sexta-feira, 22 de julho de 2016

Centrais convocam para plenária nacional contra ataques à CLT


  
Na visão dos trabalhadores, o negociado sobre o legislado, como é definida essa tendência que o governo Temer quer implementar, vai acabar com a proteção ao trabalhador.

As centrais alertam que a nova situação expõe o trabalhador, que poderá sofrer pressão do patrão em momentos de crise para, por exemplo, diminuir salários em troca da manutenção do emprego.

 
Além desta medida, a aprovação da terceirização também foi anunciada nesta quarta-feira (20) como prioridade pelo ministro Ronaldo Nogueira. A intenção do governo Temer é elaborar um projeto inspirado nas iniciativas que tramitam no Congresso, rejeitadas pelos trabalhadores.
 
Segundo o Departamento Intersindical de Assuntos Parlamentares (Diap) são 55 projetos de lei na Casa que ameaçam os direitos dos trabalhadores. 

Crise na conta do trabalhador

"O propósito do governo interino é retirar direitos e flexibilizar contratos de trabalho e a mídia já desenvolve campanha pelo fim da CLT”, declarou Eduardo Navarro, dirigente da CTB, ao site da entidade.
 
Na opinião dele, os trabalhadores e trabalhadoras têm de responder à altura. “Não só porque o governo é ilegítimo, mas porque a classe trabalhadora entende que não somos nós que temos de pagar a conta da crise", declarou.

Nenhum direito a menos
 
O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, lembrou que a unidade entre as centrais fortalece o movimento dos trabalhadores. 
 
“Essa reunião é muito importante porque as iniciativas que fortalecem o movimento sindical possibilitam que os trabalhadores tenham menos direitos violados e mais possíveis conquistas”, acrescentou.

Valorização do salário mínimo
 
Carmen Foro, vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), confirmou que a luta dos trabalhadores ganha força com a unificação da pauta das centrais. Ela lembrou a importância da unidade das centrais na luta pela aprovação da política de valorização do salário mínimo.  
 
“As principais conquistas que tivemos no último período obviamente se deveu a um governo que tem um nível de diálogo e comprometimento com a nossa pauta mas, por exemplo, a política de valorização do salário mínimo no governo Lula é resultado de articulação forte entre as centrais que representou uma unidade em torno dessa política”, ressaltou.

Plenária representativa
 
Ela sustentou que a CUT está empenhada na mobilização para assegurar a presença das principais categorias organizadas no ato do dia 26. A dirigente considera que a unidade das centrais ampliará a denúncia do ataque aos direitos para o conjunto dos trabalhadores.
 
“A grande massa trabalhadora ainda não tem total informação e clareza do perigo que está rondando. A princípio, os trabalhadores organizados são os que estão com mais informações mas eu creio que o trabalho das centrais e sindicatos conseguirá impulsionar e chegar aos trabalhadores que ainda não estão organizados”, opinou. 


 


Por Railídia Carvalho Do Portal Vermelho 

Glenn Greenwald: A fraude jornalística da Folha é ainda pior


Google
  
Mais especificamente, aFolha – em uma manchete que chocou grande parte do país – alegava que 50% dos brasileiros desejavam que o presidente interino, e extremamente impopular, Michel Temer, concluísse o mandato de Dilma e continuasse como presidente até 2018, enquanto apenas 3% do eleitorado era favorável a novas eleições, e apenas 4% desejava que Dilma e Temer renunciassem. Isso estava em flagrante desacordo com pesquisas anteriores que mostravam expressivas maiorias em oposição a Temer e favoráveis a novas eleições. Conforme escrevemos, os dados da pesquisa – somente publicados dois dias depois pelo instituto de pesquisa da Folha – estavam longe de confirmar tais alegações.

Depois da publicação de nosso artigo, foram encontrados ainda mais indícios – através de um trabalho colaborativo incrível de verdadeiros detetives da era digital – que revelam a gravidade da abordagem da Folha, incluindo a descoberta de um legítimo “smoking gun” comprovando que a situação era muito pior do que achávamos quando publicamos nosso artigo na quarta. É importante não deixar o aspecto estatístico e metodológico encubra a importância desse episódio:

Semanas antes da conclusão do conflito político mais virulento dos úlitmos anos – a votação final do impeachment de Dilma no Senado Federal – a Folha, maior e mais importante jornal do país, não apenas distorceu, mas efetivamente escondeu, dados cruciais da pesquisa que negam em gênero, número e grau a matéria original. Esses dados demonstram que a grande maioria dos brasileiros desejam a renúncia de Michel Temer, e não que o “presidente interino” permaneça no cargo, como informado pelo jornal. Colocado de forma simples, esse é um dos casos de irresponsabilidade jornalística mais graves que se pode imaginar.

A desconstrução completa da matéria da Folha começou quando Brad Brooks, Correspondente Chefe da Reuters no Brasil, observou uma enorme discrepância: enquanto a Folha anunciava em sua capa que apenas 3% dos brasileiros queriam novas eleições e que 50% queria a permanência de Temer, o instituto de pesquisa do jornal, Datafolha, havia publicado um comunicado à imprensa com os dados da pesquisa anunciando que 60% dos brasileiros queriam novas eleições. Observe essa impressionante contradição:



Como isso é possível? Nós entramos em contato com o Datafolha imediatamente para esclarecer a dúvida, mas como grande parte dos veículos de comunicação já havia lido nosso artigo e o assunto havia se tornado uma controvérsia nacional, o instituto se recusou a se manifestar. Eles simplesmente não queriam nos explicar a natureza da discrepância.

Mas essa revelação levou a outro mistério: nos dados e perguntas complementares publicados pelo Datafolha, não havia nenhuma informação mostrando que 60% dos brasileiros eram favoráveis a novas eleições, como dizia um dos enunciados da pesquisa do instituto. Parecia evidente que o Datafolha havia publicado apenas algumas das perguntas feitas aos entrevistados. Apesar das perguntas estarem numeradas, o documento contava apenas com as perguntas 7-10, 12-13 e 21. Isso não é necessariamente incomum ou incorreto (jornais tendem a omitir perguntas sobre tópicos menos relevantes ao publicar uma reportagem), mas era estranho que nenhuma das perguntas publicadas pelo Datafolha confirmasse ou tivesse relação com a afirmação do enunciado da pesquisa. De onde, então, saiu essa informação – 60% – que contradiz a reportagem de primeira página da Folha?

A resposta veio através do excelente esforço investigativo de Fernando Brito do site Tijolaço. Primeiro, a equipe do site observou que o endereço URL do documento do Datafolha com os dados e perguntas complementares à pesquisa que foi publicado na segunda-feira – documento citado em nosso artigo original mostrando que a manchete da Folha era falsa – terminava em “v2”, ou seja, era a segunda versão do documento publicado pelo Datafolha. A equipe procurou a versão original, mas não foi possível encontrá-la no site do instituto. Eles começaram a tentar adivinhar o endereço URL da versão original, até que acertaram. Embora a versão original tivesse sido retirada do ar pelo Datafolha, ainda se encontrava nos servidores do instituto, e ao acertar o endereço URL correto o Tijolaço teve acesso ao documento.

O que foi encontrado na versão original do documento – aparentemente retirada do ar de forma discreta pelo Datafolha – é de tirar o fôlego. Ficou comprovado que a matéria da Folha era uma fraude jornalística completa. A pergunta 14, encontrada na versão original, dizia:

“Uma situação em que poderia haver novas eleições presidenciais no Brasil seria em caso de renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer a seus cargos. Você é a favor ou contra Michel Temer e Dilma Rousseff renunciarem para a convocação de novas eleições para a Presidência da República ainda neste ano?”
 
Os dados não publicados pelo Datafolha mostram que 62% dos brasileiros são favoráveis à renúncia de Dilma e Temer, e à realização de novas eleições, enquanto 30% são contrários a essa solução. Isso significa que, ao contrário da afirmação da Folha de que apenas 3% querem novas eleições e 50% dos brasileiros querem a permanência de Temer como presidente até 2018 – ao menos 62% dos brasileiros, uma ampla maioria, querem a renúncia imediata de Temer.


