sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Folha omite depoimento que confirma propina a tucano

O depoimento do novo delator da Operação Lava Jato, Carlos Alexandre de Souza Rocha – que confirmou à Procuradoria-Geral da República o pagamento de R$ 10 milhões ao agora falecido ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra – explicita a maneira desigual com que a mídia tradicional trata as denúncias relativas ao PT e ao PSDB.


  
Ainda na manhã da quarta (6), já circulava na internet a notícia de que o delator havia confirmado o repasse milionário ao tucano. No jornal Folha de S.Paulo desta quinta (7), contudo, não há nenhuma linha impressa sobre a denúncia. No dia anterior, contudo, o jornal estampava título com acusações do mesmo Carlos Alexandre de Souza Rocha contra o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do PT.

Quer dizer, quando o mesmo delator cita o PT, o tema ganha destaque. Quando o PSDB é acusado, nenhuma linha. A blindagem aos tucanos pelos meios de comunicação confirma que o que está em jogo não é exatamente o combate à corrupção, mas a tentativa de desgastar o partido que está no poder.

A revelação sobre a propina que teria sido paga a Guerra – morto em 2014 - foi feita inicialmente em agosto de 2014 pelo primeiro delator da Operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás. Segundo Costa, o dinheiro foi providenciado pela empreiteira Queiroz Galvão, para barrar a CPI da Petrobrasde 2009. O doleiro Alberto Youssef, outro delator, também havia confirmado o pagamento ao PSDB. Agora é Carlos Alexandre de Souza Rocha quem cita o repasse. O partido e a empreiteira negam que o fato tenha ocorrido.

Ao invés de noticiar o fato novo, a Folha optou – claro – por priorizar o depoimento de Alexandre Paes dos Santos, delator da Operação Zelotes, que tenta criminalizar o ex-presidente Luiz Inácio da Silva por causa de Medidas Provisórias editadas em seu governo para promover o desenvolvimento nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e que criaram dezenas de milhares de empregos.

Afinal, Lula é do PT. E as denúncias contra o PSDB, ao olhos da Folha, sempre parecem menos importantes. Aliás, a mídia de forma geral tem tratado com dois pesos, duas medidas, os escândalos envolvendo os tucanos, como é o caso do mensalão mineiro e do trensalão paulistano. 


Do Portal Vermelho

OAB elege 2016 como ano da mulher advogada

Para a presidenta eleita da Ordem dos Advogados do Brasil de Alagoas, Fernanda Marinela, o processo de valorização da mulher advogada pela entidade “é um caminho sem volta”. De acordo com o presidente nacional da ordem, Marcos Vinicius Furtado Coelho, “a luta pela igualdade de gênero é uma bandeira da atual gestão”. 


Myrthes Campos, primeira advogada brasileira, enfrentou resistências para atuar no início do século passado quando as mulheres eram obrigadas a exercer apenas trabalhos domésticos.Myrthes Campos, primeira advogada brasileira, enfrentou resistências para atuar no início do século passado quando as mulheres eram obrigadas a exercer apenas trabalhos domésticos.
Em notícia divulgada no site da OAB na quarta (6) a entidade coloca 2016 como o ano da mulher advogada e assegura que neste ano “os esforços da OAB se voltarão à implementação do Plano Nacional de Valorização da Mulher Advogada".
Marinela explicou que o caminho até a aprovação do plano se iniciou em 2013, quando a Comissão da Mulher Advogada foi reconvocada, sendo presidida por ela. Desde então, a atual gestão da OAB transformou a comissão em permanente, realizou a I Conferência Nacional da Mulher Advogada e aprovou a cota de 30% nas chapas das eleições da entidade.
“2016 será o ano em que a OAB dedicará esforços para que conquistas avancem ainda mais. O Movimento + Mulheres na Ordem deu grandes resultados, com mais dirigentes mulheres nas Seccionais, nas Caixas de Assistência e nos conselhos. Abriram-se os olhos para assunto que era pouco discutido. Todo processo de mudança é lento, uma construção gradual. Mas este é um caminho sem volta”, diz Marinela.
Para o novo presidente da OAB-CE, Marcelo Mota, cada vez mais mulheres ingressam nos quadros da Ordem. Em seu Estado, já são 47% dos profissionais, por isso é importante a elaboração de políticas de valorização, principalmente campanhas pela equiparação salarial. “As mulheres que enfrentam adversidades em seu exercício profissional devem ser respeitadas”, diz.
Plano de Valorização
O plano prevê a valorização da educação jurídica e da defesa das prerrogativas das mulheres advogadas, além da elaboração de propostas que protejam a mulher em seu exercício profissional. A OAB aprovou como diretriz ainda o desconto ou isenção de anuidade para advogadas no ano em que tiverem filhos ou os adotarem.
Outra medida é a construção do perfil da mulher advogada por meio de um censo, além da elaboração de manuais de orientação que envolvam as questões de igualdade de gênero. Também serão publicados pesquisas e artigos acerca da realidade social e profissional das advogadas.
A questão da igualdade de gênero é reforçada por políticas que garantam o espaço das mulheres nos espaços de poder, inclusive na OAB. A entidade também trabalhará no diálogo com outras instituições visando humanizar as estruturas judiciárias voltadas para as advogadas.
No processo de valorização da mulher advogada, as Seccionais e Subseções serão estimuladas a criar comissões permanentes para tratar do assunto, além da obrigação da realização de uma Conferência Nacional sobre o tema a cada gestão. Todas as Conferências Nacionais da Advocacia terão ao menos um painel sobre a mulher advogada.

Do Portal Vermelho, com informações do portal OAB

Povo repudia retirada de imagens de Bolívar e Chávez do Congresso

O povo venezuelano se concentrou ontem, quinta-feira (7) na Praça Bolívar, em Caracas, para uma grande manifestação em rechaço à primeira ação simbólica do novo presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, que ordenou a retirada das imagens de Simón Bolívar e Hugo Chávez da Casa de Leis. 



AVN
Milhares de venezuelanos saíram às ruas para repudiar a ação do presidente da Assembleia NacionalMilhares de venezuelanos saíram às ruas para repudiar a ação do presidente da Assembleia Nacional
O vídeo em que Ramos Allup aparece ordenando aos funcionários da Assembleia que retirem os quadros de Bolívar e Chávez das paredes ficou muito famoso na internet e circulou em todos os principais canais de televisão nacionais da Venezuela.

“Este Simón Bolívar falsificado também o tirem. Este não é Simón Bolívar, é uma invenção deste senhor, uma loucura, tirem essa toda essa porcaria daqui (…). Não quero ver nem a Chávez, nem a Maduro, levem toda essa porcaria a Miraflores ou coloquem no banheiro”, disse Ramos Allup de maneira bastante descontrolada, conforme aparece no vídeo.

Depois dessa reação do presidente da Casa o povo venezuelano saiu às ruas para realizar um ato de desagravo contra a retirada dos quadros. “Me senti muito impotente e com raiva de ver como manejavam as fotos de Chávez e do nosso herói Simón Bolívar, e tinham a cara de destruí-la (…). Me sinto molestada por estes fascistas que tomaram a Assembleia Nacional. Eles não merecem os votos que receberam. Não sabem valorizar a confiança que os venezuelanos depositaram neles”, afirmou uma manifestante da praça.
 

