sexta-feira, 29 de julho de 2016

Altamiro Borges: Estadão odeia a democracia e o voto popular


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A famiglia Mesquita chegou a estocar armas no forro da redação do diário para derrubar Getúlio Vargas; ela foi uma das protagonistas do golpe de 1964, escrevendo o primeiro esboço das medidas de exceção da ditadura militar; ela nunca tolerou qualquer avanço social, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ou a construção de uma nação soberana, devido ao seu complexo de vira-lata diante dos EUA.

Neste sentido, para quem conhece a sua história, não causou surpresa o editorial publicado nesta terça-feira (26), intitulado “A maioria também se equivoca”.

No antológico editorial, que poderá ilustrar futuras reedições da obra do saudoso Mylton Severiano, a famiglia Mesquita faz uma desesperada defesa do “golpe dos corruptos” que conduziu o Judas Michel Temer ao Palácio do Planalto. Diante das recentes pesquisas que atestam o forte desgaste dos golpistas e reforçam a tese da realização de novas eleições presidenciais no país, o Estadão decreta simplesmente que o voto da sociedade não importa. Na prática, excluindo-se o malabarismo retórico, o editorial se contrapõe ao princípio de que “a manifestação direta da vontade dos indivíduos seja o caminho democrático para a tomada de decisões relevantes como a escolha de governantes”.

O medo-pânico da famiglia Mesquita é que uma consulta popular resulte em nova vitória das forças progressistas. “A defesa de eleições presidenciais diretas antecipadas pode servir ao lulopetismo”, confessa o Estadão. Para o jornal, esta proposta revela o “sentimento de vingança, o ‘Fora Temer’”, e engana “pessoas de boa-fé, porém desinformadas”, que estão descontentes com o covil golpista. Para se contrapor à ideia, o Estadão explora inúmeros argumentos “jurídicos” – que ele mesmo não usou ao pregar o impeachment sem crime de responsabilidade contra a presidenta eleita democraticamente pela maioria dos brasileiros. Toda a argumentação é obrada para justificar a sua conclusão principal:

“O mais sensato, portanto, é a solução constitucional já em curso: o governo provisório de Michel Temer em breve transformado em governo de pleno direito. A competente equipe econômica sob o comando do ministro Henrique Meirelles já está dando mostras de que pode levar a bom termo a missão de recolocar a economia nos trilhos, a partir do saneamento das contas públicas. Na área política, a habilidade e o bom senso do presidente em exercício já lograram pacificar as relações entre o Executivo e o Legislativo, a partir da eleição do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). É apenas o começo de uma jornada que poderá chegar a bom destino se os brasileiros se desvencilharem das paixões políticas e permanecerem pacientes, mas atentos e mobilizados, no papel de cobrar competência e patriotismo dos governantes”.

Fica a pergunta marota: quanto será que a decadente famiglia Mesquita, “nascida para perder” inclusive na gestão de seus negócios empresariais, está cobrando para obrar um editorial tão chapa-branca? Afinal, tudo indica que o empenho dos barões da mídia na promoção do “golpe dos corruptos” não se deu apenas por motivos políticos ou ideológicos. Há também inconfessáveis e mesquinhos interesses comerciais, econômicos. Será que já rolou alguma negociata sobre publicidade oficial e outras benesses junto à equipe de comunicação do Judas Michel Temer?

Em tempo: Talvez fosse o caso da famiglia Mesquita ler o artigo publicado nesta semana, de autoria da jornalista Eleonora de Lucena, no jornal rival Folha de S.Paulo. O corajoso texto, que poderia ser endereçado diretamente à também golpista famiglia Frias, mostra que o futuro dos que sabotaram a democracia no Brasil não será nada fácil. Haja escracho!

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Escracho

Por Eleonora de Lucena - 26/07/2016

A elite brasileira está dando um tiro no pé. Embarca na canoa do retrocesso social, dá as mãos a grupos fossilizados de oligarquias regionais, submete-se a interesses externos, abandona qualquer esboço de projeto para o país.

Não é a primeira vez. No século 19, ficou atolada na escravidão, adiando avanços. No século 20, tentou uma contrarrevolução, em 1932, para deter Getúlio Vargas. Derrotada, percebeu mais tarde que havia ganho com as políticas nacionais que impulsionaram a industrialização.

Mesmo assim, articulou golpes. Embalada pela Guerra Fria, aliou-se a estrangeiros, parcelas de militares e a uma classe média mergulhada no obscurantismo. Curtiu o desenvolvimentismo dos militares. Depois, quando o modelo ruiu, entendeu que democracia e inclusão social geram lucros.

Em vários momentos, conseguiu vislumbrar as vantagens de atuar num país com dinamismo e mercado interno vigoroso. Roberto Simonsen foi o expoente de uma era em que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) não se apequenava.

Os últimos anos de crescimento e ascensão social mostraram ser possível ganhar quando os pobres entram em cena e o país flerta com o desenvolvimento. Foram tempos de grande rentabilidade. A política de juros altos, excrescência mundial, manteve as benesses do rentismo.

Quando, em 2012, foi feito um ensaio tímido para mexer nisso, houve gritaria. O grupo dos beneficiários da bolsa juros partiu para o ataque. O Planalto recuou e se rendeu à lógica do mercado financeiro.

Foi a senha para os defensores do neoliberalismo, aqui e lá fora, reorganizarem forças para preparar a reocupação do território. Encontraram a esquerda dividida, acomodada e na defensiva por causa dos escândalos. Apesar disso, a direita perdeu de novo no voto.

Conseguiu, todavia, atrair o centro, catalisando o medo que a recessão espalhou pela sociedade. Quando a maré virou, pelos erros do governo e pela persistência de oito anos da crise capitalista, os empresários pularam do barco governista, que os acolhera com subsídios, incentivos, desonerações. Os que poderiam ficar foram alvos da sanha curitibana. Acuada, nenhuma voz burguesa defendeu o governo.

O impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde, desmanche de conquistas trabalhistas, ataque a direitos.

O objetivo é elevar a extração de mais valia, esmagar os pobres, derrubar empresas nacionais, extinguir ideias de independência. Em suma, transferir riqueza da sociedade para poucos, numa regressão fulminante. Previdência, Petrobras, SUS, tudo é implodido com a conversa de que não há dinheiro. Para os juros, contudo, sempre há.

Com instituições esfarrapadas, o Brasil está à beira do abismo. O empresariado parece não perceber que a destruição do país é prejudicial a ele mesmo. Sem líderes, deixa-se levar pela miragem da lógica mundial financista e imediatista, que detesta a democracia.

Amargando uma derrota histórica, a esquerda precisa se reinventar, superar divisões, construir um projeto nacional e encontrar liderança à altura do momento.

A novidade vem da energia das ruas, das ocupações, dos gritos de "Fora, Temer!". Não vai ser um passeio a retirada de direitos e de perspectiva de futuro. Milhões saborearam um naco de vida melhor. Nem a "teologia da prosperidade" talvez segure o rojão. A velha luta de classes está escrachada nas esquinas.
 

Fonte: Vermelho

Gregório Duvivier: "Todos às ruas neste domingo contra o golpe "

  

Assista ao vídeo com a convocação de Gregório:

 

Vídeo: Publicado no Facebook via Vermelho

Advogado de Lula explica motivo da ação na ONU contra Lava Jato


  
Além disso, disse Geoffrey Robertson, no Brasil, "as pessoas são presas até que façam delação premiada, e obviamente, tais confissões e delações premiadas não são confiáveis, porque as pessoas podem dizer o que os promotores querem ouvir para sair da prisão, não porque é a verdade".

No documento, dirigido ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, a defesa do ex-presidente Lula afirma que ele não é contra uma investigação “justa e transparente”. Mas destaca que as apurações têm sido conduzidas com “clara falta de imparcialidade” e que uma tentativa de fazer sensacionalismo em torno do assunto.

Para Geoffrey Robertson, "estas questões são cruciais para o Brasil neste momento e serão levantadas por esta petição" que apresentaram nesta quinta-feira (29) no Comitê de Direitos Humanos.

