, ou horas de deslocamento, não pode ser afastada por meio de acordo coletivo de trabalho”.
 
Na opinião da Ministra, a desregulamentação e a precarização da proteção ao trabalho está associada à “ampliação da negociação coletiva para suplantar as garantias da Constituição Federal e da Consolidação das Leis do Trabalho”. 

“A proteção ao trabalho e à dignidade da pessoa humana foi constitucionalizada na Carta Magna de 1988 e é um dos pilares bases da nossa legislação e por essa razão, o setor econômico almeja e defende tanto a aprovação de uma norma de prevalência do negociado sobre o legislado”, enfatizou Delaíde.

Confira abaixo a entrevista completa com a Ministra do TST, Delaíde Miranda Arantes. As respostas foram enviadas por e-mail no dia 4 de outubro:

Portal Vermelho: Nesse ano, em que se comemora 75 anos da Justiça do Trabalho, como a ministra avalia o atual cenário em que direitos históricos incluídos na CLT são questionados pelo patronato?
 
Ministra Delaíde Arantes: Esse é um momento de reflexão, de ação e de valorização da Justiça do Trabalho, em que é importante ressaltar os dois eventos mais importantes para o mundo do trabalho, no Brasil ocorridos nos anos 40: a criação da Justiça do Trabalho, em 9 de setembro de 1941 e a promulgação da CLT, a Consolidação das Leis do Trabalho, em 1.º de maio de 1943, e em comemoração aos 75 anos da Justiça do Trabalho lembrar as palavras de Getúlio Vargas definindo em seu brilhante pronunciamento, o seu objetivo primordial: "A Justiça do Trabalho, que declaro instalada neste histórico primeiro de maio, tem essa missão. Cumpre-lhe defender de todos os perigos nossa modelar legislação social-trabalhista, aprimorá-la pela jurisprudência coerente e pela retidão e firmeza das sentenças".
 
E com esta missão, a Justiça do Trabalho é duramente criticada desde o início por setores do segmento econômico. São recorrentes os ataques ao Direito do Trabalho e à Justiça do Trabalho e é exatamente o que acontece nesse momento com ataques também à democracia, ao Estado do Bem Estar Social e à proteção do Direito do Trabalho aos direitos sociais, previdenciários e trabalhistas.
 
A regulamentação que veio com a CLT em 1943, bem como a aplicação desses direitos por meio dos julgamentos da Justiça do Trabalho, a mais eficiente entre as demais da organização judiciária brasileira, incomoda parte da classe econômica e é considerada obstáculo à livre obtenção de lucros almejada por setores do sistema capitalista brasileiro.
 
No atual cenário político ganha força a reforma trabalhista do governo Temer, que é contestada pelos representantes dos trabalhadores, em um momento de recessão, essa iniciativa não seria equivocada nos moldes em que se apresenta, quando sinaliza o negociado sobre o legislado, por exemplo? 
 
A reforma trabalhista está sendo alvo das mais acirradas discussões. E mais grave ainda, reforma para retirar e precarizar direitos dos trabalhadores, como é o caso do projeto de lei da terceirização ampla para atividade-meio e atividade-fim empresarial e o projeto da prevalência do negociado sobre o legislado. O primeiro em tramitação há mais de 15 anos e ainda não aprovado graças à resistência de setores atuantes do mundo do trabalho como o Fórum contra a Terceirização, Entidades Sindicais representativas, partidos políticos e parlamentares progressistas, ministros do TST, entidades associativas como a Anamatra, dentre outras que poderiam aqui ser mencionadas, não fosse a limitação de espaço desta entrevista.
 
Refiro-me aos ministros do Tribunal Superior do Trabalho porque durante o curso do Projeto da Terceirização na Câmara, dezenove ministros assinaram nota técnica fundamentada sobre as consequências nocivas à aprovação ampla do projeto e no corrente ano, vinte ministros do TST assinaram manifesto em defesa do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho. As razões e os fundamentos de ambos os documentos constam detalhadamente em seus textos, disponíveis na internet.
 