A situação é ainda pior para a Folha (e Temer): a porcentagem de eleitores que deseja a renúncia imediata de Temer é certamente muito maior do que esses 62%. A pergunta colocada pelo Datafolha era se os entrevistados eram favoráveis à renúncia de Temer /e Dilma/. Muitos dos que responderam “não” – conforme demonstrado pelos detalhes dos dados – são apoiadores do PT e/ou querem Lula como presidente em 2018, o que significa responderam que “não” porque querem que Dilma retorne, e não porque querem a permanência de Temer. Portanto – conforme concluído pelo Ibope em abril – apenas uma minoria dos eleitores querem Temer como presidente: exatamente o oposto da “informação” publicada pela Folha.

Essa não foi a única informação ausente que o Tijolaço descobriu quando encontrou a primeira versão dos dados publicados. Como explicam de maneira detalhada, havia dois parágrafos inteiros escritos pelo DataFolha resumindo os dados das respostas que também foram removidos da segunda versão publicada, inclusive a seguinte frase: “a maioria (62%) declarou ser a favor de uma nova votação para o cargo de presidente”

A equipe também descobriu uma pergunta não revelada – a pergunta 11 – que é provavelmente a mais favorável a Dilma e foi completamente omitida pela Folha. O DataFolha perguntou:

“Na sua opinião, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff está seguindo a regras democráticas e a Constituição ou está desrespeitando as regras democráticas e a Constituição?”

Apenas 49% disseram que o impeachment cumpre as regras democráticas e respeita a Constituição, enquanto 37% disseram que não. Como a Folha pode omitir este dado tão surpreendente e importante quando, supostamente, quer descrever a visão dos eleitores sobre o impeachment?

 
 


Nesta quarta-feira (20), a Folha publicou uma “notícia” sobre o que chamou de “controvérsia” provocada por nosso artigo. O jornal se esquiva e, em muitos casos ignora a maioria destas questões importantes.

O artigo confirma que, ao contrário de sua afirmação anterior de que apenas 3% dos brasileiros querem novas eleições, “a porcentagem de favoráveis a novas eleições, no entanto, sobe para 62% nas respostas estimuladas, ou seja, quando o instituto pergunta explicitamente”. E incluiu as duas perguntas que havia mantido em segredo: uma demonstrando que a maioria quer a saída de Temer, e outra mostrando uma expressiva minoria que vê o impeachment como uma violação da democracia (a Folha deixou de mencionar que estes novos dados, na verdade, haviam sido publicados anteriormente pelo Tijolaço).





No entanto, o jornal insistiu que não havia nada de errado em esconder esses dados. Publicaram uma citação do próprio editor executivo, Sérgio Dávila, argumentando que é “prerrogativa da Redação escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa”. Dávila insistiu que “o resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos pareceu especialmente noticioso, por praticamente repetir a tendência de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que essa possibilidade não é mais levada em conta.”

Não se pode subestimar a desonestidade dessa resposta e quanto o editor executivo da Folha conta com a ingenuidade de seus leitores. O maior absurdo da reportagem da Folha foi dizer que o país deseja a permanência de Temer como presidente até 2018 e apenas uma pequena porcentagem quer novas eleições. Mas, ao mesmo tempo em que publicava isso, a Folha tinha em mãos os dados que provam que essas afirmações eram 100% falsas, mostrando que, na realidade, o oposto era verdadeiro. A grande maioria dos brasileiros querem que Temer saia do poder, e não que o interino permaneça como presidente. E uma expressiva maioria, não uma parcela ínfima, quer novas eleições.

Nenhuma das desculpas de Dávila resiste sequer ao menor questionamento. Se é jornalisticamente irrelevante saber a porcentagem de brasileiros favoráveis a novas eleições, por que a Folha encomendou a pergunta? Se essa pergunta sobre novas eleições é irrelevante, por que esse dado foi não apenas incluído, mas proeminentemente destacado pelo Datafolha no título do relatório original? Por que, se esse dado é irrelevante, o Datafolha o publicou originalmente e depois o retirou do ar em nova versão que excluía essa informação? E como esse dado pode ser considerado jornalisticamente irrelevante pela Folha quando ele contradiz diretamente as afirmações alardeadas na capa do jornal e, em seguida, reproduzidas pelos maiores jornais do país?

Outros meios de comunicação também consideraram esses dados relevantes. Ontem à noite, a edição brasileira do El País publicou um artigo de destaque com a manchete: “62% apoiam novas eleições, diz dado que Datafolha publica agora”. O El País aborda o ocorrido tanto como um escândalo jornalístico, quanto político, descrevendo como a Folha escondeu esses dados até serem encontrados em consequência de nosso artigo. O jornal também publicou outra matéria citando especialistas que corroboraram as posições de nossos entrevistados, criticando veementemente a Folha pelo uso impróprio dos dados da pesquisa.


Fica extremamente óbvio o que realmente aconteceu: a Folha de São Paulo fez alegações falsas sobre as questões políticas relevantes do país e, além disso, sabiam que eram falsas quando as publicou. A Folha tinha em mãos os dados que comprovam a falsidade das alegações, mas optou por efetivamente escondê-las de seus leitores. Ou melhor, alguém decidiu por tentar retirá-los da Internet.

O mais surpreendente é que todo esse esforço foi feito para negar o desejo de democracia: fazendo o país acreditar que a maioria dos brasileiros apoiam a figura política que tomou o poder de forma antidemocrática e que não há necessidade de realizarem-se novas eleições, quando a verdade é que a maioria do país quer a renúncia do “presidente interino” e a realização de novas eleições para escolha de um presidente legítimo.

Conforme dissemos ontem, é impossível estabelecer se a Folha agiu de forma proposital com o intuito de enganar seus leitores ou com extrema incompetência e negligência jornalísticas – embora as evidências sugerindo aquela possibilidade sejam mais abundantes hoje que ontem. Motivos à parte, é indiscutível que a Folha essencialmente enganou seus leitores no que diz respeito a questões políticas cruciais e escondeu provas fundamentais apenas publicadas após serem pegos em flagrante.


Leia também:
A repercussão sobre a fraude da Folha no Portal Vermelho 

Fonte: The Intercept - Traduzido por Inacio Vieira - Vermelho

Golpismo: Nomeação de Temer para Telebras é ataque à internet no país


  
Nesse contexto, não entram só medidas do Executivo, mas projetos de lei criados a partir da CPI dos crimes cibernéticos, cujo relatório final foi aprovado em maio e do qual saíram sete projetos que ameaçam o Marco Civil da Internet. “A internet está sob ataque. Por causa dos conservadores e por causa do atual governo golpista”, afirma Amadeu.
 
A Telebras, recuperada a partir de medidas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, para competir com as operadoras de telecomunicações para forçar um preço mais baixo e também levar banda larga onde o capitalismo oligopolista não levava, não interessa a um governo privatista que trabalha por um Estado mínimo. Ao anunciar a recuperação da Telebras, em 2010, Lula afirmou: “Nós vamos recuperar a Telebras. Vamos utilizá-la para fazer banda larga nesse país”.
 
“A mudança na Telebras provavelmente vem no sentido de atender os interesses das grandes corporações de telecom, que viam na Telebras uma ameaça aos seus planos de cobrança de preços abusivos”, prevê o sociólogo.
 
Outra entidade ameaçada nesse contexto, diz Amadeu, é o Comitê Gestor da Internet, que exerce papel fundamental no setor. Sua atual composição foi estabelecida por Lula, em 2003. Ele é integrado por nove representantes do governo, quatro do setor empresarial, quatro do terceiro setor, três da comunidade científica e tecnológica e um representante de notório saber em assuntos de internet, conforme o Decreto 4.829.
 