Assista ao vídeo abaixo:


 

Do Portal Vermelho
Vídeo: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Escola tem que ter partido


Charge
"Tempos modernos" nas escolas"Tempos modernos" nas escolas
É de conhecimento de boa parte das pessoas que se encontram conectadas na internet a discussão sobre um projeto de lei, em trâmite no Congresso Nacional, que discorre sobre uma proposta dita educacional que visa a “desideologizar” os professores e a sala de aula. Com o nome inusitado de “Escola Sem Partido” (ESP), a ideia, em tese, é criar um ambiente no qual os estudantes não sofram “doutrinação” por parte dos mestres. Entretanto, por mais que essa proposta empunhe o desejo por neutralidade no ensino, é um engodo dizer que somos neutros e que existe a possibilidade de um “ensino neutro”.

Quando eu digo “partido” neste texto, não me refiro às entidades partidárias consolidadas como partidos políticos, como PT ou PSDB ou DEM ou Psol. Tomar partido é posicionar-se, é utilizar-se de uma lente, de um ponto de vista, para observar uma situação, um dado, um fato. Isso é uma coisa muito evidente quando falamos, por exemplo, de Jornalismo. O mesmo fato pode ser noticiado de maneiras diferentes, dependendo de onde você parte para compreender esse fato.

Que partido toma uma escola Waldorf ou um educandário logosófico? Que partido toma uma instituição como o Colégio Militar ou o Cefet? Que partido toma uma escola jesuíta ou agostiniana? Que partido toma uma escola pública? Não existe – e nunca existirá – uma escola sem partido. Uma escola completamente isenta e neutra, que vise somente à formação formal dos educandos. Porque não podemos acreditar que nossa vivência, nossa proposta de mundo, seja neutra. A todo o momento, investimos em lentes e perspectivas para lidarmos com diversas questões, e isso não é diferente na escola. Uma instituição que foca na questão da história do ponto de vista europeu e enxerga a África como uma terra de bestializados há muito já tomou um partido, que é entender a sociedade a partir da perspectiva dos povos colonizadores. É uma lente, é uma maneira de ver; se é a certa ou se é a errada podemos discutir isso posteriormente.

A ESP fala de que a escola deveria ser um local sem ideologização, mas no terceiro ano do Ensino Médio (isso em 2004, quando essa proposta começou a ser aventada) eu tive um professor de biologia que afirmou categoricamente, com argumentos biológicos, que não existia racismo (de maneira geral) porque não poderíamos dizer que o ser humano é dividido em raças (como os cães são): não apresentamos diferenças biológicas significativas para sermos enquadrados em raças. Isso não seria tomar partido? Isso per si não seria uma ideologia? Temos que pensar que “ideologia” só existe na “esquerda”, nos grupos “progressistas”? Não haveria ideologia também nos grupos de direita e conservadores? Aliás, desejar que a escola não promova “ideologias” já não seria uma ideologia?

Podemos inclusive pensar que tal ESP é uma proposta de consolidação de um sentimento de castas numa sociedade de classes. Falar de sentimento de casta não é absurdo em face à proposta de uma escola acrítica, “sem partido”, cuja proposta ideológica é nada menos que a reprodução do status quo, sem qualquer questionamento. Oras, quando se está numa sociedade de castas não se questiona porque estamos numa sociedade de castas. O sentimento de casta é forte em tal projeto, que legitima (ainda que de maneira subliminar) o que está posto, o que está dado.

O que podemos aferir acerca dessa história de Escola Sem Partido é que tal movimento deseja uma escola completamente acrítica e alheia às realidades sociais colocadas. A escola, como ente estatal ou da sociedade civil (no caso, respectivamente, de escolas públicas e particulares), é um dos espaços no qual se dá a formação da pessoa enquanto ser humano. Só nos lembrarmos do artigo 227 da constituição que diz que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”; ou seja, não é possível utilizar o argumento de que a família é que detém todo o processo de formação educacional do jovem.

Para voltar ao título do texto, sim, escola tem que ter partido. Não é o partido no sentido da politicagem obscura e nefasta, mas partido no sentido da discussão política, da promoção da cidadania e do entendimento de que nossa sociedade é complexa e que precisamos contemplar no nosso ensino básico para além da raiz quadrada da derivada do cateto da hipotenusa elevada ao logaritmo da fórmula de Báskara dividido em áreas iguais.

O partido da escola é o partido da formação educacional e integral, da formação cidadã, do entendimento da diversidade e da diferença, do enfrentamento às violências e opressões, da inclusão de grupos periféricos e marginais, da percepção que o mundo não é a minha bolha. Que a escola seja o nosso partido, independentemente da nossa filiação partidária.


*Bruno Vieira é jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestrando em psicologia social também por essa universidade. É educador e integra o núcleo de ensino, pesquisa e extensão Conexões de Saberes UFMG.
Fonte: vermelho

Lula lança site para para reforçar a luta pela democracia


  

Do Portal Vermelho

Dilma à Revista Time: Tenho a convicção de que vou vencer


Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma em entrevista revista TIMEDilma em entrevista revista TIME
Ela foi entrevistada em Brasília pelo jornalista Matt Sandy. Confira a entrevista:

Como está a luta contra o impedimento?

Eu estou sendo julgada por um não-crime. O que está acontecendo no Brasil não é um golpe militar, mas um golpe parlamentar. É um golpe de um processo que está afetando as instituições, erodindo a partir de dentro, contaminando tudo. Então eu acredito que esta luta requer uma arma. Nós vivemos numa democracia e respeitamos a democracia. A arma nesta luta é o debate, a explanação e o diálogo.

Você precisa de 27 votos no Senado para evitar o impedimento. Você conseguirá?

Eu tenho lutado por isso... e tenho a convicção de que posso vencer.

Qual é seu plano caso retorne ao poder?

É essencial que façamos uma reforma do sistema político... Nós precisamos de um plebiscito para que o presidente eleito, que tomará posse em janeiro de 2019, possa conduzir o país de uma forma melhor... ao mesmo tempo, nós temos um desafio maior: o Brasil precisa voltar a crescer. E precisa crescer novamente de uma forma que não vá contra os interesses de milhares de brasileiros que deixaram a pobreza e que entraram na classe média.

Você acredita que o impedimento foi sexista?

Na verdade foi misoginista. O fato de que uma mulher se tornou presidente da República dá vazão a pensamentos sobre as mulheres muito comuns, muito estereotipados. Consideram por um lado as mulheres histéricas. Se não são histéricas, são frias, calculistas e crueis. Eu fui pintada como uma mulher fria, dura e cruel, por um lado. E em outros momentos fui pintada como uma pessoa histérica.

E você continuará a lutar?

Seguramente sim. Minha vida inteira foi uma experiência de aprendizado, aprendizado de que não há outro caminho para viver sem luta, em todas as circunstâncias. Eu aprendi a lutar desde cedo, eu combati e sofri a dor da tortura. Eu também acho que com a ajuda da medicina moderna, nós podemos lutar contra o câncer. E eu lutarei contra o impedimento de forma sistemática.

O que você acha sobre as preocupações com a segurança durante os Jogos Olímpicos?

Existe uma grande estrutura de segurança no Brasil dedicada aos Jogos Olímpicos. E essa estrutura para os Jogos não foi construída ontem, ou anteontem. Foi montada em cima de vários testes. Um deles foi a Copa do Mundo de Futebol de 2014, e ficou provado que não houve o menor problema de segurança.

E sobre a ameaça do vírus Zica?

O Brasil está passando por uma época, em termos de temperatura, que é muito atípica. Isso significa que teremos muito menos mosquitos hospedeiros do vírus Zica. E também, eu gostaria de dizer, que fizemos uma enorme campanha pública... você pode estar tranquilo de que não haverá um risco à saúde pública a partir do mosquito hospedeiro do vírus Zica.

Foi um erro realizar os Jogos Olímpicos dois anos depois da Copa do Mundo?

Não vejo isso como um erro. Porque, de uma forma, estamos ganhando bastante na economia com isso. Quando você prepara o país para uma Copa do Mundo que envolve 12 sedes, você cria uma infraestrutura... todo o equipamento de segurança e toda a tecnologia envolvida na área de telecomunicações do evento para o mundo inteiro, o centro de mídia. Nós aprendemos com isso. E, vou te dizer, eu acho que foi muito mais fácil organizar os Jogos Olímpicos já tendo realizado pouco antes a Copa do Mundo.

