sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Jô Moraes: derrota das mulheres, vitória dos conservadores

  

Em votação realizada nesta quinta-feira (18), o Plenário da Câmara optou pela supressão do termo “incorporar a perspectiva de gênero” do projeto que definia as tarefas da Secretaria da Mulher do Governo Federal.


Para a deputada federal Jô Moraes, esta é uma forma indireta de retirar direitos femininos.

Jô Moraes

Fonte: Rádio Agência PCdoB na Câmara via Vermelho

Daniel Almeida: A luta pela agenda do emprego

A agenda de retomada do desenvolvimento será o tema central dos embates de 2016. Não é novidade o enfrentamento de grandes crises política e econômica que travam o Brasil, sendo necessário definir qual é o melhor caminho para sair logo desse cenário turbulento, adotando medidas urgentes para reduzir prejuízos aos brasileiros e à economia nacional.

Por Daniel Almeida*


Reprodução
A luta pelo empregoA luta pelo emprego
Em meio à intensa disputa política no Congresso, há tentativas de setores conservadores de impor um projeto liberal, que transfira a maior parte da responsabilidade pela superação da crise aos trabalhadores. Defendem o enxugamento em programas sociais e ajustes pontuais na Previdência, sem tratar da resolução de problemas estruturais históricos do país.

Para impedir que a população mais pobre pague a conta, é crucial a mobilização para construir uma agenda suprapartidária que retome o crescimento econômico, aumentando a arrecadação do governo federal por meio de mais justiça tributária. Temos de lutar para que o sistema financeiro garanta uma contribuição maior. O lucro crescente dos bancos é incompatível com uma economia em dificuldade.

É necessário ainda aumentar a tributação progressiva sobre patrimônio: grandes fortunas, heranças, a grande propriedade urbana e rural, o setor financeiro e as remessas de lucros e reservas ao exterior. Paralelamente, temos de reduzir a carga tributária sobre o consumo e a circulação de bens e serviços.

A preservação de políticas públicas que garantiram a expansão econômica com inclusão social deve, portanto, ser prioridade. A política de valorização do salário mínimo tem papel importante no aumento da distribuição da riqueza. No início deste ano, o salário mínimo chegou a R$ 880 (reajuste de 11,67%), o que beneficia 48 milhões trabalhadores e aposentados, urbanos e rurais.

O aumento gera incremento de renda na economia de R$ 51,5 bilhões em 2016, conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Essa é uma agenda essencial que se contrapõe ao ideário liberal que busca apenas favorecer os interesses dos grandes rentistas e investidores.

À frente da Liderança do PCdoB neste ano, vamos propor debates com políticos, cidadãos e especialistas para construir uma agenda conjunta de país. A importância do setor energético para o Produto Interno Bruto (PIB) será um dos focos das discussões, em especial o papel da Petrobras. Retomar os planos de investimentos da petrolífera, defender o regime de partilha e recuperar empresas energéticas é fundamental.

A maior preocupação, porém, deve ser definir ações para combater a crise que garantam também mais empregos formais, mais renda e mais justiça social para os trabalhadores. A luta pela agenda do emprego será estratégica para o futuro do Brasil.


*Deputado federal pela Bahia e líder do PCdoB na Câmara.
Fonte: Vermelho

Histórico: Quase 90 anos depois, um presidente americano visitará Cuba

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, visitará Cuba em 21 e 22 de março, confirmou a Casa Branca em um comunicado distribuído à imprensa em Washington na quinta-feira(18).


Obama e a bandeira cubanaObama e a bandeira cubana
Segundo a nota, Obama viajará acompanhado pela primeira dama, Michelle Obama, e sua estada na ilha destina-se a estimular o processo para a normalização das relações, algo anunciado em conjunto com o presidente cubano, Raúl Castro, em 17 de dezembro de 2014.

A viagem também foi confirmada pela embaixada de Cuba nos Estados Unidos e pela diretora do Departamento dos Estados Unidos do Ministério de Relações Exteriores de Cuba, Josefina Vidal, ambos pela rede social Twitter.

A visita do presidente estadunidense terá lugar 14 meses após Raúl Castro e Obama anunciarem um processo para a restauração dos vínculos bilaterais.

A administração americana qualificou de histórica a visita que Obama realizará. É a primeira de um presidente norte-americano em quase 90 anos.

"Trata-se de uma nova demonstração do Presidente de seu compromisso com um novo curso nas relações com a ilha", divulgou a Casa Branca.

Segundo o documento, em território cubano Obama se reunirá com o chefe de Estado anfitrião, Raúl Castro, e com representantes de diversos setores da sociedade.

A primeira dama estadunidense, Michelle Obama, acompanhará o presidente na viagem, que incluirá a Argentina, nos dias 23 e 24 de março.

Penny Pritzker, a secretária norte-americana do Comércio, também estará na comitiva estadunidense.

"Estamos muito estimulados com esta histórica visita que, sem dúvidas, levará nossas relações ao patamar superior", destacou Penny durante a abertura de um foro no Instituto estadunidense da Paz.

Penny e o ministro cubano do Comércio Exterior e o Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca, intervieram na primeira conferência da organização norte-americana Consórcio Cuba, uma iniciativa para promover a normalização dos vínculos.

Malmierca lidera uma delegação cubana que cumpre uma ampla agenda em Washington, que inclui eventos na Câmara do Comércio, o segundo diálogo regulamentar entre ambos governos e reuniões com líderes de importantes empresas.

A última visita de um presidente dos Estados Unidos em exercício a Cuba foi de Calvin Cooledge, no longínquo ano de 1928.

Fonte: Prensa Latina via Vermelho

Sanders venceria qualquer candidato republicano, diz pesquisa

Bernie Sanders, pré-candidato democrata à presidência dos EUA, venceria em qualquer confronto potencial com os republicanos, segundo revelou na quinta-feira (18) a mais nova pesquisa de opinião encaminhada pela Universidade Quinnipiac de Connecticut.


Bernie Sanders
"Sanders tem o maior índice de aceitação de todos os candidatos e as maiores pontuações por honestidade e integridade, por preocupação com as necessidades e problemas dos eleitores, e por partilhar dos valores dos eleitores. Ele empata com [a candidata democrata Hillary] Clinton e [com o candidato republicano Donald] Trump em ter qualidades fortes de liderança e fica atrás de Hillary e do ex-governador da Flórida, Jeb Bush, [candidato republicano] em ter o tipo certo de experiência para ser presidente", diz o relatório.

Além disso, os entrevistados indicaram que, entre os dois candidatos presidenciais democratas – Sanders e Hillary –, eles favorecem Sanders por 19% no que diz respeito ao atendimento das necessidades e problemas do povo.

"Os eleitores norte-americanos apoiam o senador Bernie Sanders de Vermont de preferência aos candidatos republicanos por margens de 4 a 10 pontos percentuais em disputas presidenciais diretas", diz o relatório da universidade norte-americana.

Segundo a pesquisa, Sanders levaria a vitória sobre Trump por 6 pontos percentuais (48%-42%), assim como sobre Marco Rubio (47%-41%). Sobre Jeb Bush e Ted Cruz, a diferença seria de 10 pontos percentuais (49%-39%).

Fonte: Sputnik via Vermelho

Palmério Doria: Como FHC enganou o país

Muito antes das expressões "bullyng" ou "assédio moral" se tornarem corriqueiras, pude comprová-las na pele. Inicialmente na forma de sutis consultas, telefonemas despretensiosos, convites para almoços ou cafés.