E vale lembrar que respondo a essa indagação feita especificamente sobre o projeto do negociado sobre o legislado, mas existem em tramitação hoje no Congresso Nacional mais de quarenta projetos, todos precarizantes com propostas de exclusão de direitos dos trabalhadores; prejudicais à erradicação do trabalho infantil; contra a erradicação do trabalho análogo ao de escravo; de flexibilização e desregulamentação de direitos trabalhistas, sociais e previdenciárias. É importante que os setores organizados do mundo do trabalho, os trabalhadores, por intermédio de entidades representativas, sindicais e associativas, estejam alertas nesse momento. Os ataques não são apenas aos partidos e aos políticos atuantes na defesa da sociedade, dos trabalhadores, mas aos direitos e às formas de proteção.
 
Há um senso comum de que a justiça do trabalho é sempre pró-trabalhador. Como a senhora vê isso e como avalia a movimentação atual de passar uma imagem de que a CLT é algo negativo para o desenvolvimento do país?
 
A afirmação de que a Justiça do Trabalho é pró-trabalhador é repetida com frequência pelo mesmo segmento defensor da desregulamentação da legislação protetiva dos direitos sociais. A razão de ser do Direito do Trabalho é a proteção ao trabalhador como parte mais frágil da relação empregado-empregador. A Justiça do Trabalho aplica o Direito do Trabalho, instrumentalizando-o e, por isso, é vista como protetora do trabalhador.
 
O Direito do Trabalho por sua natureza e função não trata os sujeitos da relação como iguais e capazes de se relacionarem nas mesmas condições como os contratantes no Direito Civil, mas reconhece a situação contratual de inferioridade do trabalhador, razão pela qual assume o caráter protetivo a favor de quem as normas devem ser interpretadas com a finalidade de reduzir através da desigualdade jurídica, a desigualdade real existente. É de sua essência a noção clássica de justiça, segundo a qual deve tratar desigualmente os desiguais.
 
A CLT como algo negativo para o desenvolvimento do País é afirmado, em regra, pelo mesmo segmento da sociedade. Não é possível conceber os direitos trabalhistas, sociais e previdenciários como óbice ao crescimento da economia brasileira.
 
Os direitos assegurados na CLT e constitucionalizados através da Constituição de 1988 são direitos mínimos pela contraprestação de trabalho, resumindo para exemplificar, em salário mínimo, férias com abono de um terço, décimo terceiro salário, vale-transporte e fundo de garantia do tempo de serviço.
 
O salário da maioria dos trabalhadores está aquém das necessidades básicas de sobrevivência sua e sua família, embora a Constituição assegure remuneração condizente com essas necessidades. O que os estudos e as estatísticas demonstram é que existe no meio da grande massa trabalhadora assalariada brasileira um alto débito de moradias, construção de moradias populares em bairros longínquos dos centros das cidades, grande evasão escolar por falta de condições de continuar os estudos, desespero e registro de ocorrência de suicídios entre trabalhadores desempregados.
 
Fosse verdadeira a afirmação repetida de que a CLT é negativa para o desenvolvimento econômico e a geração de emprego, existiria no País grande número de trabalhadores com elevadas condições de vida e condições financeiras bem melhores. A mobilidade social e econômica da classe trabalhadora é cada dia mais difícil.
 
Ao contrário, os dados indicam os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e em condições mais precárias a cada dia com as dificuldades da economia, o desemprego, a redução dos postos de trabalho e a baixa remuneração.

É possível saber o quê exatamente na CLT atrapalha as empresas? 
 
Considero que a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, não atrapalha as empresas. É preciso registrar que existe um grande número de empresas cumpridoras de seus deveres, excelentes empregadores e que as pequenas empresas respondem por um alto índice de oferta de empregos no Brasil.
 
As afirmações de que a CLT atrapalha as empresas se originam do mesmo segmento que tem a pretensão em ver desregulamentados não só os direitos trabalhistas, mas os direitos sociais, previdenciários e até as garantias do cidadão como consumidor.
 