Do Portal Vermelho, com AVN

Dilma: "O modelo do quanto pior melhor de 2015 se esgotou"

Durante café da manhã com jornalistas ontem, quinta-feira (7), a presidenta Dilma Rousseff reafirmou que o compromisso do governo é buscar reequilíbrio fiscal para conter a inflação. Ela disse que vai perseguir com “unhas e dentes” a retomada do desenvolvimento.


Agência Brasil
Dilma cercada pelos jornalistas da grande mídia que disputavam um cantinho para aparecer na self. Será que eles fariam o mesmo com Cunha?Dilma cercada pelos jornalistas da grande mídia que disputavam um cantinho para aparecer na self. Será que eles fariam o mesmo com Cunha?
Segundo ela, daqui para a frente as decisões do Congresso Nacional deixarão claro quem é a favor ou contra o Brasil. “2015 não vai se repetir. O modelo do quanto pior melhor se esgotou porque o pior atinge todo mundo de forma muito profunda. O melhor é retomar o crescimento, o emprego e não negar sistematicamente que o governo entregou mais de 400 mil casas em 2015, apesar de todas as dificuldades e contratamos outras 320 mil. Não é possível continuar negando que temos 906 mil estudantes que entraram na universidades porque temos o programa de universidades federais, Prouni, Fies”, disse.

Sobre as medidas econômicas, a presidenta destacou que o reequilíbrio fiscal é fundamental para a redução da inflação. "Nosso objetivo é reduzi-la. Nosso objetivo é que ela volte o mais possível para o centro da meta. É preciso buscar o reequilíbrio fiscal para perseguir o superávit de 0,5%”, enfatizou a presidenta. E acrescentou: “Estabilidade com crescimento são fundamentais: um para garantir a estabilidade fiscal e o combate a inflação, e o outro para realimentar isso de forma sustentável para que a gente possa, de fato, superar esse processo”.

A presidenta disse ainda que o Banco Central aponta um horizonte de 2017 em relação ao centro da meta, que é de 4,5%, mas ela avalia como possível atingir a “banda de cima”, que é de 6,5%, neste ano.

De acordo com Dilma, 2016 “será melhor que 2015”, porque existem “todas as condições” para a redução da inflação e o “mercado também avalia nessa direção”. A presidente acredita que “os fatores que levaram ao aumento dos preços estão em declínio”.

“A curto prazo temos, nos próximos três meses, ações que vamos perseguir. Temos, por exemplo, que aprovar as medidas provisórias tributárias que estão no Congresso, como a medida sobre juros de capital próprio e sobre ganhos de capital, além da aprovação da DRU (Desvinculação de Receitas da União) e da CPMF. Também temos que maturar vários projetos que foram construídos ao longo do ano passado e que vão desaguar em concessão de aeroportos, portos, ferrovias e energia elétrica”, pontuou a presidenta.

Reforçando a questão da CPMF, Dilma declarou: "É visível que estados e municípios precisam deste recurso. Asseguro que uma parte resolve. A CPMF não é só para o reequilíbrio fiscal, mas uma questão de saúde pública". Dilma também destacou o empenho do governo na abertura de novas relações comerciais com outros países e citou os acordos assinados com o México, Colômbia e Argentina e Estados Unidos.

Coelho e a cartola

Dilma seguiu o comentário feito pelo ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Vagner, e disse que o governo “não tem um coelho na cartola na economia.

"Acho que não tem um coelho numa cartola, porque a instabilidade macroeconômica tem a ver com duas grandes ações: estabilidade macroeconômica e a arrecadação, que sofreu profundamente com o fato de queda do superciclo das commodities. Tudo isso, de forma acentuada, provocou a queda de receita", disse.

Dilma também comentou sobre os vazamentos de investigações policiais, como a Operação Lava Jato. Para ela, não se pode ter ter "dois pesos e duas medidas para ninguém no Brasil".

"Tenho muito medo da espetacularização e vazamentos porque os vazamentos não se dão num quadro de responsabilidade de apuração. Quando se derem nesse quadro, é importante ser difundido para a população. Mas não é possível ter dois pesos e duas medidas para ninguém no Brasil", disse

E, num claro recado a oposição golpista, afirmou: "Tenho clareza que devo ter sido virada ao avesso e tenho clareza também, até porque entendo de mim mesma, que podem continuar me virando do avesso. Sobre minha conduta não paira nenhum embaçamento, nenhuma questão pouco clara".

Previdência

Outro ponto considerado crucial para a presidenta foram as grandes reformas. "Temos que encarar a reforma da Previdência, considerando que tem a ver com a modificação da idade da população. Estamos envelhecendo mais e a nossa expectativa de vida aumentou 4,6 anos. Isso implica que é difícil equacionar o problema", afirmou Dilma.

E completou: "Não se pode achar que se afeta os direitos adquiridos. As coisas afetam daqui pra frente. Há outro problema que teremos que encarar com muita seriedade e tranquilidade que é o tempo de transição. Ninguém faz uma reforma dessas sem considerar período de transição levando em conta os direitos adquiridos e a expectativa de direitos daqueles que já estão no mercado de trabalho".

Ela destacou que o governo pretende abrir esse debate por meio do Fórum de Trabalho e Previdência, que é um órgão que reúne trabalhadores, empresários, governo e Congresso.

“A base para que uma reforma da previdência seja sustentável no Brasil é o diálogo. É escutar os diferentes seguimentos, tendo clareza que a solução não pode passar para se esconder dele, mas enfrentar e escolher o caminho mais adequado para que todos tenham um consenso básico sobre essa questão”., defendeu.

Carga tributária

Dilma também rebateu a tese encabeçada pela Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), de que a carga tributária tem aumentado no Brasil. Salientou que no período em que a economia estava aquecida, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 26 bilhões por conta ds desonerações.

“Num momento de pleno emprego se justificava perfeitamente. No momento em que a nossa economia a mostrar sinais de que está perdendo força, nós tínhamos que reverter essa situação. O que fizemos? Reduzimos a desoneração. Não acabamos integralmente, apenas reduzimos o montante. Se antes perdíamos R$ 25 bilhões, passamos a perder R$ 12 bilhões”, explicou.

Segundo ela, a carga tributária do Brasil não vem crescendo, pelo contrário, se consideramos a carga tributária total temos 33,4%. Se considerar somente os impostos federais, esse índice é de 22%.

“Se tirar desses 22%, o imposto que não é stricto senso, como Previdência, Sistema S e FGTS, teremos um valor equivalente ao que existia em 2002”, enfatizou Dilma, destacando ainda houve aumento na formalização do trabalho, que elevou a arrecadação.

Recomposição da base

Questionada sobre as cobranças feitas pelos partidos da base aliada , principalmente o PT, com relação aos rumos da economia, Dilma afirmou: "Eu não acho que estamos num país que será integrado por pessoas que pensam de tudo igualzinho. Pelo contrário, acho que a complexidade da nossa democracia está no fato da gente ser capaz de construir os consensos. Acho bom que o PT defenda as suas posições, mas o governo não responde só ao PT, só ao PMDB, só a qualquer um dos partidos da base aliada. Responde a todos e também a toda a sociedade e as suas necessidades".