Por Palmério Doria*, no Brasil 247


Como FHC enganou o paísComo FHC enganou o país
Eu, o saudoso Sérgio de Souza, o grande editor de Caros Amigos, e todos os colegas envolvidos na apuração da histórica matéria que revelaria ao Brasil a proteção da imprensa a Fernando Henrique Cardoso no caso de seu filho de 8 anos com Miriam Dutra, jornalista da Rede Globo.

Era o verão de 2000. Entre a definição da pauta, em fevereiro, e a publicação da reportagem que entrou para a história do jornalismo independente em nosso país, em abril, meu caráter foi submetido a leilão. Reportagem, aliás, classificada pelo jornalista Ricardo Setti ainda outro dia no Roda Viva como "irresponsável", sem qualquer contestação dos colegas ali reunidos.

Instalado, durante todo o mês de março, num hotel de luxo dos Jardins, o lobista Fernando Lemos ofereceu dinheiro, empregos, sinecuras e distribuiu ameaças. Tudo para que a tal reportagem não fosse publicada. Eu (ou meus companheiros de Caros Amigos) poderia ter ficado rico, me tornado alto funcionário da Petrobras (como propuseram, e hoje "defendem" a Petrobras), resolvido os crônicos problemas de caixa de Caros Amigos ou o que pedisse. Tudo me foi oferecido, sem rodeios.

Contei tudo isso em detalhes no livro "O Príncipe da Privataria" com Mylton Severiano, outro mestre soberano (Geração Editorial, várias edições), responsabilizei o lobista Fernando Lemos, cunhado de Miriam Dutra e "operador" de FHC, em inúmeras matérias aqui e acolá. Uma delas, em 27 de junho de 2011, no Brasil247, sob o título A Última Exilada, com o qual Miriam Dutra hoje se apresenta. De nada.

Nem Lemos (morto em 2012), nem FHC, nem Miriam me processaram. Fernando Lemos morreu biliardário e não se deu ao trabalho de gastar um mísero centavo para tentar provar que seu comportamento, por mim relatado, não havia sido nefasto e corruptor. Enfim, faz 16 anos e estou sentado, na cadeira de balanço, debaixo da jaqueira, na curva do rio e sequer uma interpelação judicial.

Com um atraso de exatos 15 anos e 10 meses, Miriam Dutra resolve contar o que revelamos no outono de 2000. Antes tarde do que nunca.

Hoje, nas páginas da Folha – que à época, em discreta nota na coluna Painel justificou seu tumular silêncio, apelando para a surrada tese de que seria uma questão relativa à vida pessoal de FHC e de sua ex-amante - explode a entrevista bombástica de Miriam. Está tudo lá. Um repeteco ampliado e pormenorizado do que há 16 verões publicamos diante do silêncio indecente da grande imprensa.

E há acréscimos importantes: aparece uma das tais empresas nas Ilhas Cayman que arrepiam as penas do tucanato; o nome da Brasif, empresa detentora do negócio bilionário dos Free-shop nos aeroportos fazendo favor financeiro ao presidente da República (imaginem se fosse o Lula); as contas recheadas de FHC em bancos no exterior; a bolsa família paga com dinheiro arrecadado pelo lobista entre empresários que tinham relação promíscua com o governo de FHC; a relação lodosa com o filho que ele teria reconhecido e não teria reconhecido; um apartamento de milhares de euros na cara Barcelona presenteado ao filho que é filho e não é filho; a grave declaração de Miriam de que houve fraude no exame de DNA (quem comprou um Congresso Nacional para se reeleger não compraria um funcionário de laboratório? Entra na dança Mario Sergio Conti, aquele que entrevistou o sósia do Felipão como se fosse o próprio treinador em plena Copa do Mundo, que em 2000 me brindou com impropérios pelo telefone. Agora como o jornalista que usou sua condição de diretor de redação de Veja para lançar um cortina de fumaça sobre a gravidez da jornalista, em conluio com Fernando Henrique, além engavetador-geral de matérias.

Resta uma pergunta à própria imprensa, aos justiceiros do Ministério Público, aos irrequietos delegados da Polícia Federal, aos plutocratas de São Paulo que viajam em seus jatinhos até Nova York e vestem seus smokings cheirando naftalina em regabofes cafonas organizados pelo João Dória (pausa para sonora e gostosa gargalhada) para louvar o presidente que quebrou o Brasil três vezes; às "senhoras" de Higienópolis; aos Marinho, aos Frias, aos Saad e aos falidos Civita e Mesquita, além dos patéticos paneleiros de todo o Brasil:

Vocês não se envergonham de dizer que não sabiam de tudo isso?

Lembra aquela foto do FHC pedante, imperioso, deslumbrado. "Umbigo delirante" (licença, Millôr). Retrato em branco e preto de alguém que não amadureceu. Apodreceu. Muito longe do cicerone de Sartre no Brasil dos anos 50, ou do exilado no Chile, ou do aplicado professor auxiliar do mestre Florestan Fernandes.

Não se pode negar que FHC enfim caiu na boca do povo. Não enganou só Dona Ruth. Nem só a amante, por ele abandonada. Ele enganou todo um país.
 

*Palmério Doria é jornalista e escritor
Fonte: Vermelho

São João pode movimentar turismo e economia no país

Vinte dos principais nomes do forró tradicional nordestino se reuniram na quarta-feira (17) com parlamentares e gestores públicos para pedir empenho no fortalecimento do São João. Uma das reivindicações é que o dia, comemorado em 24 de junho, se torne feriado nacional.


  
O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, se comprometeu em buscar recursos para apoiar o evento e transformá-lo em uma celebração nacional. Além disso, de acordo com a Pasta, está prevista a realização de uma pesquisa para medir o impacto econômico e ajudar na divulgação desta tradição brasileira nos mercados nacional e internacional.

"Vamos tentar usar a Olimpíada para mostrar ao mundo o nosso São João, pois estamos falando de uma manifestação cultural que tem muito potencial para atrair os estrangeiros", defende o ministro. A ideia é levar atrações típicas das festas juninas para a Casa Brasil, espaço dedicado à promoção do país nos jogos olímpicos.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), que já presidiu a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, participou do encontro e defendeu recursos para a festa. “Precisamos constituir junto à Comissão Mista de Orçamento da Câmara uma proposta de emenda padronizada para o São João, senão em muitos lugares a festa vai morrer de inanição, pois os prefeitos não têm recursos extras para destinar à festa.”

Henrique Eduardo Alves disse irá articular com o governo federal a liberação da emenda da Comissão de Turismo, no valor de R$ 13 milhões, para apoio às festas de São João.

Nacionalização do feriado

Os artistas argumentam que, enquanto festas como o Carnaval têm seus principais eventos concentrados em algumas capitais brasileiras, o São João está mais presente nas pequenas cidades do interior. Com a nacionalização do feriado, os forrozeiros esperam que os governos de regiões com tradição mais tímida de festas juninas passem a investir mais na data.

“Existe uma dificuldade do trabalhador de outras regiões que não o Nordeste em participar da festa”, diz o cantor baiano Adelmario Coelho, que lidera o movimento São João – Um Novo Produto do Turismo Cultural para Unir o Brasil.

Uma das queixas apresentadas pelos músicos é a descaracterização das festas juninas. Segundo os artistas, atualmente, a maior parte do dinheiro investido no São João é destinada às bandas com músicas de apelo sexual, muitas vezes de objetificação da mulher. “Poucos controlam [os patrocínios], inclusive com conteúdo machista, e nós não podemos fortalecer isso com dinheiro público”, reclama Adelmario Coelho.