Na visão desse segmento, o ideal é um mundo do trabalho sem regras, sem Direito do Trabalho, sem Justiça do Trabalho. O melhor mesmo seria o retorno ao completo liberalismo aonde o mercado dita todas as regras, sem regulamentação alguma por parte do Estado, ou seja, sem leis reguladoras.
 
O discurso da estabilidade jurídica que tem sido corrente na grande imprensa, assim como o da modernização, beneficia a quem?
 
Esse é um discurso muito divulgado na grande imprensa. A chamada segurança jurídica é invocada por diferentes segmentos como sinônimo de estabilidade jurídica. Da mesma forma o da modernização da legislação do trabalho. E deles beneficia principalmente a classe dominante e os setores mais conservadores da sociedade. Considero importante a uniformização da jurisprudência para que as partes tenham mais segurança no acesso ao Judiciário, mas não defendo a modernização que visa excluir ou precarizar direitos.
 
A estabilidade jurídica não pode ser vista como princípio destinado a produzir o engessamento na aplicação das normas jurídicas ou um sistema de definição de regras rígidas, formais, servindo para impedir a aplicação do direito ou da jurisprudência de forma automática. Essa forma assim tão rígida, de estabilidade jurídica, assumiria o papel do julgador concebido no sistema jurídico cedendo lugar a programas avançados de informática desenvolvidos especialmente para aplicação do Direito e da jurisprudência uniformizada.
 
Com base na sua experiência, como a senhora analisa o desrespeito à legislação trabalhista? Alguns dizem que é um bom negócio.
 
Considerando a minha experiência de trinta anos como Advogada Trabalhista e agora quase seis anos de Magistratura, posso assegurar que descumprir a legislação trabalhista não é uma boa alternativa.
 
Não cumprir o que determina a CLT, deixando de registrar o empregado ou permitindo o trabalho em regime de horas extras sem remuneração ou qualquer outro descumprimento pode resultar em passivo trabalhista que, ao final, poderá se tornar insuportável financeiramente ao empreendimento.
 
As empresas precisam compreender a importância da advocacia e da consultoria jurídica preventiva, visando a orientação sobre o cumprimento do que a lei determina em relação aos empregados que contrata. Esse seria um grande passo para o setor empresarial.
 
A Justiça do Trabalho sofreu cortes no orçamento, esses recursos foram repostos por outros meios? A que a senhora deve essa diminuição de verba?
 
O corte orçamentário é na verdade forma de ataque ao Direito do Trabalho e à Justiça do Trabalho. Não é um ato ou fato isolado como pode às vezes parecer. Nessa discussão vieram à tona inflamados discursos contra os trabalhadores, contra a representação sindical e de classe, em desfavor do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho, alguns dos quais demonstrando ódio e intolerância à natureza protetiva e social do Direito do Trabalho. Sou contrária ao ato de corte orçamentário da forma e pelas razões em que foi implementado. Se forem demonstradas realmente razões para a redução de gastos que não seja direcionado ao judiciário, como mecanismo de intimidação por atuação eficiente, mas que seja objeto de diálogo com cada setor ao qual se propõe a redução de gastos, sem imposição e sem o objetivo de inibir atuação.
 
O que a senhora pode comentar sobre o debate em torno de temas apreciados pelo Supremo,  que reformou decisão do TST e fez prevalecer o acordado em convenções coletivas em detrimento do que é assegurado pela CLT? 
 
Trata-se de decisão monocrática do Ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, em que ao ser proferida já havia sido publicada pauta de Sessão do Pleno, do Tribunal Superior do Trabalho, processo com o tema horas de percurso “in itinere”, mas não se tratava de hipótese idêntica àquela da decisão do Ministro do STF, conforme pode se aferir da decisão do Pleno do TST, amplamente divulgada pela imprensa.
 
No TST o relator do processo foi o Ministro Augusto Cézar de Carvalho. A decisão do TST foi para que os precedentes do STF não se apliquem ao caso concreto. O recurso analisado discutiu um acordo coletivo de trabalho que dava às horas de deslocamento para o trabalho (in itinere) natureza indenizatória e não remuneratória.
 
