sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Cinquenta verdades sobre Ernesto "Che" Guevara

Continuando com a série de artigos sobre os 55 anos anos da Revolução Cubana, 50 verdades sobre o “guerrilheiro heróico” Ernesto "Che" Guevara, que perdura na memória coletiva como símbolo da resistência à opressão.

Por Salim Lamrani*, de Paris para a Opera Mundi


Carlos Latuff/2012
Cinquenta verdades sobre Ernesto "Che" Guevara

1. Ernesto Guevara nasce no dia 14 de junho de 1928 em Rosário, na Argentina, no seio de uma família de cinco filhos. Seus pais, Ernesto Guevara y Lynch e Celia de la Serna, fazem parte da classe acomodada e aristocrática.

2. Aos dois anos de idade, o jovem Guevara sofre sua primeira crise de asma, doença que o acompanharia toda a vida e forjaria sua força de vontade à toda prova. Sua família se instala em Córdoba e depois em Alta Gracia, onde o clima lhe é mais favorável. Guevara passaria 17 anos de sua vida lá, até 1947.

3. Leitor ávido, Guevara devora os livros desde muito novo e se apaixona por filosofia, particularmente a social.

4. Em 1948, começa a faculdade de medicina na Universidade de Buenos Aires. Ele se formaria em 1953.

5. Em 1950, Guevara realiza sua primeira viagem de moto pelo norte da Argentina e visita as regiões mais pobres do país. Percorre um total de 4500 km e a miséria que atinge seu povo o impressiona muito. A respeito, escreve: “Não me nutro das mesmas formas que os turistas [...]. A alma [do povo] está refletida nos doentes dos hospitais.”

6. Um ano mais tarde, percorre a costa atlântica da América do Sul a bordo de um navio petroleiro da companhia nacional argentina que o recruta como médico da equipe.

7. De janeiro a julho de 1952, aos 24 anos, Guevara realiza sua primeira viagem internacional de moto, com seu amigo Alberto Granado. Visitam o Chile, o Peru a Colômbia e a Venezuela. Em maio de 1952, em Lima, Guevara conhece o doutor Hugo Pesce, dirigente do Partido Comunista do Peru e discípulo de José Carlos Mariátegui, que trabalha em um leprosário. Este encontro, assim como os meses que passariam na instituição médica, se revelariam decisivos e orientariam seu futuro destino de luta a favor dos oprimidos. Durante esta viagem, Guevara descobre a miséria e a exploração dos povos latino-americanos, particularmente perpetrada pelas multinacionais estadunidenses.

8. Em julho de 1953, depois de se formar médico, Guevara realiza uma nova viagem pela América Latina com seu amigo Carlos Ferrer. Na Bolívia, descobre o processo radical lançado pelo Movimento Nacionalista Revolucionário em 1952.

9. No dia 24 de dezembro de 1953 chega à Guatemala, governada então pelo presidente reformador Jacobo Arbenz. Estaria nove meses vivendo lá em condições economicamente difíceis.

10. Na Guatemala, Guevara faz amizade com Antonio “Ñico” López, exilado cubano que havia participado do ataque ao quartel Moncada comandado por Fidel Castro no dia 26 de julho de 1953. López seria quem daria o apelido “Che” a Guevara, em referência à intervenção tipicamente argentina usada pelo jovem médico.

11. Guevara chega à Guatemala com um pensamento político bem definido, como mostra uma carta que escreve para sua tia Beatriz no dia 10 de dezembro de 1953. “Tive a oportunidade de passar pelos domínios da United Fruit, me convencendo uma vez mais do terríveis que são esses polvos. Jurei a uma imagem do velho e pranteado camarada Stálin não descansar até ver aniquilados esses polvos capitalistas. Na Guatemala, me aperfeiçoarei e conseguirei o que me falta para ser um revolucionário autêntico... Seu sobrinho, o da saúde de ferro, do estômago vazio e da reluzente fé no porvir socialista.”

12. Guevara assiste ao golpe de Estado organizado pela CIA e pelo coronel Castillo Armas em junho de 1954, que bombardeiam a capital. Integra as brigadas juvenis comunistas que organizam a resistência e pedem em vão armas ao governo. O Estado Maior do Exército apoia o golpista e exige a saída de Arbenz, que é deposto em julho de 1954.

13. Guevara conta as lições do golpe de Estado contra Arbenz em uma carta a sua mãe: “A traição continua sendo patriotismo do Exército, e uma vez mais se prova o aforismo que indica a liquidação do Exército como o verdadeiro princípio da democracia".

14. Depois de se refugiar na embaixada da Argentina, consegue, em setembro de 1954, um salvo-conduto para ir ao México, onde viveria por dois anos. Trabalha como fotógrafo e médico e consegue sobreviver a duras penas. Pouco depois de sua chegada, volta a se encontrar com seu amigo cubano López, que o convida a se juntar a outros sobreviventes de Moncada.

15. Em 1955, Guevara conhece Raúl Castro, recém saído da prisão, com quem faz amizade. Pouco depois, ele o apresenta a Fidel Castro. Castro se lembra: “O Che era daqueles por quem todo mundo sentia imediatamente afeto, por causa de sua simplicidade, seu caráter, sua naturalidade, seu espírito de camaradagem, sua personalidade, sua originalidade. Não precisamos de muito tempo para entrarmos em acordo e o aceitarmos em nossa expedição [...]. Quando nos encontramos com Che, ele já era revolucionário formado; além disso, tinha um grande talento, uma grande inteligência, uma grande capacidade teórica”. Fidel Castro também se impressiona com o caráter do argentino: “O Che tinha asma. Ali estava em Popocatépetl, um vulcão que fica nas imediações do México, e todos os finais de semana ele subia o Popocatépetl. Preparava seu equipamento – a montanha é alta, 5482 metros, de neves perpétuas -, começava a subida, fazia um esforço enorme e não chegava ao topo. A asma era um obstáculo às suas tentativas. Na semana seguinte tentava de novo subir o “Popo” – como ele dizia – e não conseguia. Nunca chegava ao topo, e nunca chegou ao cume do Popocatépetl. Mas voltava a tentar de novo, e teria passado a vida toda tentando subir o Popocatépetl, fazia um esforço heroico, ainda que nunca chegasse ao cume. Vê-se o caráter. Dá uma ideia da fortaleza espiritual, de sua constância”.

16. A personalidade de Fidel também assombra Guevara. Em uma carta a seus pais, escreve: “Fiz amizade com Raúl Castro, o irmão mais novo de Fidel. Ele me apresentou ao chefe do Movimento quando já estavam planejando invadir Cuba. [...] Conversei com Fidel uma noite inteira. Ao amanhecer, já era o médico de sua futura expedição […]. Fidel me impressionou como um homem extraordinário [...]. Tinha uma fé excepcional [...]. Compartilhei de seu otimismo”. Che pede então a Fidel Castro que lhe permita ir lutar na Argentina, uma vez que a Revolução triunfe em Cuba.

17. No dia 2 de dezembro de 1956, Guevara desembarca em Cuba com os revolucionários liderados por Fidel Castro. O Exército já os espera e consegue dispersá-los.

18. Guevara se distingue desde o início por sua audácia e sua capacidade para liderar. Fidel Castro lembra dos primeiros momentos: “Sobreveio o primeiro combate vitorioso e Che foi soldado já de nossa tropa, e, ao mesmo tempo, era ainda o médico; sobreveio o segundo combate vitorioso e o Che já não era apenas soldado, senão foi o mais distinto dentre os soldados nesse combate, realizando pela primeira vez uma daquelas proezas singulares que o caracterizavam em todas as ações [...]. Essa era uma de suas características essenciais: a disposição imediata, instantânea, de se oferecer para realizar a missão mais perigosa. E aquilo, naturalmente, despertava admiração, a dupla admiração, àquele companheiro que lutava junto a nós, que não tinha nascido nessa terra, que era um homem de ideias profundas, que era um homem em cuja mente borbulhavam sonhos de luta em outras partes do continente e que, no entanto, tinha aquele altruísmo, aquele desinteresse, aquela disposição para fazer sempre o mais difícil, para arriscar sua vida constantemente”.

