sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ADQUIRA JÁ SUA CAMISA DO MENDIGOS DE GRAVATA

Não perca tempo e adquira já sua camisa do Mendigos de Gravata para curtir a Lavagem do Beco do Fuxico neste sábado (23). As camisas estão à venda na sede do Sindicato ou fale com os nossos diretores.

A concentração do bloco que contará com uma banda de sopro e percussão, está marcada para às 15h30m, na Praça da Catedral de São José.  O cortejo percorrerá a Rua Duque de Caxias, desfilará tradicionalmente pelo “Beco do Fuxico” e seguirá para Avenida Aziz Maron, palco por onde os trios elétricos e as agremiações carnavalescas passarão.

Compre sua camisa por apenas R$ 15,00 (quinze reais) e venha se divertir com o bloco mais tradicional de Itabuna! Não perca!

Mendigos de Gravata – Paz, amor e alegria!!!

Fonte: Seeb Itabuna

É preciso combater os altos juros como grande problema nacional

A reação dos porta-vozes do mercado financeiro contra a decisão tomada ontem (20) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) beirou ao rancor. Houve quem dissesse que foi uma espécie de armação a divulgação, na terça-feira (19), véspera da reunião de uma nota oficial do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comentando a previsão pelo FMI de um desempenho desastroso para a economia brasileira em 2016. Tombini teria jogado para manter-se no cargo, disseram aqueles maledicentes da mídia. Alegaram que perdeu sua autonomia em relação ao governo. Isso é um absurdo. Tombini faz parte de uma equipe de governo, seu cargo é equivalente a ministro.

Mas os porta-vozes do “mercado” – isto é, do grande capital financeiro, do rentismo e da especulação – insistem em sua versão própria do que seja o poder público. À presidenta Dilma Rousseff cabe a administração e a política. Às autoridades financeiras (como queriam antes com Joaquim Levy, e insistem com a tese da autonomia do Banco Central) caberia, na expectativa desses sabichões do grande capital, administrar as finanças do governo. 

Querem um governo esquizofrênico – a política de um lado, e a economia de outro, sob o mando do grande capital financeiro. 

Ora! O presidente do Banco Central faz parte de um governo com o qual deve estar em sintonia, e não com o chamado “mercado”.

A reação contra a decisão tomada pelo Copom reflete a força do rentismo, contrário ao “empate” que ocorreu na reunião. “Empate” não pelo resultado da votação dos conselheiros (seis a favor de manter a taxa Selic no nível atual, e dois por sua alteração). 

Não. “Empate” por seu significado – a taxa não subiu, mas também não foi reduzida – foi mantida em 14,25% ao ano.

Isto é, os especuladores rentistas não viram a taxa subir, como quer o mantra neoliberal e conservador, traduzido em “ciência” econômica, que preconiza o aumento dos juros para controlar a inflação. E os protagonistas do setor produtivo (trabalhadores e empresários da produção), que defendem sua queda, não viram isso acontecer.

A taxa foi mantida. O Brasil mantém a incômoda posição de ser campeão mundial em juros reais.Descontada a inflação, os juros rendem, no Brasil, inacreditáveis 6,78% ao ano, acompanhado de longe pela Rússia (onde os juros reais são de 2,78%) e pela China (com taxa real de 2,61%). 

“Empate”, neste quadro, não significa equilíbrio entre duas tendências, como se poderia pensar, mas a continuidade do favorecimento à especulação e ao rentismo por manter os juros em taxas estratosféricas. 

É este o sentido da nota divulgada pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro-CUT (Contraf-CUT), Roberto von der Osten. “Manter a taxa básica de juros só serve para manter a economia em recessão, com impactos negativos na geração de empregos”, diz. “Aprofunda a crise brasileira, aumenta a dívida pública e drena recursos da sociedade para o rentismo, ou seja, para os banqueiros.” Ele considerou a manutenção da Selic – pela quarta vez consecutiva – como sendo um “erro gravíssimo”, que pode “piorar o cenário econômico do país” “diante de uma perspectiva de recessão” e empurrar “a economia brasileira para o abismo”.

A crise econômica está se agravando mundo afora. Está longe de seu fim – e dados recentes divulgados pela organização britânica Oxfam Internacional mostram que a concentração de renda no mundo se agravou mesmo durante a crise. 

O Brasil faz parte do mundo e, sendo assim, os reflexos da deterioração mundial se refletem por aqui, como está acontecendo e o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) reconhece.

É um quadro que precisa ser enfrentado, e a falência do receituário ortodoxo tradicional para isso é reconhecida historicamente. 

Os juros precisam, urgentemente, baixar. O velho dogma ortodoxo e neoliberal de cortar despesas do governo e aumentar juros para segurar a inflação agrava a crise, cuja solução exige exatamente medidas contrárias. Foi o que indicaram as medidas anticíclicas adotadas pelo governo brasileiro desde 2007/2008 e que permitiram ao país enfrentar a crise e sair dela em situação melhor do que estava quando ela começou. 

São medidas que provocam urticária nos representantes do grande capital mas têm o sentido de conter a ganância do capital especulativo e usar a capacidade do governo para fomentar o crescimento e proteger o emprego. 

O combate à escandalosa alta dos juros praticada no Brasil é urgente. É preciso fazer girar a economia, e não congelá-la com doses maciças de juros! Cabe ao governo olhar para o país em seu conjunto, e não apenas para os “agentes econômicos”, isto é, para os rentistas especuladores que canibalizam a economia nacional, e seus ventríloquos da mídia conservadora que pedem, à exaustão, mais e mais juros. Já passou da hora de enfrentar estas altas taxas como um grande problema nacional – e é necessário enfrentá-las, com a mobilização dos setores produtivos da nação, para o país reencontrar a rota do crescimento. 


Fonte: Vermelho

Dirigentes partidários pregam unidade e mobilização contra o golpismo

Importantes lideranças políticas do país protagonizaram um dos principais debates deste segundo dia do Fórum Social Temático de Porto Alegre. Foi a mesa de convergência intitulada “Democracia e Desenvolvimento em Tempos de Golpismo e Crise”, no auditório Araújo Vianna, que contou com público de mil pessoas segundo os organizadores. A tônica foi a defesa do mandato da presidenta Dilma e o alerta sobre os riscos de retrocessos democráticos no país.


Foto: Priscila Lobregatte
Walter Sorretino defendeu a construção de uma agenda para relançar o processo de crescimento econômico e criar as condições para uma nova etapa do projeto de desenvolvimento.Walter Sorretino defendeu a construção de uma agenda para relançar o processo de crescimento econômico e criar as condições para uma nova etapa do projeto de desenvolvimento.
O presidente do PT, Rui Falcão, chamou a atenção para o fato de que hoje no Brasil há uma direita que não aceita a derrota nas urnas e faz de tudo para retornar ao poder. Falcão criticou a atitude do PSDB pedindo a cassação do registro do PT, o que classificou como um factoide antidemocrático.