A decisão da maioria dos ministros do TST foi no sentido de que a natureza salarial das chamadas horas ‘in itinere’, ou horas de deslocamento, não pode ser afastada por meio de acordo coletivo de trabalho.
 
Para o Ministro José Roberto Freire Pimenta, em sua justificativa de voto acompanhando o relator do processo “Esse princípio da prevalência do negociado sobre o legislado talvez pode ser alcançado pela via legislativa. O presidente FHC tentou e não teve sucesso. Se há instância que deve se debruçar é o Poder Legislativo. Nós, magistrados, não fomos eleitos. Não temos legitimidade para consagrar pela via judicial algo que deve ser consagrado pela via legislativa e assumirem a responsabilidade histórica dessa iniciativa”.
 
A prevalência do negociado sobre o legislado é um tema bem atual, pois tramita na Câmara Federal projeto de lei que repete as mesmas tentativas dos anos 90, com grande expectativa do setor empresarial quanto à sua aprovação.
 
A ampliação da negociação coletiva para suplantar as garantias da Constituição Federal e da Consolidação das Leis do Trabalho é a forma mais ‘eficaz’ de desregulamentação e de precarização da proteção ao trabalho que é natureza e função do Direito do Trabalho. 
A proteção ao trabalho e à dignidade da pessoa humana foi constitucionalizada na Carta Magna de 1988 e é um dos pilares bases da nossa legislação e por essa razão, o setor econômico almeja e defende tanto a aprovação de uma norma de prevalência do negociado sobre o legislado.
 
Do Portal Vermelho

Nem terremoto, nem furacão, o Haiti é punido por sua revolução negra


Divulgação
Toussaint L'Ouverture, líder da revolução haitianaToussaint L'Ouverture, líder da revolução haitiana
Leia o artigo de Haroldo Ceravolo Sereza na íntegra: 
Um dia depois do terremoto que destruiu a já precária infraestrutura do Haiti e causou milhares de mortes, o pastor evangélico Pat Robertson afirmou que o fenômeno está ligado ao fato de o país da América Central ter sido “amaldiçoado” por ter feito um “pacto com o Diabo”.

“Houve uma coisa que aconteceu no Haiti muito tempo atrás, e as pessoas não querem falar sobre isso”, disse ele ontem em um programa da Christian Broadcasting Network’s (rede de teve comandada por Robertson). “Eles estavam sob o domínio francês. Você sabe, Napoleão 3º, ou o que for. Então eles se juntaram e selaram um pacto com o Diabo. Disseram: ‘Vamos servi-lo se você nos tornar livres dos franceses. É uma história verdadeira. Então, o Diabo disse: ok, negócio fechado.”

Robertson é um extremista conservador norte-americano, e sua fala provocou uma onda de protestos nos Estados Unidos. Ele tentou ser candidato a presidente do país, em 1988, mas foi derrotado nas prévias do Partido Republicano. Entre suas previsões não realizadas, está a de que em 1982 o mundo acabaria e que um tsunami atingiria a Costa Leste dos EUA.

“Esta não é uma atitude que expressa o espírito do presidente ou do povo americano, portanto eu acredito que é um comentário bastante estranho de ser feito”, disse hoje Valeria Jarrett, conselheira de Barack Obama, quando pediram que ela tratasse do assunto. Jarrett declarou-se sem ter o que dizer diante da afirmação.

Um comunicado oficial de um porta-voz Robertson tentou suavizar suas afirmações, afirmando que o pastor não quis dizer que a responsabilidade era dos haitianos, mas que ele estava apenas repetindo a lenda contada por “incontáveis estudiosos e figuras religiosas”, que por séculos acreditam que o país está amaldiçoado.

Tratando não só da fala do pastor, mas também de um artigo do New York Times que também usou a palavra “amaldiçoado” para referir-se à situação do país, dessa vez como figura de linguagem, a jornalista Farai Chideya escreveu um artigo que revela a origem da ideia e trata também que problemas históricos que, para ela, explicam muito melhor a fragilidade das instituições e das construções do Haiti.