Há alguns anos, antes das Olimpíadas serem marcadas para o Rio de janeiro, muitas pessoas afirmavam que o Brasil tinha um papel muito mais proeminente no mundo. Agora o Brasil está falando para si próprio. Você acha que o Brasil pode e deve voltar a ter um papel importante no mundo?

Eu acho que o Brasil tem todas as condições de realizar um papel maior... todos os países do mundo atravessaram crises, bem antes de nós. Os Estados Unidos tiveram uma crise severa entre 2007 e 2010. A União Europeia correu o risco de perder sua moeda, também mergulhada em uma grave crise. A crise atingiu agora os mercados emergentes... Mas não foram os países emergentes que criaram a crise. Foi uma crise do sistema financeiro internacional, e como sabemos, foi a maior crise desde 1929.

Você tem responsabilidade pela crise econômica brasileira atual?

Nós tentamos desde 2009 ter uma política anticíclica que evitaria da crise da economia global atingir o Brasil. Nós tivemos sucesso em 2011, 2012, 2013 e 2014. Em 2015 a crise econômica foi acelerada, eu acredito, pela crise política desatada no país. A crise política colocou o país na recessão.

Qual é a importância da Operação Lava Jato para o futuro do Brasil?

O Brasil não tem o monopólio da corrupção. Em todos os países, inclusive os Estados Unidos, há uma luta sistemática contra a corrupção. Mas essa luta contra a corrupção não é feita somente a partir de uma investigação, a luta contra ela é feita pela melhoria do controle e da fiscalização sobre as instituições e pela melhoria da legislação.

Você comparecerá à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos?

Eu fui eleita com 54,5 milhões de votos... eles me convidaram para participar da abertura dos jogos a partir de uma posição secundária... eu não vou aceitar um papel que não corresponda ao meu status presidencial.

Você estará orgulhosa do Brasil quando os Jogos começarem?

Eu tenho e sempre terei orgulho do Brasil, porque eu acho que nós demonstraremos mais uma vez que somos capazes de vencer nas arenas, campos e pistas, assim como fora delas.


Fonte: Time
Tradução: Humberto Alencar (Portal Vermelho)

A dupla Temer e Serra quer entregar a Base de Alcântara aos EUA

A base de lançamento de foguetes de Alcântara (MA) tem sido um símbolo duplo em nosso país. 
 
Durante o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso foi o mais veemente signo da submissão às imposições do imperialismo norte-americano.
 
A resistência contra a tentativa de entrega da base aos EUA foi enorme e, logo no começo do governo Lula, em 2003, aquele simbolismo adquiriu significado inverso, e o acordo foi descartado por ser lesivo aos interesses do Brasil e à soberania nacional.
 
Mas a alma de “vira-latas” voltou a controlar a presidência da República e as relações externas do país que, com o governo do golpista Michel Temer, se submete novamente às ordens de Washington. 
 
A função que foi exercida brilhante e soberanamente pelo chanceler Celso Amorim agora é ocupada pelo interino José Serra que, em conluio com o impostor Temer, quer retomar a política abandonada desde 2003, para ceder a base de Alcântara para o uso de seus patrões norte-americanos.
 
A perspectiva é inaceitável! Com ela retornam todas as ameaças contra a soberania nacional e o desenvolvimento tecnológico e autônomo do Brasil. 
 
Em 2000 o governo antinacional de Fernando Henrique Cardoso havia se comprometido a entregar a base aos EUA, abrindo mão completamente da soberania nacional sobre ela e o território brasileiro em que está localizada. Comprometeu-se também a submeter à supervisão norte-americana o uso do dinheiro que o país receberia com o aluguel da base, que não poderia ser aplicado no desenvolvimento de projetos brasileiros de tecnologia. Até mesmo a circulação de brasileiros por aquele pedaço do território pátrio ficaria sujeita à aprovação dos ocupantes norte-americanos!
 
Na época a deputada federal comunista Socorro Gomes e Waldir Pires (PT-BA) se destacaram, na Câmara dos Deputados, na resistência e na denúncia daquele acordo lesivo à soberania brasileira.
 
É esse mesmo acordo que José Serra, o postiço dirigente da política externa brasileira, pretende retomar. É o mais forte e sensível sinal da subordinação deste governo impostor diante do imperialismo dos EUA. Servilismo que a consciência nacional repudia. E que é mais uma forte razão, concreta e simbólica, para os brasileiros lutarem para colocar um ponto final ao governo golpista e de traição nacional de Michel Temer.

Fonte: Vernelho

terça-feira, 26 de julho de 2016

Dilma: Querem impor um projeto de governo ultraconservador


Dilma Rousseff em AracajuDilma Rousseff em Aracaju
Ao citar os programas sociais que estão sendo barrados pelo governo Temer, como o Mais Médicos e o Pronatec, Dilma ressaltou sua preocupação com o retrocesso dos direitos fundamentais como da Educação e Saúde. "Eles querem acabar com a saúde pública e com o ensino público e gratuito, destacou.

Pauta ultraconservadora
[Os golpistas] “querem impedir que o povo brasileiro tenha acesso ao Sistema Único de Saúde”. “Eles falam que a saúde pública não cabe no orçamento, não cabe no orçamento que eles planejam, entregando os recursos para aqueles que são a parcela mais rica da população brasileira. 


Para Dilma, o objetivo é criar um plano de saúde pública pequena, privilegiando os planos privados de saúde. “Eles querem fazer um plano de saúde pequeno, mínimo, para os mais pobres”, denunciou.

Educação

“Estão tentando acabar com a universidade pública, estão tentando acabar com o ensino gratuito "e vários programas que nós fizemos. Em menos de dois meses estão sendo enterrados na calada da noite e na escuridão que eles impõem aos dias, como o Pronatec, citou Dilma.

A presidenta Dilma criticou o projeto Escola Sem Partido. “Para eles, a educação tem que ser amordaçada. Educação sem posicionamento, sem visão política, sem a crítica e o debate trata-se não de educação, mas de treinamento” (...) "Querem nos tranformar num bando de carneiros", desabafou.

Direitos trabalhistas
Dilma Rousseff disse que o lema que aplica-se a um governo golpista, interino e ilegítimo é: "Nem um direito em pé", é isso que eles querem, disse. "Nós não, nós queremos nenhum direito a menos. Neste processo temos que ter clareza e temos que lutar".

“E para os trabalhadores, o que eles propõem?”, “uma reforma das leis trabalhistas”, respondeu.

A presidenta eleita citou a reforma das leis trabalhistas, proposta pelo governo Temer que impõe o negociado sobre o legislado, "retirando os direitos dos trabalhadores conquistados por muita luta.

Para Dilma, essa é tendência do governo golpista, achar que a saída da crise é reduzir direitos individuais e coletivos. “Os recursos vão para uma parte da população que eles acham que merecem os benefícios”, destacou.

Processo de impeachment
Ao final do seu discurso, a presidenta Dilma voltou a ressaltar que irá lutar até o último minuto para reverter o processo. “Eu vou lutar para reverter, mas tenho certeza que a força do povo é o mais forte argumento que nós temos para colocar na mesa. A organização, a força e a firmeza são cruciais neste processo de votação do mérito” do processo de impeachment no Senado.

Abaixo a íntegra da fala da presidenta eleita:

Do Portal Vermelho, Eliz Brandão

Plano de Temer para o pós-impeachment é neoliberal e impopular


  
De acordo com o divulgado pelo Valor, a plataforma Temer assimila as diretrizes do documento peemedebista Ponte para o Futuro.

Agora intitulado “Para reconstruir o Brasil”, o projeto está dividido em cinco eixos: “o econômico (reequilíbrio fiscal, melhoria do ambiente de negócios, reforma previdenciária e reforma trabalhista); o de infraestrutura (programas de concessões, privatizações e atração de investimentos); o social e cidadania (pacto social pelo emprego, programa fazer mais com menos na Saúde, salto de qualidade e gestão na educação, melhora das políticas de transferência de renda); a reconexão do Brasil com o mundo (gestão de crise, emergência e grandes eventos); gestão pública (programa de modernização do Estado e programa nacional anticorrupção)”, detalha o jornal.