Compromisso
Para chamar a atenção da população brasileira, da mídia e de possíveis patrocinadores, Henrique Eduardo Alves se comprometeu em promover em Brasília, no mês de maio, uma festa de São João com atrações de diversos estados. O ministro deve propor ainda a realização de uma sessão no Congresso sobre o tema.

“Se eles fizerem metade do que dizem, já saímos daqui vitoriosos”, comenta o cantor e compositor paraibano Genival Lacerda, antigo parceiro de Luiz Gonzaga e um dos artistas mais reverenciados do forró.
 

Fonte: PCdoB na Câmara via Vermelho

Produção do pré-sal em Santos é resposta aos inimigos da Petrobras

O sétimo grande sistema definitivo de produção do pré-sal da Bacia de Santos iniciou suas operações neste mês, na área de Lula Alto, no campo de Lula. Com mais este sistema de produção, a camada pré-sal contida nas Bacias de Santos e de Campos já responde por 35% da produção brasileira de petróleo. Divanilton Pereira, da Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirmou que novo sistema é uma resposta àqueles que combatem a estatal.


Petrobras
Navio-plataforma (FPSO) Cidade de Maricá que processa produção do pré-sal na bacia de SantosNavio-plataforma (FPSO) Cidade de Maricá que processa produção do pré-sal na bacia de Santos
Na opinião do dirigente, a nova etapa na produção de petróleo “fortalece o pensamento nacional desenvolvimentista do país em suas denúncias contra os inimigos da Petrobras e que veem em sua fragilização uma oportunidade para transferir para os interesses estrangeiros o patrimônio do pré-sal”.
Divanilton afirmou também que a operacionalização do sistema demonstra a força da atuação dos trabalhadores e o potencial do pré-sal no desenvolvimento de áreas prioritárias como a Educação.
“Mais uma vez, o povo brasileiro, através de sua empresa estatal, particularmente de seus trabalhadores, demonstra a sua capacidade técnico-científica e o compromisso com o Brasil. Outra, é que também comprova-se a importância estratégica dessa descoberta para os interesses da nação e de seus efeitos multiplicadores sobre o trabalho, a renda e os investimentos públicos, particularmente os da educação”, argumentou.
A Petrobras informa que  produção está sendo processada pelo navio-plataforma (FPSO) Cidade de Maricá, cuja capacidade é de produzir, diariamente, até 150 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás. Entre as empresas com atividades no pré-sal brasileiro, apenas aquelas integrantes de consórcios liderados pela Petrobras têm participação nesta produção.
A consolidação da Bacia de Santos, que responde por 70% da produção da camada pré-sal, vem se dando há pouco mais de cinco anos, com uma média de lançamento de uma grande plataforma a cada nove meses. A performance da produção tem se mostrado dentre as melhores em termos mundiais, sendo que os quatro primeiros sistemas de produção, instalados entre 2010 e 2014, permanecem produzindo praticamente a plena capacidade (475 mil barris diários de petróleo, com apenas 19 poços produtores).

Do Portal Vermelho, com informações do Portal Brasil

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Deutsche Bank: gigante de pés de barro, espelho do setor financeiro

A aguda crise que atinge os bancos da Europa ativou a luz de alerta no mundo, levantando questionamentos sobre a capacidade dessas grandes instituições financeiras honrarem seus compromissos. No olho do furacão, está o maior banco comercial alemão.


  
A situação do Deutsche Bank, um dos maiores vendedores de títulos lastreados em hipotecas de alto risco antes da crise financeira e um dos primeiros bancos a apostar numa queda das mesmas fazendo seus próprios clientes perderem milhões, está apavorando os mercados e torna até mesmo a maior economia do Velho Mundo um poço de incertezas.

Nem a declaração do ministro alemão de finanças Wolfgang Scäuble, no sentido de garantir que o banco é capaz de cumprir seus compromissos, foi capaz de apaziguar a sangria que fez esvair 40% do valor de mercado das ações do banco em pouco mais de um mês. A crise do Deutsche Bank adiciona combustível à tormenta pela qual passam todos os bancos europeus ante o medo de que o mundo entre em uma nova recessão com impactos para o setor bancário.

O primeiro banco alemão fez disparar o alarme amarelo, no final de janeiro, ao anunciar uma perda monstruosa de 6,7 bilhões de euros relativos a 2015. Suas ações caíram drasticamente, depois recuperaram-se um pouco, mas o fato é que, desde a crise de 2008, só desaba. Seus papéis, que à época estavam cotados em 100 euros, na semana passada haviam caído para cerca de 17.

No ano passado, a instituição anunciou a maior reestruturação de sua história, com o corte de 35 mil postos de trabalho nos dois anos subsequentes. Também suspendeu os dividendos de 2105 e 2016 e divulgou que deixaria de operar em 10 países.

Grande parte dos números vermelhos de 2015, cerca de 2,1 bilhões, foram provenientes de ações judiciais motivadas por suas más práticas bancárias. No ano passado, o grupo foi forçado a pagar às autoridades norte-americanas e britânicas uma multa de US$ 2,5 bilhões por ter manipulado o libor, a taxa pela qual se empresta o dinheiro no mercado interbancário.

Além disso, teve de manter um colchão de US$ 5,5 bilhões de dólares para fazer frente a outras disputas legais acumuladas, que vão desde ter respaldado operações com hipotecas subprime até por haver operado de forma opaca na Rússia. A instituição está envolvida em 6 mil litígios.

De acordo com o diário El País, seu copresidente foi processado por “lavagem de dinheiro e evasão fiscal, ao se esquivar do IVA nos certificados de emissões de CO2. Apostou na baixa e a descoberto (desafiando seu Governo) contra empresas espanholas. E espionou jornalistas e diretores”, diz o jornal.

Mas nem todas as perdas podem ser explicadas pelo mal comportamento do banco. Sem esses encargos, os prejuízos teriam superado os 600 milhões de euros apenas no último trimestre. De acordo com El País, investidores detectaram que boa parte do negócio da instituição é irrecuperável no curto prazo e que em muitas ocasiões o banco maquiou sua contabilidade.

Insegurança

Desde que os governos socorreram os bancos durante a crise financeira, os reguladores têm forçado as instituições a operarem com menos dívida e fortalecerem o capital próprio. A maneira mais fácil para capitalizar um banco é a venda de ações. Mas essas fórmulas não são muito apreciadas pelos mercados. Ao se ampliar o capital, o valor das ações existentes se dilui e se não se destina dinheiro ao dividendo, investidores protestam.

Por esse motivo, os banco inventaram um novo instrumento sofisticado, chamado de obrigações contingentes conversíveis (“ CoCos”, o apelido vem do original em inglês, contingent convertible). Estes títulos são perpétuos, o que significa que eles não têm uma data de vencimento estabelecida. O papel "amadurece" quando o banco exerce uma opção, o que geralmente acontece após cinco anos.

Os investidores recebem juros anuais entre 6% e 7%. Como contrapartida existe o risco de que se as coisas correrem mal, o banco pode suspender o pagamento dos juros ou converter o bônus em capital ou amortiza-lo antecipadamente.

Apesar de todo o setor ter utilizado os 'CoCos' de forma generalizada, os analistas passaram a ter sérias dúvidas sobre os bônus do Deutsche Bank, questionando se o banco teria liquidez suficiente para pagar os juros do próximo ano (350 milhões de euros). O temor sobre o risco de não cumprimento pelo Deutsche Bank aumenta a cada dia e o efeito se espalhou para outros bancos. Analistas apontam que seu colchão de liquidez é elevado (11%), mas veem problemas mais na capacidade futura do banco de gerar lucros.