19. Fidel Castro decide nomeá-lo comandante em julho de 1957, e Guevara toma a frente da segunda Coluna chamada “Coluna n° 4” para enganar o inimigo sobre o número de guerrilheiros. Guevara é o primeiro a conseguir essa patente, muito antes de Raúl Castro.

20. Implacável com os traidores, os assassinos, os ladrões e os estupradores, aos quais aplica a pena capital, Guevara se mostra, por outro lado, generoso com os soldados feridos. Guevara relata um episódio a esse respeito: “Quando tomamos de assalto o primeiro caminhão, encontramos dois soldados mortos e um ferido que, em sua agonia, parecia seguir lutando. Foi finalizado sem que lhe dessem a possibilidade de se render, coisa que não poderia fazer porque estava meio inconsciente. Este ato de vandalismo foi realizado por um combatente cuja família foi aniquilada pelo Exército de Batista. Reprovei violentamente seu ato sem perceber que o outro soldado ferido me escutava. Tinha se escondido debaixo das mantas e tinha ficado na plataforma do caminhão sem se mover. Ao ouvir isso e as desculpas que deu nosso companheiro, o soldado inimigo se apresentou e pediu que não lhe matassem; uma bala tinha fraturado sua perna e ele tinha ficado na lateral do caminho enquanto os combates continuavam nos outros dois caminhões. Cada vez que passava um combatente a seu lado, o homem gritava: “Não me matem, não me matem, o Che disse que não matariam os presos”.

21. Em 1958, Fidel Castro decide nomear Che o chefe da Escola Militar recém-criada para formar os futuros guerrilheiros, com a finalidade de protegê-lo de seu caráter demasiadamente temerário: “Che era um soldado insuperável; Che era um chefe insuperável; Che era, do ponto de vista militar, um homem extraordinariamente capaz, extraordinariamente valente, extraordinariamente agressivo. Se, como guerrilheiro, tinha um calcanhar de Aquiles, esse calcanhar era sua excessiva agressividade, seu absoluto desprezo pelo perigo”.

22. Em junho de 1958, Guevara forma a Coluna n°8 com os novos recrutas para fazer frente à ofensiva final lançada por Batista um mês antes, mandando 10 mil soldados à Sierra Maestra para esmagar a guerrilha.

23. No dia 31 de agosto de 1958, depois do fracasso militar da ditadura, Fidel Castro lança a contraofensiva com a finalidade de estender a guerrilha a todo o país e ordena a Che e a Camilo Cienfuegos que se dirijam à capital. O périplo de mais de 500 km faz a tropa enfrentar um teste difícil, acossada pelas inclemências da natureza e pelo Exército governamental. Em uma carta a Fidel Castro, Cienfuegos conta os sofrimentos padecidos durante a odisseia: em 31 dias de caminhada, somente comem onze vezes, entre outras coisas, uma “égua crua sem sal”. “Somente os insultos e as ameaças de todo tipo faziam com que essa massa esgotada avançasse”.

24. Na região de Villa Clara, Che cria o “Pelotão Suicida”, integrado pelos guerrilheiros experientes, encarregados das missões mais difíceis: “O ‘Pelotão Suicida’ era um exemplo da moral revolucionária e era composto apenas de voluntários selecionados. No entanto, cada vez que um homem morria – e isso acontecia a cada combate – no momento de designar o novo aspirante, os que não foram selecionados se doíam até os prantos. Era curioso ver os jovens guerreiros [...] mostrando sua juventude, deixando correr algumas lágrimas por não ter a honra de estar na linha de frente da morte”.

25. No dia 28 de dezembro de 1958, Guevara lança o ataque contra a cidade de Santa Clara, último bastião do regime antes de Havana, reforçado por tropas dez vezes superiores em número aos guerrilheiros, que não superavam os 300 homens. A batalha termina com a captura do trem blindado que veio da capital com reforços. Não obstante, os rebeldes pagam um preço alto. Guevara dá seu testemunho a respeito: “Lembro de um episódio que era revelador do espírito de nossa força nesses dias finais. Eu tinha repreendido um soldado que estava dormindo no combate e me respondeu que o tinha desarmado porque ele tinha perdido um tiro. Respondi com meu tom seco habitual: ‘Arrume outro fuzil e vá desarmado para a linha de frente... se for capaz de fazê-lo’. Em Santa Clara, enquanto eu estava reconfortando os feridos, um moribundo me tocou a mão e me disse: “Lembra-se de mim, Comandante? O senhor me mandou conseguir uma arma em Remedio...aqui está’. Tratava-se do [mesmo] combatente [...], feliz de ter demonstrado sua valentia. Assim é o nosso Exército Rebelde”.

Ernesto "Che" Guevara reunido com Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre, em Cuba, em 1960

26. Ao se inteirar da queda de Santa Clara sob as mãos dos rebeldes, Batista decide fugir na noite de 1 de janeiro de 1959 para a República Dominicana. Fidel Castro ordena a Che e a Cienfuegos que se dirijam a Havana e tomem o controle dos quartéis de Columbia e La Cabaña.

27. Durante os primeiros meses de 1959, Guevara se encarrega dos tribunais revolucionários que julgam os crimes cometidos durante a ditadura militar. Cerca de 1000 pessoas passam pela “justiça expeditiva” e cerca de 500 são fuziladas. A título de comparação, durante a “Depuração Francesa”, depois da Segunda Guerra Mundial, cerca de um milhão de pessoas foram detidas e cerca de 100 mil foram condenadas. Houve 10 mil execuções, 9 mil delas extrajudiciais.

28. Em fevereiro de 1959, o presidente Manuel Urrutia declara Ernesto Guevara cidadão cubano pelos serviços prestados à nação.

29. Guevara desempenha um papel chave na criação do Instituto Nacional de Reforma Agrária e na elaboração da Lei de Reforma Agrária promulgada em maio de 1959. Segundo ele, “o guerrilheiro é, fundamentalmente, e, antes de mais nada, um revolucionário agrário. Interpreta os desejos da grande massa camponesa de ser dona da terra, dona dos meios de produção, de seus animais, de tudo aquilo pelo que lutou durante anos.”

30. Em 1959, Guevara é nomeado Ministro da Indústria e depois presidente do Banco Nacional e assina as notas com seu apelido “Che”, para mostrar seu desprezo pelo dinheiro e pelas riquezas materiais. Põe em curso a nacionalização dos setores estratégicos da economia do país.

31. Em 1960, durante o Primeiro Congresso Latino-Americano de Juventudes, Guevara desenvolve o conceito de “novo homem socialista”, que privilegia o interesse geral sobre as aspirações pessoais. Insiste na importância do trabalho voluntário, uma “escola criadora de consciência”, e dá exemplo todos os finais de semana trabalhando voluntariamente nas fábricas, nos canaviais e nos portos. Também realiza uma turnê pelo bloco socialista e pela China e assina numerosos acordos comerciais.

32. Feroz detrator da coexistência elaborada pelos Estados Unidos e pela União Soviética, depois da crise de outubro de 1962, Guevara multiplica a ajuda aos movimentos revolucionários na América Latina e no mundo em nome da solidariedade internacionalista. Seu sonho é desatar uma guerra insurrecional na Argentina.
[Che em Moscou, em 1965]

33. Em 1964, Che renuncia aos seus cargos no governo revolucionário para reiniciar a luta armada na América do Sul. Como as condições não estavam dadas, Fidel Castro lhe propõe ir ao Congo, na África, onde a CIA tinha assassinado Patrice Lumumba três anos antes. Situado no centro da África, fazendo fronteira com nove países, o Congo poderia ser o foco revolucionário que se expandiria para todo o continente.

34. Em 1965, Guevara escreve a famosa carta de despedida a Fidel Castro, na qual renuncia definitivamente a seus cargos e à nacionalidade cubana e declara sua vontade de fazer a revolução em outras terras. A carta se tornaria pública em outubro de 1965, no primeiro congresso do Partido Comunista de Cuba.