Os principais objetivos dessa agenda seriam a retomada do pleno emprego e uma eventual reconquista do grau de investimento. A reportagem informa que o governo pretende atrair investimentos nacionais e internacionais para áreas como mobilidade urbana, saneamento, óleo e gás, energia e logística.

“No horizonte mais próximo, estão concessões de aeroportos e portos”. O projeto do senador e agora chanceler José Serra, que revisa a legislação do pré-sal, flexibilizando a participação da Petrobras na exploração do petróleo, é tratado como prioritário.

Na contramão dos sinais emitidos com a valorização do real e a manutenção da Selic nos mesmo patamar elevado de 14,25%, o plano inclui ainda melhorar o desempenho do país no comércio internacional, estimulando exportações.

Entre as medidas que teriam impacto apenas no longo prazo, além da aprovação da PEC 241 – que limita o crescimento dos gastos públicos –, a gestão estabelece como meta uma série de reformas que significarão ataque a direitos e garantias sociais. Em ordem de relevância para a equipe de Temer, são citadas as reformas da Previdência Social, a trabalhista, a fiscal e, por fim, a eleitoral e partidária.

Retração de direitos e serviços públicos
“É uma espécie de programa neoliberal, muito parecido com o do Aécio, que foi derrotado nas eleições”, analisou Guilherme Mello. Ele destacou a agenda de privatizações e a “redução do escopo das políticas sociais universais, com o viés de rebaixar algumas dessas obrigações para a iniciativa privada”.

Mello lembrou ainda que o jornal O Globo, no último fim de semana, publicou editorial em que pregava o fim do ensino superior gratuito, que parece em consonância com a proposta do governo.

O que a equipe de Temer chama agora de “melhora das políticas de transferência de renda”, em outro momento, foi anunciado como a ideia de focar os programas nos 5% mais pobres da população.

“Isso já havia sido anunciado antes. E, na verdade, implica em uma redução da cobertura dos programas muito grande. Porque o Brasil é um país muito pobre. Os 10% mais pobres, também são muito pobres. Reduzir a assistência a um número arbitrário como esse de 5%, por exemplo, significa tirar um monte de gente muito pobre da faixa de atendimento dos programas sociais”, afirmou o economista.

Para ele, as mudanças na política internacional, vão no sentido de “tirar do Brasil o papel de protagonista, o colocando em papel subordinado às economias americana e europeia”. Na área econômica, Mello afirmou que há um “foco muito grande na questão inflacionária e fiscal, mas com retração de direitos e serviços públicos”, resultado das reformas e privatizações.

Chantagem e manipulação

Na avaliação do professor da Unicamp, a estratégia política utilizada pelo governo é a de atribuir todos os problemas econômicos à gestão de Dilma e apresentar as eventuais melhorias como vitórias de Temer. “E vão ocorrer melhorias, porque o país não vai ficar eternamente em recessão. A própria inflação também dá sinais de queda, exatamente por causa da recessão. Então todos os sinais de melhoria vão ser colocados como crédito do governo Temer”, opinou.

De acordo com ele, outra estratégia utilizada pelo governo é a da chantagem. “Hoje, o ministro da Fazenda já disse que, se não aprovar [a PEC 241], vai aumentar imposto. Isso vai continuar valendo, porque as pessoas acham que existe uma contradição entre o governo falar tanto em fazer o ajuste fiscal e não fazer o ajuste fiscal no curto prazo. Mas não existe contradição nenhuma. É estratégia política”, apontou.

Segundo Mello, o governo tem apostado na deterioração da situação fiscal no curto prazo, como forma de reforçar o discurso de que são necessárias medidas mais profundas, um ajuste estrutural que significará ainda mais prejuízo às áreas sociais.

“O governo dá aumento para o judiciário, repassa verbas para parlamentares aliados, e isso vai deteriorando ainda mais a situação fiscal do país. Quanto mais se deteriorar no curto prazo, mais argumento ganham aqueles que vão defender reforma da Previdência, corte na saúde, na educação”, declarou.

Ele avaliou que, para quem deseja este tipo de medida impopular, o melhor argumento é que o Estado está quebrado. “Se está quebrado, não há outra saída, tem que privatizar tudo, vender tudo, reformar tudo. É uma estratégia política de, na verdade, sobreviver no curto prazo, dando benesses aos aliados, e usar essas benesses, primeiro, para conquistar apoio político, segundo, para reforçar o argumento da necessidade da privatização, etc”.

Guilherme Mello disse ainda que, caso se confirme o impeachment, o governo terá dois anos para implementar uma agenda complexa de “desmonte” do modelo levado adiante a partir do governo Lula – que significou maior atuação do Estado na economia e foco na inclusão social. “Essa é a disputa em questão”, resumiu.

Otimismo artificial
Questionado se as medidas anunciadas devem ter o poder de alavancar a atividade econômica e o emprego, Mello deixou claro que a questão é mais complexa do que o governo faz parecer.

“Se você conseguir efetivar obras de infraestrutura, isso tem um impacto no emprego. A questão é quanto tempo isso demora, como vai ser feito, qual o verdadeiro impacto e qual seria o custo disso para o país. Por exemplo, se eu privatizo e faço concessão de todas as ferrovias, rodovias, etc, vai ter investimento e emprego? Vai. O problema é: o pedágio vai lá pra cima, o custo Brasil vai lá pra cima. A gente não pode esquecer que nossos serviços concedidos à iniciativa privada são caríssimos. Veja as telecomunicações, são dos serviços mais caros do mundo. Veja os pedágios no estado de São Paulo. Isso aumenta o custo. E mais que isso: o impacto não é imediato”, disse.

Para ele, o governo está “vendendo otimismo”, embora, na prática, a situação do país não esteja melhorando. “Estão vendendo o otimismo de que ‘agora vai’, quando, na verdade as questões não estão sendo enfrentadas. É um otimismo artificial, mas eles dependem disso. Esse projeto busca estabilizar o país, mas, para isso, aposta na confiança dos empresários, que não está calcada em nenhuma medida concreta de verdade. É meramente discurso, que todo dia você vê na TV e nos jornais. Porque, se olhar os dados, [a economia] não está melhorando”.

O economista prevê que se, mais à frente, as expectativas se frustrarem, “aí você desmonta qualquer possibilidade de esse governo se legitimar. Por isso eles precisam manter esse estado de otimismo elevado”.

Manter o otimismo e o apoio diante de uma plataforma tão impopular, contudo, exige certo malabarismo. “Eles não podem falar de fato o que vão fazer. Por isso sempre ficam nessa ameaça velada: ‘olha que eu aumento o imposto’, ‘olha que eu reformo a Previdência’. Mas você não avança porque isso é extremamente impopular”.

Além disso, Mello alertou para o fato de que o impacto dessas medidas na economia pode ser muito diferente daquele esperado pelas autoridades econômicas. “Eles acham que, se você reformar a Previdência, as pessoas vão consumir mais? Eu acho o contrário. Se você tem a perspectiva de se aposentar logo, você pode até consumir. Mas se você não tem uma renda garantida para depois, você não vai consumir, vai segurar a renda do trabalho que você tem hoje. Não vai consumir agora, com medo de não ter nem aposentadoria depois”.

O economista crê, portanto, que o plano Temer não terá o poder de resolver os problemas do país, além de significar enorme custo social. “Não acredito muito que, com essas medidas, se recupere o emprego e a renda. Pelo contrário. Com essas medidas, se pode condenar de uma vez o país a não recuperar as taxas de emprego e aumento da renda que houve nos últimos tempos”, encerrou.



Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho

    Mais de 60% dos brasileiros são contra entrega do pré-sal


      
    Questionados se concordam ou não com o projeto de abertura do petróleo do pré-sal para exploração por empresas estrangeiras, 60,8% disseram ser contrários à proposta. Outros 31,7% se dizem a favor da abertura do pré-sal, enquanto 7,6% não responderam.

    O Projeto de Lei 4.567/16, que retira a obrigatoriedade da Petrobras de participar da extração de petróleo da camada pré-sal, é de autoria do atual ministro de Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), e já foi aprovado no Senado.

    O texto-base da proposta também já foi aprovado na Câmara no início de julho, sob forte resistência da oposição ao governo interino. A pauta é defendida pelo novo presidente da Petrobras, nomeado pelo governo interino, Pedro Parente, em seu primeiro discurso na estatal.