“A palavra ‘amaldiçoado’ vem de uma imagem racializada do vodu (o fato de que o vodu é de fato uma religião e não apenas uma zombaria é outra batalha que eu não posso enfrentar aqui) que pessoas com péssimas intenções estão ansiosas por explorar”, disse ela.

Robertson comparou o Haiti à Republica Dominicana, país que “divide” o território da ilha em que está o Haiti. “A República Dominicana é próspera, rica, cheia de recurso etc. O Haiti é extremamente pobre, na mesma ilha. Eles têm de orar e nós precisamos orar por eles por uma grande virada para Deus a partir desta tragédia. Eu estou otimista de que algo bom virá.” Robertson disse ainda que no momento está ajudando as pessoas que estão sofrendo de forma “inimaginável”.

O embaixador do Haiti nos Estados Unidos criticou Robertson e defendeu que o processo de libertação do Haiti deu início à onda independentista de toda a América – o que possibilitou inclusive, a expansão territorial dos Estados Unidos.

Para a jornalista Chideya, no entanto, talvez fosse melhor o Haiti ter feito um pacto com o Diabo do que com a França. “Depois de ser derrotado militarmente pelo revolucionário Toussaint L’Ouverture, o poder colonial francês exigiu do Haiti uma reparação”, escreve ela, equivalente nos dias de hoje a aproximadamente US$ 20 bilhões. “O efeito cascata deste acordo não pode ser subestimado” – a dívida da “independência” foi quitada apenas em 1947.

A história do Haiti, São Domingos até a independência, em 1804, está ligada à história da Revolução Francesa e à luta pelo fim da escravidão nas Américas. Ela tem início em 1791, quando a notícia de que a escravidão havia sido abolida pelos revolucionários franceses chega à ilha. Toussaint ascenderia à liderança dos revoltosos a partir de 1794.

É uma história rica em detalhes, o que pode levar a alguns tropeços informativos que, no geral, não mudam a essência – uma luta pelo fim da escravidão e da dominação europeia empreendida por negros e mestiços.

O negro Toussaint L’Ouverture, filho de um chefe tribal africano, por exemplo, é uma das figuras mais importantes da história de libertação do Haiti, mas a derrota final das dezenas de milhares de soldados das tropas francesas de Napoleão 1º, o Bonaparte, foi concretizada por homens que haviam estado sob seu comando – ele, sem romper definitivamente com a França, morreu na prisão na metrópole no começo do século 19 – e não em meados, quando Luís Bonaparte, o 3º, referido por Robertson, subiu ao poder (1848).

Foi uma guerra racial sangrenta, com execuções de brancos e de negros, e grandes queimadas que destruíram o país. Ao final dela, a escravidão permaneceu abolida (contra os planos de Napoleão) e o Haiti deixou de ser uma colônia francesa. Uma consequência disto foi o fortalecimento das tradições econômicas (como a agricultura de subsistência) e religiosas de origem africana – praticadas pelos líderes da revolta, uma mitologia que parece ter influenciado diretamente a avaliação do pastor evangélico Pat Robertson.

No texto “O épico e o trágico na história do Haiti” (2004), uma resenha do clássicoOs Jacobinos Negros (Boitempo), de C.L.R. James, o historiador brasileiro Jacob Gorender procura discutir por que o Haiti, que no início do século 19 era a colônia mais produtiva das Américas e a primeira a conquistar a Independência nacional, não teve “uma trajetória progressista, mas, ao contrário, se tornasse o país mais pobre do continente, talvez um dos mais pobres do mundo?”

Para Gorender, a ousadia dos cerca de meio milhão de negros e mestiços do país foi punida por uma espécie de “quarentena” após a independência, que o país sofreu mesmo das nações latino-americanas recém-emancipadas.