35. Em abril de 1965, Guevara chega a Tanzânia, dando retaguarda aos revolucionários congolenses. A presença do líder argentino no campo de batalha suscita a preocupação dos chefes da rebelião congolesa pelas implicações internacionais. Da mesma forma, enquanto aqueles passavam a maior parte do tempos [na cidade de] Dar es Salaam, na Tanzânia, Guevara lhes recorda com sua presença que um chefe deve estar entre seus homens na linha de frente. A experiência congolesa, que duraria nove meses, seria um “fracasso”, segundo Che, por causa de lutas internas, da falta de disciplina entre os rebeldes, e da decisão unilateral da Tanzânia de deixar de abastecer os rebeldes. Em uma carta ao presidente Julius Nyerere, Guevara expressa sua incompreensão e seu desgosto: “Cuba deu ajuda sujeita à aprovação da Tanzânia, esta aceitou e a ajuda foi efetiva. Sem condições ou limite de tempo. Compreendemos as dificuldades da Tanzânia hoje, mas não estamos de acordo com suas abordagens. Cuba não volta atrás em seus compromissos nem pode aceitar uma fuga vergonhosa deixando o irmão na desgraça à mercê dos mercenários”.

36. Depois de uma estadia em Praga, Guevara volta secretamente a Cuba, de onde decide ir para a Bolívia, então sob o jugo da ditadura do general René Barrientos. O objetivo é lançar um movimento insurrecional que se expandiria por toda a América do Sul.

37. No dia 7 de novembro de 1966, Guevara começa a escrever seu diário da Bolívia. Um total de 47 combatentes, entre eles 16 cubanos, compõe o Exército de Libertação Nacional da Bolívia e ocupam uma área montanhosa no sudeste do país, perto do rio Ñancahuazú.

38. Em março de 1967, a prisão dos dois desertores alerta o regime militar, que solicita ajuda dos Estados Unidos para capturar Guevara e seus homens. No mesmo mês, começam os combates entre a guerrilha e o Exército boliviano, o qual inflige severas baixas a tropa de rebeldes.

39. No dia 20 de abril de 1967, o Exército prende Regis Debray e Ciro Bustos, dois membros da rede de apoio à guerrilha. Ambos são submetidos à tortura e fornecem informações que permitem ao regime localizar os revolucionários.

40. Mario Monje, secretário-geral do Partido Comunista da Bolívia, em vez de dar à tropa a ajuda logística e humana prevista, abandona Guevara e os guerrilheiros à própria sorte.

41. Longe de se se dar por vencido, Guevara lança sua famosa “Mensagem aos povos do mundo” e chama os revolucionários a “criarem dois, três, muitos Vietnãs”.

42. Em agosto de 1967, o Exército aniquila a coluna n°2 e Guevara fica só com duas dezenas de combatentes a frente da coluna n°1.

43. No dia 7 de outubro de 1967, Guevara está perto de La Higuera com 16 combatentes e escreve sua última reflexão em seu diário, depois de “onze meses” de luta.

44. No dia 8 de outubro de 1967, o Exército surpreende a tropa na Quebrada del Churo. Para permitir que os feridos escapem, Che decide enfrentar o Exército com os poucos homens válidos. Depois de várias horas de combate, Guevara, ferido em uma perna, é capturado pelo Exército, que o leva a uma escola em La Higuera. Somente cinco guerrilheiros sobreviveriam e conseguiriam se refugiar no Chile.

45. No dia 9 de outubro, o ditador Barrientos, seguindo as ordens da CIA, ordena a execução de Che. O coronel boliviano Miguel Ayoroa, que participou da captura de Che, dá seu testemunho: “Um dos homens da CIA era Félix Rodríguez, um cubano exilado que entrou na escolinha gritando “Você sabe quem eu sou?”. Che o olhou com asco e respondeu. “Sim, um traidor”, e cuspiu na cara dele.

Fidel Castro e o Che marcham em Havana, em 1959


46. Félix Rodríguez contaria mais tarde: “Mandei [ao sargento] Terán que efetuasse a ordem. Disse que deveria disparar sob seu pescoço já que assim poderíamos provar que tinha sido morto em combate. Terán pediu um fuzil e entrou na sala com dois soldados. Quando escutei os disparou anotei no meu caderno 1:10 pm, 9 de outubro de 1967”.

47. O sargento Mario Terán relataria sua experiência em 1977 à revista francesa Paris-Match: “Hesitei 40 minutos antes de executar a ordem. Fui falar com o coronel Pérez com a esperança de que ele a tivesse anulado. Mas o coronel ficou furioso. Assim é que eu fui. Esse foi o pior momento de minha vida. Quando cheguei, Che estava sentado em um banco. Ao me ver, disse: ‘O senhor veio me matar’. Eu me senti coibido e baixei a cabeça sem responder. Então, me perguntou: ‘O que os outros disseram?’. Respondi que não tinham dito nada e ele disse: ‘Eram um valentes!’. Eu não me atrevi a disparar. Nesse momento, vi Che grande, muito grande, enorme. Seus olhos brilhavam imensamente. Sentia que vinha para cima de mim e, quando me olhou fixamente, senti uma tontura. Pensei que, com um movimento rápido, Che poderia tirar a minha arma. ‘Fique tranquilo – me disse – e aponte bem! Vai matar um homem!’. Então, dei um passo para trás, até o limiar da porta, fechei os olhos e disparei a primeira rajada. Che, com as pernas destroçadas, caiu no chão, se contorceu e começou a jorrar muitíssimo sangue. Eu recuperei o ânimo e disparei a segunda rajada, que o atingiu em um braço, no ombro e no coração. Já estava morto”.

48. Em 1997, os restos de Che e de seus companheiros de luta são levados para Cuba, onde descansam no Memorial Ernesto Guevara, na cidade de Santa Clara.

49. Dotado de grande inteligência, Guevara deixou muitos escritos e uma filosofia política chamada guevarismo. Segundo Fidel Castro, “Che era um homem de pensamento profundo, de inteligência visionária, um homem de profunda cultura. Isso é, reunia em sua pessoa o homem de ideias e o homem de ação [...]. O pensamento político e revolucionário de Che terá um valor permanente no processo revolucionário da América Latina”.

50. Guevara fica na memória coletiva dos povos como o defensor dos oprimidos, que se indignou com as injustiças, o símbolo do desinteresse e o homem que pegou em armas em nome do interesse superior dos condenados da terra.

*Salim Lamrani é Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama Cuba. Les médias face au défi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.

Diap: ano eleitoral vai dificultar andamento da pauta trabalhista

Temas considerados prioritários pelas centrais, a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário terão dificuldades de avançar este ano no Congresso, avalia o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).


protesto em brasília contra terceirização CTB
 Protesto em Brasília contra a Terceirização
O debate continuará nas comissões, mas dificilmente seguirá ao plenário. “Vai ser um ano de pouca deliberação, pouco resultado”, afirma. Três fatores, basicamente, deverão fazer com que a pauta se acumule para 2015: carnaval, Copa do Mundo e eleições.

No caso do fator previdenciário, a dificuldade está relacionada ao receio do Planalto de aprovar propostas que tenham impacto nas contas públicas. “O governo está muito temeroso de que as agências (de classificação de risco) possam rebaixar as notas do país, o que poderia ter efeito na campanha”, observa o analista. O fator integra o que ele classifica de “pauta-bomba”.

Da mesma forma, a proposta de redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais aparece com poucas chances de evoluir entre os congressistas. “Ninguém deve tentar tratar disso em ano eleitoral. Se o próprio Parlamento não teve condições de votar em período mais arejado, não vai ser agora”, comenta Queiroz.

Já um projeto de lei combatido pelas centrais, o 4.330, sobre regulamentação da terceirização, também pode ficar travado em 2014, pelo receio dos partidos de expor seus parlamentares em um momento de buscar votos. Da mesma forma, iniciativas que permitam ao negociado em acordos coletivos prevalecer sobre a legislação também teria pequena possibilidade de avançar.

O diretor do Diap vê mais chances em dois casos: o contrato especial para trabalho durante eventos da Copa e das Olimpíadas de 2016 e a regulamentação do direito de greve no serviço público, tema que vem sendo discutido em uma comissão especial e enfrenta críticas das centrais. “Esse tem possibilidade, mas tem resistência”, afirma. A possibilidade seria maior, acredita, se o projeto fosse de iniciativa do Executivo – que existe, mas não teria saído da gaveta até agora por desacordo entre as várias áreas internas envolvidas.

De temas mais relevantes, Queiroz acredita que apenas dois serão efetivados: a regulamentação do serviço doméstico, em análise na Câmara, e a PEC do trabalho escravo, que retornou à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O restante ficaria mesmo para 2015, já sob novo governo e nova legislatura na Câmara (e um terço renovado no Senado).