Após o café, ela seguiu para Porto Alegre para visitar a filha, Paula, e o neto Guilherme, que nasceu nesta quinta. O bebê é o segundo neto da presidente.


Do Portal Vermelho, Dayane Santos

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Vagner Freitas: Chegou a hora de sair da defesa e virar o jogo

Em entrevista ao portal da CUT no início de 2016, o presidente da central, Vagner Freitas, analisa os desafios deste ano e enfatiza a necessidade das mobilizações em defesa da democracia, contra o golpe e pelo desenvolvimento com distribuição de renda, aliadas ao fim da atual política econômica continuam na agenda.


Roberto Parizotti/CUT
Vagner: Mobilização para encerrar o "terceiro turno", criado pela direitaVagner: Mobilização para encerrar o "terceiro turno", criado pela direita
Vagner fala ainda sobre a pesquisa CUT/Vox Populi, intitulada “Brasil: a agenda da população”, que referenda o desejo da população de impedir retrocessos, como eventuais mudanças na Previdência, e de manter conquistas como os programas sociais. Confira os principais temas.
CUT nas ruas em março
No início dos trabalhos legislativos estaremos com a pauta dos trabalhadores nas ruas. Os mesmos movimentos que ocuparam todo o país em novembro do ano passado novamente estarão mobilizados em março em defesa da democracia, contra o golpe, contra a reforma da Previdência, pela manutenção dos direitos e para colocar o Cunha (Eduardo Cunha, presidente da Câmara) fora do Congresso.
Foi nossa ação em defesa de direitos e da democracia que fez parceiros, partidos, movimentos que não votaram em Dilma, mas são contra o retrocesso e contra o golpe, virem junto nessa luta, num momento em que os golpistas já davam como certo o impeachment da presidenta e a prisão do Lula. Um enfrentamento que fez as bancadas dos partidos progressistas também se levantarem no Congresso Nacional com a mesma bandeira.
Fomos nós que fizemos um movimento junto aos empresários, com ações como o Compromisso pelo Desenvolvimento, para isolar golpistas de direita e outros mais. Com esses setores batemos na tecla de que a agenda do Brasil não é a agenda do impeachment e da lava-jato, mas do desenvolvimento econômico, da geração de emprego e renda.
A partir disso, não podemos perder de vista duas grandes frentes: a discussão sobre a reforma do Estado e a disputa de opinião na sociedade. O acerto dos governos Lula, Dilma, Nestor e Cristina Kirchner (ex-presidentes da Argentina), Rafael Correa (ex-presidente do Equador), Hugo Chavez (ex-presidente da Venezuela) e Evo Morales (presidente da Bolívia) foi fazer o embate direto com o neoliberalismo.
O mote da luta da esquerda mundial tem de continuar sendo a derrota do neoliberalismo, porque se não fosse a luta da esquerda, dos movimentos sociais e desse governo no Brasil e na América Latina, o neoliberalismo já teria implementado sua agenda do começo ao fim.
O segredo da esquerda que deu certo por aqui foi impedir a implementação de uma pauta de redução de custos por meio da redução de direitos, do fim da carteira assinada, das garantias legais num cenário de economia desregrada.
Como será 2016? 
Vamos continuar defendendo que o Estado não pode retirar direito, que a política de valorização do mínimo deve continuar porque é boa para o trabalhador e para a economia, vamos continuar defendendo a geração de emprego, a mudança na política econômica, que causa a recessão e vamos continuar defendendo a legislação trabalhista. Não aceitaremos que o negociado se sobreponha sobre o legislado, negligenciado a legislação.
Isso significa fazer política, porque você, trabalhador, se não gosta de política, vai ser comandado por alguém que gosta. Nós somos uma central sindical que defende direitos trabalhistas, por isso brigamos no parlamento, nas eleições, temos propostas políticas e econômicas. Porque se não fizermos isso, o patrão vai fazer, organizar pessoas para fazer e o trabalhador será prejudicado.
Como seria prejudicado em caso de impeachment da Dilma para entrada do Temer (Michel Temer, vice-presidente), tendo como base o Ponte para o Futuro, programa do PMDB, que acaba com a CLT, com as férias e com o 13º salário.
Quando o trabalhador ouve que precisa tirar a presidenta, que ela é ruim, também precisa saber que o Eduardo Cunha, autor dessa proposta, é o mesmo cara que defende a terceirização sem limites e que apoia todas as propostas que retiram direitos dos trabalhadores.
Sem Levy, hora de virar o jogo
O Nelson Barbosa (novo ministro da Fazenda) tem a faca e o queijo na mão para vir agora com notícias boas para o Brasil. Porque se ele continuar com o discurso de ajuste fiscal e segurar a economia, vai perder a chance de aproveitar o clima do final do ano em que conseguimos equilibrar o jogo com os direitistas.
Tem que mudar a agenda da economia, com as propostas que apresentamos no 12º Concut (Congresso Nacional da CUT) no ano passado - o reaquecimento do mercado interno por meio do barateamento do crédito e da redução da taxa de juros.
Nós achamos que o Estado deve ser também indutor do crescimento econômico, não pode só ser o mercado quem determina as regras do jogo. Isso é de esquerda e fico feliz quando sociólogos como o Boaventura de Sousa Santos e o Emir Sader enxergam também dessa forma, ao invés de dizer que o neodesenvolvimentismo construído a partir do governo Lula é pouco importante.
Se não fosse o neodesenvolvimentismo, teria sido o neoliberalismo, que teria vindo com o PSDB. E só será possível construir nova sociedade se trabalhadores foram protagonistas políticos desse jogo; mas não se sentirão incluídos se não tiverem emprego e renda.
Previdência
Não aceitaremos nenhuma mudança na Previdência e qualquer discussão que venha a ocorrer deve se for feita no Fórum de Debates sobre Políticas de Trabalho, Renda, Emprego e Previdência, criado no ano passado justamente para discutir essas questões.
A CUT foi chamada e aceitou participar do Fórum por ser um espaço de diálogo, então, não há razão para, mesmo antes de tomar posse, o ministro da Fazenda já falar em reformar e pautar isso como uma das primeiras ações para 2016. Então, criou o Fórum para quê? Queremos que as propostas sejam discutidas pela sociedade nesse ambiente que tem representantes dos trabalhadores, do empresariado, do parlamento e do governo.
É onde devemos tirar consenso sobre questões como a Seguridade, que não é só a Previdência, mas todo um sistema de proteção social que o país tem e que não é deficitário. O que precisa é combater a sonegação dos que não recolhem para a Previdência, e não retirar um direito tão importante e tão essencial como a aposentadoria.