Falcão disse que, apesar do STF (Supremo Tribunal Federal) ter anulado o encaminhamento que havia sido realizado na Câmara para o rito do impeachment, as “ameaças” continuam. “O Congresso retoma seus trabalhos ainda com esse senhor (Cunha) na Presidência da Câmara, agora com o foco voltado não só para o rito do impeachment, mas voltado também para o Tribunal Superior Eleitoral. Querem criminalizar as contas de campanha da presidenta Dilma”, disse.


Ameaça: Estado de exceção dentro do Estado de Direito

Outra questão grave apontada pelo presidente do PT foi a chamada “teoria do preposto”, exposta por um dos procuradores da Operação Lava Jato, que sinaliza no sentido de voltarem-se as investigações para os partidos políticos neste ano. Segundo a visão exposta, caso algum dirigente de partido, seja ele deputado, senador ou vereador, tenha cometido alguma transgressão nas contas da sigla, o responsável será da própria organização partidária da qual ele é preposto. “É uma nova versão para a teoria do domínio do fato (...) o que está em jogo hoje é a questão democrática. O que estamos assistindo hoje é a criação do embrião do estado de exceção dentro do Estado democrático de direito (...) o combate à corrupção não pode significar ameaças à democracia e aos direitos”, alertou. Falcão também fez comparação com o AI-5 (Ato Institucional nº 5) que proscreveu o habeas corpus, durante a ditadura militar, em 1968. “Hoje, o habeas corpus está proscrito por setores do Judiciário, com apoio da mídia monopolizada.”

Falcão contextualizou a crise econômica que o país enfrenta dentro do cenário internacional. “Estamos vivendo uma crise dramática do capitalismo, que é maior, talvez, que a crise de 1929, e tem consequências imprevisíveis. Essa crise reduziu as margens de lucro do capital no mundo inteiro. No que diz respeito ao Brasil, o capital busca revogar conquistas históricas dos trabalhadores. No governo Lula, sob condições internacionais favoráveis, foi possível uma política onde praticamente todos ganhavam. Isso acabou. A aliança que existia com setores do empresariado se estreitou muito.”

Sobre a necessidade de mobilização e reorganização da luta social, Rui Falcão salientou o papel da Frente Brasil Popular e da Frente Brasil Sem Medo, para que a esquerda retome o seu protagonismo. “A estratégia de Frente é o nosso caminho. Precisa ser fortemente mobilizadora. O programa da Frente deve somar a agenda do desenvolvimento sustentável, com a defesa da democratização do Estado, a defesa da Petrobras, a ampliação de direitos”, disse.

Sorrentino: defesa da democracia contra o golpe

O vice-presidente nacional do PCdoB, Walter Sorrentino, afirmou que a jovem democracia brasileira está sendo ameaçada por uma ofensiva reacionária que pretende “fazer uma ponte para um neoliberalismo selvagem, com retirada de direitos sociais e trabalhistas, e uma política externa subserviente aos interesses do imperialismo”. O PCdoB, anunciou Sorrentino, definiu como um eixo central para enfrentar essa ofensiva golpista a formação de uma frente partidária e social. “A tentativa de impeachment foi uma aliança espúria do PSDB com Eduardo Cunha, com apoio midiático. Essa ofensiva foi contida, por ora, mas essa batalha será dura e prolongada”, avaliou.

Para Sorrentino está ocorrendo amplo processo de criminalização da política que visa sua desconstrução no país. “Em nome do justo combate a corrupção e da necessária correção de práticas e governança de grandes empresas nacionais, e sua relação com o estado, a Lava Jato promove a judicialização e a criminalização da política, ao mesmo tempo que se politiza, no pior sentido do termo, com apurações e divulgações seletivas. Assim a operação transforma-se am uma espécie de justiça à parte”, alertou.

Retomada do crescimento econômico

A esperança que precisa se reacender no futuro próximo, segundo Sorrentino, é a retomada do crescimento econômico. É isso que espera a sociedade. Ele defende um pacto entre empresários e trabalhadores em torno de uma agenda imediata de medidas que levem a este processo de retomada.

“Precisamos ser capazes de construir uma agenda convergente de consensos, para relançar o processo de crescimento econômico e criar as condições para uma nova etapa do projeto nacional de desenvolvimento. A baliza fundamental para a esquerda e os setores progressistas nesta agenda é não retroceder com medidas de regressão social e antipopulares, esta é a base para a nossa unidade”, afirmou.

O dirigente comunista alertou para a dimensão de dificuldades impostas pela grave crise econômica do capitalismo no mundo e seus reflexos no Brasil, que não podem ser desconsiderados. No atual contexto, enumerou uma série de questões que precisam ser enfrentadas imediatamente para a retomada do desenvolvimento. Citou a necessária diminuição dos juros e câmbio favorável a competitividade da indústria nacional, destravamento dos investimentos públicos e privados nas áreas de infraestrutura e energia, promoção de acordos que permitam às grandes empresas voltarem a operar nas grandes obras, recriação da CPMF, taxação de grandes rendas e fortunas, como fazem nações desenvolvidas.

Luta política e disputa de ideias

Sorrentino, destacando o papel de debates do Fórum, enfatizou que é através da luta política e de ideias, amparadas na mobilização social crescente, que se pode retomar a iniciativa e barrar o golpismo. A retomada do crescimento pode surtir efeito ainda neste ano, segundo o dirigente do PCdoB, desde que seja recuperada a confiança no projeto. “É preciso ter iniciativa política do governo e das forças populares, manter e ampliar a base política do governo no Congresso, disputando o apoio de forças centristas, praticar uma política ampla, hábil e participativa. Ampliar o diálogo com setores produtivos e movimentos sociais.”


A direita brasileira tem um projeto protofascista


Resistência popular a partir da unidade: para o ex-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, a Frente Brasil Popular pode ser a principal alternativa de resistência ao que ele considera como projeto protofascista da direita que está em curso no Brasil. “Estamos vivendo uma tentativa de aniquilamento das forças populares e da esquerda no Brasil. O PT é o alvo principal, mas não se enganem, não é o único. O que eles querem é destruir todos os demais partidos de esquerda. Além disso, tentarão aniquilar a maior liderança popular do Brasil que é o presidente Lula. Vejo ameaças maiores que as de 1964”, afirmou.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) considera ridículo o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Requião advertiu para os riscos que a crise econômica que está no horizonte representam para o país. “O Brasil está sofrendo uma crise brutal que parece estar só no início. O que é mais grave é que há uma incapacidade de a nação reconhecer a intervenção estrangeira na economia e na política do país. Há uma tentativa de desmoralizar o próprio conceito de uma nação brasileira. Precisamos de uma utopia nacional para enfrentar esse cenário e o que pode nos unificar é um estado de bem-estar aberto e multicultural.” Para Requião, defender a legalidade democrática do Brasil é assegurar a construção de um projeto nacional baseado na justiça social e na democracia.