Para acalmar os mercados, o Deutsche Bank – que tem agora as cotações mais baixas de sua história - anunciou uma operação de recompra de 4,8 bilhões de euros de seus papéis. Era uma maneira de dizer que tem o suficiente para continuar a pagar os compromissos apesar das perdas em 2015. Mas, no dia seguinte, as ações voltaram a despencar.

No fundo, o Deutsche Bank, mais um gigante de pés de barro, é um espelho do sistema financeiro de forma geral. E prova agora que nem a maior economia da Europa está imune à tempestade que parece se aproximar.

Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho, com El Periodico

Argentina: Casa tomada

Não fosse algum pobre-diabo ter a idéia de roubar e entrar na casa, a essa hora e com a casa tomada. (Julio Cortázar) 


  Há dois meses e poucos dias da posse de Maurício Macri, nada foi surpreendente, suas decisões políticas, essencialmente no plano econômico, não surpreenderam a ninguém. Macri foi eleito pelo establishment e com ele está cumprindo todo o previsto.

Por Guadi Calvo*, para o Vermelho
 


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Se não for pelo medo, Macri que seus dias estão contados Se não for pelo medo, Macri que seus dias estão contados 
Há pouco mais de 60 dias que está na Casa Rosada (sede do poder Executivo argentino), deu um giro de 180º sobre as políticas do governo da presidenta Cristina Kirchner e do presidente Néstor.
Absolutamente todas suas medidas foram para realizar uma monumental transferência de capital desde os setores populares para os mais ricos do país.

O aumento desproporcional dos alimentos e das tarifas dos serviços públicos (eletricidade, gás, água e transporte) que arrastam a outros setores da economia colocaram as classes baixas e média do país novamente em um cenário que acreditávamos estar superado. Enquanto isso, os setores empresariais agrícolas e agroexportadores se veem beneficiados com retirada de imposto.

O atual governo de agora em diante tem uma única explicação: tudo é culpa do governo anterior, “a pesada herança” se converteu em seu programa de governo.

O ajuste dos preços e do dólar lançarão uma sociedade dilacerada por décadas de altíssima inflação uma vez mais em um espiral inflacionário que segundo os gurus do governo chegará a 25% durante 2016 e segundo economistas não tão comprometidos com o macrismo, poderá disparar até 40%.

Macri e seu grupo de gerentes (80% dos funcionários que atendem por ministros, secretários de Estado e seus subsecretários, são provenientes da atividade privada: grandes empresas nacionais, estrangeiras e bancos de primeira linha, nenhum deles renunciou ao cargo na empresa, obviamente), têm governado em benefício dos grupos de poder concentrado, demolindo leis e disposições com golpes de decreto de necessidade e urgência (DNU), segundo um dos constitucionalistas mais respeitados e prestigiados do Fórum, Eduardo Barcesat: “Estes DNU são mais que suficientes para julgamento e remoção por juízo político” [de Macri].

Os operadores políticos de Macri têm aprendido, nestas poucas semanas, a manter-se no poder, para além da constante baixa de avaliação apresentadas nas pesquisas sobre o atual governo.

O quadro político que seus assessores tem tentado armar parece dar a ele algum ar como que para se manter no governo apesar dos embates que se aproximam. Com regalías obviamente desconhecidas públicamente, um grupo importante (entre 12 e 16) de deputados da Frente Para a Vitória, a estrutura política do kirchnerismo está se dividindo. Apesar desta perda o bloco kirchnerista continua sendo o majoritário com 81 deputados, desta forma o macrismo poderá ter outro tipo de alianças, para conseguir aprovar algumas de suas leis muito passíveis de discussões. Também muitos governadores peronistas, fundamentalmente na província de Salta, Juan Manuel Uturbey, que tem muitas aspirações presidenciais tem se distanciado da presidenta Cristina, tentando se posicionar frente à sociedade como um homem admirável, civilizado, distante do “bestial” kirchnerismo.

As perseguições políticas estão na ordem do dia, já foram despedidas cerca de 75 mil pessoas, tanto de postos públicos como privados, em sua maioria suspeitos de simpatizar com o antigo “regime”.
Enquanto os alimentos e serviços públicos sofrem aumentos siderais, os trabalhadores são pressionados para parar os protestos porque os eternos sindicalistas argentinos já aderiram ao novo governo e traíram seus representados. Obviamente que isso não surpreende a ninguém, personagens como Hugo Moyano, Luis Barrionueo, que na juventude foram suspeitos de participar junto à ditadura de sequestros, tortura e assassinato de militantes populares, hoje se associam a Macri como estiveram ao lado de Menem.

A tentação autoritária.

Macri e seus economistas, emergidos das mais pestilentas latrinas do neoliberalismo argentino, como Alfonso de Prat-Gay, atual ministro da Fazenda e Finanças Públicas; Federico Sturzenegger, presidente do Banco Central e Carlos Melconian, presidente do Banco Nación, que fugiram de operadores bancários por lavagem de dinheiro e fugas de capitais durante os governos kirchneristas se formaram junto a Domingo Cavallo, ministro de economia de Carlos Menem e presidente do Banco Central em plena ditadura militar, para estatizar a dívida privada aumentando em mais de 24 milhões de dólares a dívida externa. Entre as empresas que foram liberadas de suas dívidas figuram Acindar, do ex-ministro de Economia da ditadura, Alfredo Martínez de Hoz; Loma Negra, da família Fortabat; Companhia Naviera, da família Pérez Companc e a automotiva Sevel do Grupo “Macri”.

Não é necessário ser um analista genial para entender que o plano de ajuste, recessão e demissões que trazem nos portfólios essa laia antinacional só pode ser sustentado com um monumental plano de repressão, que foi colocado em marcha horas depois da posse de Macri.

Na cabeça do ministério de Segurança macrista está Patricia Bullrich, casada com Guillermo Yanco, um obscuro personagem da política “por baixo dos panos”, cujo trabalho legal é dirigir um museu da comunidade judia de Buenos Aires, além de ser presidente do Instituto de Estudos Argentinos (Idear) e membro da Rede de Partidos Políticos, uma organização impulsionada pelo Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais (National Democratic Institute), criado em 1983 pela ala de direita do Partido Democrata norte-americano que através de outras fundações tem presença em 50 países. Recebe financiamento, entre outras fontes, da Fundação Nacional para Democracia, criada por Ronald Reagan para investir na política interna de dezenas de nações do mundo.

Bullrich esteve gravemente envolvida no suicídio do fiscal Alberto Nisman, caso que tentaram a todo custo acusar a presidenta Cristina Kirchner. No telefone celular de Nisan estavam registradas mais de 70 chamadas que a então deputada Bullrich fez ao fiscal.

Desde dez de dezembro a Argentina deixou de ser um lugar seguro para dirigentes sociais, jornalistas e políticos que não aderiram ao regime de Macri. A censura e perseguição a jornalistas estão na ordem do dia, não só suspendem a pauta publicitária oficial, como extorquem donos de meios de comunicação para aderirem ao regime. São tiradas do ar as cadeias internacionais que possam ser críticas como é o caso da RT (Televisão Russa), ou a popular Telesur [da Venezuela]. A repressão com gases, balas de borracha e chumbo voltaram à moda na Argentina, cada dia se conhece novas repressões contra os trabalhadores que saem a protestar por terem perdido seus empregos, ou pelos altíssimos custos de vida, só a eletricidade aumento entre 300 e 400%. Espera-se uns 200% de aumento no transporte e números similares a outros serviços públicos.