E não adianta dizer que esse problema só afligirá nossos filhos e os trabalhadores que adentrarem o sistema a partir de agora. O governo precisa se posicionar sobre isso, porque os neoliberais acham que isso não é importante, que é melhor fatiar a Previdência, acabar com todos os direitos adquiridos e vender essa proteção para empresas privadas, como acontece no México e no Chile. Essa é a pauta que não queremos ver aqui.
Desde o Fórum Nacional do Trabalho, em 2003, no mandato do presidente Lula, já defendíamos um sistema público e universal, que é tranquilamente sustentável se cobrar os sonegadores e os devedores, se o orçamento da Seguridade Social for utilizado somente para o financiamento do sistema, se tiver uma gestão transparente e quadripartite, com a participação dos trabalhadores, se a contribuição das empresas passar a ser calculada sobre o faturamento e não somente considerando a folha de pagamento. Esse último ponto, por exemplo, serviria para arrecadar junto a setores que ganham muito, empregam pouco e é algo que já cobramos há muito tempo.
Salário mínimo no caminho certo
Os mesmos que querem acabar com a Previdência querem o fim da política de valorização do salário mínimo. E eu quero elogiar a proposta corretíssima da presidenta Dilma de corrigir o valor acima da inflação. Isso é investimento no aquecimento da economia, muitas cidades têm como fonte de renda os trabalhadores que recebem um salário. São eles que fazem girar a economia, aumentando o mercado de consumo brasileiro, que tem espaço sim para crescer.
Não estamos na Dinamarca, na Suécia ou na Holanda, onde a desigualdade é muito menor e a maior parte da população tem acesso a condições dignas de vida. Temos 200 milhões de habitantes e menos de 40 milhões de consumidores.
Todo americano tem dívida porque tem crédito, alguém que empreste. Vai comparar nosso endividamento com o do cidadão americano? O sistema financeiro deveria fomentar esse financiamento. Aqui não tem crédito, a taxa de juros está lá em cima e o sistema financeiro só serve para escochar o país inteiro. Não tem nenhuma função social. Temos que ampliar, por exemplo, o crédito consignado para os trabalhadores também do setor privado com o laço das empresas para evitar o endividamento individual.
Onde errou
O papel do BNDES é fomentar o desenvolvimento e apresentar linhas de crédito para as empresas brasileiras, mas isso tem de vir acompanhado de contrapartidas sociais como a manutenção do emprego. Houve o subsídio, mas não a contrapartida para ajudar a melhorar a vida das pessoas.
Não conheço nenhum país desenvolvido em que o Estado não foi indutor de desenvolvimento. Pode pegar a Coréia ou mesmo os Estados Unidos. Quando a GM ia quebrar, o Obama mandou resolver. Não foi o sistema financeiro econômico que resolveu a crise hipotecária, foi o Tesouro Americano.
Além disso, na saída de 2011 para 2012, ao invés de discutir com a sociedade para construir subsídios para aprovar o orçamento, o governo criou um processo de apertar o cinto e paralisar a economia que nos trouxe problemas gravíssimos. A CUT nunca fugiu desse debate, somos contra a política econômica praticada no segundo mandato da Dilma até aqui.
Atuação do Congresso em ano de eleição
Políticos são movidos por pressão o tempo todo e acho que alguns parlamentares podem mudar de opinião, se mantivermos em 2016 a mesma capacidade de mobilização que tivemos em 2015. Você tem corporações no Congresso, a bancada da bala, do agronegócio e da Bíblia são orientadas por seus interesses. Nossos atos em defesa da democracia não vão mudar a posição de um Bolsonaro, de um Caiado, mas pode respaldar os políticos que são contra o retrocesso, para que possam se levantar contra o conservadorismo.
Queremos que o Congresso Nacional, em 2016, tenha uma pauta muito mais progressista do que teve em 2015. Vamos acabar com essa ideia de tirar direitos dos trabalhadores, de reduzir maioridade penal, de facilitar as pessoas a andarem com armas, de criminalizar as mulheres e os LGBTs, (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), de ataques à democracia e aos direitos humanos.
Mídia e Judiciário
O problema do Brasil é fundamentalmente político, e não só econômico. Se resolver a questão política, o Brasil tem viabilidade econômica. Uma coisa está atrelada a outra. A crise política impede que o país tenha condições de andar economicamente, mas a grande mídia brasileira nunca fala isso, fala que o governo fez tudo errado, que gastou demais.
O que é gastar demais? É gastar com Bolsa-Família, com programas sociais? Isso não é gasto, é investimento. Mas a mídia oculta isso. O que falta é uma regularização na mídia para que haja contraposição, para que os dois lados possam ser ouvidos com as mesmas condições. A lei do direito de resposta é uma conquista, é um primeiro passo. Mas é preciso ter uma mudança rápida e significativa da mídia no Brasil, assim como uma mudança no poder judiciário.
O processo de sensacionalismo e de espetacularização da Justiça, que conta com promoção da mídia, tem que acabar. Exemplo disso está no tratamento dado à família Vaccari e à família Cunha. Porque o tratamento é diferente? A cunhada do Vaccari chegou a ser presa injustamente, acusada sem provas, confundida com esposa de Vaccari, que também não há provas de qualquer ato ilícito. O caso foi amplamente divulgado na mídia, como um espetáculo. Já a mulher de Cunha, acusada e com provas contra ela, nada foi mostrado. Há evidente diferença de tratamento.
O poder Judiciário precisa entender que ele não pode ser partidarizado e que ele é fundamental para a democracia.
Mobilização e Reformas
Não tenho dúvida de que o Brasil só não teve um desfecho diferente neste fatídico 2015 pela ação da CUT e dos movimentos sociais. Se não tivéssemos feito a disputa nas ruas, essa agenda do impeachment da presidenta pelos golpistas teria muita chance de ter saído vitoriosa e a política econômica de ajuste ia avançar para prejuízo dos trabalhadores.
Daí a importância da unidade da esquerda, da mobilização conjunta das entidades que compõem as Frentes Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, das centrais sindicais, dos partidos políticos, artistas e intelectuais, construindo unidade nas ruas e nas redes em defesa da democracia, contra o golpe e contra medidas que prejudicam o trabalhador e impedem o desenvolvimento do País.
Também seguiremos em defesa das reformas que o país precisa, como a reforma política, agrária e tributária, bem como a regulamentação dos meios de comunicação, do sistema financeiro e mudanças no Judiciário.
Continuamos mobilizados para terminar esse “terceiro turno” que a direita teima em não querer acabar. Em março estaremos novamente nas ruas para esse embate, fazendo pressão, e mostrar que a classe trabalhadora não vai permitir a retirada de direitos, o retrocesso e qualquer tentativa de golpe. Estaremos nas ruas quantas vezes forem necessárias!