De Porto Alegre, Clomar Porto, especial para o Portal Vermelho

Juros engordam lucro de bancos brasileiros

Brasil é terceiro país do mundo onde instituições financeiras mais faturam com juros; spread bancário no país está à frente de países menos desenvolvidos

São Paulo – A alta taxa de juro praticada no Brasil sem dúvida beneficia, sobretudo, um setor que, com crise ou sem crise, bate sucessivos recordes de faturamento: os bancos. O spread bancário brasileiro – que consiste na diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado (taxa de captação) e o que cobram nos empréstimos (taxa de aplicação) – é o terceiro maior do mundo, atrás apenas de Madagascar e Malavi.

Os dados levantados pelo Banco Mundial, referentes ao ano de 2014, mostram ainda que o spread brasileiro está na frente de países menos desenvolvidos como Serra Leoa e Congo, onde o risco de crédito é maior. Enquanto em Serra Leoa e Congo a renda per capita é de US$ 700 e US$ 380, respectivamente, no Brasil é de US$ 11,3 mil.

Spread – De acordo com dados do Banco Central, enquanto a taxa média de captação no Brasil subiu apenas três pontos percentuais entre novembro de 2014 e o mesmo mês do ano passado, chegando aos 14,8%, a taxa de aplicação cresceu dez pontos percentuais e alcançou 48,1%.

Segundo o Banco Mundial, em 2014, a inadimplência do Brasil estava em 3,1%, abaixo de diversos países que possuem spreads menores, como Peru e Colômbia.

Fonte: Seeb SP

'Estados estão sendo atacados pelo neoliberalismo'

No Fórum Social Temático de Porto Alegre, sociólogo Boaventura de Sousa Santos aponta crises de representatividade surgidas a partir das intervenções do capitalismo na política

São Paulo – “Os Estados estão sendo atacados pelo neoliberalismo e a truculência das polícias. Passamos por um processo sem precedentes em que houve alguma distribuição de renda que permitiu políticas sociais em todo o continente. Esse processo esgotou-se”, afirmou na quarta 20 o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, acerca da diferença entre o momento atual e do primeiro Fórum Social Mundial, em 2001. Ele participou, pela manhã, de debate que abriu o dia de atividades do Fórum Social Temático de Porto Alegre. A influência crescente do capital na política foi apontada pelo pensador como aspecto fundamental em uma crise da “democracia representativa”.

Para o sociólogo, é necessário reaver a esperança e a união na esquerda. No início dos anos 2000, disse, uma onda de governos progressistas, como de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil e Hugo Chávez na Venezuela, culminaram de uma forte aliança entre movimentos sociais e a sociedade civil para o enfrentamento do modelo neoliberal de globalização e acumulação de riquezas.

“Dói um pouco ver que quem me ensinou esqueceu das lições”, disse Boaventura ao recordar que, em 1999, no governo de Olívio Dutra (PT), o Rio Grande do Sul instaurou o Orçamento Participativo. “Se fez um trabalho notável totalmente ignorado nesse país. A esquerda brasileira tem pouca memória, e por isso é tão facilmente manipulada pela direita”, argumentou.

Em tom crítico, o sociólogo chamou a esquerda para se unir em um movimento coeso visando avanços na democracia. “Como continuam (as forças de esquerda) com tanta discussão interna, por que divergem sobre tão pouco? E ao mesmo tempo, com que facilidade alguns partidos de esquerda se unem com setores da direita. Não podemos nos chamar de esquerda e assassinar indígenas e quilombolas”, disse.

Questão global - O combate à crise do capitalismo, que o sociólogo engrossa o coro dos que veem sinais a cada ano mais evidentes, por meio de políticas de austeridade e de privilégios com ótica de livre mercado, vem se mostrando ineficaz, continuou.

Além de não tratar os problemas criados pelo próprio modelo neoliberal, essa estratégia enfraquece a representatividade. Boaventura citou a situação atual das economias europeias, fragilizadas, com altos índices de desemprego e pressionadas por exigências do mercado (representado pela troika, termo que reúne o Banco Mundial, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional), para comprovar a tese. “Os detentores do dinheiro já não se contentam em controlar os políticos, querem que executem sua própria agenda e que seus candidatos tomem conta da política desses países”, disse.

O problema se estende para a esfera social e acaba eclodindo em manifestações em diferentes nações. “A democracia representativa perdeu a luta contra o capitalismo. É por isso que vimos a Primavera Árabe pedir democracia e os Indignados pedirem democracia real, por exemplo”, disse o sociólogo. A crise na representatividade, para Boaventura, foi o que desencadeou também as manifestações no Brasil em 2013. “A crise da representação é a ideia que os cidadãos têm de que os partidos não os representam.”

Contudo, o sociólogo apontou uma possível armadilha contida no contexto das manifestações em razão da crise de representatividade. “A rua não é propriedade da esquerda, pode ser apropriada pela direita reacionária e golpista. Pensamos que a rua é uma forma de aprofundar a democracia, e assim foi, mas não é necessariamente”, afirmou, relembrando que as manifestações brasileiras em 2013 eclodiram com uma visão esquerdista a princípio, mas rapidamente sofreram uma forte guinada à direita.

Uma saída - Boaventura declarou que enxerga a possibilidade de fortalecimento da democracia participativa por meio de uma “profunda reforma política”, que assegure direitos e impeça abusos de certos setores. “É muito difícil dizer para os povos indígenas, por exemplo, que há uma democracia no Brasil, porque eles vivem na violência”, disse.

A importância de um Estado eficaz também foi citada pelo sociólogo ao mencionar que a reforma política deve vir atrelada a uma reforma econômica. “Há um certo controle ideológico sobre a cidade, uma ideia de que os povos se habituaram ao consumo, de que os direitos sociais não são propriamente direitos, que podem cessar sempre que a economia estiver com problemas.”

Outro aspecto, presente nos fóruns desde sua primeira edição, apontado por Boaventura, é a necessidade de regulamentação da mídia. “Temos que regular no sentido de permitir igualdade de oportunidades à opinião pública, à diversidade. Não é para limitar o sentido das opiniões, mas sim para que haja mais opiniões. A produção das mídias alternativas é profundamente importante nessa época.”