O tripé protetor do regime: o Grupo Clarín, maior concentração midiática do mundo que foi o pior inimigo de Cristina Kirhcner e recebeu novas regalias com o novo governo, ignora as arbitrariedades e alenta ao público a atacar as novas disposições, culpando de tudo o governo anterior. O outro pé deste macabro projeto é o poder judicial, onde o presidente da Corte Suprema, Ricardo Lorenzzeti, se converteu em um comissário político do regime, pactuando com a impunidade. E finalmente, o poder econômico que até agora só se beneficiou e nada fez para dar oxigênio a Macri, que já se sabe, a partir de março seu governo começará a ruir.

A repressão policial diária, detenções como a da dirigente indígena Milagro Sala, as demissões, tentativas de nas próximas semanas envolver Cristina e alguns de seus colaboradores mais próximos, como é o caso de Aníbal Fernandez, apontam um governo que controla pelo medo, porque se não for assim, Macri sabe que seus dias estão contados e terá que abandonar correndo a casa que tomou.
 


*Guadi Calvo é escritor e jornalista argentino. Analista internacional especializado em África, Oriente Médio e Ásia. Mais em sua página no Facebook
Fonte; Vermelho

Polícia protege boneco e ataca manifestantes pró-Lula

Mesmo com a suspensão do depoimento do ex-presidente Lula, graças a uma decisão do Conselho Nacional do Ministério Público, centenas de manifestantes se reuniram em frente ao Fórum em São Paulo para prestar solidariedade ao ex-presidente. O ato seguia pacífico, até que um pequeno grupo passou a lançar provocações e agressões aos manifestantes, usando inclusive um boneco com a imagem do ex-presidente – e com o apoio da polícia.



Preferência no pré-sal: justo para o Brasil, bom para a Petrobras

A notícia de que a presidenta Dilma está disposta a reexaminar e promover mudanças nas condições legais para a exploração e produção de petróleo e gás no pré-sal é uma boa notícia. Contudo, é importante saber porque fazer mudanças e que mudanças devem ser feitas. Para tanto, é preciso olhar as circunstâncias históricas em que o governo propôs e o Congresso aprovou a Lei 12.351/2010 que define as condições para se explorar e produzir petróleo na região do pré-sal.

Por Haroldo Lima*


  
Uma situação promissora: pré-sal descoberto, petróleo em alta, Petrobras em ascenso

Quando o pré-sal foi descoberto, o setor do petróleo crescia no mundo, com os problemas costumeiros. Nos marcos do capitalismo, reproduzia de forma ampliada seu capital, com lucros e produção sustentados.

Naquela oportunidade, o presidente Lula criou, em julho de 2008, uma Comissão Interministerial de oito membros, da qual participei, como diretor-geral da ANP que era no momento. A Comissão funcionou intensamente e o clima geral sempre foi o de que o negócio do petróleo ia muito bem. Para se ter uma ideia, em 11 de junho de 2008, o petróleo foi cotado a US$ 144/barril. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao governo federal, admitiu que esse preço poderia chegar a US$ 200/b. Já bem depois, em junho de 2014, a cotação ainda estava muito alta, US$ 112/b.

A Petrobras também ia muito bem. Com a descoberta do pré-sal, ficara com o megacampo Lula no pré-sal, e lá estava prestes a produzir, em algumas áreas do pré-sal, com contratos de concessão anteriormente firmados com a ANP. Ganhou o grau de investimento, em 2007. Em setembro de 2010, pouco depois da descoberta do pré-sal, ela foi ao mercado realizar uma capitalização. Resultado: levantou US$ 70 bilhões, na maior operação desse gênero efetuada no mundo em todos os tempos.

Foi nesta conjuntura bastante favorável que a Comissão Interministerial elaborou quatro projetos de lei e os encaminhou ao Congresso. Um desses projetos, devidamente aperfeiçoado, veio a se transformar na Lei 12.351/2010, que fixa o regime de partilha como novo marco regulatório para o pré-sal; cria a Pré-Sal Petróleo S.A., a PPSA, empresa 100% estatal, para supervisionar todos os contratos no pré-sal; e confere à Petrobras a condição de operadora única na região.

O marco regulatório da partilha foi adotado com base na experiência internacional, que não pode ser desdenhada. De uma maneira geral, em regiões onde há grande risco exploratório e potencial incerto, usa-se o contrato de concessão; em regiões de baixo risco exploratório e grande potencial petrolífero, usa-se o contrato de partilha.

Na concessão, o óleo que sai do poço é propriedade do concessionário, que paga ao Estado royalties, participações especiais e outras. Na partilha, o óleo extraído é propriedade do Estado, que paga à empresa ou consórcio contratado a parcela pré-fixada do excedente em óleo.

O regime de partilha tem uma vantagem essencial. Nele, o Estado supervisiona todos os contratos, através da empresa 100% estatal criada, a PPSA, que tem até poder de veto. Assim, não só os contratos podem ser mais benéficos para a União, como, o que é muito mais importante, o Estado passa a ter o controle da produção, aumentando-a ou não, e assim agindo sempre contra o chamado “mal da abundância”, ou “doença holandesa”, que desindustrializa países ricos em minerais, como o petróleo.

O regime de partilha e a PPSA foram criados por causa do enorme potencial do pré-sal; e a Petrobras foi posta como operadora única para ser reforçada, pois o negócio do petróleo estava em ascensão, os preços do óleo em alta e a própria Petrobras com suas finanças robustas.

A mudança da situação: pré-sal comprovado, petróleo em baixa, Petrobras em crise 
Na continuidade, evoluíram em direções diferentes o potencial do pré-sal, o setor do petróleo no mundo e a Petrobras.

O potencial do pré-sal evoluiu no sentido da confirmação de sua grande capacidade petrolífera, situação na qual o regime apropriado é o da partilha da produção.

Já o negócio do petróleo e a situação da Petrobras evoluíram em sentido oposto.

De meados de 2014 para cá, o preço do petróleo desabou do patamar em que estava, acima dos US$ 100/barril, para níveis que chegaram abaixo dos US$ 30/b, com leve recuperação recente. O setor passou a enfrentar dificuldades. Os planos de investimento das grandes petroleiras foram e estão sendo revistos, ativos estão sendo desfeitos, empresas têm saído do mercado. Como os preços do óleo oscilam em períodos cíclicos, não se sabe por quanto tempo durará esse ciclo de baixa. Têm ocorrido ciclos de 13 a 15 anos.

A situação é mais complicada para a Petrobras. Como toda grande petroleira, ela se enfraqueceu com essa queda contínua e prolongada dos preços do óleo. Mas, mais grave ainda foi que isto aconteceu, quando foi descoberto e desmascarado um esquema corrupto que atuava dentro e fora da empresa, dilapidando-a. A estatal passou por constrangimentos, quatro de seus diretores foram presos por corrupção e a situação se deteriorou a ponto da empresa não ter apresentado Relatório auditado de suas contas no final de 2014.

Quando, no início de 2015, o Relatório foi divulgado, devidamente auditado, verificou-se um prejuízo contábil, em 2014, da ordem de R$ 21 bilhões. Desse montante, o Relatório indica R$ 6 bilhões como decorrentes da corrupção, uma cifra espantosa. Mas indica R$ 44 bilhões de prejuízos causados pela revisão para baixo dos ativos da companhia, por conta principalmente da queda dos preços do petróleo.