“Quando exilado, Simon Bolivar encontrou abrigo no Haiti”, onde recebeu proteção, ajuda financeira, armas e até uma prensa tipográfica, escreveu Gorender. “No entanto, Simon Bolivar excluiu o Haiti dos países latino-americanos convidados à Conferência do Panamá, em 1826. O isolamento internacional acentuou o atraso e agravou as dificuldades históricas, após uma das mais heroicas lutas emancipadoras do hemisfério ocidental.”

Do ponto de vista político, para Gorender, “Toussaint não conseguiu perceber que, da Convenção de 1789 ao consulado bonapartista, a Revolução Francesa infletiu para a direita, mudando as características do regime político no país, como também afastando-se da posição inicial com relação à escravidão nas colônias.”

Quando os escravos viram-se definitivamente livres do trabalho compulsório nas plantações de cana e nos engenhos de açúcar, o Haiti saiu do mercado mundial do açúcar. “De colônia mais produtiva das Américas passou a país independente pauperizado e fora de um intercâmbio favorável na economia internacional”, avalia Gorender.
 

Fonte: Opera Mundi via Vermelho

Drauzio Varella: "Não tem sentido reduzir os recursos da saúde"


  

 Fonte: Conselho Nacional de Saúde via Vermelho

O filme Aquarius desnuda o capital que destrói o mundo e a vida para ter lucro

Humberto Carrão, Sonia Braga e Kleber Mendonça Filho, equipe de Aquarius é afinada
Apesar do retrocesso político no país, com o golpe jurídico-parlamentar que trouxe de volta o fantasma do Fundo Monetário Internacional, e todo o caos que isso representa para a classe trabalhadora, o cinema nacional tem uma safra de obras ímpares.
Aquarius, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, já nasce clássico. Causou polêmica desde o protesto promovido pelo elenco do filme no Festival de Cannes, na França, em maio. Por causa disso, a equipe foi alvo de uma denúncia vazia por um crítico.
Também se estabeleceu a idade de 18 anos como mínima para assisti-lo. E para coroar a perseguição golpista, a obra foi preterida pelo Ministério da Cultura na seleção do candidato brasileiro para o Oscar 2017. Com muita delicadeza, Mendonça mostra na telona as transformações que o Brasil sofreu nas últimas décadas.
Com um roteiro sólido, intrincado com uma trilha sonora perfeita, a obra encena a trajetória de Clara (Barbara Colen, no começo e Sonia Braga), uma mulher de fibra, como é forte a mulher brasileira. Através da vida de Clara, a trama desenrola as mudanças do país.
A película se fia totalmente à canção tema Hoje, de Taiguara (1945-1996). Como na música, a questão do tempo é forte do começo ao fim da obra. A plateia se emociona com os versos: “(...) Hoje/Homens sem medo aportam no futuro/Eu tenho medo acordo e te procuro/Meu quarto escuro é inerte como a morte (...)”.
Um filme para a recuperar os tempos da delicadeza sem retroceder, caminhando sim com os olhos no futuro e resistir às opressões no presente. Por isso, “Eu não queria a juventude assim perdida/Eu não queria andar morrendo pela vida/Eu não queria amar assim como eu te amei” (Hoje).
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A vida entre o velho que insiste em ficar e o novo lutando para brotar permeia toda a obra. Quando o herdeiro de uma construtora de Recife, Diego Bonfim (Humberto Carrão) manda introduzir um cupinzeiro no prédio onde Clara morava e se recusava a vender seu apartamento.
Uma certa atualização da famosa frase do escritor paulista Mário de Andrade (1893/1945), no livro Macunaíma (1928) “muita saúva e pouca saúde os males do Brasil são”. Com os cupins representando a voracidade do capital sobre a classe trabalhadora, o meio ambiente, a vida.
Mendonça Filho nos leva a uma viagem incrível de sonhos, magia e cultura. Onde se vê claramente as nuances da luta de classes num país único como é o Brasil. Na resistência fica a esperança no futuro.
“Hoje/Homens sem medo aportam no futuro/Eu tenho medo acordo e te procuro/Meu quarto escuro é inerte como a morte”, como diz Taiguara na canção tema do filme. Em cartaz.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy
Assista trailer de Aquarius