Fonte: Rede Brasil Atual via Vermelho

FHC: de volta para o futuro!

Neste domingo (5), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou artigo nos jornais O Globo, O Estado de S. Paulo e Zero Hora, entre outros, que parece ser o esboço do que virá a ser o programa do PSDB para a campanha eleitoral à Presidência da República.

Por Wagner Iglecias* e Mariana Ruivo**, no jornal GGN


Entre as velhas receitas tucanas de sempre relativas à gestão pública e ao papel do Estado na economia, FHC discorreu bastante sobre política externa e sobre o lugar que imagina como ideal para o Brasil na ordem internacional.

Ele enumera o que seria sua visão sobre política externa para o Brasil hoje: o retorno do alinhamento automático aos declinantes EUA e à decadente Europa, a entrada na ultraliberal Aliança do Pacífico (comandada pelos EUA) e por conta disso a consequente e inevitável relativização das nossas relações com a China, e o distanciamento em relação aos governos sul-americanos mais à esquerda. Para completar, o maior intelectual da direita deste país cita o México como potência emergente. 

Faltou lembrar que depois de 20 anos do Nafta, o acordo de livre comércio com os EUA, o México hoje em dia importa até milho do vizinho do norte e é atualmente um país em crise profunda, com altíssimos índices de violência e com mais de 51,4% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo dados do CIA World Factbook, o site da Central de Inteligência Americana. Sobre países sul-americanos governados pela esquerda, FHC acena com a palavrinha mal-conhecida nestas plagas mas que tanto assusta o eleitorado típico de seu partido: bolivarianismo. Que não fosse a vitória da economia de mercado em todo o mundo estaria hoje para os setores conservadores da nossa sociedade como a palavra comunismo esteve para estes mesmos setores nos anos 1960.

Sobre a necessidade de maior alinhamento com EUA e Europa, nenhuma novidade. FHC, aos oitenta anos de idade, é, neste assunto, o mesmo FHC dos sessenta e poucos, quando exerceu a Presidência da República, e o mesmo FHC dos trinta e poucos, quando desenvolveu sua versão da Teoria da Dependência, pela qual imaginava que o futuro do Brasil seria, necessariamente, o desenvolvimento associado e dependente aos países mais ricos do mundo. Não que nestes três momentos de sua produção intelectual FHC discordasse da necessidade de maior aproximação com outros países e regiões do mundo, mas para ele isto sempre seria secundário como estratégia de desenvolvimento para o país.

Exatamente ao contrário disso têm sido os anos petistas no comando da nação. Não que Lula e Dilma tenham se distanciado dos EUA e da Europa, mas, antes, buscaram, sobretudo Lula, aproximar o Brasil de outros países e regiões do mundo. Uma das maiores características do governo Lula foi a multilateralização nas relações externas e a ênfase na participação ativa do país nos grandes centros de decisão na esfera mundial. Comparada ao governo FHC, foi uma postura marcada pela busca de novas parcerias politicas e econômicas além da tradicional relação Norte-Sul. 

Durante os oito anos de governo houve uma concreta e crescente atuação em órgãos e agências de âmbito mundial, como no Conselho Segurança da ONU, reafirmando o desejo e a candidatura do país a uma cadeira como membro permanente; na OMC – com a Rodada de Doha, nas missões de paz, com destaque para a Missão de Paz no Haiti, além do fortalecimento das alianças Sul-Sul – parcerias estratégicas com a China, Índia, África do Sul, Rússia, além de maior aproximação com vários países africanos e do mundo árabe. Em relação à América do Sul, avançou-se na questão da Unasul e o Brasil, ainda que não sem percalços, consolidou a região como sua plataforma de projeção no cenário mundial.

Com um viés mais burocrático, no governo Dilma Rousself temos tido uma política exterior mais conservadora e sem voos mais arriscados. Ao que tudo indica, parece ter havido uma concentração nas decisões de política externa nas mãos da presidenta – tirando do Itamaraty a autonomia que tanto o caracterizava. Além disso, parece que ela tem estado mais ocupada com a política doméstica e a economia do que com a política externa. No entanto, nada indica a volta de um alinhamento tão pronunciado, como defende FHC, com os EUA e a Europa.

Num mundo multipolar, composto por grandes blocos, e no qual diferentes países e regiões vão emergindo como os novos polos dinâmicos da economia mundial, é frustrante ver a defesa da volta ao alinhamento automático com as velhas potências do século 20. Pra completar, em seu artigo FHC ainda critica a privatização light feita por Dilma e defende o seu modelo mais hardcore de venda dos ativos públicos para a iniciativa privada. Bem-vindos aos anos 1990, pessoal!

*Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP.

**Mariana Ruivo é mestranda no Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora da área de Política Internacional. 

O “novo rumo” de FHC é a subordinação do Brasil ao imperialismo

Na luta política, nada como enfrentar um adversário que fala, fala, fala e, no caso de um tucano, literalmente abre o bico. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso presta-nos este favor quando vem a público em seus artigos publicados nos jornalões do PIG defender seus pontos de vista.

Por José Reinaldo Carvalho*

Cumpre o seu papel de principal ideólogo do neoliberalismo e neoconservadorismo no País, sendo a liderança que exerce autoridade de fato no PSDB, partido em franca decadência e hoje carente de líderes e candidatos viáveis. Mas o “mérito” de FHC fica por aí, haja vista que suas opiniões e decisões revelam-se não só falsas, como resultam em rotundo fracasso. Basta exemplificar com a decisão que tomou de, com um dedaço, indicar Aécio Neves para se candidatar à Presidência da República em 2014. Foi outro favor que prestou à coalizão progressista liderada pela presidenta Dilma, cujas chances de reeleição residem nos seus próprios méritos e na fraqueza dos adversários.


A última tirada de FHC foi um tijolaço publicado no jornal O Globo no último domingo (5). O sociólogo, cujo governo foi caracterizado como aquele que exerceu a diplomacia de pés descalços pelo gesto de subserviência de seu chanceler ao submeter-se a duvidosas normas de segurança num aeroporto dos Estados Unidos, resolveu deitar falação sobre a política externa vigente, que para ele “precisa rever seu foco”. O ex-presidente acha necessário que o Brasil “estreite relações com os Estados Unidos e a Europa” e se separe do “bolivarianismo”, condição para que o país retome seu papel de liderança na América Latina.

Com ares de especialista em geopolítica, FHC diz que o governo “colocou suas fichas no ‘declínio do Ocidente’”. Desdenhando a inteligência do leitor, interpreta a tese do declínio do imperialismo estadunidense e europeu com uma nota forçada, para encobrir o seu fascínio com o poder dos centros do imperialismo no mundo. “Da crise surgiria uma nova situação de poder na qual os Brics, o mundo árabe e o que pudesse se assemelhar ao ex-terceiro mundo teriam papel de destaque. A Europa, abatida, faria contraponto aos Estados Unidos minguantes. Não é o que está acontecendo: os americanos saíram à frente, depois de umas quantas estripulias para salvar seu sistema financeiro e afogar o mundo em dólares, e deram uma arrancada forte na produção de energia barata”. Não foi isto o que dissemos, mas que o imperialismo estadunidense e europeu está vivendo um declínio histórico. Não fizemos prognósticos ingênuos. Apenas apostamos na objetividade do desenvolvimento histórico e na capacidade subjetiva das forças revolucionárias para organizar a luta anti-imperialista.

FHC não quer aceitar o óbvio, reage qual o velho do Restelo diante da força dos fatos. Despertaram-se forças irreversíveis no mundo contemporâneo que atuam no sentido contrário ao poder hegemônico estadunidense e europeu, engolfado em profunda crise sistêmica e atingido por insanáveis contradições. As expectativas do exercício do poder unipolar pelos Estados Unidos após o final da Guerra Fria não se confirmaram. Foi-se o tempo em que um arrogante Clinton dizia que a hegemonia econômica estadunidense recuperada com a globalização – que FHC glorificou como um novo renascimento – demonstrava a falência das teorias de Marx, arrancando aplausos até entre acadêmicos “de esquerda”.