A companhia passa a viver grandes problemas. Avultam, entre eles, uma dívida em torno de R$ 500 bilhões; a queda brusca de seu valor de mercado, que sai de US$ 250 bilhões, na época da capitalização, para US$ 44,4 bilhões, nesse fim de 2015; a retirada, pelas agências internacionais, do seu grau de investimento. Apesar de tudo, a estatal mantém seus fundamentos sólidos: se em valor de mercado tem diversas petroleiras à sua frente, em reservas de petróleo a explorar, provavelmente nenhuma lhe ultrapassa, pois, só no pré-sal, ela tem perto de 40 bilhões de barris sob contratos.

É frente a essa situação que cabem algumas considerações.

Fazer adaptações sem perder o rumo 

Em primeiro lugar, quando o Congresso Nacional definiu, na Lei 12.351/2010, o regime de partilha para vigorar no polígono do pré-sal e áreas estratégicas, agiu com o maior discernimento e priorizou o interesse nacional. Na medida em que se confirma e se agiganta o potencial petrolífero do pré-sal, aumenta a convicção na justeza de que, no pré-sal, a partilha é irrecusável.

Sobre esse assunto o senador Aloísio Nunes Ferreira, do PSDB, apresentou um projeto de lei, o PLS 417/204, propondo acabar com a partilha no pré-sal brasileiro. Isto desarmaria o Estado nacional, privando-o da possibilidade de controlar a produção em área altamente prolífera, que é a do pré-sal. Ficariam flanqueadas as portas para o controle futuro dessa área por empresas estrangeiras.

Em segundo lugar, quando o Executivo e o Congresso Nacional firmaram que a Petrobras deveria ser a operadora única no pré-sal, visavam fortalecer essa empresa num negócio, na época, de alta lucratividade, ao tempo em que a estatal acumularia cada vez mais conhecimentos sobre os horizontes do pré-sal.

Ocorre que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, ANP, exige que a empresa que for operadora em determinado bloco deve participar com um mínimo de 30% das responsabilidades da Exploração e Produção (EeP) desse bloco. Terá 30% das rendas provenientes do negócio, mas terá que assumir 30% dos encargos da atividade.

Esses encargos, no pré-sal, são muito elevados, a começar pela participação no leilão, como se comprovou na licitação de Libra. Aí, a Petrobras articulou o consórcio vencedor e decidiu dele participar não com o mínimo de 30% que a lei lhe facultava, mas com 40%, o que significou que teve que pagar R$ 6 bilhões pela sua parte no Bônus de assinatura (o Bônus foi de R$ 15 bilhões). As despesas subsequentes com a exploração no pré-sal também são substanciais e a Petrobras está arcando com a sua parte de 40% no consórcio.

Preferir é garantir o que deseja, mas não obrigar, ao que não se quer

Na nova situação sumariamente exposta, especialmente com as dificuldades financeiras da Petrobras, pode esta empresa ser obrigada a arcar com 30% dos dispêndios de todos os eventuais consórcios vitoriosos em futuros leilões do pré-sal? Mesmo em blocos que ela não considere prioritários?

Para escapar dessa situação, há a hipótese de não se fazer leilão no pré-sal a prazo curto, o que de certa forma está acontecendo. Afinal, nosso país descobriu o pré-sal entre 2006/2007 e, quase dez anos depois, só conseguimos realizar, na província descoberta, um único leilão, de um único bloco exploratório.

A hipótese de protelar indefinidamente leilões para explorar o pré-sal, não é justa para com o Brasil, ansioso por desenvolvimento e sedento de recursos para educação e saúde, que adviriam de royalties expressivos.

O problema posto não tem nada a ver com o regime de partilha, nem com política de conteúdo local, mas com a obrigatoriedade da Petrobras ser a operadora única no pré-sal e áreas estratégicas que vierem a ser descobertas.

O projeto de lei do senador José Serra, PLS 131/2015, também do PSDB, propõe o fim dessa obrigatoriedade. É positivo que o senador não tenha proposto o fim do regime de partilha. Mas, como foi apresentado, seu projeto comete um erro inaceitável contra a Petrobras. Reserva-lhe, na eventualidade dela deixar de ser a operadora única, o mesmo lugar que o de qualquer empresa estrangeira, pois, para ter acesso ao pré-sal, teria que se submeter a um leilão em condições de igualdade com qualquer multinacional.

A Petrobras não pode ser tratada, no Brasil, e no pré-sal, como se fosse uma empresa estrangeira qualquer, sem nenhum direito a mais, sem nenhuma regalia. Isto seria um despropósito. A Petrobras teria que ter, no Brasil, e no pré-sal, uma condição especial. Essa condição seria a de operadora preferencial.

Como operadora preferencial, a Petrobras teria a oportunidade de identificar quais os blocos onde ela opta por ser operadora e, em consequência, que blocos não lhe interessa operar. Seus custos poderiam ser muito reduzidos e, mantido o regime de partilha, o país continuaria seu controle sobre o pré-sal.

Considerando que o acionista principal da Petrobras é o Estado brasileiro, caberia a um órgão do Estado, o Conselho Nacional de Pesquisa Energética, o CNPE, dirigido pelo ministro de Minas e Energia, o referendo final das razões alegadas pela diretoria da empresa para não operar determinados blocos.

*Haroldo Lima é engenheiro, foi diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, é consultor na área do petróleo e membro da Direção Central do PCdoB.



Fonte: Vermelho

Parlamentares pedem apuração de atentados contra comunistas

Parlamentares do PCdoB na Câmara e no Senado foram ao Ministério da Justiça, na quarta-feira (16), pedir que a Polícia Federal seja acionada para investigar os assassinatos de dois dirigentes comunistas nos últimos dez dias. Também foram registrados, este mês, dois casos de arrombamento nos escritórios regionais das deputadas do PCdoB Alice Portugal (BA) e Jô Moraes (MG).


Ass. Lid. PCdoB na Câmara
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, garantiu que a Polícia Federal investigará os casos O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, garantiu que a Polícia Federal investigará os casos 
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, garantiu que a Polícia Federal investigará os casos. “Não podemos tolerar, nem aceitar atos criminosos e violentos dessa natureza. O Ministério da Justiça fará tudo o que é possível no âmbito da sua competência para apoiar ou investigar todos os casos. Nós não podemos ter impunidade em casos como esses”, disse à comitiva, encabeçada pela presidenta nacional da legenda, deputada Luciana Santos (PE).

Luciana Santos explicou ao ministro que “as divergências relacionadas aos projetos políticos defendidos ou ao pensamento do PCdoB não podem ser resolvidas na bala. Por isso, viemos pedir apoio para impedir iniciativas dessa natureza”.

O líder do PCdoB na Câmara, deputado Daniel Almeida (BA), também se manifestou sobre os fatos que vitimaram o prefeito de Chiador (MG), Moises Gumieri, e o presidente do PCdoB na cidade de São Domingos do Araguaia (PA), Luiz Bonfim.

“Temos confiança no trabalho da Polícia Federal e do Ministério da Justiça para ajudar a elucidar esses crimes. Não é possível tolerarmos esses atos, especialmente as mortes de dois militantes do partido que foram executados, além da tentativa de intimidação das deputadas de nossa bancada nos casos dos arrombamentos”, afirmou, enfatizando que é inadmissível que esses casos fiquem impunes.

Na nota entregue ao ministro, o PCdoB pede que os assassinatos sejam também acompanhados pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos, “na medida em que os fatos atentam contra direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, inclusive por vitimar o representante do Poder Executivo de um município e um líder e dirigente partidário”.

