sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Bonecas negras ensinam crianças a combater o racismo brincando

Artesã fornece novas armas para enfrentar o preconceito
Crédito: 
Daniele Silveira / Brasil de Fato
O racismo e a vontade de se ver representada levaram Ana Júlia dos Santos a usar sua arte como forma de expressar as especificidades da população negra brasileira. Há 15 anos, a artesã faz bonecas negras, que subvertem o estereótipo "nega maluca" e fornecem novas armas para o combate ao preconceito.

Ana Fulô, como é conhecida, conta que foram poucos os brinquedos durante sua infância, mas lembra de "nunca ter tido uma boneca negra". Talvez, mais marcante do que a falta de referências ainda quando pequena tenha sido o relato de uma de suas netas sobre um trabalho de escola em que deveria montar uma "bonequinha".

"A professora disse 'Agora quando você fizer a boneca negra, você põe um pedaço de Bombril [esponja de aço] para imitar o cabelo dela'. Ouvi esse relato da minha neta. A minha filha ficou mal, se dirigiu à professora e questionou isso. Foi retirado o trabalho. Não foi feito mais."

Coincidentemente, com a experiência de racismo vivida pela neta, Fulô explica que procurou uma feira para expor seu artesanato, mas não havia mais vagas. Então, a coordenadora do espaço sugeriu que ela fizesse bonecas negras, pois a artesã que desenvolvia esse trabalho havia falecido. Neste encontro de situações, Fulô deparou-se com a oportunidade de expressar sua identidade e combater o racismo.

"Eu notei que as meninas negras brincam com as bonecas brancas, mas nem sempre as meninas brancas brincam com as bonecas negras. Então, eu quis tirar aquela maneira da pessoa tratar a boneca negra como a 'nega maluca'. Eu quis fazer as meninas bonitas. Então, eu comecei a trabalhar nesse sentido até para elevar a autoestima das nossas crianças e mostrar para elas que os brinquedos delas podem ser tão ou mais bonitos que os outros."

Olhos claros, pele escura

No circuito das grandes lojas de brinquedos são raras as bonecas negras. E quando estão presentes, geralmente trazem traços característicos de pessoas brancas, alterando apenas a cor da pele. Dessa forma, fabricantes de brinquedos não se intimidam em apresentar bonecas negras com olhos verdes ou, ainda, reforçar preconceitos com a reprodução de estereótipos.

Artesã e professora do Ensino Fundamental, Lúcia Makena faz bonecas negras há mais de dez anos. Ela avalia que o mercado formal de brinquedos não demonstra interesse em conhecer e representar a população negra.

"A indústria, eu acredito que quando ela faz uma boneca negra, ela não está muito preocupada com a questão da identidade e da cultura. Eu acho que eles só colocam tinta marrom e pronto, né. E a preocupação que eu acho que as empresas deveriam ter é de pensar quem é esse povo negro, qual é essa cultura, qual o seu modo de ver a vida, o que é importante para eles, e eles [as empresas] não se preocupam com isso."

Arte-educadora, Lúcia ainda destaca a importância do trabalho para a educação das crianças na questão da diversidade étnico-racial. "Eu acredito que os brinquedos fazem parte desse processo de formação das crianças. Então, você tem que fazer bonecas contemplando as etnias. Não pode a criança passar a vida inteira comprando bonequinhas loiras, loiras, loiras, se muitas vezes elas não são loiras e muitas vezes elas não vão se identificar com aquilo. Vai trazer uma impressão de que a sua referência de beleza é outra."

Brincadeira séria

Assim como Makena, Fulô considera fundamental a função educacional dos brinquedos. "Nenhuma criança nasce preconceituosa. Isso é coisa que vão colocando na cabecinha dela. Eu acho que a partir do momento que ela começa a brincar, ela tem um entendimento da diversidade de raça. Coloca as duas para a criança brincar, se a gente percebe que ela não integra a boneca negra nas brincadeiras, então, ali tem algum problema. Aí é que se começa a trabalhar a cabecinha da criança."