Pertence igualmente ao passado a era em que um presidente que exerceu por oito anos o governo como um poder terrorista internacional em nome do “combate ao terrorismo”, declarava guerra ao mundo e a única atitude de diferenciação era a perplexidade da chamada “comunidade internacional”. Hoje, a luta e a resistência dos povos, somada a uma atitude proativa de outras potências no âmbito do Conselho de Segurança da ONU detêm a mão criminosa do imperialismo e o obrigam a sentar-se à mesa de negociações com países como Síria e Irã.

Nada mais passadista do que a proposta do ex-presidente de forçar o retorno do Brasil ao alinhamento com potências imperialistas como os Estados Unidos e os que exercem o poder de fato na União Europeia. É o velho cacoete das classes dominantes reacionárias do Brasil de atar o seu destino aos desígnios imperialistas.

A disponibilidade do ex-presidente para prestar serviço às forças reacionárias mundiais fica mais evidente com seu ataque ao “bolivarianismo”. FHC investe contra a tendência mais progressista do mundo contemporâneo – o anti-imperialismo latino-americano – cuja expressão é a revolução bolivariana e todo o processo de integração solidária iniciado com as vitórias eleitorais das forças progressistas a partir da conquista do governo por Hugo Chávez na Venezuela, em 1998, e Lula no Brasil, em 2002. A nova América Latina está no nascedouro, mas o que se alcançou em década e meia é um extraordinário avanço histórico. A criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos – Celac – é o mais relevante fato em 200 anos de história, o marco da segunda e definitiva independência. Desqualificar esta conquista é um exercício de retórica para preparar ações que promovam o retrocesso.

As invectivas de FHC contra a política externa brasileira constituem uma senha para um dos debates que a campanha eleitoral viverá nos próximos meses. Seus ataques ao “bolivarianismo” reeditam um episódio da campanha de 2010, quando os derrotados Serra e Marina Silva condenaram a política externa de Lula e Celso Amorim pela “aliança com ditadores”.

Se eu fosse tucano, aconselharia o ex-presidente FHC a não embarcar de novo nessa canoa furada. Mas seria incoerência, porquanto o único conselheiro dos tucanos é o próprio FHC.

A política externa continua sendo uma das melhores realizações dos governos progressistas no Brasil nos últimos 11 anos. A projeção internacional do Brasil e o prestígio de Lula e Dilma no mundo pesam na alta avaliação que a população brasileira faz dessas duas lideranças e é um componente a favor da reeleição de Dilma Rousseff.

Embora aparentemente distante do cotidiano das pessoas simples, a política externa granjeou popularidade, pois a população percebeu que mudou a forma de o Brasil se inserir no mundo, o país se tornou mais respeitado no exterior e se credenciou a desempenhar um papel mais ativo e de maior destaque na vida internacional.

O sucesso da política externa dos governos de Lula e Dilma reside em primeiro lugar em que esteve vinculada à luta pelo desenvolvimento nacional, para o que é imprescindível a defesa da soberania, num mundo carregado de ameaças de espoliação econômica e imposições políticas pela globalização financeira e pela política das grandes potências, principalmente do imperialismo norte-americano e seus aliados.

A política externa brasileira desde Lula é uma política externa autônoma, pacifista e democrática, ideologicamente vinculada ao nacional-desenvolvimentismo, às melhores tradições da diplomacia brasileira, que incorporou há décadas os princípios da autodeterminação e da não intervenção, princípios aliás inscritos no artigo IV da Constituição da República, promulgada em 1988. Baseado na percepção do papel do Brasil no mundo não mais como país dependente e subordinado aos ditames dos Estados Unidos, mas como nação soberana, embora ainda vulnerável, com vontade e interesses próprios, em transição para o status de potência emergente, o Itamaraty nos últimos 11 anos formulou e pôs em prática uma política exterior “ativa e altiva”, na expressão do ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Tem sido uma política externa cheia de iniciativa e assertividade, compreendendo como a ação internacional pode condicionar o êxito de um novo projeto nacional de desenvolvimento, ainda em gestação. É ocioso e vão negar os resultados positivos dessa assertividade em política externa, das novas parcerias estratégicas e das novas responsabilidades que o país vai assumindo internacionalmente.

Uma política externa acanhada, protocolar, centrada na prioridade ao bilateralismo com os Estados Unidos e subordinada aos interesses dessa potência poria em risco a própria independência nacional. É o que quer FHC. Essa percepção levou a diplomacia brasileira ao universalismo e ao multilateralismo que se traduziram, no âmbito do arcabouço institucional, na luta pela reforma das Nações Unidas, a democratização e reestruturação das suas instâncias e a alteração da composição do Conselho de Segurança, buscando conquistar aí seu espaço como membro permanente.

A política externa praticada a partir da primeira posse de Lula, em 2003, defendeu firmemente a paz e desdobrou-se para fazer prevalecer o direito internacional. Ao receber uma ligação telefônica do ex-presidente Bush, rogando apoio à invasão do Iraque, Lula foi cortante: “A única guerra do meu governo é contra a fome e a pobreza”, retrucou o então novato presidente, àquele que foi o mais agressivo e conservador chefe de Estado norte-americano desde sempre.

O universalismo e o multilateralismo da política externa brasileira ganharam fôlego com o estabelecimento de parcerias estratégicas com a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul e a atenção dedicada ao Oriente Médio. É inexorável a tendência a mudanças na correlação mundial de forças. Nesse quadro, novas parcerias e alianças são indispensáveis como novo âmbito de coordenação política. Abrem-se com isso novas oportunidades para as relações do Brasil com outros povos e nações. A África, em particular os países lusófonos, mas não só, constituiu um novo foco da presença internacional do Brasil.

A opção estratégica mais importante e eficaz das forças progressistas brasileiras em política externa dirigiu-se para a América Latina e especialmente para o sul do continente. Foram inúmeras as iniciativas do Brasil para fortalecer as relações com os países do entorno, como para levar adiante e consolidar o processo de integração.

A demanda de “novo rumo” de FHC para a política externa encerra um rico debate e contém questões ligadas ao avanço ou ao retrocesso da luta do povo brasileiro para construir uma nação progressista forte, capaz de influir positivamente nos acontecimentos mundiais.

*Jornalista. Editor do Portal Vermelho, e membro da Comissão Política do CC do PCdoB.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Mercantil do Brasil desrespeita trabalhadores, demite e fecha agências

Banco inicia 2014 fechando oito agências em vários estados

Deixando claro, mais uma vez, o seu desrespeito em relação aos trabalhadores, o Mercantil do Brasil iniciou, no fim de 2013, um processo de demissões em todo o Brasil, que vem deixando bancárias e bancários inseguros em relação ao seu futuro no banco. Em dezembro, cerca de 50 funcionários do banco na base do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e região foram surpreendidos com a carta de demissão.

Diante da grave situação, o Sindicato exigiu imediatamente uma explicação do Mercantil, que alegou estar realizando um processo de reestruturação e que não haveria novas demissões. Porém, o banco não apenas continuou com os cortes, como também fechou oito agências espalhadas pelo país nesta terça-feira (7).

Foram fechadas duas unidades de trabalho em Belo Horizonte, além de outras seis localizadas nos estados de Mato Grosso do Sul, Bahia, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A medida não apenas desrespeita a categoria, como vai contra o próprio discurso do Mercantil de que pretendia avançar e atingir o número de 200 agências no país.

Além disso, mudanças de perfil em outras sete agências, situadas em Minas Gerais e também nos estados de São Paulo e Espírito Santo, têm deixado os trabalhadores apreensivos. A reestruturação é realizada para que as unidades de trabalho passem a operar com atendimento exclusivo aos beneficiários do INSS.

O Sindicato está cobrando uma reunião com o banco na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais (SRTE/MG) para exigir esclarecimentos e o fim do absurdo processo de demissões. 

Em outras ocasiões, o Mercantil já demonstrou claramente sua postura autoritária e de desrespeito aos bancários. Em manifestações realizadas em agosto de 2013, por exemplo, no Dia Nacional de Luta no Mercantil do Brasil, gestores do banco intimidaram trabalhadores e chegaram a chamar a Polícia Militar para a porta da agência, em Belo Horizonte, para forçar bancárias e bancários a entrarem na unidade de trabalho.