Já os arrombamentos nos escritórios da Bahia e de Minas Gerais caracterizam, segundo a legenda, infrações penais praticadas em detrimento de interesse da União, uma vez que os espaços são custeados com recursos públicos, conforme o inciso IV do art. 2º, do Ato da Mesa da Câmara dos Deputados nº 43/2009, que instituiu a “cota para o exercício de atividade parlamentar”. A legenda entende que os atos “atentam contra a regular e livre atividade de representação popular, constrangendo membros de um dos Poderes”.
 

De Brasília - Vermelho
Márcia Xavier, com informações da Liderança do PCdoB na Câmara 

Mirian Dutra, FHC e os amantes da mídia


Por Altamiro Borges - Blog do Miro


Se a mídia tupiniquim fosse minimamente séria, a entrevista de Mirian Dutra Schimidt, que trabalhou 35 anos na TV Globo e teve um caso extraconjugal com o ex-presidente FHC – que até resultou num filho questionável –, teria repercutido nos jornais, revistas, emissoras de rádio e tevê. Mas os barões da mídia agem como mafiosos – ou como amantes – e mantêm um rigoroso pacto de silêncio. Mesmo disputando fatias do mercado, eles se unem como aço para defender seus projetos políticos e de classe. Talvez por isto a jornalista tenha preferido dar a entrevista para a revista ‘Brazil com Z’, dedicada aos brasileiros que vivem na Europa. Por sua própria experiência, ela já sabia que suas revelações seriam abafadas ou simplesmente omitidas pela imprensa brasileira – como foi o próprio caso amoroso no passado.

Na longa entrevista, ela relata pela primeira vez como foi o seu romance com o FHC, que durou seis anos, e traça um pouco do caráter do ex-presidente, que na época era casado com a antropóloga Ruth Cardoso. Entre outras coisas, Mirian Dutra afirma que o tucano era um homem ambicioso, “completamente manipulador”, que gostava de “fazer tudo sorrateiramente e posar de bom moço”. Ela o classifica como “parte da aristocracia paulistana”, um sujeito elitista e vaidoso. “Ele se achava o máximo". Ainda sobre a tumultuada relação, ela rejeita a tese de que o filho não seja de FHC, que encomendou um exame de DNA para negar a paternidade. “Eu tive uma relação de seis anos, fiquei grávida, decidi manter a gravidez, então é meu. Eu sou uma mulher, eu que decido isso! Se eles não querem, eles que se cuidem”. E ainda afirma que foi ameaçada pelo ex-presidente, que pretendia manter o “casamento de conveniência” e a amante. “Ele não deixava romper... ele me perseguia... quando eu ia sozinha nos lugares, ele ia atrás".

O mais importante da entrevista, porém, é quando Mirian Dutra descreve as relações carnais do “príncipe da privataria” com os barões da mídia nativa. Ela não esconde a sua magoa com a Rede Globo, que fez de tudo para proteger a imagem do neoliberal FHC e a descartou como bagaço. Definindo-se como a “ultima exilada”, ela descreve a abjeta manipulação: “Eles me colocaram abaixo de qualquer coisa. Em Portugal eu fiz muita coisa, trabalhei bastante os três primeiros anos, depois eles me congelaram”. A operação abafa teve um custo “muito pesado... Eu passei muita dificuldade, muita solidão, focada nos meus filhos, e tentando muito sempre trabalhar e pedindo pra Globo, pelo amor de Deus pra fazer alguma coisa, e eu era sempre cortada, sempre cortada".

Mirian Dutra explica que só decidiu falar sobre o assunto após deixar a TV Globo. E critica o ex-amante e a poderosa emissora da famiglia Marinho. “Meu trabalho sempre foi tão importante pra mim, isso me dói. Ter lutado tanto e de repente, por um homem completamente manipulador e por ter trabalhado em um grupo de comunicação tão... eu queria usar um verbo, mas não me permito usar esse verbo... eu fui prejudicada". Ela também denuncia a atitude da Veja e do jornalista Mário Sérgio Conde, que na época era editor da revista do esgoto e hoje apresenta um programa na GloboNews. “Quando eu estava grávida de sete meses do Tomas, a coisa estava para explodir. FHC me obrigou a dar uma entrevista pra Veja, dizendo que o pai do meu filho era um biólogo... Foi Fernando Henrique com Mário Sérgio Conde! Foi um acerto feito com o diretor da Veja”. A denúncia é gravíssima e até merecia a abertura de uma comissão de ética no Sindicato dos Jornalistas. Haja escrotidão!

Clique aqui para ler a íntegra da entrevista. Para entender melhor este caso escabroso, que também foi abafado pela mídia no passado, não deixe do ler o livro do jornalista Palmério Dória, “O príncipe da privataria” (Geração Editorial, 2013).


Altamiro Borges

Fonte: Brasil 247

DCM: QUANTO CUSTOU O PACTO DE FHC COM A MÍDIA?

Ao comentar o exílio” de Mirian Dutra, ex-amante de Fernando Henrique Cardoso, Kiko Nogueira, do Diario do Centro do Mundo, fala do “grau de manipulação de FHC, que usou toda a companheirada da mídia e da política para limpar o terreno para seu projeto de poder”; ‘Quanto custou esse “apoio”? Quanto ele deu de retorno à Editora Abril pela nota na Veja dizendo que o filho com Mírian era de um biólogo? Quanto custou em publicidade oficial a fraude perpetrada em conluio com o ex-diretor de redação Mario Sergio Conti’, questiona

247 - Ao comentar o exílio” de Mirian Dutra, ex-amante de Fernando Henrique Cardoso, Kiko Nogueira, do Diario do Centro do Mundo, fala do “grau de manipulação de FHC, que usou toda a companheirada da mídia e da política para limpar o terreno para seu projeto de poder”.
‘Quanto custou esse “apoio”? Quanto ele deu de retorno à Editora Abril pela nota na Veja dizendo que o filho com Mírian era de um biólogo? Quanto custou em publicidade oficial a fraude perpetrada em conluio com o ex-diretor de redação Mario Sergio Conti (o mesmo que em 2014 entrevistaria um sósia de Felipão achando que se tratava do original)?’, questiona.
Na entrevista concedida a Natuza Nery, na ‘Folha de S. Paulo’, de hoje, Miriam revela que em 1994 tentou retornar ao Brasil, mas “não permitiram”. Ela cita Antonio Carlos Magalhães, então senador, e seu filho Luís Eduardo.
“O episódio é uma aula para entender como um clube protege seus sócios. FHC e congêneres estão na cota de intocáveis, evidentemente que por um preço. Em alguns casos, o prazo de validade acaba”, diz o DCM (leia aqui).
Fonte: Brasil 247

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O fim do dólar como moeda de reserva é meta difícil e ousada

Em entrevista ao Portal Vermelho, o professor de economia da UERJ, Elias Jabbour, analisa o projeto do Brics de buscar alternativas ao dólar como moeda para trocas internacionais.

Por Joana Rozowykwiat


  
A ambiciosa ideia de mudar a ordem mundial, criando uma alternativa competitiva para o atual sistema econômico controlado pelos Estados Unidos, sempre permeou os debates do Brics. Ainda em 2010, o grupo anunciou que caminharia para abandonar o dólar nas transações internacionais. De lá para cá, alguns passos foram dados para enfrentar a hegemonia da moeda americana, mas o ritmo dessa jornada é lento.