Para Fulô, mais do que bonecas, suas criações são personagens que possuem histórias próprias. Juntamente com a arte do desenvolvimento de cada novo molde, roupas e outros adereços que acompanham suas meninas, ela pensa também na identificação de cada boneca. Assim, costuma presentear quem compra seu trabalho com textos sobre o que ela imagina para cada menina.

Fonte: Daniele Silveira - Brasil de Fato via Contraf

Salário mínimo de 2014 garante maior poder de compra em três décadas

O novo valor do salário mínimo, de R$ 724 a partir de janeiro, garantirá ao trabalhador o maior poder de compra desde 1979. A quantidade de 2,23 cestas básicas que podem ser compradas com o salário reajustado é a melhor já registrada pelo Dieese, que emitiu na quinta-feira (26) nota técnica calculando o impacto da valorização na economia brasileira.

O aumento de R$ 46 garante uma média melhor que o recorde anterior, de 2012, quando o mínimo conseguia comprar 2,13 cestas básicas, é mais que o dobro da média registrada em 1995, de 1,02, e representa um avanço de 61% no poder de compra desde 2003. Apesar da constante elevação nos últimos anos, só em 2014 os trabalhadores vão recuperar o poder de compra que tinham em 1983. Entre 1984 e 2002, segundo o Dieese, houve uma oscilação que resultou em perda na força de consumo.

Em linhas gerais, o levantamento reafirma a conclusão de anos anteriores: a política de valorização do mínimo, firmada pelo governo Lula (PT) em 2005 a pedido das centrais sindicais, tem assegurado um avanço significativo em termos de aumento da renda média do trabalhador brasileiro. Desde então o reajuste se dá pela soma do crescimento de dois anos antes com a inflação do ano anterior ao reajuste - fórmula garantida pelo governo até 2023. 

O mínimo de R$ 724 em 2014 é fruto de um reajuste de 6,78%, resultado variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, 1,03%, e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor de 2013, estimado em 5,54%.

Em 2002, fim do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o mínimo valia R$ 200. De lá para cá houve um aumento real de 72,35%, frente a um reajuste nominal de 262% (sem descontar a inflação). O ano de maior aumento real foi 2006, justamente o primeiro após a nova política de valorização do mínimo, com avanço de 13,04%. Desta vez, o reajuste será bem menos significativo, 1,18%, segundo resultado mais baixo em governos do PT - superado por 2011, quando o ganho foi de 0,37%.

Em termos de impacto global, o mínimo será reajustado para 48 milhões de pessoas. A maior fatia, 21,4 milhões, é formada por beneficiários da Previdência Social, que sofrerá um impacto de R$ 22,8 bilhões. Em seguida vêm os empregados, 14,3 milhões, e os trabalhadores por conta própria, 8 milhões.

Com isso, entrarão na economia ao longo do ano R$ 28,4 bilhões. Se o governo perde de um lado, com o aumento dos investimentos previdenciários, por outro pode ganhar R$ 13,9 bilhões com o incremento da arrecadação tributária garantida pelo aumento do consumo.

Fonte: Rede Brasil Atual via Contraf

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Mauro Santayana: A compra dos Gripen e a doutrina de defesa

Depois de 13 anos, finalmente o governo brasileiro deu sua aprovação à compra de 36 novos caças para a Força Aérea Brasileira, optando pelos Gripen NG suecos, em detrimento do Rafale, da Dassault francesa e do F-18 da Boeing norte-americana. O menor preço, unitário e por hora de voo, a transferência de tecnologia e a questão política foram fatores determinantes para a escolha.

Por Mauro Santayana*, em seu blog


Como ainda não está totalmente desenvolvido, o caça sueco-brasileiro será projetado em conjunto por técnicos e empresas das duas nações, como as brasileiras Akaer — que já participa do projeto — e Embraer e a própria Saab. Está prevista a criação inicial de aproximadamente 2 mil empregos em São Bernardo do Campo, São Paulo, onde seria instalada a unidade de montagem. O pacote financeiro — cada avião sairá por aproximadamente 125 milhões de dólares — também foi o mais atraente. O Brasil só começaria a pagar os aviões depois de recebida a última das 36 aeronaves, no começo da próxima década.