Fonte: CUT via Vermelho

É preciso entender a China: não é crise - é política econômica

“O que está acontecendo na China nada mais é do que o resultado de uma bem planejada política econômica de Governo, produzindo os efeitos esperados.”


  
A afirmação é do professor do Insper, Roberto Dumas, mestre em Economia da China pela Universidade de Fundan e em Economia Mundial pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra.
Profundo conhecedor da economia chinesa, o Professor Roberto Dumas garante que os fatos registrados na China na segunda-feira (4) (desvalorização da moeda nacional, o iuane, e quedas simultâneas nas duas Bolsas de Valores, de Shangai e Shenzhen), só surpreenderam quem não está ciente das decisões das autoridades chinesas.

“O Governo do Presidente Xi Jinping e do Primeiro-Ministro Li Kekiang decidiu que a China, neste momento, deve priorizar o consumo interno para escoar a sua enorme produção. Por isso, o Governo optou pela desvalorização do iuane e pela diminuição das atividades em suas Bolsas – e até mesmo pela redução do crescimento do PIB. Aquela fase do PIB crescendo a dois dígitos acabou. Em 2015, a China cresceu menos de 7%, e não vou me admirar se em 2016 seu crescimento econômico ficar na casa dos 6% a 6,5%. E assim será nos anos subsequentes.”


“Na China”, observa Dumas, “não há crise de consumo, mas, sim, a necessidade de o consumo interno aumentar”.

Ao contrário do que pensam muitos analistas – de que a China vive uma crise –, Roberto Dumas afirma que o que acontece naquele país “é subproduto de uma política pública, do próprio Governo chinês, que quer rebalancear o modelo de crescimento econômico, ou seja, parar de investir para tentar impulsionar cada vez mais o consumo doméstico”.

“Mas o chinês não consome muito? Sim, o chinês consome muito, só que ele produz ‘muito ao quadrado’. Para ele aumentar o consumo doméstico em relação ao PIB, é importante que o PIB cresça menos e o consumo aumente para que eles se encontrem no meio do caminho. Para se ter uma ideia, até 2008 esse excedente de produção geralmente era vendido para os Estados Unidos. Após a crise de 2008, como os EUA não têm mais interesse em comprar todo o excedente chinês, quem virou o 'darling' da China passou a ser o Brasil, ou seja, os chineses tentaram vender o excedente que não mais conseguiam vender para os EUA e passaram a vender tanto para o Brasil como para outros países da América Latina e alguns países da África. Só que não substituímos os EUA, e os chineses perceberam que não adiantava produzirem demais para um mundo que não quer mais tanto consumo, e resolveram produzir menos e consumir mais internamente para conseguir rebalancear a economia.”

“Esta queda no crescimento da produção industrial chinesa era absolutamente esperada. É isso que o Governo quer: crescer menos para compensar a queda da exportação e aumentar o consumo doméstico. Não existe uma crise no consumo. Para se ter uma ideia, no Brasil o consumo, em relação ao PIB, representa 66%; e na China, 35%. Ou seja, na China eles produzem muito mais do que consomem e precisam de alguém para escoar esse excedente – e o mundo não quer mais esse excedente. Como a população doméstica não consegue consumir tudo que o país produz, vamos produzir menos. Por isso é que isso é um subproduto de uma política pública. A China vai continuar trazendo não surpresa, mas notícias negativas ao longo deste ano e do próximo. O crescimento vai ser menor. Aqueles dias em que a China crescia 10%, 11%, 12% absolutamente acabaram, e aí teremos impacto nas economias emergentes como Brasil, Peru, Chile, Colômbia, México, porque esses países basicamente são exportadores de commodities metálicas. Como a China quer investir menos do que investia, a demanda por commodities metálicas – minério de ferro, cobre, ouro, platina – tudo isso vai continuar caindo de preço.”


Fonte: Agência Sputnik via Vermelho

Não à ‘Abertura Já’ da economia brasileira

O Estado de São Paulo publicou, em 29/11/15, artigo de Gustavo Franco intitulado “Abertura Já!”. Gustavo Franco é Professor de Economia da PUC do RJ. No Governo de FHC, foi secretário de política econômica adjunto do Ministério da Fazenda, diretor de Assuntos Internacionais e presidente do Banco Central. É um dos membros que discutiu e elaborou o Plano Real. Portanto, Franco faz parte dos economistas alinhados com os principais partidos de oposição aos Governos petistas, especialmente o PSDB.


  
Por Jefferson José da Conceição e Roberto Vital Anav*

No artigo, Franco defende “a revisão da estratégia de inserção externa, de nossas crenças sobre o conteúdo local, adensamento das cadeias produtivas e acordos internacionais. (...)”. E parte para o ataque contra o PT e as suas políticas. Diz Franco: “Na verdade, a proteção tarifária, as reservas de mercado, as desonerações (...) parecem se amontoar em tempos recentes no contexto do ‘capitalismo de quadrilhas’ que aqui se quis implantar, e que a operação Lava jato se empenha em combater”.

Quanto aos adjetivos raivosos de Franco, vamos deixa-los de lado. Faremos apenas dois breves registros. O primeiro é que Franco não tem a mesma virulência crítica com relação ao período neoliberal no qual compartilhou a gestão econômica do País. Assim, ele não consegue avistar qualquer tipo de atos de quadrilha em relação à forma como se deu o processo de privatização no Brasil da segunda metade dos anos de 1990. Isto, em que pese o fato de que a privatização permitiu verdadeira liquidação, fatiamento e apropriação privada do patrimônio público, da ordem de mais de R$ 100 bilhões, como noticiaram vários órgãos e especialistas à época e pelo menos dois livros importantes: “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi, e “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr.

O segundo registro é que, de acordo com o relatório final da CPI do Banestado, apresentado no final de 2004, o próprio Gustavo Franco foi responsável pela evasão de mais de R$ 30 bilhões entre os anos de 1996 e 2002, pois foi o criador dos mecanismos que legalizaram as contas CC5. O relator da CPI mista chegou a sugerir o indiciamento de 91 pessoas, entre elas o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Pergunta: não seria, isto sim, um típico “capitalismo de quadrilhas”?

Mais importante aqui, porém, é destacar que o artigo de Franco nos revela qual tende a ser a linha de política econômica desenvolvida pela oposição, caso se efetive a tentativa de deposição do Governo da Presidente Dilma. Trata-se de um retorno aos princípios que nortearam as políticas dos anos de 1990, de Estado Mínimo, abertura indiscriminada às importações, desnacionalização, privatizações, livre entrada e saída de capitais (especialmente os especulativos, que fizeram uma festança nos tempos de Franco no Banco Central).

Em outros artigos já publicados aqui no ABCDMaior, mostramos nossa posição contrária ao retorno destas políticas neoliberais. Defendemos a intensificação do diálogo social por meio de fóruns como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, as Câmaras Setoriais, os Arranjos Produtivos Locais-APLs. Somos favoráveis à elaboração e a execução de políticas industriais gerais e setoriais indutoras do processo de crescimento. Vemos sentido sim em medidas como conteúdo local, adensamento das cadeias produtivas, acordos internacionais, incentivos fiscais. A questão é como fazê-los de forma a melhor beneficiar o nosso desenvolvimento, e não apenas grupos individuais. Apostamos em políticas ativas de inclusão social, incorporando a população de baixa renda ao mercado interno, como a Política de Valorização do Salário Mínimo e o Bolsa Família, entre outras. Portanto, uma linha diametralmente oposta à defendida por economistas como Gustavo Franco.

Vale apontar também para o estilo arrogante do texto de Franco. Lembremo-nos que ele escreveu um livreto nos anos de 1990 que se tornou o "texto de cabeceira" do então presidente FHC. Nele, Franco pretendeu desconstruir a racionalidade e o legado dos mais de 50 anos de Políticas de Substituição de Importações (PSI), experimentadas pelo País entre 1930 e 1980, e que se constituíram na força motriz de nossa industrialização. Para Franco, as políticas protecionistas nada mais eram do que um lixo de que o Brasil precisava se libertar para avançar. O mesmo tom de escracho reaparece no artigo de novembro passado.