Rede Brasil Atual via Seeb SP

Lula falou a blogueiros com a serenidade dos que têm consciência limpa

Heinrich Aikawa/Instituto Lula:
Foi a terceira entrevista coletiva concedida por Lula a blogueiros de que participei desde 2010. A primeira, foi em 24 de novembro de 2010 no Palácio do Planalto, quando ele ainda era presidente; a segunda, foi em 9 de abril de 2014.
Abaixo, as íntegras das duas primeiras entrevistas
24 de novembro de 2010
9 de abril de 2014
No último dia 20, Lula concedeu a terceira entrevista – como na segunda, no Instituto Lula. Alguns estão considerando essa como a melhor de três devido, acima de tudo, à descontração do ex-presidente em um momento em que muitos julgavam que estivesse combalido pela guerra de aniquilação que setores da grande mídia, do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal e da oposição movem contra si.
Seria ocioso abordar a entrevista em si porque, a esta altura, o vídeo com a sua íntegra já está se espalhando – quem não assistiu poderá assistir ao fim deste post.
O que mais importa relatar, portanto, é o que a entrevista não diz e que só pode ser relatado por quem estava presente, que é o estado de espírito do ex-presidente em um momento como o atual.
O Lula que os blogueiros encontramos me surpreendeu pelo bom humor e pela tranquilidade. Aliás, a resposta que deu à pergunta que lhe fiz (assista ao vídeo a partir de 1:24:15) foi ainda mais surpreendente porque, perguntado por mim sobre a sabotagem do governo pela oposição, ele me respondeu, textualmente, o seguinte:
“(…) Olha, Eduardo, eu acredito que o povo brasileiro precisa repudiar, de forma veemente, todas aquelas pessoas que trabalham para atrapalhar, sabe, o desempenho do Brasil, porque quando alguém trabalha para evitar que as que as coisas que o governo faz deem certo, na verdade as pessoas não estão prejudicando o governo, as pessoas não estão prejudicando um empresário, não é um deputado, um senador, um ministro, quem sofre, na pele, é o povo mais necessitado desse país.
Então, eu dizia sempre: quando as pessoas tiraram a CPMF achando que ia me prejudicar, eu não fui prejudicado, mas o povo brasileiro foi, porque foram bilhões e bilhões que deixaram de entrar pra cuidar da saúde nesse país.
Então, quem precisa da saúde são as pessoas mais humildes. São eles que perdem. Então, quando alguém tenta sabotar a Dilma – como muita gente tucana está tentando sabotar a Dilma -, na verdade eles estão retardando, sabe, qualquer avanço social do povo brasileiro. Qualquer avanço social do povo brasileiro.
Teve até um que disse que ia tirar 10 bilhões do Bolsa Família, não é? Então, isso é grave. Mas o que é que a gente faz? A gente não pode ficar lamentando porque, também, a oposição existe pra isso. Você vê que nos Estados Unidos, o partido republicano judia dos democratas, quando estão no poder. E quando os democratas estão na oposição judiam dos republicanos. E o Obama sofre, chora, sabe, e os republicanos não têm piedade: “somos oposição pra isso”.
Aqui no Brasil, também é assim. O que nós precisamos – e acho que a Dilma tem que fazer isso com mais força -, é conversar mais com a sociedade. Conversar mais com os agentes vivos da política brasileira, sabe. Organizar melhor os partidos, assumir compromissos com seus aliados. Cada ministro tem que cobrar seus deputados se não votarem a favor das propostas do governo, porque política é assim, meu caro.
Eu vou lhe contar uma história: se tem uma coisa que o Congresso Nacional adora – e qualquer congresso do mundo – é presidente fraco. Eles não gostam de presidente forte porque quando o presidente é muito forte ele tem muita força pra muita coisa e ele [Congresso] não pode constestar. Mas quando está fraco eles contestam. É o papel do Eduardo Cunha. Ele se presta a criar uma “pauta-bomba” todo santo dia. Ele está pouco preocupado se vai retardar alguma de importância pro país – mas não é de importância pra Dilma, é de importância pro país (…)”
A resposta de Lula à minha questão ainda foi longe, como a todas as outras – quem quiser, repito, pode assistir a entrevista, na íntegra, no vídeo ao fim do texto, com minha participação, também repito, aos 1:24:15. Mas o fato é que ele demonstrou, com a sua resposta, serenidade e espírito democrático ante a realidade do nosso sistema político. Sem chorumelas, sem drama.
Lula, antes de tudo, entende que a democracia é, acima de qualquer coisa, um sistema pensado para fazer coexistirem as divergências naturais em qualquer sociedade e, desse modo, não adianta reclamar dos choques que essas divergências causam e da preponderância de quem está fora do governo quando esse governo se enfraquece por esta ou por aquela razão.
Nesse contexto, o ex-presidente demonstrou tranquilidade igualmente surpreendente com a tentativa de criminalizá-lo e até à sua família.
Demonstrou entender que ninguém está acima da lei e que foi exatamente isso que ele pretendeu quando, em seu governo (2003 – 2010), deu ao Ministério Público e à Polícia Federal liberdade que nunca tiveram, em governos anteriores, para investigarem a qualquer um.
Lula não tem medo das investigações. Está confiante, aliás, em que o PT e ele mesmo estão longe de estar “acabados”, como pregam alguns. Relatou, na entrevista, que um ano antes de ser eleito presidente pela primeira vez visitou Fidel Castro e ele lhe relatou que ficara “sabendo” que o PT estaria acabado. E um ano depois o PT chegou ao poder.
Aliás, Lula tem razão. Após perder as três primeiras eleições presidenciais para o PT, muitos acharam que o PSDB estaria “acabado” e, muito diferente disso, o partido interrompeu a redução de bancadas no Congresso que experimentou em 2002, 2006 e 2010 e, em 2014, voltou a crescer.
A política, assim como a economia, é cíclica. No mundo inteiro esquerda e direita se alternam no poder, assim como as economias experimentam ciclos de expansão e retração. Não há que se desesperar por isso, como Lula bem demonstrou. Faz parte…
Antes de concluir, vale conferir, mais uma vez, como a imprensa tratou essa terceira entrevista de Lula a blogueiros. Foi mais do mesmo.
Em abril de 2014, o jornal O Globo colocou seus repórteres para “caçarem” os blogueiros que entrevistaram Lula e, de forma bizarra, publicou matéria de uma página inteira com o “perfil” dos entrevistadores – você já viu alguma matéria na imprensa sobre o perfil de entrevistadores?
entrevista lula 1