    Fonte: Brasil 247 via Vermelho

    PEC 241: O segundo golpe


      
    Faz 74 dias que o Senado brasileiro aprovou a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff e que Michel Temer assumiu interinamente a presidência da república. Espera-se que, no início de agosto, o Senado decida se o impeachment terá prosseguimento, isto é, se Dilma irá a julgamento final.

    Para a maioria da esquerda brasileira, todo o processo não passou de um simples golpe capitaneado pela direita vinculada ao grande capital e alimentada pelos principais meios de comunicação do país, posto que Dilma não cometeu crime de responsabilidade durante sua gestão. Daí a luta pelo “Fora Temer!”, que se completa com o chamamento de eleições gerais, embora esse complemento não receba unanimidade entre os setores da esquerda.

    Desde seu primeiro momento, o governo Temer foi alvo de muitas críticas e provocou a mobilização de vários setores da sociedade. Em seu primeiro mês de gestão, teve que voltar atrás na decisão de extinguir o Ministério da Cultura, três de seus ministros foram substituídos devido a denúncias de envolvimento em casos de corrupção e ficou evidente o desconhecimento de vários de seus titulares da situação e da matéria atinente a sua pasta.

    Talvez devido a esses fatos e a outros, em muitas das análises da esquerda brasileira o governo Temer seja considerado fraco. Contudo, naquilo que importa para o grande capital, os principais ministérios estão na mão de homens que sabem defender seus interesses, tais como o Ministério da Fazenda, com Henrique Meirelles, e o Ministério das Relações Exteriores, com José Serra. Esse último, além de claramente defender em todas as oportunidades a adesão do Brasil aos tratados de livre comércio, coloca-se contrário à presidência da Venezuela no Mercosul.

    Nesse caso, não há surpresas, estando tudo dentro do esperado. A grande surpresa ficou por conta de Henrique Meirelles que, ao concretizar o que tinha sido divulgado no documento “Ponte para o futuro” (documento apresentado pelo PMDB, em 2015), foi muito mais além do que se poderia imaginar, sob quaisquer circunstâncias.

    Naquele documento, entre seus vários aspectos, era defendido o fim da desindexação de recursos para a educação e a saúde, introduzindo a prática de trabalhar com o chamado “orçamento zero”, de modo que, a cada ano, os recursos destinados a cada área seriam resultado de negociação, elegendo como princípio maior o equilíbrio fiscal de longo prazo.

    Para garantir a aplicabilidade desse preceito, propunha a criação de um Comitê Independente para sugerir a continuidade ou o fim dos programas governamentais de acordo com os seus desempenhos. Na época, e em outro artigo, já apontava que isso resultaria na diminuição da capacidade de atuação política do poder executivo, isto é, de sua independência, pois, além desse comitê, o documento propunha também a criação de uma instituição que funcionaria como uma autoridade orçamentária.

    Em outras palavras, tratava-se de introduzir, no aparelho de Estado, práticas existentes nas empresas privadas, tais como auditoria constante e escolhas definidas a partir do critério da economicidade. Assim, não só o executivo estaria tolhido no exercício de suas funções, como dificilmente demandas oriundas de movimentos sociais seriam ouvidas. Não imaginava, na época, nada pior do que estava sendo proposto.

    Eis que, em 15 de junho de 2016, Meirelles encaminha um projeto que visa alterar a Constituição brasileira, a chamada PEC 241 (Projeto de Emenda Constitucional 241), instituindo um novo regime fiscal. Esse projeto simplesmente propõe que os gastos federais sejam congelados por vinte anos, tendo como base o efetivamente gasto em 2016.

    Os valores dos orçamentos dos anos seguintes seriam somente atualizados pelo índice da inflação e seus valores reais poderiam, a depender dos resultados obtidos em termos de equilíbrio fiscal, ser revisados somente depois de dez anos. Evidentemente que essa proposta tem como justificativa o diagnóstico de que todos os males da economia brasileira devem-se à escalada desenfreada do gasto público e que, portanto, esse deve ser freado.

    A exposição de motivos que acompanha a PEC 241 é cristalina a esse respeito. Mas, no espaço deste pequeno artigo, não é possível se indicar as várias falácias nela contidas. Importa é denunciar a natureza dessa proposta a partir de suas consequências sobre o que se entende por Estado em um regime democrático.

    Em um regime democrático burguês, o executivo é eleito pela maioria dos votos e, a partir daí, executa em teoria seu programa, o que é mediado pela representação das demais forças políticas no congresso nacional e pelas demandas dos setores sociais populares organizados.

    Em outras palavras, o político está sempre presente. No caso do orçamento do governo federal, esse é resultado dos diferentes interesses presentes na sociedade. Esses se manifestam na proposta inicial encaminhada pelo governo, nas emendas e supressões apresentadas pelos parlamentares e no cumprimento da execução dos recursos orçados e planejados em cada área. O que Meirelles está propondo é, portanto, em nome do equilíbrio fiscal, extinguir o funcionamento democrático do próprio Estado burguês. A partir de uma relação de forças específica, congela-se o orçamento por vinte anos, tempo de uma geração.

    De meu ponto de vista, a esquerda brasileira não está se dando conta do significado dessa proposta. Tendo a dizer que em parte a desconhece. Fala em ajuste fiscal, tal como falava durante o governo Dilma (principalmente no último período) e como sempre falou, quando recursos eram contingenciados em função da arrecadação. Mas a PEC 241 não é um ajuste. Trata-se da negação da política na esfera fiscal. É a “técnica” se impondo com toda sua força, para fazer valer os interesses mais gerais do grande capital financeiro. Esse é o segundo golpe, e o mais perigoso.

    * Professora titular de economia da PUCSP, presidente da ABrES e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP).


    Fonte: Carta Maior via Vermelho

    Direitos: Centrais unificam luta contra precarização nesta terça


    As informações foram repassadas pelo coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), José Silvestre. O órgão apoia as centrais na organização da atividade desta terça. 

     
    O evento é realizado pela Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Nova Central Sindical de Trabalhadores, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Força Sindical. 
     
    Nesta terça, os presidentes das entidades concederão uma entrevista coletiva, a partir das 9h30, no espaço Hakka, rua São Joaquim, 460, no centro de São Paulo. Após a coletiva, as 11h, acontecerá o ato político de leitura do documento das centrais.
     
    Contra o desemprego e em defesa dos direitos
     
    De acordo com Silvestre, o documento que será lido na plenária nacional aborda três temas principais: Desemprego, reforma da previdência e flexibilização das relações de trabalho.
     
    “É focado na luta contra o desemprego e reivindica medidas do governo para gerar emprego, fazer com que a economia volte a crescer. Aborda garantia dos direitos, sistema previdenciário e negociado sobre o legislado” informou Silvestre.
     
    CLT deve regular as relações de trabalho
     
    O novo projeto de Temer para reconstruir o Brasil depende das reformas da Previdência e trabalhista nos moldes dos patrões. É um Ponte para o Futuro aprofundado com ações e medidas preparadas para o pós-impeachment.
     
    A repercussão tem sido negativa entre os trabalhadores. Declarações do ministro do Trabalho, na quarta-feira (21), de que a reforma do governo vai privilegiar as negociações coletivas, provocou nota assinada pela seis centrais dizendo que “A CLT deve ser mantida como o padrão mínimo da regulação das relações de trabalho”.
     
    “A ampliação das negociações, assim como a prevalência do “negociado sobre o legislado” não deve substituir a CLT e nem possibilitar a redução de direitos e a diminuição da qualidade de vida dos trabalhadores”, esclareceu o texto da nota.

    Previdência
     
    Em entrevista concedida nesta segunda-feira (25) ao jornal Valor Econômico, o ministro da Fazenda, Henrique Meireles, afirmou: “Ao contrário do que se diz, é viável uma reforma da previdência”. Reforma e regras “que tenham efeitos reais nas contas públicas”.
     
    “Essa reforma não é para aperfeiçoar, e sim para destruir o estado de bem-estar social. Desde a Constituição de 1988 persiste uma campanha ideológica, sem base em dados reais, para demonizar a previdência”, explicou o economista Eduardo Fagnani, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
     
    Ele é um dos autores, juntamente com o economista João Sicsú, da cartilha Entender e Defender a Previdência Social, lançada no dia 15 de julho no Sindicato dos Bancários de São Paulo. 
     