Confira a entrevista de Sérgio Amadeu à Rede Brasil Atual:
 
Em que medida a mudança na Telebras pode interferir no Marco Civil da Internet e na oferta de banda larga no país?
 
Faz parte de um contexto. Tem um conservadorismo no Congresso, por exemplo, que gerou uma CPI dos crimes cibernéticos, que gerou seis projetos de lei completamente contrários ao Marco Civil. Estão destruindo o Marco Civil. Por exemplo, o Marco Civil diz que nenhuma autoridade policial ou administrativa pode pegar dados sem ordem judicial. Isso para preservar um mínimo de respeito à cidadania, já que a polícia nem sempre é possível de se controlar e isso geraria uma absurda violação da privacidade, dos direitos dos cidadãos comuns, se para acessar a caixa postal de alguém ou se para obter dados que identifiquem pessoas ou o que elas fizeram na rede, não tivesse a intervenção de um juiz antes, mesmo sabendo que o Judiciário tem mil problemas. Tudo isso está sendo atacado. 
 
Tudo isso via projetos de lei?
 
Que vão ser votados. A internet está sob ataque. Por causa dos conservadores e por causa do atual governo golpista. O atual governo quer subordinar a governança da internet, feita hoje a partir de um comitê gestor multissegmento, que tem uma concepção muito alinhada com a Constituição Federal de 1988. A ideia é ter um comitê gestor que tenha condições de governar a internet para além do poder Executivo. O Comitê Gestor foi fundamental para aprovar o Marco Civil da Internet.
 
A governança da internet no Brasil é elogiada no mundo inteiro, e está sob ataque do governo golpista. Antes do governo Lula, quem indicava os representantes da sociedade era o governo, o que pode gerar um vício muito grande, de só indicar os caras de sua força política. Com o governo Lula, isso mudou. Desde 2004, as entidades do terceiro setor se inscrevem, e depois elas elegem os representantes, no mundo científico e entre os empresários a mesma coisa. Ele democratizou o Comitê Gestor.
 
O Marco Civil do Brasil também é considerado de vanguarda...
 
Sim. O atual governo golpista, que atende ao lobby das grandes corporações, quer subordinar a internet à Anatel, quer dizer que internet não tem sentido sem ser fiscalizada e suas regras definidas pela Anatel, ou pelas empresas de telecomunicação.
 
Eles querem que seja enquadrada de maneira legal como é hoje o sistema de operações de TV a cabo, por exemplo...
 
Isso, exatamente. Eles querem transformar a internet numa grande TV a cabo. Mas isso é uma pressão mundial que antes não tinha cobertura no governo. Temer e os demais golpistas são suscetíveis às pressões de qualquer grande corporação. Ainda mais dos setores de telecom. É um governo plutocrático. Quem tiver mais dinheiro vai levar. É claro que o governo Dilma cometeu vários equívocos. Mas existia um mínimo de debate. Para formar a posição do governo, a sociedade tinha um peso, não só as corporações. Agora não. A sociedade não vai ter peso nenhum. A ideia deles é reduzir o peso da sociedade no próprio comitê gestor da internet e coloca-lo à disposição das corporações.
 
Tudo isso no contexto da mudança na Telebras?
 
Sim. Primeiro, estão tirando todo mundo da gestão anterior. Acham que vão consolidar o impeachment e já estão agindo como se o impeachment tivesse passado, e colocando pessoas do interesse deles. No caso do setor de telecom, eles nunca quiseram que tivesse a recuperação da Telebras. As corporações de telecomunicações querem pegar o dinheiro público e não querem fazer mais nada. Por que a Telebras foi recuperada? Para atuar nas áreas de necessidade de comunicação no Brasil.
 
As operadoras de telecom não levavam banda larga nem na periferia. Não era vantajoso, era muito caro. Eles não querem mudar o modelo de negócio. Foi aí que o Lula criou o Plano Nacional de Banda Larga (em 2010), para levar banda larga onde as operadoras não queriam levar de jeito nenhum. Na região Norte do país, nas periferias, nas áreas de pobreza.
 
Qual é o papel da Telebras na gestão da banda larga?
 
A Telebras foi recuperada e a ideia era competir com as operadoras de telecom para forçar um preço mais baixo e também levar banda larga aonde eles não levavam, mas não para ser um monopólio de telecom. A Telebras foi um monopólio no passado, mas quando foi recuperada não foi com a ideia de ser uma empresa monopolista. Veio com uma ideia, correta – já que as telecomunicações foram privatizadas –, de termos uma empresa estatal para competir com as de telecom, porque só a regulação da Anatel não dá certo. E não é só no Brasil. As agências de regulação têm problemas no mundo inteiro. Elas são reféns do regulado, do fiscalizado.
 
Em que exatamente a mudança no comando da empresa pode interferir nesse processo?
 
Faz parte do desmonte das políticas públicas de inclusão digital e de telecomunicação. Faz parte da privatização extrema que os golpistas vêm para fazer. É nesse sentido. É como no Comitê Gestor. Querem atender o interesse das teles destruindo ou subordinando o CG à Anatel. Está dentro de um contexto que é dar poder total às corporações, privatizar o máximo, retirar o poder do Estado de fazer política pública . Essa é a jogada deles. É para desarticular completamente o Plano Nacional de Banda Larga, onde a Telebras era importante, porque ela estava levando linhas de alta velocidade ligando lugares desconectados, e estava abrindo espaço para pequenos provedores de conexão comprar um link mais barato de internet, para poder vender nas localidades, forçando a concorrência com as grandes operadoras de telecom.
 
A mudança na Telebras provavelmente vem no sentido de atender os interesses das grandes corporações de telecom, que viam na Telebras uma ameaça aos seus planos de cobrança de preços abusivos, de aposta em infraestrutura lenta. Eles vão fazendo lentamente a mudança de infraestrutura. Não fazem de acordo com a necessidade do país, mas de acordo com os planos internacionais desses grandes oligopólios que controlam essas empresas de telecom. E outra: se dependesse da Anatel, estaríamos pagando por consumo de internet em casa como fazem com celular, por franquia. E se os golpistas consolidarem o impeachment, vão tentar fazer isso de qualquer jeito.
 

Fonte: Rede Brasil Atual via Vermelho

CTB convoca dia nacional de luta em defesa da CLT e da Previdência


CTB
  
O ato acontecerá no próximo dia 08 de Agosto (segunda-feira), às 10h da manhã, em frente às Superintendências Regionais do Trabalho ( antigas DRTs) e ocorrerá simultaneamente em todo o país, com transmissão ao vivo.
 
Na nota, Araújo alerta para o falso discurso da gestão temerária que tomou se assalto o Palácio do Planalto. "Com o discurso da "modernização", no qual o objetivo das empresas capitalistas é baixar o custo da mão de obra e aumentar a cesta de lucros das empresas, a gestão Temer quer aprovar o negociado sobre o Legislado, a terceirização irrefreável e acabar com a Previdência Social, o maior programa de distribuição de renda do país".
 
Leia íntegra da nota:
 
Lutar em defesa da CLT e da Previdência Social
 
O Governo ilegítimo de Michel Temer encomendou a Rede Globo uma série de reportagens defendendo a modernização das relações de trabalho, esse mesmo assunto tem sido alvo de editoriais destilados de propostas de regressão, flexibilização e precarização do trabalho.
 
Com o discurso da "modernização", no qual o objetivo das empresas capitalistas é baixar o custo da mão de obra e aumentar a cesta de lucros das empresas, a gestão Temer quer aprovar o negociado sobre o Legislado, a terceirização irrefreável e acabar com a Previdência Social, o maior programa de distribuição de renda do país.
 
Tamanho acinte é o arroto do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, quando propõe acabar com os direitos garantidos pela Constituição Federal. Na mesma linha, seu assecla Robson Braga, presidente da CNI, defende uma jornada de 80 horas semanais para a classe trabalhadora. No mínimo, tais propostas são muito preocupantes.
 