Desta feita, até aqui não houve alguma coisa nesse sentido, mas reportagem da Folha de São Paulo, por exemplo, sobre a entrevista de Lula a blogueiros repisa a tese dessa “grande imprensa” de que o ex-presidente deu entrevista a pessoas “simpáticas ao PT”, como se isso contivesse algum demérito caso fosse verdade.
entrevista lula 2
O destaque na primeira página sugere algo de extraordinário em um ex-presidente da República dar entrevista a jornalistas-blogueiros. O texto em evidência diz o seguinte: “Em conversa ontem com blogueiros simpáticos ao PT (…)”
Nas páginas internas, a matéria de capa repisa essa “simpatia” dos seguintes entrevistadores pelo presidente. E quase os “denuncia”, citando-os um a um.
entrevista lula 3
Essa história de “blogueiros simpáticos ao PT” é uma piada. A mídia age como se todos tivessem o mesmo viés. Eu, por exemplo, nunca escondi minha simpatia por Lula, pelo PT, pelo governo Dilma. Mas eu não fui o único entrevistador.
As jornalistas Conceição Lemes, do blog Viomundo, e Laura Capriglione (ex-Folha), do grupo Jornalistas Livres, por exemplo, fizeram perguntas bastante incômdas ao ex-presidente. Lemes acusou o governo Dilma de fazer o ajuste fiscal “nas costas do trabalhador” e Capriglione questionou Lula sobre se o PT acha mesmo que não tem nenhuma culpa pelos escândalos envolvendo o partido.
Será que a Folha, O Globo, o Estadão ou a Veja assistiram mesmo à entrevista ou foram escrevendo seus ataques “no automático”?
Ainda assim, o jornal pegou muito mais leve com os blogueiros do que a Veja, por exemplo, que atiçou seus mastins contra nós. Um de seus pistoleiros, cupincha do PSDB, incapaz de fazer uma única crítica aos desvios éticos do partido ou às citações de FHC e Aécio Neves na Lava Jato, usou sua linguagem imunda para nos insultar em vez de argumentar contra o que dissemos.
entrevista lula 4
CONFIRA, ABAIXO, A ÍNTEGRA DA TERCEIRA ENTREVISTA DE LULA A BLOGUEIROS
 Fonte: Brasil 247

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

MENDIGOS DE GRAVATA SEMPRE NA LAVAGEM DO BECO DO FUXICO


O bloco Mendigos de Gravata, há 26 anos na avenida, presença constante na Lavagem do Beco do Fuxico, estará mais uma vez desfilando com toda sua irreverência e alegria.

A festa, que será realizado no próximo sábado (23), tornou-se uma resistência cultural à comemoração do carnaval de Itabuna.

A concentração do bloco que contará com uma banda de sopro e percussão, está marcada para às 15h30m, na Praça da Catedral de São José. O cortejo percorrerá a Rua Duque de Caxias, desfilará tradicionalmente pelo “Beco do Fuxico” e seguirá para Avenida Aziz Maron, palco por onde os trios elétricos e as agremiações carnavalescas passarão.

As camisas estão a venda no Sindicato dos Bancários, por apenas R$ 15,00. Participe!!

Mendigos de Gravata: Paz, amor e alegria!!!

Fonte: Bancários Itabuna

ADQUIRA JÁ SUA CAMISA DO MENDIGOS DE GRAVATA

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A concentração do bloco que contará com uma banda de sopro e percussão, está marcada para às 15h30m, na Praça da Catedral de São José.  

O cortejo percorrerá a Rua Duque de Caxias, desfilará tradicionalmente pelo “Beco do Fuxico” e seguirá para Avenida Aziz Maron, palco por onde os trios elétricos e as agremiações carnavalescas passarão.

Compre sua camisa por apenas R$ 15,00 (quinze reais) e venha se divertir com o bloco mais tradicional de Itabuna! Não perca!

Mendigos de Gravata - Paz, amor e alegria!!!

Fonte: Seeb Itabuna

Ana Prestes: Porto Alegre x Davos: quinze anos depois (I)

O Fórum Social Mundial, em especial suas três primeiras edições, ocorridas na cidade de Porto Alegre, no Brasil em 2001, 2002 e 2003, será por muito tempo um marcador das características do princípio do século XXI e do novo milênio.


Fórum Social Mundial tem a marca antiimperialistaFórum Social Mundial tem a marca antiimperialista
Hoje, quinze anos depois, é possível observar pelo retrovisor da história (mesmo que recente) o que restou do seu aspecto social, do seu formato de fórum e do seu escopo mundial. Entender sua existência e a forma como ele se desenvolveu até aqui nos dá elementos para compreender as possibilidades e os limites da atual luta anticapitalista e anti-imperialista internacional.

Ao final dos anos 90 do século XX, uma articulação entre as agendas pós-colonial e anti-globalização neoliberal do norte e do sul global deu origem a um dos maiores inventos políticos do período fronteiriço entre o fim do século XX e o início do século XXI. Surgia o Fórum Social Mundial (FSM). Existem divergências interessantes sobre a “paternidade” do FSM[1]. Como é natural nestas situações, em especial quando há sucesso na fórmula, que alguns protagonistas disputem serem os “donos” da ideia. O fato é que três personagens, pelo menos, reivindicam o lançamento da pedra fundamental do evento, são eles Francisco Whitaker[2], Oded Grajew e Bernard Cassen[3].

Em fevereiro de 2000, Whitaker e Grajew, na companhia de suas esposas como gostam de frisar, se reuniram se reuniram em Paris com Bernard Cassen e idealizaram um encontro que fosse um contraponto ao Fórum Econômico Mundial (realizado todos os anos em Davos, na Suiça).

Obviamente que estes três senhores tiveram senso de oportunidade e realização e que na realidade há uma paternidade social e coletiva do FSM. Por mais geniais que sejam as ideias, elas são impraticáveis se não houver as bases concretas e objetivas para sua realização. O mundo estava em efervescência e os protestos anti-cúpulas do norte, aliados aos processos de resistência ao neoliberalismo no sul, foram os propulsores do encontro.

É interessante notar que, dentro de toda a polêmica sobre a paternidade, segundo Cassen, os parceiros brasileiros propuseram que o encontro fosse realizado na França, ao que este reagiu dizendo que o FSM deveria ser sediado na periferia do capitalismo, em uma cidade como Porto Alegre, então administrada por um partido de esquerda. Ausente deste encontro, o Partido dos Trabalhadores, na prática, através da sua capacidade de atuar como partido, governo, movimento sindical, social, católico e intelectual foi o ator fundamental na formação do projeto ético-político que deu origem ao FSM. É uma pena que no decorrer dos anos os partidos passaram a ser estigmatizados dentro do FSM e aqueles que queriam fazer o FSM em Paris continuaram com suas aspirações voltadas projetos financiáveis pelo norte, em detrimento das potencialidades de construções sociais com partidos e governos avançados no sul.