Para um economista de viés liberal, há várias maneiras de combater uma linha de pensamento como a que embasou a PSI. A pior das maneiras, porém, é a que fez Franco em seu referido artigo. Ele buscou, ardilosamente, distorcer os argumentos e ações e montar debates irreais no passado para, então, saltar até o presente e mostrar como "os dados provam" a verdade de um dos lados daquele debate distorcido. Para dar mais credibilidade, Franco coloca-se a si mesmo no passado no que chama de "lado errado", isto é, o dos defensores da PSI. Assim o artigo contém uma espécie de "mea culpa". A intenção do artigo é mostrar que o próprio Franco já teria flertado com o “pecado” no passado, isto é, com o protecionismo, mas que há anos mudou de lado. Para Franco, é hora agora de o País mudar de lado também e avançar para estar em consonância com o mundo moderno, especialmente dos países avançados.

Franco faz referencia à Coreia, que teria aplicado a bíblia neoliberal, cujo ensinamento original reside na fiel crença à Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo (economista do início do séc. XIX). É notável, neste sentido, a extraordinária omissão por parte de Gustavo Franco do papel da reforma agrária e do investimento pesado na Educação desde os anos 1950 na Coréia, conforme, entre outros, apontam Chris Freeman e Luc Soete, no livro “A Economia da Inovação Industrial”. Para o evangelho de Franco, tudo se resume a "Abertura ou Fechadura". Sobre a experiência da Coréia, vale a pena recuperar os trabalhos de Ha-Joon Chang, que apontam para uma interpretação muito distinta da visão superficial apontada por Gustavo Franco.

Suponhamos que de fato algum dia em sua vida Franco tenha defendido o modelo econômico que depois se esmerou tanto em demolir textualmente. Nesta hipótese implausível, teríamos o que o Professor Paulo Nogueira Batista Junior, em brilhante artigo na Folha de São Paulo, em que faz resgate histórico, chamou de “piruetas ideológicas de parte da intelectualidade”. Paulo Nogueira diz que “o pior tipo de liberal é o ex-socialista." Estas palavras poderiam servir a FHC e muitos de seus apoiadores, como seu líder no Congresso, Roberto Freire, do PPS (ex-líder comunista). Assim, seriam a atual arrogância e o apego quase religioso ao dogmatismo neoliberal espécie de exorcização de juvenis arroubos nacional-desenvolvimentistas de Gustavo Franco?

O neoliberalismo possui grande poder de persuasão, mas deve parte disso à distorção sistemática de argumentos e fatos do passado. Infelizmente, os economistas heterodoxos têm sido menos agressivos no desmascaramento desses mecanismos, muitas vezes sinuosos e escorregadios (3). Uma das tentativas nesse sentido pode ser lida no artigo de Roberto Anau, “Estado e mercado: uma resenha histórica” (disponível em http://www.espacoacademico.com.br/085/85anau.htm).

O neoliberalismo é uma ideologia, muito mais que uma teoria. Teorias, por suposição, devem ser expostas ao teste empírico (da prática) e sofrer alterações ou refutações em face desse teste. Todas as grandes crises e mudanças econômicas ensejaram mudanças de paradigmas teóricos. Da Grande Depressão emergiu a Revolução Keynesiana; da estagflação do final dos 1970 surgiram os novos clássicos e sua Teoria das Expectativas Racionais, a matriz neoliberal. Agora, estamos em uma época crítica para economistas e historiadores econômicos. Vivenciamos a maior crise mundial desde a Depressão de 1929. Sua relação com o paradigma neoliberal, de desregulamentação geral, foi testemunhada pelo próprio Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central dos EUA durante a era neoliberal, que afirmou no Senado daquele país, assim que a crise financeira eclodiu: "estamos incrédulos, em estado de choque" (BBC Brasil, 23/10/2008).

Entretanto, para nosso horror, os defensores do neoliberalismo, tão entrelaçado com as causas da crise, nada alteraram em suas análises e suas recomendações. Ao contrário, parecem estar ainda mais convencidos de que o mundo necessita "mais do mesmo". Fazem-nos relembrar Talleyrand, famoso diplomata da França pós-napoleônica do séc. XIX, quando se referiu aos Bourbons (dinastia destronada pela revolução e restaurada após a derrota de Napoleão): "Nada apreenderam, nada esqueceram". De fato, as receitas emanadas pelos centros de poder econômico e político (especialmente a chamada "troika" - FMI, Banco Mundial e Banco Central Europeu) para todos os países continuam exatamente as mesmas desde sempre defendidas estridentemente pelo neoliberalismo.

Em entrevista à Revista Carta Maior, Maria da Conceição Tavares, uma das maiores economistas do Brasil, clama: “Vivemos um colapso neoliberal sob o tacão dos ultra-neoliberais. Não estamos falando de gente normal, é preciso entender isso. Não são neoliberais comuns. (...) É a treva! Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva! E ela se espalha desagregando, corroendo”. Essas palavras de Maria da Conceição nos alertam para os riscos do retorno das ideias de Gustavo Franco, o impenitente re-escrevedor da história sob o ponto de vista do dogma neoliberal.

Não custa lembrar que foi sob o comando da equipe da qual fazia parte Gustavo Franco que o Brasil teve uma segunda "década perdida" em termos de crescimento econômico e geração de empregos. Também foi ele que manteve por longo período a valorização cambial (1994-1998) que asfixiou e matou centenas de empresas, eliminou cerca de 50% dos empregos industriais, e nos manteve reféns do capital especulativo, agora necessário para fechar o Balanço de Pagamentos, inchado pelo excesso de importações. Acabamos voltando à UTI do FMI no final de 1998, momento em que Gustavo Franco se retirou do Governo e voltou à universidade para pregar "mais do mesmo" e, não por acaso, montar, em 2000, empresa (a Rio Bravo Investimentos) para prestar serviços na área de investimentos financeiros, aquisições, fusões, securitizações. O credo ao neoliberalismo ele mantém irrestritamente até o presente, como demonstra o artigo citado.

Esperemos que, após o interregno neoliberal do ex-ministro Joaquim Levy, o Governo brasileiro adote um caminho menos destrutivo para a recuperação de nossa economia.

*Jefferson José da Conceição é professor doutor na USCS e diretor superintendente do SBCPrev; Roberto Vital Anav é professor na USCS, doutorando na UFABC e assessor da Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo da Prefeitura de São Bernardo.

Fonte: ABCDMaior
 via Vermelho

Aumentar juros seria um erro de estratégia, afirma professor da PUC-SP

O Banco Central tem dado sinais de que deve retomar a trajetória de alta na taxa básica de juros na próxima reunião do Copom, que acontece em 19 e 20 de janeiro. Para o professor de Economia da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, uma decisão nesse sentido seria uma “grande incoerência” e um “erro de estratégia”. Segundo ele, com a economia em queda e sem a pressão dos preços administrados, a inflação deve cair em 2016, abrindo espaço inclusive para baixar a Selic.


  
De acordo com o economista, há grande pressão do mercado financeiro para uma elevação da taxa de juros, que parece encontrar respaldo dentro do Banco Central. Mas subir a Selic, diz, não resolverá o problema da inflação passada e, para o professor, a inflação futura aponta para índices bem mais comportados.