O funcionário do Mercantil e diretor do Sindicato, Vanderci Antônio da Silva, destacou o ambiente pesado observado nas agências do banco. "Temos visitado, constantemente, as agências e departamentos do Mercantil, onde constatamos um ambiente tenso e triste, em alguns casos, sem nenhum exagero, um clima de velório. São funcionários desolados com as demissões de companheiros e preocupados com o futuro incerto."

"A famigerada reestruturação proposta pelo Mercantil está adoecendo os funcionários e piorando suas condições de trabalho. Lutaremos contra esta situação, já que os trabalhadores não são culpados e não podem ser penalizados pela má gestão do banco", afirmou Vanderci.


Fonte: Contraf com Glauber Guimarães - Seeb BH

América Latina segue fortalecendo o polo anti-imperialista

Editorial do Vermelho

O ano de 2014 mal começou e alguns críticos alertam para “o perigo vermelho”. Foi o que afirmou Arnaldo Jabor em sua coluna semanal no jornal O Globo, na qual se referiu aos governos progressistas da América Latina como “eixo do mal”. Também o ex-presidente FHC defendeu em artigo publicado no último final de semana que o Brasil precisa afastar-se do “bolivarianismo”. Contudo, o apelo ao leitor para que resista às “tentações de esquerda” é inútil e não vai evitar que a região siga avançando nas mudanças. Neste ano, cidadãos de sete países vão às urnas eleger ou reeleger seus presidentes e a perspectiva é de continuidade aos processos já iniciados. 

Em 2013, apesar das articulações da direita, os resultados das eleições no Equador, Chile, Venezuela e Argentina demonstraram a força política de seus governantes progressistas. Em 2014 não deve ser diferente. Não vai ser fácil, mas Brasil e Bolívia devem reeleger seus atuais presidentes: Dilma Rousseff e Evo Morales, respectivamente. No Uruguai, o candidato favorito é o ex-presidente Tabaré Vasquez, da Frente Ampla, mesmo partido do atual mandatário José Mujica. Todos progressistas. Em El Salvador, a situação ainda é incerta, bem como na Costa Rica. No Panamá, a disputa se dará entre dois conservadores. Outro processo que merece destaque são as eleições municipais do Equador, que devem consolidar a liderança de Rafael Correa – reeleito no primeiro turno do pleito passado. Há ainda a eleição presidencial na Colômbia, que será muito influenciada pelos diálogos de paz entre o governo e as Farc. 

Uma vez confirmadas as expectativas, somente os governos de Peru, Colômbia e Paraguai não serão progressistas na América do Sul. Desta forma, a região caminha com as próprias pernas e se distancia da orientação neoliberal. Enquanto a direita busca se aninhar sob a liderança política norte-americana, os chefes de Estado que lutam pela construção de um novo mundo com políticas externas soberanas se destacam como exemplos a serem seguidos.

Para desespero daqueles que defendem os tratados de livre comércio e relações mercantis de subordinação aos interesses das transnacionais, a integração regional segue sendo a principal bandeira da política exterior da região e se afigura como um processo de integração solidária. 

Desta forma, a Aliança do Pacífico encontra condições mais desfavoráveis para ser vista como uma alternativa. Com viés neoliberalizante, a iniciativa formada por Chile, México, Peru e Colômbia (principais governos conservadores) pode perder a pouca força que tem após a ascensão da presidenta progressista Michele Bachelet no Chile. Outro duro golpe para o bloco que busca favorecer o comércio com os EUA e não com os países da região foi o passo atrás dado pelo mandatário do Paraguai, o neoliberal Horácio Cartes, que, após especular, preferiu voltar ao Mercosul, deixando a aliança em segundo plano. 

Assim, o Mercosul se fortalece com a incorporação de novos países – primeiro a Venezuela, e agora Bolívia e Equador – como membros de pleno direito do bloco.

As principais economias da América Latina resistem às crises externas como a enfrentada pelos países da União Europeia. A perspectiva é que os governos progressistas da América Latina consigam não só evitar a recessão, mas manter o crescimento do PIB. Isso ao passo em que diminuem significativamente seus índices de desigualdade, pobreza e miséria e aumentam os índices de desenvolvimento humano.

Não se trata de uma virada repentina à esquerda, mas de um processo histórico de acumulação de forças em um continente explorado e que serviu de laboratório para todo tipo de experimento neoliberal. Diferentemente do passado, quando a América Latina só falava quando lhe davam permissão, hoje ela tem voz própria, o que causa inquietação naqueles que detinham o controle da situação.

Seguindo o ritmo de 2013, movimentos sociais devem continuar nas ruas para exigir mais conquistas e a defesa de direitos, como é o caso do México que, governado por um presidente neoliberal e alinhado aos Estados Unidos, vive um momento de forte descontentamento popular após a aprovação de reformas privatizantes. Na mesma linha, a cidadania paraguaia deverá permanecer nas ruas não só contra o aumento da passagem de ônibus, como contra os abusos e desmandos de políticos pouco ou nada comprometidos com a melhoria de vida da população. Em outra frente, após mobilizar todo o Chile e chamar a atenção mundial para a problemática da educação do país, o movimento estudantil chileno terá que enfrentar o desafio de, com representantes no parlamento e um governo simpático à sua causa, seguir a luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade.

Questões ambientais permanecem na ordem do dia e revelam outra faceta da disputa entre o imperialismo e os países que buscam autonomia e soberania, como se vê explicitado na contenda envolvendo a petroleira Chevron e o governo do Equador, que seguirá em 2014. 

Outra bandeira histórica dos movimentos sociais que se cristaliza em 2014 é a da democratização da comunicação. A partir dos debates já realizados sobretudo devido à Lei de Meios argentina, a questão avança para temáticas como a discussão de um marco regulatório na internet e a solução para a privacidade e a proteção dos dados que circulam na rede, questões estas que tendem a ocupar mais o debate a partir da aprovação da lei do software livre e acesso à informação que está sendo debatida no Uruguai. 
As forças progressistas e os movimentos sociais saberão conduzir suas lutas com discernimento político, buscando fortalecer cada vez mais os governos progressistas latino-americanos, que integram o campo anti-imperialista no plano mundial, um bloco que se opõe às políticas imperialistas e neoliberais. 

Agência antidrogas dos EUA se aliou a narcotraficantes mexicanos

Funcionários da Administração para o Controle de Drogas (DEA, na sigla em Inglês) e do Departamento de Justiça dos EUA podem ter se aliado secretamente a narcotraficantes mexicanos, incluindo a organização encabeçada por “El Chapo” Guzmán (um dos traficantes mais procurados do mundo). As revelações foram realizadas por um relatório divulgado pelo jornal mexicano El Universal.


Denúncias revelam que DEA pode ter cooperado com cartéis mexicanos em troca de informações sobre outras organizações criminosas em troca de fazer vista grossa a respeito das atividades de seus informantes| Foto: Reuters

De acordo com o jornal, o governo estadunidense estava ciente das reuniões secretas dos agentes da DEA com os “narcos” mexicanos, que se realizaram sem a participação das autoridades do México. Além disso, também revela que o escritório regional da DEA sabia dos encontros e deixava que os cartéis “sócios” seguissem com suas atividades ilegais.

O texto diz ainda que, com base em registros do tribunal e citações de vários oficiais dos EUA envolvidos em reuniões secretas com os traficantes de drogas, os funcionários da DEA, devido às informações fornecidas por seus informantes, foram capazes de prender membros de cartéis da concorrência e interceptar carregamentos de drogas.

Essa colaboração pode ter ocorrido principalmente sob o governo dos presidentes Vicente Fox (2000-2006) e Felipe Calderón (2006-2012). Um dos principais sócios da DEA seria o cartel de Sinaloa, a organização criminosa do narcotráfico mais influente no México.

Com informações da RT via Vermelho

Vendem-se negros no Mercado Livre

"Eu não tenho nada contra negros. Eu gosto deles. Gosto tanto que acho até que cada um deveria ter o seu!" - essa frase, acompanhada por gargalhadas dos que almoçavam conosco, foi disparada pelo pai de um amigo quando abordaram o tema preconceito. As risadas revelaram não o racismo, mas o bom humor daquela família de classe média paulistana. 