Para o Brasil, o Gripen NG representa um novo patamar, do ponto de vista da indústria aeronáutica militar, bem acima do turboélice de ataque leve e treinamento avançado Super-Tucano, da Embraer. Mas ele — como bem lembrou o ministro Celso Amorim, ao dizer que o país continuará negociando um caça de quinta geração — não solucionará todos os problemas do país nessa área.

Como o Brasil será dono do projeto, com o tempo, ele poderá ser vendido para outros países da Unasur e até mesmo do Brics, como é o caso dos sul-africanos, que já possuem Gripen mais antigos em sua Força Aérea. Com eles estamos desenvolvendo conjuntamente mísseis A-Darter, que podem armar esse avião.

O importante é que o Gripen NG possa render, estratégica e economicamente, o máximo de retorno para o investimento previsto.

Não é preciso dizer, da Engesa ao AMX, o quanto a descontinuação na fabricação de material bélico foi e pode ser danosa para o Brasil, tanto no desmonte da estrutura estabelecida para sua fabricação quanto na perda de conhecimento e na desmobilização do pessoal técnico envolvido.

Verificando o que está sendo feito no país, neste momento, não é racional gastarmos centenas de milhões de reais para montar um estaleiro para fazer quatro submarinos. O correto seria dar início, a partir daí, à fabricação de pelo menos uma nova belonave por ano, para manter ativos e operantes todos os elos da cadeia produtiva. O mesmo vale para blindados, helicópteros, mísseis, artilharia, avançando, a cada etapa, na nacionalização de componentes, até adquirir total autonomia do exterior.

Precisamos aprovar encomendas do governo que permitam garantir demanda suficiente para manter em funcionamento todas as linhas de produção, assegurando que elas possam eventualmente ser aceleradas, em caso de conflito. 

É por essa razão, considerando-se preço, consumo de combustível e garantia de transferência de tecnologia, que os Gripen não deveriam ficar limitados, apenas, ao reduzido número de 36 aeronaves. Sua fabricação deveria durar, pelo menos, dez anos, a um ritmo de 12 aviões por ano, até completar — asseguradas as modernizações possíveis e o natural ganho de escala — um número mínimo de 120 caças, ainda assim insuficiente para garantir a vigilância de nossas fronteiras e uma condição militar à altura de nossa situação geopolítica.

O grande vetor para a projeção estratégica do Brasil fora do contexto geográfico sul-americano, considerando-se a concorrência e a competição entre os EUA, a Europa e o Brics, nos próximos anos, não será o Gripen mas o caça-bombardeio de quinta geração T-50 PAK-FA, que se encontra atualmente em desenvolvimento por russos e indianos, e para o qual o Brasil já foi convidado a participar oficialmente.

Poderíamos, assim, estabelecer uma teia de atuação aérea progressiva, complexa e abrangente, cobrindo nossas necessidades de defesa e de projeção de nosso poder militar, começando, em um anel mais externo, pelo uso de satélites, drones, Vants e Super-Tucanos para vigilância de nossas fronteiras. 

A seguir, viria uma rede de bases e esquadrilhas de Gripen NG BR, dispostas, estrategicamente, para a proteção de nossas maiores cidades, litoral e Amazônia Azul, e, em caso de grave ameaça, um número inicialmente menor de aviões mais avançados e ofensivos, como o Sukhoi Su-35, e, futuramente, o T-50, potencialmente adaptados aos sistemas de dirigibilidade, controle e manutenção da FAB.

A mera escolha do Gripen, fabricado a partir de peças ocidentais, não pode ser vista como um fator limitante para a cooperação do Brasil com outro tipo de nações, que apenas contribuiria para consolidar nossa dependência, no campo da defesa, de países da Europa e dos próprios Estados Unidos.