    “Mostramos com dados, nessa cartilha, que não existe déficit na previdência. E desconstruímos outros mitos como o da não existência da idade mínima, o das aposentadorias precoces e finalmente mostramos que caso se concretize a reforma do governo Temer, seremos os campeões mundiais de regras mais rígidas para a aposentadoria”, afirmou Fagnani, na ocasião do lançamento.

    Mobilização
     
    A organização da atividade desta terça-feira aguarda aproximadamente 600 dirigentes sindicais de todos os estados e integrantes de confederações de diversos setores e dos maiores sindicatos do Brasil. 
     

    Do Portal Vermelho 

    segunda-feira, 25 de julho de 2016

    Lembrar Aloísio Teixeira em tempos de retrocesso na Educação


     O Educador Aloísio Teixeira, falecido em 23 de julho de 2012 O Educador Aloísio Teixeira, falecido em 23 de julho de 2012
    Confira na íntegra o artigo:
     
    A lembrança de Aloísio Teixeira em tempos de retrocesso na Educação: Um educador em defesa das causas sociais e democráticas, da soberania nacional e do socialismo.
     
    Por Hélio de Mattos Alves*
     
    “Permaneci um combatente das mesmas lutas: a democracia, a soberania nacional e o socialismo” Aloísio Teixeira
     
    Em 23 de julho de 2012, o Brasil perdeu um dos seus maiores quadros na Educação Pública com o falecimento do Prof. Aloísio Teixeira. Havia completado um ano após o fim de dois mandatos (2003/2011) como reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que foi a sua trincheira de realizações e protagonismo dessa universidade durante esse período. No dia do seu falecimento a Presidenta Dilma Rousseff declarou: “Um brasileiro que abraçou a educação como grande instrumento de transformação da sociedade e fez do exercício de educar um compromisso de vida, como mostrou seu trabalho à frente da Universidade Federal do Rio de Janeiro”. A marca de Aloísio Teixeira a frente da UFRJ foi de uma   trajetória vitoriosa com transformações e protagonismos na luta pelo acesso dos jovens brasileiros de 18-24 anos ao ensino superior. Foram implementadas propostas de democratização da entrada aos cursos de graduação e expansão das vagas. Em seu artigo: A universidade brasileira e os desafios do século XXI, escreveu:  “os alunos da rede pública de ensino médio, quando conseguem completar este ciclo, não dispõem de condições para superar os obstáculos do vestibular nas universidades públicas. Eles desistem de ingressar no terceiro grau ou optam por universidades particulares, de reduzida qualidade. Por outro lado, os estudantes de maior renda, frequentadores de bons colégios da rede privada, têm maior acesso ao ensino de qualidade das universidades públicas. ”
     
    Durante os oitos anos à frente da instituição foi um crítico severo dessa situação perversa e soube aprovar nos Colegiados Superiores uma série de Políticas Públicas de Inclusão Social e Cidadania que permitiram a UFRJ ampliar suas vagas e democratizar o acesso a excelência de suas vagas com qualidade.  Esse período conjugou o fortalecimento da democracia interna da UFRJ ao seu crescimento como instituição.  Foi no momento histórico, que coincidiu com os dois mandatos do governo Lula, o qual deixou para trás um passado amargo de sucessivos cortes de verbas da Educação e a intervenção de um Reitor, não eleito pela comunidade, indicado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). 
     
    A pacificação da universidade e os investimentos do governo federal na UFRJ
     
    Ao tomar posse em 2003, Aloísio assumiu o compromisso do fortalecimento do tecido institucional que foi totalmente destruído durante a intervenção do Governo FHC através da nomeação de um Reitor que não tinha nenhuma liderança institucional.  Nos seus dois mandatos todos os colegiados superiores) tiveram suas atividades retomadas em pleno funcionamento. Sem rancor nem perseguições aos adversários de ontem, o tecido social da UFRJ foi sendo reconstituído. Ele prestigiava todas as posses dos novos dirigentes eleitos para todas as unidades acadêmicas e decanias e levava através da Reitoria Itinerante toda a sua equipe para conhecer e discutir propostas e soluções para as diversas reinvindicações. Imediatamente a posse, implantou o Orçamento Participativo, dando total transparência dos recursos financeiros e sua repartição entre as diversas unidades acadêmicas.  Dizia a todos que “aquela era uma vitória da UFRJ e que a democracia da instituição era fruto de um projeto coletivo. “ Nos oito anos como Reitor jamais deixou de ouvir as vozes dissonantes e o diálogo era permanente com a representação dos professores, estudantes e técnicos administrativos. 

    Instituiu a Plenária de Decanos e Diretores com reuniões mensais, sempre em uma unidade acadêmica que servia como elo de informação e diálogo com a Reitoria. As sessões dos conselhos superiores passaram a serem transmitidas ao vivo para toda a comunidade acadêmica através da Webtv.
     
    Aloísio assumiu a Reitoria, em 2003, com um orçamento anual de R$ 35 milhões, destes, R$ 10 milhões, eram para pagamento da conta de energia elétrica. Não era previsto recurso algum para investimentos. Poucos recursos poderiam ser destinados às unidades acadêmicas para as atividades de ensino, pesquisa, extensão e pós-graduação. Realidade esta que mudou ao longo dos oito anos com a política de apoio ao ensino superior do Governo Federal, principalmente com a chegada de Tarso Genro e Fernando Haddad ao Ministério da Educação. Ao final do segundo mandato os recursos orçamentários chegaram a um total de aproximadamente R$ 480 milhões, dos quais R$ 150 milhões eram para investimentos em prédios e obras de infraestrutura.  Enquanto no período neoliberal de FHC poucas eram as vagas para concursos de professores e técnicos administrativos, o governo Lula fomentou não somente os recursos orçamentários como as vagas docentes. Durante o período 2006-2011 foram aproximadamente 1216 novos docentes concursados e outros 3.500 técnicos administrativos. 
     
    Os projetos de mudança de uma universidade
     
    Seis meses após a sua posse, iniciou uma grande discussão sobre critérios para alocação de vagas docentes nas unidades e o documento “ALGUMAS DIRETRIZES PARA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DO QUADRO DOCENTE DA UFRJ” serviram como guia de discussão nas unidades e nos colegiados superiores.  Na sua introdução Aloísio Teixeira escreveu que “A incorporação de novos docentes às Unidades da UFRJ é um evento estratégico, cujo impacto se faz sentir por longo prazo e define por décadas o perfil da Universidade. Deve ser, portanto, cuidadosamente organizado, a fim de promover o adequado desenvolvimento acadêmico do ensino, da pesquisa e da extensão. Além de atender a necessidades de caráter emergencial e de voltar-se para a reposição de perdas decorrentes de aposentadorias, exonerações e falecimentos, a política de alocação de vagas deve apoiar-se, sobretudo, em criterioso processo de avaliação de sua repercussão no futuro acadêmico-institucional da universidade. ”

    Em março de 2006, o então Reitor Aloísio Teixeira apresentou, à comunidade universitária, o documento “Proposta de Plano Quinquenal de Desenvolvimento para a UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO”, onde eram lançadas as bases para o desenvolvimento e expansão da UFRJ. Com a sua equipe ele levou e debateu esse documento em todos os órgãos superiores da universidade, visitou todas as congregações das unidades para conclamar uma ampla reflexão sobre a proposta.