Por três anos seguidos, 2001, 2002 e 2003, o FSM foi realizado na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Seu crescimento foi meteórico e o número de participantes passou de 18 mil em 2001 para 100 mil em 2003. Ao final do triênio, participantes de 156 países haviam estado de algum modo envolvidos no encontro. Ao se projetar como um potente mecanismo de organização da agenda e dos valores dos lutadores de “Um outro mundo é possível”, o FSM já nasceu disputado no seu interior, tanto na forma como no conteúdo. A principal clivagem desta disputa pode ser identificada entre aqueles que defendiam o FSM como o resultado coletivo de um acúmulo de forças do campo contra-hegemônico e um espaço de formulação de iniciativas políticas; e os que defendiam uma concepção horizontalista do FSM em que as práticas políticas e a ampliação da rede de contatos dos atores configuravam, em si mesmas, a finalidade do encontro. Inicialmente esta disputa alimentou o FSM, para em seguida miná-lo.


[1] http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u65520.shtml

[2] WHITAKER, Francisco. O desafio do Fórum Social Mundial – um modo de ver. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.

[3] CASSEN, Bernard. Tudo começou em Porto Alegre... mil fóruns sociais! São Paulo: Editora Campo da Comunicação, 2005.

* Ana Prestes é socióloga, cientista política e membro da direção nacional do PCdoB. Autora da dissertação de Mestrado (2006) “A participação política em tempos de globalização: o Fórum Social Mundial inaugura o movimento social global” e da tese de doutorado (2011) “Três Estrelas do Sul Global – O Fórum Social Mundial em Mumbai, Nairóbi e Belém”.

70 anos depois Carlos Sampaio repete Barreto Pinto e quer fechar o PT

A direita brasileira sempre se opôs a todo protagonismo político do povo e dos trabalhadores, tendo sido desde 1930 o principal fator de instabilidade política no cenário nacional. E não se acanha mas repete, ao longo do tempo, estratégias obscurantistas, do passado mais remoto, para impor seus privilégios e interesses.

Por José Carlos Ruy*


Direita forçou a cassação do PCB e tenta fazer o mesmo com o PTDireita forçou a cassação do PCB e tenta fazer o mesmo com o PT
A “novidade” que apareceu agora é a iniciativa do deputado tucano Carlos Sampaio (PSDB-SP) de propor à Procuradoria-Geral Eleitoral que investigue o suposto recebimento de recursos estrangeiros pelo Partido dos Trabalhadores e, em consequência, o cancelamento de seu registro legal. Isto é, ele quer fechar o PT, partido que não segue a cartilha conservadora, mas cujos governos – dirigidos por Lula e, agora, por Dilma Rousseff – tem estado à frente do esforço de modernização efetiva do país (veja matéria sobre o assunto).

A pretensão do parlamentar tucano, que é vice-presidente jurídico do PSDB e seu líder partidário na Câmara dos Deputados, repete, às vésperas de completar 70 anos, a mesma conspiração antidemocrática e antipopular que, em 7 de maio de 1947, resultou na extinção do registro legal do Partido Comunista do Brasil e, em 10 de janeiro de 1948, na cassação dos mandatos de seus parlamentares.

O argumento é semelhante: o partido é financiado por uma potência estrangeira. A fonte do dinheiro seria, no passado, a Moscou que os conservadores odiavam e temiam; hoje, é Angola. Mas a alegação é a mesma, e esconde o igual conservadorismo antidemocrático. No passado, como hoje, alegavam falsamente a defesa da soberania nacional – logo eles, que têm sido ao longo destas décadas os aliados preferenciais e persistentes do imperialismo, opondo-se ao desenvolvimento nacional e à modernização efetivado país que, aliás, ontem como hoje, preferem subordinado às potências estrangeiras (aos EUA, principalmente). Como ocorreu no último período em que a direita mandou no país, o governo de Fernando Henrique Cardoso (do mesmo PSDB de Carlos Sampaio), em que o país foi mantido de joelhos ante as potências imperialistas.

Em 1946 havia uma Assembleia Constituinte reunida, para elaborar uma nova Carta Magna democrática. Mesmo assim, em maio daquele ano 1946, com base na repudiada Carta de 1937 (a “polaca”, parafascista), herdada da ditadura do Estado Novo, o governo do marechal Eurico Gaspar Dutra impôs o decreto-lei nº 9.258, que ditava normas para a organização partidária. Nele constava a proibição de financiamento de partidos por “potências estrangeiras”. Decreto feito sob medida para ser aplicado ao PCB que, alegava a direita, era suspeito de ser financiado pela URSS.

Aquele decreto, baseado na legislação fascista mantida em vigor em 1946, inspirou os esforços conservadores para elaborar o quesito constitucional restritivo à legalidade do Partido Comunista. O debate na Assembleia Constituinte foi intenso, com grande participação dos parlamentares conservadores. Como o latifundiário Dolor Andrade (UDN/SP), que apresentou emenda dando à Justiça Eleitoral o poder de fiscalizar a origem dos recursos financeiros dos partidos políticos. Outro, o banqueiro e oligarca baiano Clemente Mariani (UDN) propôs uma emenda cujo texto repetia o conteúdo do decreto-lei nº 9.258 e proibia "a organização, o registro ou o funcionamento de qualquer partido político ou associação cujo programa ou ação contrarie o regime democrático que se baseie na pluralidade de partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem". Sua emenda foi fundida com outra, de conteúdo semelhante, apresentada por outro conservador, o pessedista baiano Benedito Costa Neto, que ampliava a restrição especificando a proibição da organização, registro e funcionamento de partidos ou associações cujo objetivo fosse modificar o regime político e a ordem econômica e social estabelecida pela Constituição.

Quem apresentou ao TSE a proposta de cassação do registro legal do PCB foram o deputado Barreto Pinto (PTB-RJ) e o advogado Himalaia Virgulino. Argumentavam que o Partido Comunista do Brasil seria uma organização internacional orientada pela URSS.

Himalaia Virgulino era um anticomunista histórico e feroz. Ele fora procurador do Tribunal de Segurança Nacional (criado por Vargas em 1935-1936 para combater o comunismo).