O que eles chamam de modernização enseja um tipo de escravidão contemporânea. Por trás desse discurso, querem implantar a era do "açoite" digital e quem vai sofrer na pele é a classe trabalhadora.
 
Temerário, o conluio golpista quer desconstruir o Estado Nacional, acabar com a CLT desregulamentando o trabalho e sepultar o sonho de dias melhores de milhões de brasileiros e brasileiras.
 
A jornada de lutas é longa e necessária. Ocupar as ruas e resistir a todo custo é o melhor caminho.
 
Adilson Araújo
Presidente
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
 
 
**CONVOCATÓRIA**
 
Convocamos toda a classe trabalhadora para um Dia Nacional de Luta em defesa da CLT e da Previdência Social, no próximo dia 08 de Agosto (segunda-feira), às 10h da manhã, em frente às Superintendências Regionais do Trabalho ( antigas DRTs). O ato ocorrerá simultaneamente em todo o país e terá transmissão ao vivo.
 
Precisamos denunciar os ataques aos direitos da classe trabalhadora!
 
Nenhum direito a menos!
 
À luta!
 
Portal CTB - Joanne Mota



Fonte: Portal CTB via Vermelho

Eduardo Guimarães: Datafolha e o medo da votação no Senado


  
Que diriam Grennwald e Dau da investigação na Polícia Federal que este Blog abriu anos atrás contra o Datafolha (entre outros) justamente por falsificação de pesquisas?

Seja como for, os jornalistas do The Intercept arrancaram uma bela informação de funcionária do Datafolha que, previsivelmente, em breve deverá estar engrossando a fila do desemprego.

Segundo eles, a gerente do Datafolha Luciana Schong “reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que [só] 3% dos brasileiros querem novas eleições, ‘já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados’.

Luciana Schong também teria contado aos jornalistas que qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas.

Onde quero chegar? Ora, não é surpresa para ninguém que os institutos de pesquisa ligados aos grandes grupos de mídia ou a partidos políticos ou entidades com interesses políticos claros “ajeitem” suas sondagens.

Bem, mas, então, qual é a novidade na manipulação que o Datafolha alega ter feito sob ordens do Grupo Folha?

Não é pouco um instituto de pesquisa manipular desse jeito uma sondagem. Afirmar que só 3% não querem novas eleições ou que o país mudou diametralmente de opinião sobre Temer sem que nada tenha melhorado – até por falta de tempo – não é pouco para uma empresa como o Datafolha, que vive da própria credibilidade.

O fato é que, ao contrário do que diz o Datafolha, é literalmente impossível que a popularidade de Temer e de seu governo não venham a despencar caso o golpe se torne definitivo. Temer já avisou que pretende tomar medidas “impopulares” que, obviamente, vão tratar de reduzir ainda mais a já baixíssima aprovação do governo interino e de seu titular – que, no momento, é de 14%, praticamente idêntica à de Dilma.

A ousadia do Datafolha ou do Grupo Folha – ou de ambos – provavelmente deveu à percepção de que a aprovação do impeachment pelo Senado corre risco, do contrário o instituto de pesquisa não cometeria uma fraude tão grosseira quanto divulgar a informação falsa de que só 3% querem novas eleições, entre outras falsidades que transparecem da pesquisa.

Muitos petistas, inclusive, dirão que nem é tão bom que Dilma corra “risco” de voltar, pois quem passar os próximos dois anos fazendo o ajuste fiscal e tomando medidas impopulares por certo reabilitará a esquerda e a fará chegar forte a 2018.

Contudo, se Dilma voltar poderá impedir a privataria do pré-sal e a supressão de direitos trabalhistas, medidas temerárias que são o coração do golpe, a grande razão de esse ataque à democracia brasileira ter sido perpetrado.

Para o país será melhor que Dilma volte. Impedirá que todos paguemos pelo desatino da maioria – mas não de todos – que viabilizou o golpe execrando a presidente nas pesquisas, o que permitiu que os golpistas assumissem. Contudo, para a esquerda em geral a volta de Dilma não será boa. A direita continuará sendo pedra e a esquerda, vidraça.
 

 Fonte: Blog da Cidadania via Vermelho

Dirigente dos bancários da BA denuncia reforma trabalhista de Temer


Bocão News
  
“As grandes corporações, que apoiaram o golpe no Brasil, estão cobrando a fatura. Querem retirar direitos dos trabalhadores e rebaixar salários, aumentando a concentração de renda no país”, afirma.
 
Segundo as declarações do ministro, a proposta de reforma trabalhista a ser elaborada pelo governo vai valorizar a negociação coletiva e tratar de assuntos como salário e jornada, mas não vai permitir, por exemplo, o parcelamento de férias ou do décimo terceiro salário. 
 
Vasconcelos também criticou as propostas para a reforma trabalhista e para regulamentar o processo de terceirização no país que o governo deve lançar. “Os terceirizados ganham 25% a menos, trabalham quatro horas a mais e ficam 2,7 anos a menos no emprego, na comparação com os contratados diretos”, denunciou.
 
Centrais unificadas
 
Representantes das principais centrais, como Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Central Única dos Trabalhadores (CUT) também reagiram à declaração do ministro. Dirigentes afirmaram que os trabalhadores combaterão reforma trabalhista eu retire direitos.
 
Para fortalecer a posição unificada das centrais em defesa dos direitos trabalhistas será realizada no dia 26 de julho em São Paulo plenária nacional para divulgar o calendário unificado das centrais em defesa da CLT e demais conquistas históricas dos trabalhadores.
 

Do Portal Vermelho, com informações do Bocão News

DEM e PSDB na educação é retorno à era FHC: focalizar e privatizar


  
Sérgio Haddad participou na última segunda-feira (20) do seminário "Austeridade contra a Cidadania", em São Paulo. Na atividade, ele avaliou que a nova gestão do ministério – encabeçada pela dupla Mendonça Filho (DEM) e Maria Helena Guimarães (PSDB) – deve caminhar no sentido oposto dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

“A ideia sistêmica e universal da oferta pública e gratuita da educação se rompe, com a privatização de um lado e a focalização do outro (...) Essa lógica predominou nos governos FHC e deve se repor nesses tempos de restrição orçamentária”, disse.

O educador destacou que cada nível de educação está diretamente integrado ao outro e, portanto, priorizar um em detrimento dos demais seria uma estratégia equivocada.

“Você não pode priorizar só o ensino fundamental, porque você precisa de professores para trabalhar no ensino fundamental, então você depende da universidade para fazer isso. Todos sabemos também que a educação infantil é imprescindível para no bom desempenho no ensino fundamental, assim como a educação de adultos, a educação dos pais, tem papel importantíssimo para o desenvolvimento dos alunos que estão nos cursos secundários”, exemplificou.

Haddad citou que, hoje, 80% da população é atendida pelo ensino público, tanto nos na educação fundamental como no ensino médio. Já no nível superior, essa relação se inverte.



Privatização
De acordo com ele, a sinalização de que deverá se aprofundar a privatização do ensino superior pode ser percebida tanto pela “crescente presença do setor privado nas estruturas que definem as políticas de educação”, quanto pelos debates travados na mídia.

Ele deu como exemplo artigo de Alexandre Schneider, ex-secretário municipal de Educação de São Paulo, na Folha de S. Paulo. No texto, ele defendeu que “chegou o momento de discutir com a sociedade brasileira a cobrança de mensalidade nas universidades públicas”.

No artigo, Schneider prega que é preciso focar os esforços do Estado na educação básica, argumentando que “o país gasta hoje cerca de R$ 22 mil por aluno/ano no ensino superior público, enquanto o básico recebe R$ 5.500 aluno/ano”.