    Essa proposta valorizava a excelência dos cursos de graduação e pós-graduação e pesquisa e que trazia uma forte reflexão sobre o caráter fragmentado desses cursos com vícios que vieram desde a sua criação. No prefácio dessa proposta Aloísio ressalta alguns problemas com a aplicação da autonomia universitária, insuficiência dos recursos orçamentais, mecanismos públicos de financiamentos compartimentalização das carreiras profissionais entre outras: “A elevada qualidade das atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pela UFRJ não oculta as dificuldades e problemas, que a instituição enfrenta para cumprir sua missão institucional e tornar-se uma verdadeira construtora de futuros. Alguns desses problemas decorrem de políticas governamentais equivocadas das últimas décadas, como, por exemplo, as restrições à plena aplicação do princípio da autonomia universitária; a insuficiência crônica dos recursos orçamentários; a inadequação dos mecanismos públicos de financiamento e apoio institucional à pesquisa; a desqualificação do serviço público. Outros fatores resultam de sua estrutura peculiar e de seu próprio processo de constituição. Dentre esses, pode-se destacar sua organização federativa; a compartimentalização das carreiras profissionais; o caráter instrumental e profissionalizante do ensino; a limitada variedade de carreiras oferecidas; a estruturação inadequada dos curricula; o caráter “elitista” dos mecanismos de ingresso; o isolamento entre as unidades da universidade e entre esta e as demais instituições e instâncias da sociedade, pela falta de mecanismos integradores e de instrumentos de comunicação internos e externos. Nunca antes, talvez, portanto, a UFRJ tenha estado tão urgentemente diante do imperativo de pensar, debater e decidir seu futuro, renovando-se criticamente pelo esforço comum e participativo de sua comunidade”. 

    Em outro trecho o documento apontava a necessidade da universidade se atualizar: "Com a expansão sem precedentes que a educação superior alcança em todo o mundo, principalmente, mas não só, nos países do centro capitalista. Em vários países da América, da Europa e da Ásia, o percentual de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que cursam instituições de educação superior, já ultrapassou a casa dos 60 por cento. Tornando-se um direito universal, a que todos podem ter acesso, a Universidade já não pode pensar-se como um mecanismo de produção ou reprodução de elites”. Com a sua equipe ele levou e debateu esse documento em todos os órgãos superiores da universidade, visitou todas as congregações das unidades para conclamar uma ampla reflexão sobre esses temas. 
     
    "A realização das utopias”
     
    Fruto desse longo debate o Plano de Desenvolvimento Institucuonal se transformou em o Plano de Reestruturação e Expansão da UFRJ (PRE), o qual foi o projeto básico que a UFRJ utilizou para apresentar ao MEC a sua proposta de solicitação de verbas e vagas. Essa expansão da educação superior da universidade foi apresentada ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do MEC, como o principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior.  Segundo Aloísio, "a realização das utopias que lutei em toda a minha vida".
     
    Universidade integrada que se integra à cidade foi o que escreveu Aloísio Teixeira no prefácio do Plano Diretor UFRJ 2010-2020 "A UFRJ chega aos seus 90 anos demonstrando grande vitalidade, assim como enormes disposição e capacidade para se renovar, reciclar e reconfigurar. Assim deve ser uma universidade pública que pretende e precisa se manter contemporânea do seu momento histórico, integralmente solidária com o seu povo e fortemente comprometida com os melhores e maiores ideais das tradições universitárias. O novo Plano Diretor da UFRJ do Rio de Janeiro, aprovado pelo Conselho Universitário em outubro de 2010, reflete de forma emblemática estas perspectivas e traduz expectativas que a UFRJ reservou para o seu horizonte de futuro próximo. O desenvolvimento do Plano Diretor coincide com um período dominado por circunstâncias bastante singulares da história recente das universidades públicas federais. Neste momento, um significativo aporte de recursos materiais e humanos está sendo disponibilizado para sustentar programas de reestruturação nas nossas instituições federais de ensino superior. O Plano Diretor UFRJ -2020 nasce, portanto, sob o signo de uma expansão sustentada dos nossos cursos, sobretudo de graduação, e de estímulos concretos a mecanismos de democratização do acesso. Ele representa mais do que tudo a possibilidade concreta de manifestarmos, de forma planejada e organizada, para a comunidade UFRJ e para a sociedade as transformações e mudanças que nos aproximarão do futuro e das expectativas em nós depositadas por estudantes, professores, técnico-administrativos e, sobretudo, aquele que financia e a quem deve servir uma universidade pública como a nossa: o povo brasileiro".

    Em 2010 foram abertos mais de 500 contratações de professores e 1.500 técnicos administrativos. Com essa expansão de recursos orçamentários do Governo Federal a universidade pode se planejar melhor, desenvolver suas atividades e iniciar os investimentos em novos prédios, salas de aula, laboratórios e se modernizar. Na graduação, o número de vagas cresceu cerca de 50% e foram criados 25 cursos novos, além da expansão em Macaé e Xerém. 
     
    Crítica ao caráter elitista da universidade
     
    “O vestibular é uma excrescência do ponto de vista didático, pedagógico e social”
    Nessa entrevista ao Jornal O GLOBO em 3 de julho de 2011, Aloísio comenta a sessão do Conselho Universitário que aprovou o fim do vestibular e Aloísio conseguiu a aprovação do fim do vestibular da universidade e sua substituição pelo Enem-SISU e aproveitou para fazer um balanço dos oitos anos como dirigente máximo da UFRJ.  
     
    No entender de Aloísio, apenas a expansão de vagas para o ensino superior não atenderia às necessidades da educação no país, porque continuariam sendo aprovados alunos com o mesmo perfil econômico e social em vigor. Era necessário democratizar o acesso a excelência dos cursos, permitindo aos alunos vindos das escolas públicas e de famílias de baixa renda entrarem para a universidade. De acordo com dados da Pró-Reitoria de Graduação da UFRJ aproximadamente 74 mil estudantes se inscreveram no concurso de acesso à UFRJ de 2010. No entanto, 52% dos candidatos se concentraram em, apenas, sete das 116 opções de cursos de graduação desta universidade. 

    Aloísio também conseguiu sensibilizar o Conselho Universitário para a sua proposta quando apresentou dados reveladores de imensa discrepância social: Quatro em cada cinco pessoas que concluíam o ensino médio no Rio de Janeiro, o faziam na rede pública de ensino, no entanto 54% dos inscritos no concurso da UFRJ eram estudantes de escolas particulares, o que indica que muitos estudantes da rede pública não tentavam ingressar na universidade, mesmo com a gratuidade do último exame.  E tem mais: Apenas 6,29% dos estudantes da rede estadual de ensino conseguiram ser aprovados no concurso de acesso em 2009 à graduação na UFRJ, em face de 12,32% daqueles oriundos de escolas particulares e 17,31% da rede pública federal de ensino médio. Com esses dados, novamente Aloísio levou aos diretores das unidades e aos colegiados superiores a proposta de reserva de vagas através de cota social e adesão da UFRJ ao sistema ENEM-SISU. Mostrou à comunidade acadêmica a necessidade de consolidar e ampliar os mecanismos de democratização do acesso ao ensino superior e as ações afirmativas voltadas para a valorização da escola pública e o apoio a jovens socialmente vulneráveis. 
     
    Alunos de família de baixa renda

    A proposta encaminhada aos colegiados superiores assegurava acesso diferenciado em todos os cursos e implantava mecanismos internos de viabilização da permanência do estudante na UFRJ durante todo o curso. Junto com a proposta de cota social, apresentou o documento: "AÇÃO PROVISÓRIA PARA GARANTIR ACESSO E PERMANÊNCIA DE ALUNOS PROVENIENTES DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA". Este documento continha propostas com ações para atacar os problemas de evasão escolar, que poderiam ocorrer com os alunos que contemplavam bolsas de acesso e permanência; meios de transporte gratuitos para deslocamento ao campus; acesso à rede de dados e disponibilização de equipamentos de informática em unidades de informação e laboratórios de informática de graduação públicos; acompanhamento acadêmico e oferta de disciplinas suplementares, de apoio e introdutórias, com envolvimento de docentes e estudantes, dando continuidade e ampliando projetos de apoio pedagógico visando a suprir carências de formação do ensino médio.

    No último dia do seu mandato em julho de 2011 o Conselho Universitário da UFRJ aprovou a cota social de 30% das 9.000 vagas oferecidas pela UFRJ, aliando a origem na escola pública com a renda familiar. Com a seleção de vagas pelo ENEM-SISU a UFRJ terminou com o seu famigerado vestibular. Em entrevista ao Jornal O GLOBO declarou que “Sou de uma geração que lutou a vida inteira contra o vestibular. Desde a primeira edição que participei como reitor, defendi caminhos alternativos para o acesso à universidade. O vestibular é uma excrescência do ponto de vista didático, pedagógico e social. Ele consolida os mecanismos de exclusão e foi um esforço desmontar essa máquina perversa. Não que o Enem seja isento de problemas, mas é um passo importante ter uma prova nacional".    