Barreto Pinto foi um parlamentar de fama duvidosa, um adulador de Getúlio Vargas que os jornalistas que cobriam a Assembleia apelidaram de "palhaço queremista”. Foi um deputado medíocre, que se destacou por um anticomunismo rancoroso. Seu mandato foi cassado em maio de 1949 por quebra do decoro parlamentar por se deixar fotografar, ainda durante o processo constituinte, de cuecas pela revista O Cruzeiro, gerando um escândalo. Outro incidente insólito do qual foi protagonista ocorreu nos corredores do Palácio Tiradentes, onde a Assembleia se reunia. Ele foi esbofeteado pelos constituintes Ismar de Góis (senador - PSD/AL) e Silvestre Péricles (deputado - PSD/AL), devido às críticas que fez ao então Ministro da Guerra general Góis Monteiro, que era irmão de ambos.

A solicitação feita por Carlos Sampaio à PGE repete o caráter ditatorial e antidemocrático dos acontecimentos de então. Setenta anos depois, investe contra o maior partido da esquerda no Brasil.

Resta saber qual será a carapuça que vai vestir: a de Barreto Pinto, a de Himalaia Virgulino, ou uma mistura autoritária e antipopular de ambos?

*José Carlos Ruy é jornallsta via Vermelho

Gustavo Alves: Samba: a voz do morro sou eu mesmo sim senhor

Neste momento de carnaval, quando a cultura popular brasileira consegue superar as barreiras geográficas e sociais e sai das periferias e subúrbios para ocupar o lugar central na mídia, temos a oportunidade de resgatar um pouco do debate sobre sua história e sobre nossa música.


Bernadeth Rochar/ Reprodução Internet
O samba Releitura Carybé.
É incrustada no senso comum a ideia de que existe música boa e música ruim. Gostos musicais à parte, pois todos temos direito às nossas preferências musicais adaptadas ao momento emocional ou ao momento em que se escuta determinada canção, esta é uma polêmica que esconde muito da segregação social em que vivemos.

Digo isso, pois o mais popular dos gêneros musicais brasileiros, o samba, nasceu na periferia e enfrentou uma dura resistência das elites e seus prepostos de classe média até alcançar a aceitação mais ampla.

O samba, em suas diversas apresentações e intérpretes conseguiu superar a quase marginalidade do Estácio no Rio para animar os desfiles de carnaval em todo o país.

Em seus primórdios, o samba sofria o preconceito reservado aos negros e sua cultura pela burguesia como bem retratou Jorge Amado em Tenda dos Milagres:

"As gazetas protestavam contra o 'modo por que se tem africanizado, entre nós, a festa do carnaval, essa grande festa de civilização'. [...] A autoridade deveria proibir esses batuques e candomblés, que, em grande quantidade, alastram as ruas nesses dias, produzindo essa enorme barulhada, sem tom nem som, [...] entoando o abominável samba, pois que tudo isso é incompatível com o nosso estado de civilização [...]. A polícia finalmente agiu em defesa da civilização [...]: proibiu os afoxés, o batuque, o samba, a exibição de clubes de costumes africanos' " (Amado, 1989, p. 78-80, 232-33).

Sim, contra o samba utilizava-se a polícia.

Não tão virulenta, mas igualmente rancorosa foi a recepção da classe média carioca ao estilo nordestino de Luiz Gonzaga exposto no programa Calouros em Desfile de Ary Barroso. Até hoje, boa parte da zona sul carioca e suas cópias espalhadas pelas capitais brasileiras do centro-sul torçem o nariz para o forró, exceto nas festas juninas onde os aspirantes a elite sentem-se democráticos e as ouvem.

A força da cultura popular ainda se manifesta através do pagode, do sertanejo, do axé, tecnobrega, hip-hop e outros gêneros.

Há alguns anos, enfrentei uma discussão sobre a construção de uma lista dos gêneros musicais que divulgaríamos em uma rádio online. Foi surpreendente assistir a ferocidade dos ataques aos mais diversos gêneros musicais por militantes engajados na luta popular.

O debate gerou até um inesquecível "temos que tocar só músicas boas para educar nosso povo".

Não adiantava argumentar que todas as manifestações são legítimas ou que nossa percepção pessoal não poderia influenciar neste debate. A tentativa de domar, de dominar a cultura popular permanece até os dias de hoje, inclusive dentro das fileiras da luta popular.

Em Brasília, estamos assistindo este profundo e arraigado preconceito de classe assumir novas proporções com as restrições ao Carnaval. Antes que você, prezado leitor, olhe para os lados e se pergunte se Brasília tem carnaval, temos sim e é comemorado por milhares de pessoas nas ruas.

Acantonados na pseudodefesa dos interesses de idosos e crianças, os moradores das Asas Norte e Sul, áreas nobres da capital federal, têm se mobilizado contra os blocos que arrastam multidões às ruas e praças de Brasília.

Para eles, a multidão ocupando o espaço público é uma ameaça ao seu status e sua tranquilidade.
Além, é claro, do preconceito subterrâneo contra o samba e a diversidade liberta durante os dias de folia.

Muito além da manipulação e apropriação de nossa cultura pelo capital, o carnaval é uma explosão de alegria e força de nosso povo.

A luta de classes no Brasil manifesta-se de várias formas e em vários momentos. É a luta do trabalho contra o capital, a luta dos nordestinos contra o preconceito, a luta da periferia contra os bairros abastados, da cultura popular contra a adoração à cultura americana/européia, da liberdade contra a repressão social e religiosa.

Durante 4 dias a vitória inequívoca é do trabalho, do nordeste, da periferia, da cultura popular e da liberdade.

No Carnaval, a vitória é do povo.

*Gustavo Alves é jornalista, assessor parlamentar e dirigente do PCdoB/DF
 via Vermelho

Lula: Não permitirei que destruam o projeto de inclusão que começamos

Em entrevista coletiva a jornalistas blogueiros ontem, quarta-feira (20) no Instituto Lula, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou seu compromisso com o país e disse: “Não vou permitir que ninguém destrua o projeto de inclusão social que nós começamos a fazer em janeiro de 2003”.


Instituto Lula
  
Para o ex-presidente é isso de fato o que incomoda a elite conservadora. “Eles não vão destruir esse projeto, porque esse povo aprendeu a conquistar coisas. Esse povo aprendeu que pobre não nasceu pobre, ele ficou pobre por conta do sistema que existe nesse país”, enfatizou. E acrescentou: “Embora a gente governe pra todos, nós temos lado! E a gente tem que mostrar que tem lado! Temos que defender a inclusão social”.