Por Jornalismo Wando*


Após o chiste, todos ali sentados fizeram questão de reforçar o quão despidos de preconceito são e iniciaram relatos sobre suas experiências antirracistas, tais como: contratação de funcionários negros, o bom convívio com a cunhada "moreninha" e o clássico "até tenho amigos que são". Foi assim que o Pequeno Wando, aos 11, foi apresentado à democracia racial brasileira.

Mas, enfim, a democracia é linda, a vida é bela e o mercado é livre. Tão livre que o humor da nova geração de humoristas chegou no site de mesmo nome, o feirão virtual de compra, venda e troca de produtos chamado Mercado Livre.

Nesse início de ano, um anúncio todo trabalhado no humor politicamente incorreto foi aprovado pelo site:



Logicamente trata-se de uma peça de humor, nada a ver com preconceito. É a versão digitalizada da piada do pai do meu amigo.

Muita gente achou engraçado e fez ofertas e comentários brincalhões:



Nada como desfrutar da liberdade de expressão da maneira mais descontraída possível.
Mas ainda bem que o Brasil é um país que esbanja tolerância. Tanto que as estatísticas, apesar de mostrarem negros recebendo salários menores que os brancos nas mesmas funções, indicam que apenas 4% dos brasileiros se consideram racistas, apesar de 87% admitir a existência de discriminação racial no país. Parece piada, mas não é. Isso quer dizer que quase todos os brasileiros até acreditam na existência do racismo, mas nem 5% se considera racista.

Nesse contexto brasileiro, em que os racistas não existem, brincar de traficantes de escravos na internet não chega a ser um escândalo. O racismo, claro, está muito mais presente na visão dos carrancudos patrulheiros do que na sociedade. Falta-lhes a ousadia, a alegria e a malemolência típicas do brasileiro. No nosso país, a harmonia entre os povos está tão consolidada, que relembrar com deboche dos tempos da escravidão não fere a moral do autor da brincadeira. Pelo contrário, você pode até ser valorizado por enfrentar os "falsos moralistas" que enxergam racismo em tudo. Pode até ganhar um programa na TV, uma coluna no jornal ou virar um humorista de sucesso.

Para muita gente, o holocausto promovido por Hitler é muito mais chocante que a escravidão no Brasil, evento encerrado apenas algumas décadas antes do nazismo. Talvez seja por isso que Danilo Gentili tenha pedido desculpas para a comunidade judaica, indignada com uma piada sua. Já para o negro indignado, o humorista ofereceu bananas.

E o que a empresa Mercado Livre tem a ver com o que seus usuários postam? Nada, a não ser o fato de que essa não é a primeira nem a segunda vez que isso acontece nesse site. Vejamos o anúncio postado em fevereiro do ano passado:


Só que o negro em questão existe e se revoltou nas redes sociais ao ver seu nome estampado no Mercado Livre. Quando se dirigia à delegacia para registrar queixa, o rapaz recebeu a visita do autor do anúncio, que pediu desculpas e disse que tudo não passava de uma grande brincadeira.

E o Mercado Livre, apesar de não ser responsável pela autoria das piadas, também não faz grandes esforços para combater esse recorrente tipo de "venda". Se você tentar inserir um número de telefone ou endereço de email no comentário de algum anúncio, imediatamente será impedido pela inteligência do sistema. Essas mesmas dificuldades você não encontrará se tentar vender um ser humano. Pelo contrário, teu anúncio ficará tempo suficiente para divertir muita gente.

Reparem na imagem acima quantas pessoas curtiram a piada no Facebook: cinco mil. Nenhuma delas é racista. Todas são apenas incorretamente bem humoradas.

* Publicado no Yahoo Notícias
Com informações de @MariaRitaaaah, do site Blogueiras Negras

Bradesco tem de indenizar bancários

Se as organizações financeiras insistem em colocar os bancários em desvio de funções e, muita vezes, expor os trabalhadores a riscos de morte, a Justiça tem punido com rigor. Foi o que aconteceu com o Bradesco, condenado à indenização coletiva de R$ 1 milhão aos empregados que foram obrigados a fazer transporte de valores.   
 
Em um dos casos, um trabalhador foi baleado de raspão, durante uma tentativa de assalto, no momento em que transportava valores entre os municípios de Abaetetuba e Muaná (PA), em junho de 2011. Em fevereiro de 2013, outro bancário foi interceptado na barreira da Polícia Federal enquanto transportava R$ 60 mil em uma pasta de plástico. 
 
O Ministério do Trabalho e Emprego lavrou um auto de infração pelo episódio. Com a sentença, o Bradesco também deve divulgar a decisão, conforme pedido do Ministério Público do Trabalho, em todos os quadros de aviso, inclusive nas agências, pelo prazo mínimo de um ano, sob pena de multa. 

Fonte: O Bancário

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Mulheres anunciam que 2014 será um ano para consolidar direitos

Elas enfrentam muitos problemas no cotidiano em sociedade como machismo, violência doméstica, assédio sexual, racismo. E esses foram alguns dos debates que marcaram 2013 para as mulheres no Brasil. Além disso, temas como o papel e a participação da mulher na política; a descriminalização do aborto; o combate à lesbofobia; e a autonomia sobre o corpo marcaram a agenda de lutas.
Participação na política; aborto; combate à lesbofobia; e autonomia sobre o corpo marcaram a agenda de lutas. Após Maria da Penha, quase 700 mil procedimentos judiciais contra agressores foram registrados no país
No ano em que a Lei Maria da Penha completou sete anos de vigência, chegou-se à conclusão de que muitos desafios ainda precisam ser vencidos. Desde que entrou em vigor a lei mais rigorosa para punição da violência doméstica, quase 700 mil procedimentos judiciais contra agressores foram registrados no país.
Para Sônia Coelho, Integrante da Sempreviva Organização Feminista (SOF) a Maria da Penha é uma lei integral. No entanto, ela lamenta que apesar de na teoria criar mecanismos para proteger as mulheres, a legislação ainda esbarra nas questões práticas.
“A Lei Maria da Penha é uma lei integral, é uma lei que prevê tanto punição como a prevenção e a proteção das mulheres em relação à violência, o que ocorre no Brasil é que ainda falta principalmente os estados e municípios tenham vontade política para implementar essa lei. Então, possam construir os equipamentos necessários para a implantação da lei, possam construir e articular políticas públicas para o atendimento às mulheres."
Ainda de acordo com Sônia a falta de investimentos em infraestrutura e vontade política dos governos são entraves para efetivar a lei no país.
“O que a gente tem identificado exatamente que falta mais empenho dos governos. A lei precisa sair do papel para a prática e para a vida. Faltam delegacias, não tem os juizados especiais que deveria atender, os centros de referência, casas abrigo. Isso faz com que a gente tenha uma lentidão muito grande da Justiça.”
A violência letal é outro aspecto que preocupa. Entre 2000 e 2010, 43,7 mil mulheres foram assassinadas no país. Cerca de 40% perderam a vida em suas próprias casas, muitas vitimadas pelos companheiros ou ex-companheiros. Para Sônia, os números indicam que o próximo ano exigirá uma postura mais firme.
"Então, foi um ano de pontos positivos para as mulheres, mas tem muitos problemas principalmente em relação à violência. A gente no Brasil ainda é um dos países com maior índice de violência. É o 7º no mundo em assassinatos de mulheres e sem contar que a gente vê hoje novas formas de violência contra a mulher como, por exemplo, a violência hoje via internet que as mulheres muitas vezes ficam expostas por seus namorados, ex-namorados, companheiros. Ou seja, a violência nos meios de transporte, assédio sexual e violência".
Umas das conquistas para as mulheres em 2013 foi a lei que equipara os direitos trabalhistas das empregadas domésticas com as demais categorias, como pontua Sônia.
“Foi uma conquista a lei que iguala as trabalhadoras domésticas ao restante da classe trabalhadora. Se a gente for olhar no Brasil 17% das mulheres que trabalham fora hoje ainda são empregadas domésticas que são as que ganham menos que tem menos direitos.”
Encontro internacional
Em agosto de 2013 cerca de 1,6 mil mulheres, de 48 países, realizaram um encontro internacional em São Paulo. Entre as pautas discutidas no encontro “Feminismo em Marcha para Mudar o Mundo” estiveram reivindicações históricas ligadas às demandas das mulheres, como o combate ao machismo, ao racismo e à lesbofobia.
No documento final do encontro, as mulheres destacam, entre outras defesas, o direito ao aborto legal, seguro e público, além de exigirem a aplicação plena da Lei Maria da Penha.
Em 2013 foi aprovado no Senado a lei que inclui a violência doméstica na Lei de Crimes de Tortura (Lei 9.455/1997), resultado da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher (CPMI).
O projeto incluiu na chamada “Lei da tortura” a submissão de alguém a situação de violência doméstica e familiar, com emprego de violência ou grave ameaça, assim como intenso sofrimento físico ou mental.
Ainda também foi aprovado o acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas às mulheres vítimas de violência; benefício temporário da Previdência Social; e a exigência de rapidez na análise do pedido de prisão preventiva para os agressores. A defesa da reforma política para garantir espaço às mulheres deve ser uma das pautas em destaque no ano de 2014, segundo informa Sônia.
"São aspectos que a gente aponta que precisa mudar da participação política também, apesar da gente ter uma mulher presidente, mas do ponto de vista da participação política na nossa sociedade precisa haver mudanças bastante importantes porque as mulheres ainda não estão nos espaços, nos grandes espaços de decisão. Nós estamos inclusive como movimento de mulheres, como Marcha Mundial de Mulheres, apontando que para o próximo ano nós temos que trabalhar com prioridade na questão da reforma política, não só reforma eleitoral, mas uma reforma política".
Também em 2013 foi lançado pelo Governo Federal o “Programa Mulher: Viver sem Violência” para atuar no combate à violência de gênero e promover a autonomia das mulheres. O programa busca construir um espaço onde abrigará todos os órgãos que possam amparar a mulher vítima de agressão.
Ainda este ano foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff a lei que garante atendimento integral a vítimas de violência sexual. Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2009 a 2012, os casos de estupros notificados cresceram 157%.
Fonte: Portal CTB via Feeb-Ba-Se