“Não adianta mais olhar no retrovisor. A inflação que tivemos em 2015 é decorrente do câmbio – o real se valorizou 40%, 50% em relação ao dólar – e das tarifas públicas, como energia, combustíveis e transporte. São fatores que não se repetem, ao menos não na mesma grandeza, em 2016”, opina, prevendo que a inflação irá “se acalmar” este ano.

Ao comentar a mudança do ministro da Fazenda, Lacerda avaliou qe o novo titular da pasta, Nelson Barbosa, tem um perfil que lhe dá mais espaço para interagir não apenas com o mercado financeiro, mas com trabalhadores, empresários e diversos setores da economia.

“Costumo dizer que nem sempre o que é bom para o mercado financeiro é bom para o país. Temos uma economia bastante diversificada no Brasil. Então é importante ouvir o mercado financeiro, mas também precisamos ouvir o setor produtivo e os trabalhadores”, afirma.

Para ele, a troca no ministério não significa necessariamente uma mudança profunda na política econômica. Inclusive porque o espaço para grandes transformações no curto prazo é reduzido. Mas a alteração pode aumentar o respaldo do governo entre os vários segmentos da economia, permitindo uma reordenação, voltada para criar as bases para a retomada do crescimento.

Na entrevista, o professor criticou o rentismo predatório que vigora no país. “Se criarmos uma sociedade de rentistas, que é basicamente o que temos no Brasil, você vai estar estimulando exageradamente o ócio e a especulação financeira, em detrimento da produção, do consumo, da renda e do emprego”, alerta.

Lacerda defendeu que é preciso ter no Brasil um mercado financeiro sólido e estável, mas sem deixar que uma taxa de juros elevada e a especulação desenfreada inviabilizem as atividades produtivas. “É muito fácil esse cálculo. A taxa de juros ideal é aquela compatível com a rentabilidade que você tem nas atividades produtivas. Toda vez que você tem uma taxa de juros maior, você vai estimular a especulação”, resume.

De acordo com ele, hoje, no país, a taxa de juros real – descontada a inflação – é de cerca de 6%. Em países desenvolvidos, costuma ser igual a zero ou até negativa. Nos demais países em desenvolvimento, oscila entre zero e 1%.

“A nossa taxa é cinco, seis vezes maior. Precisamos resolver as armadilhas que nós mesmos criamos ao longo do tempo, como a indexação, que é o reajuste automático de preços, tributos, contratos. E estabelecer um mecanismo de financiamento da dívida pública que privilegie o longo prazo, para que as pessoas se sintam mais confortáveis em investir na produção”, diz.

Questionado sobre a proposta apresentada pelo PT de elevar para uma alíquota de 40% o Imposto de Renda dos mais ricos, Lacerda analisa que a medida encontraria muita resistência. Mas aponta a necessidade de uma ampla reforma que promova maior justiça tributária.

“O Brasil tem uma carga tributária que é complexa, porque é um emaranhado de impostos que se sobrepõem, e é injusta porque você tributa muito o consumo e pouco a renda. Nesse sentido, o natural seria elevar a tributação sobre a renda”, defende.

Para ele, contudo, isso tem que ser feito no bojo de uma reforma mais ampla. “Porque senão há muita resistência. A sensação que as pessoas têm principalmente devido à má qualidade dos serviços prestados pelo Estado, é de que você vai pagar mais e não ter uma contrapartida”, afirma.

Como conciliar isso? “Reduzindo o maior gasto do governo, que hoje chega a 9% do PIB, que é o gasto com pagamento dos juros da dívida; restabelecendo uma melhora no ambiente de gastos públicos de forma perene, porque corte de investimentos é um tiro no pé, que desestimula a atividade. Precisamos de uma reforma fiscal e tributária que corrija essas distorções, abrindo espaço para o crescimento”, responde.


Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Somos Todos Brasil move a nação rumo às Olimpíadas

Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 são uma conquista de toda a nação. E para promover o envolvimento e despertar o sentimento de pertencimento de mais de 200 milhões de brasileiros, o Governo Federal já deu início a uma série de ações de comunicação com o tema: Somos Todos Brasil.





#SomosTodosBrasil. via Vermelho

A tentativa de Israel de chantagear a diplomacia brasileira

Por José Carlos Ruy

Arrogância. Esta é a palavra que define melhor a atitude do governo de Tel Aviv de nomear um líder dos assentamentos ilegais na Cisjordânia e Jerusalém Oriental como embaixador no Brasil, o argentino naturalizado israelense Dani Dayan.


Dayan e Netanyahu, inimigos da paz, afrontaram os procedimentos diplomáticosDayan e Netanyahu, inimigos da paz, afrontaram os procedimentos diplomáticos
Essa nomeação procurou criar uma saia justa para nossa diplomacia pois o Brasil, a exemplo da imensa maioria das nações, e fiel às resoluções da ONU sobre a questão, nunca aceitou a incorporação ilegal de territórios palestinos por Israel. São territórios ocupados militarmente, criando dificuldades insuperáveis e cruéis para os palestinos que lá habitam, com o sistemático roubo das águas e das terras férteis das aldeias habitadas por palestinos, com o objetivo de inviabilizar a concretização da ideia, aprovada pela ONU e pela comunidade internacional, de dois estados independentes como solução para o histórico conflito na região.

O governo sionista de Israel não aceita isso, perseguindo a tese de um imaginário grande Israel que ocuparia todas as terras da região (incluindo a Faixa de Gaza), e afastaria os palestinos.

A jogada de Benjamin Netanyahu é torpe e desleal – na hipótese remota de Brasília acatar a imposição israelense e aceitar aquele embaixador que representa os colonos ilegais, a defesa brasileira dos direitos palestinos ficaria desmoralizada, comprometida pela incoerência.

A trapaça israelense foi descoberta há quatro meses quando, rompendo com toda ética do protocolo diplomático, Netanyahu divulgou, pelo tuiter, em 5 de agosto, a nomeação de Dayan como embaixador no Brasil.

Arrogância dupla, que se avizinha da má fé: primeiro, pela nomeação de um líder dos colonos ilegais. Depois, por divulgar a decisão antes de comunica-la ao governo brasileiro, à margem de qualquer prática diplomática normal e aceitável entre países soberanos e amigos. O governo de Netanyahu revelou-se não-amigo do governo brasileiro, para dizer o mínimo.

Coberto de razão pela atitude pouco amistosa dos sionistas que mandam em Tel Aviv, o governo brasileiro usou a prática normal para demonstrar sua discordância: deixou sem resposta o pedido de agrément (“aceitação”) feito por Israel. Em linguagem diplomática isso corresponde à não aceitação da manobra representada pela nomeação indesejada. Silêncio que corresponde a um sonoro não.

Em dezembro, Israel voltou à carga e passou a pressionar o governo brasileiro para aceitar a nomeação de um embaixador que, no mínimo, não cumpre a legislação internacional e rejeita resoluções da ONU, sendo um dos dirigentes da repressão e do genocídio contra os palestinos.