Sérgio Haddad rebateu a alegação, e disse que, além de o dado ser falso, não se pode comparar o ensino básico com o superior. Ele ressaltou ainda que o país investe, por aluno, menos que a média dos demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em 2012, foram gastos US$ 3.441 por estudante da rede pública brasileira, do ensino básico ao superior, montante que corresponde a 37% da média dos 34 países que compõem a OCDE, que é de US$ 9.317. “O investimento em educação é central, sob o ponto de vista de se pensar o direito à educação na perspectiva universal”, afirmou Sérgio Haddad.

“Evidentemente, a focalização vai levar à privatização”, apontou, destacando os efeitos que a PEC 241 – que limita o crescimento dos gastos públicos à variação da inflação do ano anterior –, terá na educação. “É nítido que isso vai afetar os recursos para a manutenção e o desenvolvimento da educação”, disse.

Ele previu que, se aprovada a PEC, será impossível manter a vinculação constitucional de um percentual mínimo de recursos para a educação. Hoje, a Constituição determina que o governo federal destine à educação 18% da receita líquida dos impostos, já descontado o percentual transferido a estados e municípios. “É impossível manter a vinculação com a PEC aprovada”, avaliou, prevendo queda nas verbas destinadas à área.

Diversidade fora do currículo

Para além da lógica da focalização e da privatização, o economista e educador criticou também outro tipo de mudança, um retrocesso no que diz respeito à educação que ultrapassa a sala de aula.

“A ideia da diversidade aparentemente vai sumir do mapa. Isso se reflete na fotografia inicial do ministério do governo Temer. Aquela foto [sem mulheres, negros, índios e jovens] faz parte do DNA do governo. Colocar a questão racial, de gênero, dos direitos humanos sob o Ministério da Justiça é realmente baixar o sarrafo no tema da diversidade”, disse, referindo-se à reforma administrativa promovida pelo governo interino.

De acordo com Sérgio Haddad, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação foi a primeira a ter praticamente todos os seus membros afastados.

“A ideia de uma educação contínua, ao longo da vida, será reduzida à ideia de uma educação exclusivamente escolar. Pensar a educação sob o ponto de vista daquilo que vai além da escola, aquilo que diz respeito à formação da cidadania, no sentido de atender à ideia de diversidade, uma educação relativa às relações de gênero, raciais, pensada sob o ponto de vista dos direitos humanos, isso vai desaparecer”, previu.

Para ele, caso se concretize essa investida contra a educação voltada para os direitos humanos, será uma “clara violação de direitos”, uma vez que essa orientação é algo que está gravado não apenas na Constituição, como na Lei de Diretrizes e Bases, na Lei Maria da Penha e nas diretrizes curriculares, por exemplo. “O rompimento desse direito, que está colocado sob o ponto de vista da legislação vinculada à Educação, claramente está se mostrando nesse momento atual”, disse.

Escola Sem Partido
O educador teceu também críticas a projetos como o Escola Sem Partido, que ganha espaço durante o governo provisório. Na sua avaliação, a iniciativa ameaça a liberdade de expressão e a própria ideia de ciência. A proposta do programa é monitorar o que os professores dizem em sala de aula, alegando que há uma doutrinação política e ideológica ocorrendo nas escolas do país.

A página do Senado na web, a E-Cidadania, abriu consulta pública a respeito do Projeto de Lei 193, que de autoria do senador Magno Malta (PR-ES), da bancada evangélica, que pretende incluir entre as diretrizes e bases da educação nacional as propostas do Escola Sem Partido. Até o fechamento desta reportagem, o resultado da enquete estava em 155.492 votos a favor e 169.161contra o PLS.

Sérgio Haddad destaca que projetos semelhantes estão em discussão ou foram aprovados em casas legislativas de municípios e estados brasileiros, algo que ele considera extremamente preocupante.

“Estamos diante não só de uma reforma do ensino, mas de uma ameaça terrível à liberdade de expressão e, mais que isso, à própria ideia de ciência, de construir conhecimento, à participação dos alunos na sala de aula, a toda uma ideia de questionamento sobre os conteúdos que são ensinados, de participação de alunos e professores no processo e ensino e aprendizagem. Isso é um retrocesso absoluto”, condenou.

De acordo com ele, o projeto parte da ideia de “desideologizar” o sistema de ensino, “como se isso fosse possível”, eliminando, na verdade, o pensamento crítico e tratando o professor “como um mero veiculador de certos conteúdos”, algo que “faria com que [o educador] Paulo Freire se revirasse no caixão”, opinou.

Esvaziando o papel do professor
Segundo o economista, o processo de privatização que deverá ser acelerado no governo provisório não se dá só pela presença da iniciativa privada nas instituições de ensino, mas também no que diz respeito aos materiais utilizados em sala de aula.

“Há um movimento extremamente importante, que se dá no plano municipal, através dos sistemas apostilados, que são vendidos pelas editoras junto às secretarias municipais de Educação. Elas entregam esse material, junto com toda uma assessoria, com aulas para professores, de maneira a esvaziar o programa nacional do livro didático, que é um programa importantíssimo – de seleção e compra de material didático pelo governo federal, distribuído gratuitamente para todas as escolas públicas”, explicou.

Segundo ele, essas apostilas “penetram nas escolas com a mesma lógica de esvaziamento do papel do professor, que passa a ser meramente um aplicador desse material. Note-se a similaridade desta lógica economicista – em que você tem um conteúdo, uma verdade a passar para os seus alunos – com a ideia da Escola Sem Partido, entendo o aluno como um mero receptor de conteúdos, que deve devolver resultados nas provas feitas poe esses próprios sistemas”, criticou.

“Eu diria que estamos diante de um processo que é de focalização sobre determinados níveis de ensino, privatização dos demais, aceleração de uma lógica de condenação e vigilância sobre o papel do professor sob o ponto de vista ideológico, com controle da ação dele na sala de aula. E que faz parte dessa aliança entre setores fundamentalistas que estão no poder, junto com setores privatistas, na conformação de algo que preocupa muito os educadores que se importam com o sistema público de educação”, resumiu.

Promovido pela Plataforma Política Social e o Le Monde Diplomatique Brasil, o seminário Austeridade contra a Cidadania integra o projeto Governo Sem Voto e analisou a atual conjuntura e o impacto das reformas propostas por Temer e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na desestruturação das políticas públicas. Participaram do debate, além de Sérgio Haddad, o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão e os economistas Sérgio Gobetti e Eduardo Fagnani, responsável pela mediação.



quinta-feira, 21 de julho de 2016

O desmonte social no plano Temer-Meirelles

Charge
Plano TemerPlano Temer

A proposta impõe um limite para o aumento do gasto público federal definido pela inflação do ano anterior, por um período de 20 anos. Ou seja, propõe congelar o gasto público em termos reais, retirando a decisão de gasto da esfera da política ao estabelecer um indexador econômico fixo, que não possui qualquer relação com capacidade de arrecadação (receita) ou com as demandas por bens e serviços públicos (despesa), que são as variáveis centrais da função alocativa de qualquer governo.

Ao congelar o gasto federal, a PEC 241 desestrutura o financiamento da política social brasileira ao eliminar a vinculação de receitas destinadas à educação e ao orçamento da seguridade social, que compreende as políticas de saúde, previdência e assistência social. Tais vinculações expressam conquistas sociais que foram garantidas na Constituição de 1988, visando estabelecer prioridade e preservar o gasto público nestas áreas sociais, independentemente do governo que estivesse no poder.

Caso a PEC 241 seja aprovada, os recursos cativos para a educação, saúde, previdência e assistência social serão desvinculados e limitados à evolução dos gastos à correção da inflação. Diante disso, quais são os efeitos esperados da PEC 241 sobre a trajetória do Gasto Social Federal - GSF?

Se realizarmos uma simulação para o período de 2003 a 2015, em vez da trajetória ascendente do GSF aplicado nos governos Lula e Dilma, o Plano Temer/ Meirelles significa um congelamento de todo gasto federal em termos reais. Em valores reais de dezembro de 2015, a PEC 241 teria retirado R$ 3,2 trilhões de recursos federais aplicados na política social. Caso ela estivesse em vigor desde 2003, o GSF seria 37% menor que os recursos destinados à política social nos governos Lula e Dilma.