Numa conversa franca e objetiva, Lula abordou diversos assuntos da conjuntura política e econômica. O ex-presidente repeliu as manobras da oposição tucana na tentativa de dar um golpe contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff por meio do impeachment. “Os democratas não podem se conformar com essa tentativa de golpe explícito. Democracia é coisa séria que a gente não pode brincar. Toda vez que tentam brincar com a democracia houve um golpe. Eles brincam com a democracia negando a política”, afirmou.

Ainda sobre o conflito de classe, Lula afirmou que a elite, mesmo ganhando o dinheiro que ganhou, “não aceita” a ascensão social da população. “Aqui no Brasil é visível o ódio por causa do aumento para empregadas domésticas. É visível a bronca porque pobre anda de avião”, afirmou. “Tento tratar isso democraticamente, mas permitir que a direita faça o discurso fascista que faz”, disse.

Sobre a política econômica, Lula afirmou que acredita que a presidenta Dilma vai ser mais ousada, pois um momento de crise permite que se faça tudo aquilo que não faria em um período de normalidade. “O Brasil vai voltar a crescer, vai melhorar, voltar a gerar emprego e a gerar esperança”, disse.

Para Lula, o governo precisa criar condições para a retomada do crescimento, com controle da inflação e aumento da geração de emprego. “O emprego deve ser uma obsessão para nós, e a inflação não pode avançar. Quem perde é o trabalhador, quem ganha são os especuladores. Precisamos continuar investindo em inovação para o país se transformar num país que tenha ascendência mundial”, afirmou.

Lula resgatou que durante a crise de 2008, o governo colocou R$ 100 bilhões do Tesouro para financiar o desenvolvimento. “Na primeira levada que colocamos, os bancos privados não criaram crédito a partir dos títulos do Tesouro. Então fomos com os bancos públicos, compramos o Banco Votorantim para financiar carro, o Bradesco tinha parado de financiar motocicleta e nós fizemos o financiamento para motocicleta nos bancos públicos”, destacou.

Para ele, o momento é de aquecer a economia ofertando crédito às 14 milhões de microempresas e pequenas empresas e toda a cadeia produtiva. “Isso tem de ser feito com mais rapidez. Tem de ter uma política de financiamento de infraestrutura com mais rapidez, e do consumo. Se não tem consumo, ninguém investe. Poderia se tentar ver como está o crédito consignado e fazer uma forte política de crédito consignado, acertado com o movimento sindical e os empresários”, opinou.

“Infraestrutura é central, não apenas ferrovias, mas muitas coisas que você precisa investir. Eu se fosse a Dilma, fazia como os russos: chamava a China e pactuava um grande projeto de investimentos e dava como garantia o petróleo. Eles precisam e nós temos”, lembrou.

Quanto pior melhor

Lula também repeliu a política do quanto pior melhor da oposição tucana. “Acredito que o povo brasileiro precisa repudiar de forma veemente todas aquelas pessoas que trabalham para atrapalhar o desempenho do Brasil, pois na verdade não estão prejudicando o governo, quem sofre é o povo mais necessitado deste país”, afirmou o ex-presidente.

Lula também falou sobre o comportamento da imprensa que tem atuado como partido da oposição. “Admito a politização porque eles têm lado, mas não admito mentira na informação”, disse ele, informando que, diferentemente de outros momentos, vai acionar a Justiça. “Infelizmente, não existe outro jeito, por isso, daqui pra frente vou processar para ver se consigo colocar ordem na casa”, destacou.

“A minha língua está felina outra vez. É a única coisa que tenho para defender a minha honra, o meu caráter e o legado que nós construímos nesse país”, completou.

Sobre a Lava Jato e a campanha de difamação promovida contra ele, Lula classificou de uma verdadeira “execração pública”, mesmo não sendo um dos investigados. “Não existe nenhuma ação penal contra mim. O próprio Moro [juiz responsável pela Lava Jato] já disse que não sou investigado”, lembrou.

O ex-presidente disse também que não há nenhuma possibilidade de uma ação penal ser aberta contra ele, a não ser que a direita conservadora “cometa uma violência democrática”.

"Eles querem chegar no Lula. Eu tenho endereço fixo, todo mundo sabe onde eu moro. Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do que eu, duvido”, disse Lula.

Mentiras

Ele também comentou as ilações de que ele cometeu “jogo de influência” a favor de empresas brasileiras no exterior. “As pessoas deveriam me agradecer porque o papel de qualquer presidente quando viaja é tentar vender serviços de seu país. Essa é a coisa mais normal. Tem uma tese de que o Lula faz jogo de influência. Como se o papel do presidente da República fosse ser uma vaca de presépio”, declarou.

Disse ainda que a imprensa “condena” antes de a Justiça tomar uma posição e que a corrupção na Petrobras é anterior ao seu governo. “Sabe o que é engraçado? Os funcionários envolvidos na corrupção na Petrobras têm 30 anos de carreira. Não houve uma denúncia do MP, da PF... Não houve um presidente que foi mais à Petrobras do que eu.”

Lula ressaltou que as investigações são necessárias e devem apurar os esquemas de corrupção no país. Lembrou que tais operações são possíveis porque desde 2003 foram criados os mecanismos para que nada fosse jogado “embaixo do tapete”.

“Esse processo existe na magnitude que existe porque o governo criou condições para apurações... Dilma vai ser reconhecida por isso”, completou.

Pauta da Dilma

Lula também falou que a presidenta Dilma é vítima diariamente dessa mídia oposicionista. Citou como exemplo a medida tomada por Dilma de manter a política de valorização do salário mínimo, do aumento dos aposentados e garantia do reajuste do piso nacional dos professores. “A imprensa disse que Dilma dá que não tem, quando ela fez o que deve ser feito. Não é o pobre que vai pagar pela crise. E a Dilma está certa. Temos que fazer a economia voltar a crescer. Temos que fazer a coisa mais combinada com o nosso povo, embora a gente governe para todos, nós temos lado e a passeata do dia 16 de dezembro disse a ela: vai à luta, que nós estamos do seu lado”, destacou.

Lula defendeu que a presidenta Dilma deve ter a consciência “de que é ela quem deve fazer a pauta” do governo e não deixar que a imprensa dite a pauta como faz com os vazamentos seletivos toda semana. Ele também disse que Dilma deve viajar pelo país e brincou: “Não tem essa de que vão bater panela. Quem quiser bater panela que bata. É bom porque vão comprar mais panelas”.

O ex-presidente afirmou que vai participar ativamente do processo eleitoral deste ano. “Eu vou fazer mais política. Este ano tem eleições. Eu vou participar ativamente do processo eleitoral. Tem gente dizendo que o PT acabou, vocês vão ver o PT. Estou convencido que o Haddad vai ser reeleito, para ficar no exemplo da maior cidade”, declarou.


Do Portal Vermelho, Dayane Santos