    A gestão de Aloísio e Sylvia foi vitoriosa não somente do ponto de vista das melhorias que trouxe à Universidade, mas por colocar em cheque a estrutura excludente do ensino superior brasileiro. Durante todo o período de (2003 a 2011) essa gestão foi crítica à pequena cobertura oferecida pelo sistema educacional, onde apenas 13% dos jovens, entre 18 e 24 anos, estavam matriculados em instituições de educação superior, públicas ou privados. Para um país que caminha para ser a quinta economia do mundo isso é muito pouco. A média da América Latina é 32%. Nos Estados Unidos e países da Europa são 60% de jovens cursando educação superior. Isso mostra a nossa defasagem no cenário mundial e, se não chegarmos a índices melhores, estaremos condenando o futuro do Brasil.

    A restrição ao conhecimento e à educação de qualidade é um dos principais mecanismos de perpetuação da pobreza no Brasil. Ingressar na universidade federal é a possibilidade de milhares de jovens romperem com essa lógica, ter acesso a uma educação de muita qualidade e vislumbrar uma ascensão social. Como o próprio nome indica, a Universidade é universal e é também muito diversa como espaço livre e democrático, com áreas de saberes especializado. Um dos legados dessa Reitoria foi mostrar que a Universidade precisa conviver com todas as diferenças. É preciso tratar as diferenças com compreensão e não apenas com tolerância. Na sua despedida, Aloísio lembrou a importância de que sejam desenvolvidas, mais ainda, as Ciências Humanas e Sociais na Universidade. “A universidade somente terá verdadeira excelência, e em âmbito nacional, caso as Ciências Humanas e Sociais obtenham nova centralidade no processo de reestruturação universitária”. Em artigo que escreveu na Revista Princípios “A universidade brasileira e os desafios do século XXI" delineou os caminhos para o debate sobre os rumos da universidade brasileira. 

    Em seu artigo “A Universidade do Brasil: As ações de inclusão e a democratização no acesso dos alunos mudam a cara da UFRJ” publicado recentemente pela ADUFRJ, a Profa. Angela Rocha   afirma que “a mudança radical no perfil dos alunos da universidade, graças às políticas afirmativas seegundo dados do Sistema de Seleção Unificada, a nota de corte para os candidatos convencionais a vagas do curso de Medicina nas federais foi de 787,56 pontos. Para os cotistas, foi de 761,67 pontos. A diferença entre eles, portanto, ficou próxima de 3%. Na verdade, é quase nada. Se em uma disciplina tão concorrida quanto Medicina um coeficiente de apenas 3% separa os privilegiados, que estudaram em colégios privados, dos negros e pobres, que frequentaram escolas públicas, então é justo supor que a diferença mínima pode, perfeitamente, ser igualada ou superada no decorrer dos cursos. Depende só da disposição do aluno. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das mais conceituadas do País, os resultados do último vestibular surpreenderam. “A maior diferença entre as notas de ingresso de cotistas e não cotistas foi observada no curso de economia”, diz Ângela Rocha, “Mesmo assim, essa distância foi de 11%, o que, estatisticamente, não é significativo.”. Mostrando que as ploticas de ampliação de vagas e democratização ao acesso ao ensino superior que tiveram início na Reitoria Aloisio Teixeira não influenciaram na queda da qualidade do excelente ensino de graduação na UFRJ. A Professora Angela Rocha que foi Pro Reitora de Graduação na Reitoria do Prof. Carlos Levi afirma que “A grande consequência do Sisu é que a UFRJ se tornou realmente a universidade do Brasil. Antes de aderirmos ao sistema, tínhamos apenas 2% de alunos de outros estados. Hoje, eles já passam de 20%”, disse. Setenta e cinco por cento dos ingressos na UFRJ está entre os 2% com melhor desempenho no Enem Nacional”. Em outra entrevista ao jornal da ADUFRJ a Profa, Angela Rocha afirmou que “O nosso vestibular próprio sempre foi conteudista e elitista. Uma pesquisa feita pela universidade demonstrou que 30% dos alunos das escolas públicas se excluíam do vestibular da UFRJ. Há muitas pessoas que dizem que nosso vestibular influenciou no conteúdo do ensino médio, mas que ensino médio? Só influenciava no conteúdo das escolas de elite. Associado ao Sisu, a lei de cotas, de 2012, ampliou o acesso de pessoas que não pensavam poder entrar numa universidade federal. “Fizeram as pessoas sonharem com a universidade pública. Elas entram, mas são obrigadas a desistir do curso porque não damos estrutura para que elas permaneçam e passem nas disciplinas. Precisamos pensar uma forma de suprir uma educação básica deficiente” 
    O período que Aloísio Teixeira esteve à frente da Reitoria da UFRJ coincidiu com os oito anos do mandato de Lula à frente da Presidencia da República. O período onde se mais investiu na expansão e democratização do acesso ao ensino superior brasileiro no período republicano.  Isso nos traz também uma reflexão sobre o atual período de um governo golpista que retrocede em políticas educacionais ao período de Fernando Henrique Cardoso. Segundo o Economista e Educador Sérgio Haddad: “o conceito de um modelo educacional público, sistêmico e universal cede espaço, no governo interino, a um processo de focalização da ação do Estado em determinados níveis de ensino, deixando os demais à iniciativa privada. A ideia sistêmica e universal da oferta pública e gratuita da educação se rompe, com a privatização de um lado e a focalização do outro (...) essa lógica predominou nos governos FHC e deve se repor nesses tempos de restrição orçamentária. ” Ele destaca que “destacou que cada nível de educação está diretamente integrado ao outro e, portanto, priorizar um em detrimento dos demais seria uma estratégia equivocada. “Você não pode priorizar só o ensino fundamental, porque você precisa de professores para trabalhar no ensino fundamental, então você depende da universidade para fazer isso. Todos sabemos também que a educação infantil é imprescindível para o bom desempenho no ensino fundamental, assim como a educação de adultos, a educação dos pais, tem papel importantíssimo para o desenvolvimento dos alunos que estão nos cursos secundários”. 

    Tempos difíceis de muita luta e reflexão que nos fazem rever nesse dia, a contribuição de Aloísio Teixeira para a Educação.

    *Hélio Mattos é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
     
    Notas:

    (1) Os temas tratados  no documento de dezembro de 2003 "ALGUMAS DIRETRIZES PARA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO DO QUADRO DOCENTE DA UFRJ" foram ampliados no artigo da REVISTA PRINCÍPIOS – EDIÇÃO 100, MAR/ABR, 2009, PÁGINAS 94, 95, 96, 97, 98, 99 onde ele afirmou a necessidade de completa reformulação das instituições de ensino superior: "Instituições concebidas como federações de unidades autônomas de formação profissional e baseadas na formação celular da estrutura departamental, se já eram obsoletas há tempos, hoje são um obstáculo intransponível ao desenvolvimento de um verdadeiro projeto nacional e a condenação ao atraso de nosso sistema de educação superior e de desenvolvimento científico e tecnológico"

    (2) No Plano Diretor da UFRJ aprovado em 2010 as conquistas históricas da universidade ao longo doam dos últimos anos fizeram parte do diagnóstico: " a preservação do caráter público e gratuito; a preservação, como valores intocáveis, das liberdades de cátedra, de organização e expressão; os avanços expressivos, embora ainda insuficientes, na democratização dos processos internos de deliberação e escolha dos dirigentes; a alta qualificação dos corpos docente e técnico administrativo, selecionados pelo mérito em concursos públicos;
    o volume e relevância da produção científica, tecnológica, cultural e artística; a relevância dos serviços prestados à sociedade, sob a forma de extensão universitária e difusão científica, cultural e artística" E apontava a necessidade de transformações na sua estrutura  " , priorizar tanto na estruturação institucional e, quanto nas concepções pedagógicas, que deveriam avançar na direção de uma incorporação dos conceitos de integração e articulação entre diferentes disciplinas e campos do saber. Como horizonte, uma formação universalista e humanista, comprometida não apenas com a qualificação de profissionais especializados competentes, mas também com a formação de cidadãos, aptos a criticar e aprender ao longo de sua vida ativa"
     
     


    Do Portal Vermelho