Por área de atuação, as perdas de recursos seriam da ordem de: R$ 437,7 bilhões na assistência social (o que representa uma redução de 68,5%); R$ 453,9 bilhões em educação e cultura (39% a menos); R$ 253,4 bilhões na saúde (26,5% a menos); R$ 1,7 trilhão na previdência (perda de 32,6% dos recursos destinados ao pagamento dos benefícios previdenciários).

Como o efeito da medida é acumulativo, os recursos disponíveis para o GSF seria menos da metade dos recursos efetivamente aplicados no ano de 2015, mais precisamente 55% a menos. Por área, a redução do gasto social seria de: menos 79% na assistência social; menos 62% na educação e cultura; menos 45% na saúde e menos 49% na previdência, mostra o artigo “O plano Temer/ Meirelles contra o povo: o desmonte social proposto pela PEC 241”.

É importante ressaltar que o Plano Temer/ Meirelles tem como ponto de partida os gastos públicos em um período de recessão, que afetou o orçamento e, portanto, os gastos federais. Ou seja, a PEC 241 pretende projetar no futuro a restrição orçamentária atual para os próximos 20 anos, mesmo quando o país retomar o crescimento e as receitas governamentais voltarem a crescer acima da inflação.

Embora a “falácia da confiança dos mercados” afirme que um ajuste fiscal dessa magnitude e de longo prazo seja um pré-requisito para a retomada do crescimento econômico, sabemos que uma política fiscal restritiva atua no sentido contrário e que, na realidade, os investimentos atraídos por essa estratégia são de caráter eminentemente financeiro.

No lugar de estabelecer uma trava ao gasto público, deveria se identificar que tipo de gasto público poderia ter maior efeito multiplicador, uma vez que o aumento das desonerações e subsídios concedidos ao setor privado não foram capazes de estimular o investimento produtivo. Além de combater a desigualdade e a pobreza no Brasil, o gasto social também cumpriria esse papel de estímulo para a retomada do crescimento.

Em direção contrária, a PEC 241 impõe outra trajetória para os gastos públicos federais como um todo para os próximos 20 anos e, inexoravelmente, reduzirá as possibilidades de atuação do Estado na área social. Trata-se de um duro golpe para a espinha dorsal da proteção social no Brasil, estabelecida na Constituição de 1988 e ainda em consolidação.



* Daniel Arias Vazquez é doutor em desenvolvimento econômico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Fonte: Vermelho

Temer quer deixar trabalhador mano a mano com patrões


Medidas de Temer podem transformar carteira de trabalho em peça de museuMedidas de Temer podem transformar carteira de trabalho em peça de museu
Então, com essa mudança, podemos imaginar algumas situações. Se a lei determina que as férias são de 30 dias, mas o dono de uma grande empresa disser aos funcionários que aceitem férias de 15 dias ou, do contrário, serão demitidos, é bem provável que as férias passarão a ter apenas 15 dias.
 
Uma hora de almoço pode ser transformada em apenas meia hora. O 13º salário pode deixar de ser pago em determinado ano sob alegação de dificuldades financeiras. E por aí vai. Com o tempo, os direitos trabalhistas vão acabar. A carteira de trabalho vai ser peça de museu.
 
Esse projeto do governo ilegítimo do Temer é comumente chamado pelos dirigentes sindicais de “negociado sobre o legislado”.
 
“Esse projeto é gravíssimo. Em momentos de crise, como este que vivemos e que ainda deve durar bastante tempo, os trabalhadores têm menor poder de barganha, e as empresas vão fazer chantagem, coação econômica”, explica Hugo Cavalcanti Melo Filho, presidente da Associação Latino-americana  de Juízes do Trabalho.
 
Respeito à Constituição
 
O ministro do Temer afirma que os princípios constitucionais não serão desrespeitados. Pura retórica, explica o juiz Hugo. “É fácil dizer isso, porque a Constituição só aponta princípios, ela não regulamenta os direitos e a proteção ao cidadão. Isso quem faz são as leis específicas”, afirma. “Se você torna a negociação entre as partes um instrumento mais forte que as leis, a Constituição não tem valor prático”, diz.
 
Um exemplo claro dos limites da Constituição pode ser encontrado no inciso 30 do artigo 7º da Constituição. Esse inciso diz que não pode haver diferença salarial em virtude de sexo. No entanto, na prática, as mulheres continuam ganhando menos, pois não houve lei que regulamentasse esse princípio apontado pela Constituição.

Negociação pode?
 
Pode, claro. Este é inclusive um dos princípios do sindicalismo. Porém, segundo o Direito do Trabalho, as negociações entre as partes só podem ser realizadas com o objetivo de ampliar ou aperfeiçoar direitos, jamais o contrário. É o chamado princípio de progressividade.
 
Além disso, nem todos os trabalhadores têm sindicatos realmente fortes para sentar à mesa de negociações em condição de igualdade. E há, infelizmente, sindicatos que aceitariam acordos ruins para fins paralelos.
 
E, como lembrou o juiz Hugo, em situação de queda da economia, os trabalhadores ficam mais fragilizados, o que dificulta a resistência a propostas negativas.
 
Tem de matar no ninho
 
Para a advogada Silvia Lopes Burmeitef, presidenta da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas, a maneira mais segura de garantir os direitos trabalhistas é implodir no Congresso Nacional os três projetos de lei que têm a finalidade de fazer o negociado prevalecer sobre o legislado.
 
“Existe a possibilidade, caso o projeto seja aprovado pelos deputados e senadores, de entrar na Justiça para questionar sua constitucionalidade. E creio que as centrais sindicais o farão, caso necessário”, diz Silvia.
 
“Porém”, diz ela, “o retrato que temos hoje do Supremo Tribunal Federal nos mostra que dificilmente aquela corte decidiria a favor dos trabalhadores. Não confio no Congresso nem no STF”, alerta. “O mais seguro é impedir sua aprovação”, reafirma.
 
Como? “Temos de fazer mobilizações, atos e um intenso trabalho político”, responde Valeir Ertle, secretário nacional de Assuntos Jurídicos da Central. “Os trabalhadores e trabalhadoras precisam ser informados dos riscos que esse projeto representa e temos de barrá-lo”. Mais uma razão, portanto, para #ConstruiraGreveGeral.
 
 

Por Isaias Dalle para Portal CUT
Fonte: Vermelho

Projeto Escola sem Partido repete dogmas do nazismo


  
Tanto que o Senado Federal abriu uma consulta pública sobre o Projeto de Lei do Senado 163/2016, de autoria do senador Magno Malta (PR-ES), da bancada evangélica, que pretende incluir a matéria na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Até o fechamento desta reportagem, o resultado estava em 122.988 votos a favor e 147.522 contra o PLS.

Essa proposta nasceu há 12 anos, quando um pai questionou as aulas de história que sua filha recebia. O advogado Miguel Nagib diz que "é fato notório que professores e autores de livros didáticos vêm se utilizando de suas aulas e de suas obras para tentar obter a adesão dos estudantes a determinadas correntes políticas e ideológicas".

Esse projeto “está no bojo da sustentação ideológica do golpe dessa elite que quer impor ao Brasil os seus interesses e restringir o pensamento a uma única possibilidade “, afirma Isis Tavares, presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Amazonas (CTB-AM).

Para ela, a ideia de controlar a juventude remonta ao nazismo. “Na Alemanha de Hitler aconteceu exatamente o que querem os defensores dessa proposta. Se os pais não gostassem daquilo que os professores estavam ensinando aos seus filhos, poderiam denunciá-los e os educadores corriam o risco de serem presos”.

Um levantamento feito pela insuspeita revista “Nova Escola”, da Fundação Victor Civita, questiona os argumentos dos propulsores do projeto ‘escola sem partido’, que ganhou realce com a visita do ator de filmes pornôs, Alexandre Frota ao Ministério da Educação, para sugerir a inclusão dessa proposta na educação brasileira.