O Ocidente não tem nenhum compromisso estratégico conosco e, muito menos, a médio e longo prazo. Nunca se poderá contar com nenhum país ocidental, em caso de eventual problema com um deles. Vide o caso da Argentina, abandonada totalmente por seus fornecedores de armamento, na Guerra das Malvinas.

*Colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou na Folha de S. Paulo (1976-82), onde foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.


Fonte: Vermelho

Raúl Castro: Não permitiremos terapias de choque em Cuba

O presidente cubano, Raúl Castro, reiterou no sábado (21), no encerramento da sessão do Parlamento, que a atualização do modelo econômico da ilha continuará sem pressa e sem pausa. 


O dirigente esclareceu que a obra do projeto social cubano não se submeterá a pacotes de ajustes nem a terapias de choque ao estilo europeu.

Nem a chamada direção histórica da Revolução, nem as novas gerações permitirão que se perca esta obra, ressaltou.

A aprovação de um novo Código do Trabalho e da Lei do Orçamento para 2014 foram os dois eixos centrais do 2º período ordinário de sessões da 8ª legislatura do Parlamento cubano, finalizado neste sábado em Havana.

Na alocução final da Assembleia, o presidente cubano destacou a importância do Código do Trabalho, cujo anteprojeto foi submetido neste ano a consulta popular com os trabalhadores e que revoga cerca de 147 normas jurídicas.

Unificação monetária e cambial

Castro também se referiu ao comportamento da economia e a algumas de suas deficiências. Em 2013 o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7 por cento, inferior ao índice de 3,6 por cento que tinha sido planificado. Para 2014 está previsto um crescimento de 2,2 por cento que, sublinhou, não satisfaz em absoluto as necessidades do país, mas que corresponde de modo realista à situação interna e externa que o país enfrenta.

Não obstante, a credibilidade internacional da economia cubana continua em ascenso, disse o dirigente. É necessário potenciar as exportações, pontuou.

Raúl Castro recordou que em 2014 foi anunciada a criação de um cronograma para a unificação monetária e cambial, na qual se trabalha agora na preparação das condições contábeis e do pessoal das empresas e outras entidades jurídicas por onde começará este processo. Reiterou que não haverá nenhum prejuízo a todas as pessoas que tenham licitamente dinheiro em CUC (Pesos Cubanos Convertíveis e CUP (Não Convertíveis) tanto em dinheiro vivo como em contas bancárias.

O presidente cubano disse que a unificação monetária e cambial não resolve todos os problemas, mas é um passo decisivo nas transformações do país para construir um socialismo próspero e sustentável, menos igualitário, porém mais justo.

Segundo o presidente cubano, estão sendo consideradas várias iniciativas para dotar de maior flexibilidade o objetivo social da empresa estatal socialista e o fortalecimento destas unidades produtivas, dotando-as de maior autonomia.

Investimento estrangeiro 

Raúl Castro anunciou a próxima inauguração da primeira etapa do terminal de contêineres da zona especial de desenvolvimento de Mariel, que é construída com o apoio do Brasil.

Este polo, a oeste de Havana, é um polígono de experimentação de modernas tecnologias e métodos de gestão empresarial.

A inauguração em janeiro próximo da primeira etapa do terminal de contêineres nesse porto de águas profundas é acompanhada com a construção de outras obras vitais de infraestrutura.

Nesse mesmo sentido anunciou a discussão em março, em uma sessão extraordinária da Assembleia Nacional, de uma nova Lei de Investimento Estrangeiro.

Relações com os Estados Unidos 


Raúl Castro declarou que se nos últimos tempos houve alguns intercâmbios sobre temas de benefício mútuo entre Cuba e os Estados Unidos, que é possível resolver outros assuntos de interesse e estabelecer uma relação civilizada entre ambos os países, em coerência com os desejos do povo cubano, a ampla maioria dos cidadãos estadunidenses e a emigração cubana nesse país.

Castro enfatizou que Cuba não exige que os EUA mudem seu sistema político nem aceita negociar mudar o seu. As diferenças devem ser respeitadas. 

Cubadebate / Prensa Latina
Tradução da Redação do Vermelho