O professor de economia da UERJ, e membro do Comitê Central do PCdoB, Elias Jabbour, é cauteloso em relação ao tema, prefere não alimentar certas fantasias a respeito de um processo dessa magnitude. Mas ele reconhece que a internacionalização da moeda chinesa pode, sim, ser o princípio de uma transição de longo prazo na ordem financeira internacional.

“O projeto de substituição do dólar em transações internacionais, no âmbito do Brics, existe, é fato. Porém, não na velocidade que gostaríamos. O processo de conversibilidade da moeda chinesa está apenas no início”, avalia.

A construção da hegemonia


Desde 1945, o mundo segue a lógica estabelecida pelos acordos de Bretton Woods, a cidade do Massachusets na qual nações aliadas, capitaneadas pelos Estados Unidos, reuniram-se para definir as bases do funcionamento capitalista no pós-guerra. Buscavam regras que lhes propiciassem estabilidade monetária – evitando crises como a de 1929 - e que ao mesmo tempo permitissem a liberdade necessária para que seus capitais se espalhassem pelo mundo.

Naquele momento, foi criado o Banco Mundial e o Fundo Monetário internacional, para financiar a reconstrução das economias destroçadas pela guerra e combater crises cambiais. Principalmente, estabeleceu-se ali que o dólar passaria a ser a moeda de troca internacional.

Essa foi a configuração que deu aos EUA, emissor de dólares, enorme poder. Permite não só que produtos e serviços sejam negociados na sua moeda de Tio Sam, como também que o Banco Central norte-americano, o Federal Reserve, exporte a sua inflação para outros países, enquanto o governo acumula deficit sem que isso lhe gere nenhum inconveniente.

Hoje, o Tesouro dos EUA pode imprimir notas de dólar, aceitas como moeda de troca em todo o mundo, sem ter que garantir seu valor.

A reação

Quando o Brics declarou, lá atrás, que trabalharia para romper com a hegemonia do dólar, a princípio realizando trocas em moedas locais, a notícia causou frisson na mídia e nos círculos econômicos. O anúncio da criação de um banco e de um fundo próprios do bloco, para se contrapor às instituições gestadas em Bretton Woods, carregava implicações geopolíticas significativas. As medidas começaram a ser discutidas com os países do grupo em crescimento acelerado – tendo a China na dianteira.

Elias Jabbour destaca que, agora, o cenário internacional se transformou. “Temos que perceber o momento em que determinadas declarações são feitas. Em 2010, o centro do sistema capitalista estava em queda livre, enquanto o crescimento econômico mundial estava sendo sustentado pelos chamados “emergentes”, incluindo aí a China e o Brasil. Hoje a situação mudou de forma quase drástica, incluindo uma grande fuga ao dólar como moeda “protetora de valor”, o que fortalece a posição desta moeda em relação ao Euro e o Iene japonês”, avalia.

O novo ambiente, contudo, não inviabiliza o projeto do Brics de abandonar o dólar nas transações internacionais. “Se percebermos que a inflação russa e brasileira, em grande medida, é produto da desvalorização do dólar, notaremos uma brecha para esta conversão que inclusive já é tema prioritário nos altos escalões da governança russa, por exemplo”, diz o professor.

Jabbour afirma que o impacto de o dólar ser utilizado como moeda internacional de negócios é diferente em cada país, a depender de sua capacidade de regulação. “O dólar pode ser utilizado como moeda internacional de negócios desde que um determinado país não tenha uma conta de capitais tão aberta que a torne incapaz de ter margem de manobra em matéria de política monetária, por exemplo. Já países com contas de capitais abertas, sem regulações, estão à mercê da apreciação ou depreciação da moeda de reserva internacional. É o caso do Brasil, por exemplo”, aponta.

Ceticismo

O professor é ponderado em relação à dimensão da proposta do bloco. Para ele, acabar com a dolarização da economia mundial é uma meta muito ousada. “Vou ser honesto e claro com relação a isso. Moeda é poder. Poder político, econômico e militar, antes de qualquer coisa. Há muito tempo que o valor do dólar se assentava somente na capacidade econômica norte-americana em responder a desafios econômicos externos. Isso acaba na década de 1970. O rompimento com a ordem financeira internacional é um rompimento com o capitalismo capitaneado pelos EUA”, adverte.

E as condições para que isso aconteça não são fáceis de serem alcançadas. “Isso só pode ocorrer quando os EUA abandonarem suas bases militares, quando todas as classes médias do mundo deixarem de viver o ‘sonho americano’ e quando todos os países do mundo detentores de títulos da dívida norte-americana devolverem e cobrarem seus papeis”, diz.

Jabbour, portanto, é um tanto cético. “Não acredito num rompimento desta magnitude nem no curto e nem no médio prazos... É preciso abandonarmos certas fantasias antes que sejamos vítimas preferenciais delas”, opina.

Segundo ele, alterar esse padrão tem um alcance tão estratégico quanto superar o próprio capitalismo liderado pelos Estados Unidos. Mas, se o objetivo maior está distante, ele propõe focar-se em temas menos complexos. “Antes de pensarmos em superar esse ‘modelo’ temos de olhar a nós mesmos e perguntar as razões de termos uma conta de capitais abertas. Veja bem, se um país como o Brasil não consegue limitar a entrada e saída de capitais externos, como vamos pensar em questões que envolvem a substituição da moeda de reserva internacional? É m contrassenso impressionante”, critica.

Para ele, o centro do debate nacional deve ser outro. “Que tal discutir a funcionalidade das metas de inflação? É muito mais interessante, acho eu”, defende.

O desafio chinês
Mas nem tudo é pessimismo. No fim do ano passado, o FMI anunciou a inclusão do yuan chinês em sua cesta de moedas de reservas. Para Jabbour, a internacionalização da moeda da China pode ser o princípio de uma transição de longo prazo na ordem financeira internacional. “É por essa lógica de longo prazo que devemos observar como as coisas funcionam. A inclusão do yuan na cesta de moedas de reservas é um acontecimento de fundo impressionante”, diz.

“Ainda ontem, os chineses já anunciaram mais uma rodada de desvalorização de sua moeda, denunciando independência e capacidade de manobrar dignas de um país com ampla soberania financeira e que sabe seu real peso na economia internacional, a partir de ‘efeitos demanda’ sentidos com cada vez mais intensidade”, completa.

Questionado se a desaceleração do crescimento chinês atrapalha essa transição de longo prazo, ele diz que sim, “na medida em que essa desaceleração, ao provocar ‘efeitos demanda negativos’ e, consequentemente, trepidações na economia internacional, leva a uma fuga à liquidez justamente nos títulos da dívida norte-americana. No mínimo, engraçado”, afirma.

Mas há também um outro lado na questão. “Na medida em que a China vai aprendendo a lidar com essa brincadeira chamada mercados financeiros globais, vai introduzindo novas formas, e superiores, de planificação econômica que agora não agem somente no sentido de coordenar e socializar políticas monetárias expansivas, centradas em imensos investimentos em infraestruturas”, ressalta.

Para Jabbour, a China está diante de um desafio que pode, sim, ajudar na reconfiguração da ordem mundial. “Chegou o momento de domar a fera dos mercados financeiros. Até aqui em grande medida os chineses copiaram o que o resto do mundo fez em matéria de desenvolvimento e 'catch up'. Encerrou-se essa era. Agora é finança pura. ‘Agora é que são elas’ para os chineses. Caso consigam superar essa transição de dinâmica interna, o mundo poderá ser outro e admirável nas próximas décadas”, conclui, em tom mais animador.


Do Portal Vermelho