A “Nova Escola” foi ao site do “escola sem partido” e derrubou o argumento de que milhares de pessoas denunciavam professores “doutrinadores” de seus filhos. “O site do movimento registra somente 33” denúncias, num país com “mais de 45 milhões de estudantes”, anuncia a reportagem da revista especializada em educação.

Para Camila Lanes, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), “a ‘escola sem partido’, nada mais é do que a escola de apenas um partido, de apenas um lado (o mais conservador de todos), buscando enterrar a diversidade de pensamento natural na busca de conhecimentos e transformando o processo educacional em instrumento de opressão e de censura”.

Enquanto os organizadores do blog Professores Contra o Escola Sem Partido, que também tem página no Facebook, afirmam que as postulações dos defensores dessa proposta, são amplamente vagas “de maneira proposital”. Mas no fundo, “eles entendem que a escola está dominada por uma ideologia esquerdista e que falta o estudo de autores conservadores, por exemplo, e que os professores ao invés de ensinarem os conteúdos estão doutrinando os alunos para que eles se tornem todos esquerdistas ou gays”.

Por isso, a chiadeira foi geral quando se aprovou no Plano Nacional de Educação a inserção do debate da questão de gênero nas escolas. “Eles falam de neutralidade política e religiosa. Mas, digamos, quando acontece um caso de racismo na escola, ou de intolerância religiosa, a gente não pode se manifestar contra aquilo porque se tiver alunos cristãos na sala isso irá contra a educação que eles recebem em casa”, argumentam os professores contra esse projeto.

Já Marianna Dias (Mari), diretora de Relações Internacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE), acredita que "a Lei da Mordaça não pode ser encarada como um debate setorial, que diz respeito apenas à educação, à escola ou à universidade”.

“É uma questão que precisa preocupar a sociedade”, diz Mari, “e isso nos obriga a questionar qual o papel social da educação. A escola não pode ser apenas um ambiente para se aprender a ler, precisa ser um ambiente que forme cidadãos e que se preocupem com a sociedade, com o país, com a vida e com o mundo”.

Nesse contexto, Tavares afirma que “quando você bloqueia o acesso ao conhecimento, está cerceando a liberdade e o desenvolvimento consciente das pessoas”. Mari vai de encontro a essa proposta.

De acordo com ela os estudantes brasileiros querem "uma escola que reflita sobre os nossos anseios, que não reproduza os preconceitos e muito menos limite a nossa liberdade”. Na verdade, acentua ela, “queremos uma escola com arte, cultura, sociologia e esporte. Que nos prepare como agente transformador para que possamos construir um amanhã melhor".

Tavares complementa ao afirmar que ao contrário do que dizem os defensores do “escola sem partido”, a juventude tem a capacidade de pensar e decidir por si. “Os jovens pensam e a escola deve lhes proporcionar a possibilidade de ampliação do discernimento sobre todas as questões que lhes aflige. Fazer o contrário, sim é doutrinar”.

Já a líder secundarista, Lanes, diz que “eles (defensores escola sem partido) querem, na verdade, é substituir a liberdade de diálogo e de debate de ideias na sala de aula por uma ideologia conservadora”, argumenta Lanes. Para ela, “o projeto ‘escola sem partido’ é extremamente ideológico! Nele, não existe imparcialidade nenhuma! É a ideologia dos que querem uma população alienada, dos que não querem que a sociedade mude, mas que continue desigual e injusta”.

A vontade dos defensores dessa ideia, que conta com 12 projetos na Câmara dos Deputados e o PLS de Malta, no Senado, defendem “a intolerância como norma de vida”, reforça Tavares. “Essa proposta visa bloquear o nosso desenvolvimento civilizatório, exatamente como faz o Estado Islâmico quando explode edifícios históricos milenares, só porque são de outros povos e pensamentos”.
 

*Jornalista.
Fonte: Vermelho

Frente Brasil Popular intensifica calendário de ações pelo Fora Temer



  
No fórum, foi definida a intensificação do calendário de ações pelo Fora Temer. Confira:

Julho
Dia 19/07 – Ato das Centrais Sindicais contra os juros altos e o desemprego

Dias 19 e 20/07– Tribunal Internacional de Julgamento dos Golpistas, no Rio de Janeiro, Teatro Casa Grande.

Dia 20/07 – Atividade no Rio de Janeiro com a presença de Dilma

Dia 21/07 – Recebe os Juristas em BSB

Dia 21 à 22/07 - Seminário Nacional da Plataforma da Energia, Indústria e Educação

Dia 25/07 – Dia latino-americano e Caribenho da Mulher Negra

Dia 25/07 - Mobilização unitária dos trabalhadores rurais em Aracajú-SE (Dilma)

Dias 25 à 30/07 - Jornada Nacional de Mobilização do MST.

Dia 26/07 – Plenária Nacional das Centrais Sindicais em São Paulo.

Dia 28/07 – Atividade da FBP, em São Luiz-MA, com a presença de Dilma

Dia 29/07 - Concentração de camponeses no Assentamento Dionísio Cerqueira, em no oeste de Santa Catarina.

Dias 27/07 a 30/07 - Jornada de Agroecologia em Lapa, no Paraná

Dia 30/07 – Plenária sobre a Reforma urbana e a luta pela Democracia, em São Paulo (Indicativo).

Dia 1/08 - Vigília Inter-Religiosa no Rio, tendo como eixo a exclusão social nas Olimpíadas.
Início de Agosto – Greve dos Petroleiros contra o desmonte da Petrobrás.

Agosto

Dia 5/08 - Marcha nacional contra o Golpe na abertura das Olimpíadas, no centro do Rio de Janeiro.

Dia 8/08 – Circo da Democracia em Curitiba-PR (Indicativo Dilma).

Dia 9/08 – Atos Fora Temer em todas as capitais.

Dias 11 a 15/08 – Jornada de lutas UNE – Fora Temer, Fora Mendonça, Contra Lei da Mordaça.

Dia 15/08 – Próxima reunião do Coletivo Nacional da FBP

Dias 24 à 29/08 – Votação no Senado e Mobilização Nacional em Brasília.

Novembro

12 à 15/11 – II Conferência da Frente Brasil Popular


Não ao Golpe, Fora Temer!


Fonte: Frente Brasil Popular via Vermelho

Guerra civil espanhola: Miguel Hernández e Rosario Dinamitera


Foto: Reprodução
Miguel Hernandez e Rosario DinamiteraMiguel Hernandez e Rosario Dinamitera
Conhecera-o, junto com outros amigos de Lorca, em 1934, ao chegar em Madri. Era “tão camponês que carregava uma aura de terra em torno dele”. “Contava-me contos terrestres de animais e pássaros. Era um escritor saído da natureza como uma pedra intacta, com virgindade selvática e arrebatadora força vital”.

Miguel Hernández lutou até o fim. Quando, finalmente, se impôs de vez a esmagadora superioridade mecânica e logística dos fascistas, ele pediu asilo na Embaixada chilena, na qual tinham se abrigado, durante os dois anos e meio em que Madri foi o heróico bastião da República, nada menos do que quatro mil franquistas. O embaixador Carlos Morla Lynch, no entanto, “negou asilo ao grande poeta, embora se dizendo seu amigo”. Logo em seguida Miguel foi preso e encarcerado. “Morreu de tuberculose no calabouço, três anos mais tarde. O rouxinol não suportou o cativeiro”.