Lista suja do trabalho escravo tem 108 novas empresas

O governo incluiu 108 novos empregadores na "lista suja" do trabalho escravo, segundo divulgou o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no dia 30 de dezembro.
No total, a lista fica com 579 nomes de empregadores, que foram flagradas submetendo trabalhadores a condições análogas à escravidão, após atualização semestral da lista de empregadores envolvidos em trabalho escravo.
O estado do Pará é o que tem maior número de empregadores inscritos na lista, totalizando 26,08%, seguido por Mato Grosso (com 11,23%), Goiás (com 8,46%) e Minas Gerais (com 8,12%).
Além das 108 novas empresas incluídas, foram reincluídas outras duas por determinação judicial. Também foram excluídos 17 empregadores, que cumpriram requisitos administrativos.
O governo mantém as empresas no cadastro de infratores por dois anos e, para limpar seu nome, os interessados devem pagar as multas correspondentes e provar que corrigiram as irregularidades.
Além de diversas multas, os integrantes da "lista suja" têm acesso vetado às linhas de crédito dos bancos públicos e não poderão vender sua produção para instituições estatais.
Fonte: G1 via Feeb-Ba-Se

Laboratórios estrangeiros querem importar maconha uruguaia

A lei uruguaia que regulamentou a compra e a venda de maconha no país aguçou o interesse de laboratórios médicos do Canadá, Chile e Israel. Antes mesmo da medida que descriminalizará a produção e o comércio da planta entrar em vigor — falta a sanção presidencial —, representantes do setor farmacêutico estão procurando políticos uruguaios e organizações sociais para comprar a maconha uruguaia e, até, instalar fábricas no país. 


Carlos Latuff/Opera Mundi
Laboratórios estrangeiros querem comprar maconha uruguaia
Aprovada em 10 de dezembro, a nova legislação uruguaia não prevê nem proíbe a exportação de cannabis.
Alguns medicamentos são feitos a partir de princípios ativos da cannabis e são usados para tratar esclerose múltipla e epilepsia infantil.

Em entrevista ao jornal El Observador,o subsecretário da Presidência do Uruguai, Diego Cánepa, confirmou a informação. Assim que a lei entrar em vigor, delegados de laboratórios estrangeiros estariam prontos para formalizar o interesse.

De acordo com o periódico, empresas canadenses querem mais informações sobre a nova legislação uruguaia, que autoriza a venda de até 40 gramas mensais do produto em farmácias autorizadas para uruguaios e residentes do país. O cultivo de cannabis também será permitido para cidadãos e associações que se cadastrem no sistema.

As empresas canadenses compram atualmente maconha da Holanda, mas, de acordo com o jornal, a demanda local está aumentando e encarecendo as transações. Dessa forma, aumenta o interesse por novos fornecedores - no caso, o Uruguai.

Aprovada em 10 de dezembro, a nova legislação uruguaia não prevê nem proíbe a exportação de cannabis. Contudo, a preocupação atual das autoridades uruguaias parece estar focada na regulamentação do mercado interno. "Não era um objetivo da lei", reconheceu ao El Observador Diego Cánepa, que demonstrou entusiasmo pelo interesse estrangeiro.

Fonte: Opera Mundi via Vermelho

Força-tarefa inicia investigação sobre a Guerrilha do Araguaia

As investigações sobre a Guerrilha do Araguaia serão acompanhadas por uma força-tarefa, criada pelo Ministério Público Federal (MPF), que dará início aos trabalhos desde ontem, terça-feira (7), com prazo inicial de seis meses, passível de prorrogação.


 
Guerrilha do Araguaia. Fotos: José Antônio de Souza Perez (arquivo-pessoal)
Os procuradores Antônio do Passo Cabral, Luana Vargas Macedo, Melina Alves Tostes, Sérgio Gardenghi Suiama, Ivan Cláudio Marx, Tiago Modesto Rabelo e Marlon Alberto Weichert vão atuar conjuntamente com os procuradores de Marabá (PA) Mara Elisa de Oliveira e Henrique Hahn Martins de Menezes.

Segundo informações da imprensa, a primeira reunião presencial do grupo será no mês de fevereiro, em Brasília, para estudar documentos e definir teses de argumentação. O primeiro passo será de análise dos documentos pelos procuradores.

A portaria que criou a força-tarefa foi publicada no dia 6 de dezembro de 2013 no Diário Oficial da União. Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Estado brasileiro por violações no combate à guerrilha. De acordo como o tribunal, o Brasil é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas durante a guerrilha e deve investigar o caso por meio da Justiça Comum, identificando os culpados sem beneficiá-los com a Lei de Anistia.

O procurador Ivan Cláudio Marx, de Santa Maria (RS), explicou que a força-tarefa foi criada para apoiar o trabalho dos procuradores de Marabá. “Para dar o efetivo cumprimento à decisão da Corte Interamericana, que pede para investigar os crimes que ocorreram durante a Guerrilha do Araguaia, seria impossível levar uma investigação a contento apenas com os dois membros [do MPF] que estão lotados em Marabá”, ressaltou. 

Atualmente, existem duas denúncias feitas pelo Ministério Público Federal relacionadas à Guerrilha do Araguaia. Uma delas contra o coronel da reserva do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura e outra contra o major da reserva Lício Augusto Maciel, ambas por crimes de sequestro qualificado.

Segundo Marx, os procuradores deverão analisar esses casos e os procedimentos que serão tomados. “O objetivo da investigação é também identificar outros casos e o que aconteceu com as outras vítimas, localizando os responsáveis por eventuais sequestros, ocultação de cadáveres, homicídios e torturas e entrar com a correspondente ação penal”, explicou.

Movimento de resistência

A Guerrilha do Araguaia foi um movimento criado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que surgiu entre fins da década de 1960 e a primeira metade da década de 1970. Este destacado movimento de resistência contra a ditadura militar e de luta pela conquista da democracia procurou fomentar a revolução socialista pelo campo. Combatida pelas Forças Armadas a partir de 1972, quando vários de seus integrantes já haviam se estabelecido na região, o palco das operações de combate entre a guerrilha e os militares se deu onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam divisa. 

Após 41 anos, a Guerrilha do Araguaia permanece sem conclusão. Os documentos oficiais permanecem sob sigilo. Os restos mortais de guerrilheiros continuam desaparecidos.

Da redação do Vermelho - com Agência Brasil