Deixou poemas entranhados, dentre eles o que consagrou a Rosario Sánchez Mora, que ele celebrizou pelo epíteto La Dinamitera. Nascida em Villarejo de Salvanés em 21 de abril de 1919, Rosario viera para Madri em 1935, com dezesseis anos. Vivia com vizinhos de sua pequena cidade natal, que a tinham trazido para que cuidasse de seus filhos. Para uma garota pobre era a maneira possível de viver na capital. Simpatizante comunista, no sábado 18 de julio de 1936, quando já se confirmavam notícias do êxito parcial da sedição militar fascista iniciada na véspera no “protetorado” espanhol do Marrocos, alistou-se no corpo de voluntários que a Juventud Socialista Unificada (formada em março de 1936, pela fusão da juventudes comunista e socialista), estava mobilizando para resistir ao golpe. Em Madri, em Barcelona, em Bilbao, os golpistas tinham sido derrotados. No domingo 19 de julho de 1936, o general golpista Fanjul ocupou o Cuartel de la Montaña, situada numa elevação na entrada de Madri. Alguns corpos armados que permaneceram fiéis à República (Guardia Civil, Guardias de Asalto, parte da Aeronáutica), apoiados por operários e estudantes empunhando as armas distribuídas pelo governo da Frente Popular, cercaram o quartel, que foi tomado após um dia e meio de combate.

Rosario não participou do cerco e tomada do Cuartel de la Montaña. Na madrugada do dia 19, tinha partido para Somosierra, na sierra de Guadarrama, 93 km. ao norte de Madri, numa coluna de caminhões repleta de jovens voluntarios, dispostos a barrar o caminho à contra-revolução. Naquele momento o perigo maior vinha do norte. O general Mola, comandante em chefe da sedição fascista (morreria em acidente, deixando o comando ao general Franco), tomara Burgos e dali desfechara uma ofensiva em direção a Madri. Cumpria detê-lo nas alturas de Guadarrama. Logo que chegaram, Rosario e seus companheiros foram enquadrados, com um mosquetão de sete quilos e sem outra instrução militar além da que foram assimilando em pleno tiroteio, numa tropa de choque comandada pelo comunista Valentín González, celebrizado pelo cognome El Campesino. Na Peña del Alemán, posição avançada que os fascistas se empenhavam em conquistar, Rosario viu morrerem muitos dos garotos com quem tinha vindo de Madri. Mas após duas semanas de duros combates, os inimigos foram contidos e o front se estabilizou.

Rosario foi então destacada para a secção de dinamiteiros, comandada por um mineiro asturiano, o capitão Emilio González González, especialista no manejo de explosivos. A base do grupo estava entre as cidadezinhas de Buitrago e Gascones, cerca de cinco quilômetros da linha de fogo. Na manhã de 15 de setembro, ela e seus companheiros aprendiam a manejar cartuchos de dinamite. Tinha chovido durante a noite e o pavio que Rosario acendeu estava húmido, queimando por dentro, mas sem fazer, por fora, aquele calor que anuncia o instante do arremesso. O cartucho lhe estourou na mão, destruindo-a. Gravemente ferida, foi operada no hospital de sangue mais próximo, onde lhe salvaram a vida.

Assim que lhe deram alta, voltou a se integrar na unidade de choque de El Campesino, que se tornara a 10ª Brigada Mixta, com mais de três mil combatentes, aquartelados em Alcalá de Henares. Recibida com honras de heroína, Rosario foi destinada ao Comitê de Agitação e Propaganda. Acompanhou o deslocamento para Madri do Estado Maior de El Campesino e lá travou amizade com o jovem poeta sevilhano Antonio Aparicio. Este um dia veio visitá-la acompanhado de outro poeta e amigo por quem professava veneração e que não era outro senão Miguel Hernández. O “pastor de cabras transformado em verbo militante” entregou a Rosario o pequeno poema que lhe tinham inspirado suas façanhas e o acidente que, como dirão seus versos, transformou em estrela a mão direita da jovem miliciana:




No verão de 1937, Rosario voltou à linha de frente, assumindo o serviço de correspondência dos soldados e assegurando o contato com o Estado Maior de Madri. A 10ª Brigada Mixta de El Campesino, que se tinha se transformado na 46º Divisão, com mais de doze mil combatentes, desfechou uma contra-ofensiva em direção de Brunete na tentativa de cercar as forças fascistas que sitiavam a capital pelo sudoeste. O objetivo foi parcialmente atingido com a tomada de Brunete, mas a superioridade de meios bélicos do inimigo lhe permitiu retomar logo em seguida essa posição chave.

De volta a Alcalá, Rosario casou-se dia 12 de setembro con Francisco (Paco) Burcet, sargento da Sección de Muleros, que conhecera na 10ª Brigada Mixta. Tiveram alguns meses para viver seus intensos amores. Rosario engravidou. Mas em janeiro de 1938, Paco partiu para Teruel, última grande batalha em que a República encontrou forças para uma contra-ofensiva. O terreno conquistado a duríssimas penas (inclusive a cidade de Teruel) foi perdido logo depois. A divisão de El Campesino voltou a Madri, exausta e dizimada. Para Rosario e Paco foi a segunda e última temporada de amores. Ficaram juntos duas semanas, até Paco partir com sua unidade para a frente aragonesa, onde os fascistas estavam em plena ofensiva. Mantiveram correspondência durante alguns meses; em 22 de julho nasceu sua filha, Elena. Em meados de novembro, terminava a batalha do Ebro: a zona republicana foi cortada em duas pelas tropas de Franco, que lançaram sua ofensiva final. Desde então, ela não recebeu mais cartas de Paco. Em abril de 1939, tudo estava terminado: após os trágicos horrores da guerra, viriam quatro décadas de opressão clérico-fascista.

Rosario deixou Elena com a segunda mulher de Andrés, seu pai, e com ele tentou escapar pelo porto de Alicante. Lá tinham se concentrado cerca de 15.000 republicanos, na expectativa de embarcar nos navios da Sociedade de Nações, que nunca chegaram. Pusilanimidade ou calhordice pura e simples, os sempre hipócritas governos liberais europeus deixaram os defensores da República Espanhola cair nas garras dos carniceiros. (Os que lograram atingir o território francês, por terra ou por mar, foram confinados em campos de concentração). Andrés, pai de Rosario, foi fusilado sumariamente, como muitos outros. Ela foi levada a Madri, onde fascistas de sua aldeia natal forneceram seu currículo completo aos órgãos do novo Estado franquista. Pediram a pena de morte para ela; acabou condenada a trinta anos. Percorreu vários presídios, começando pelo de Ventas, “enorme armazém humano” em que se amontoavam mais de quatro mil mulheres (dez vezes mais do que sua capacidade). No dia 28 de março de 1942, foi posta em liberdade condicional. Nesse mesmo dia morreu na prisão de Alicante, após longa enfermidade agravada pelos maus tratos carcerários, o querido poeta Miguel Hernández.

Como tantos outros defensores da República que não puderam ou não quiseram emigrar, passou as muitas décadas da ditadura de Franco num exílio interior. Uma vida de perseguições e discriminações, “dura y valiente”, como ela disse aos oitenta e seis anos numa entrevista. Graças ao escritor Carlos Fonseca, dispomos de uma bela história dessa sua vida: Rosario dinamitera. Una mujer en el frente (Temas de Hoy, Madri, 2006). A miliciana de mão de estrela morreu em 17 de abril de 2008. Foi enterrada no cemitério civil de la Almudena, en Madri (separado do católico), na presença de suas duas filhas e uma centena de amigas, amigos, camaradas, entre os quais Paco Frutos, secretário geral do PCE. Ficou em muito honrosa companhia: lá está enterrada a grande dirigente comunista Dolores Ibarruri, bem como Pablo Iglesias, marxista e dirigente histórico do socialismo espanhol. Na curta cerimônia laica do enterro, a única oração que se ouviu foi o poema que Miguel Hernández tinha escrito para ela, setenta e dois anos antes. No final, alguém gritou “Viva la República!”. “Viva la República!” repetiram os demais. E sairam cantando a Internacional.



*João Quartim de Moraes é professor colaborador na Unicamp e pesquisador do CNPq centrado em história do pensamento político, instituições brasileiras, materialismo antigo e moderno, e marxismo. Autor de diversos livros e artigos, no Brasil e na Europa.
Fonte: Vermelho