A vice-ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Hotovely, esbravejou ao anunciar que não será nomeado outro embaixador. Se seu nome não for aceito, disse, será criada “uma crise e é melhor não chegarmos até isso", rosnou. Ela disse também que a pressão de Israel será feita através de "ferramentas alternativas públicas", entre elas a imprensa. E também vai usar a comunidade judaica no Brasil, pessoas próximas à presidente Dilma Rousseff, além de apelos diretos do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu ao governo brasileiro.

Dayan foi presidente, entre 2007 2013, do Conselho Yesha (Conselho da Judéia e Samaria, nomes bíblicos usados pelos sionistas para designar o território ocupado da Cisjordânia). E que representa os 700 mil israelenses que vivem ilegalmente em terras roubadas na Judéia, Samaria e Jerusalém Oriental.

Dayan iniciou em dezembro uma ofensiva para forçar o governo brasileiro a ceder à chantagem. Chegou a dizer que as pressões feitas pelo governo de Netanyahu foram insuficientes! E alegou que isso abre um precedente que impedirá moradores de assentamentos de representar Israel no exterior.

Esse direitista belicoso, que pretende ser embaixador em um país amigo, tentou desqualificar as divergências como “ideológicas” e chegou a dizer o governo brasileiro não aceita sua indicação por ser “esquerdista”!

A ação pouco diplomática de Benjamin Netanyahu recebeu críticas à direita e à esquerda em seu próprio pais. O direitista Avigdor Liebermann, que foi ministro das Relações Exteriores, criticou o governante por não respeitar o protocolo diplomático que exige, antes da divulgação do nome, a consulta ao país que receberá o embaixador. Em sua opinião, Dayan seria aceito em vários países, “mas nunca no Brasil governado por Dilma Rousseff.”

Três diplomatas israelenses também manifestaram seu inconformismo ao Embaixador Henrique Sardinha, chefe da missão diplomática do Brasil em Israel. Recomendaram a ele que aconselhasse ao governo de Brasília para não acatar a faca posta por Netanyahu em seu pescoço. "Para o Brasil é um escândalo que Israel queira mandar um líder dos colonos como seu embaixador", disse um deles, sob anonimato, ao Times of Israel.

Apoiados por militantes da esquerda israelense e pelo ex-deputado do partido Meretz, Mossi Raz, disseram a representantes da embaixada brasileira e da Autoridade Palestina ser inaceitável a nomeação do representante dos colonos ilegais. “Aceitar a nomeação de Dani Dayan será o mesmo que dar legitimidade internacional à colonização (nos territórios ocupados da Cisjordânia)”.

Posição semelhante à do diplomata Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores e da Defesa do Brasil e tem grande influência na diplomacia brasileira. “Aceitar como embaixador uma pessoa que foi líder de políticas de assentamentos em Israel seria uma aceitação tácita dessa política, a qual o Brasil se opõe. Não é possível aprovar esse embaixador”, disse ele reproduzindo, com clareza diplomática, o imbróglio criado por Benjamin Netanyahu com sua tentativa inaceitável de nomear Dani Dayan.

Há indicações ambíguas sobre a saída que Israel dará ao imbróglio. A vice-ministra Tzipi Hotovely aponta para o rebaixamento da representação diplomática em Brasília, que está a cargo do segundo homem da embaixada, o ministro Lior Ben Dor desde que o titular, Reda Mansour, voltou a Israel. Há também a hipótese, divulgada pela agência noticiosa russa Sputnik, de um eventual recuo de Israel e da indicação de um novo nome. Dadas as circunstâncias, este segundo cenário exigirá atenção redobrada do governo brasileiro, ante uma provável nova armadilha.

São especulações, claro. Mas o governo da presidenta Dilma Rousseff marcou um golaço na defesa da soberania brasileira. E do exercício plenamente autônomo, como não podia deixar de ser, desde que embaixadores brasileiros não tiram mais seus sapatos em aeroportos estrangeiros (como aconteceu com Celso Lafer, chanceler de Fernando Henrique Cardoso, humilhado em aeroportos nos EUA em 2001). A diplomacia dirigida por Dilma Rousseff não cede à chantagem, em nome da soberania nacional, do respeito à legislação internacional e pela independência e autodeterminação do povo palestino.


Fonte: Vermelho

Conselhão, fórum de debates do desenvolvimento brasileiro

“Convocarei o Conselho de Desenvolvimento Social, formado por trabalhadores, empresários e ministros, para discutir propostas de reformas para o nosso sistema produtivo, especialmente no aspecto tributário, a fim de construirmos um Brasil mais eficiente e competitivo no mercado internacional” – esta talvez seja a afirmação mais promissora feita pela presidenta Dilma Rousseff no artigo que publicou em 1º de janeiro (“Um feliz 2016 para o povo brasileiro”).

Criado em maio de 2003, no início do governo Lula, o Conselhão tornou-se um fórum democrático para o debate de grandes dilemas do desenvolvimento brasileiro, onde trabalhadores, empresários e governo tratam sobre políticas que, depois, podem ser enviadas para análise e possível aprovação do Congresso Nacional.

É sobretudo um fórum de diálogo com a sociedade. A direita e seus porta-vozes torcem o nariz para ele, sendo frequentes e comuns as críticas contra o Conselhão. Elas partem de gente desacostumada ao diálogo e que, a pretexto de urgências mal definidas, prefere a imposição de medidas por governos autoritários que não consultam, não debatem, não constroem consensos entre os diversos segmentos sociais e o poder público.

A última reunião do Conselho de Desenvolvimento Social ocorreu em julho de 2014. De lá para cá a disputa política se acentuou no Brasil – houve a eleição presidencial e, em 2015, a feroz investida da direita golpista contra o mandato legítimo de Dilma Rousseff.

Prevista para fevereiro, a volta das reuniões do Conselho será um fator de fortalecimento institucional do mandato de Dilma Rousseff e da democracia brasileira.

É urgente que o Brasil volte a crescer; para isso precisa enfrentar, em sua dupla dimensão (política e econômica), a crise atual. Precisa fortalecer as políticas de investimento neste momento de grave crise econômica. Suas causas não são apenas internas à economia brasileira, ao contrário do que diz a propaganda conservadora e da direita – a crise econômica do capitalismo se agrava no mundo. Seu último desdobramento foi o afundamento das bolsas de valores chinesas, com reflexos globais. E ela atinge fortemente nosso país.

Em 2008, o Conselhão teve papel fundamental na aprovação das medidas anticíclicas que permitiram o enfrentamento da crise econômica daquele ano.

Historicamente, aliás, o Brasil cresce nos momentos de crise econômica mundial. Tem crescido exatamente por tomar medidas na contramão do liberalismo (neoliberalismo, hoje) predominante destinadas a salvar principalmente o capital financeiro dominante.

Na crise econômica atual, iniciada em 2007, o Brasil, sob os governos de Lula e de Dilma, conseguiu repetir, em certa medida, a proeza – avançou na crise, fortaleceu o emprego e combateu a pobreza.

O Conselho de Desenvolvimento Social pode repetir o mesmo êxito na medida em que se constituir num fórum que enfrente os grandes problemas do desenvolvimento, sem se render à chantagem neoliberal e do rentismo especulativo.

O Brasil precisa urgentemente baixar juros, fomentar os investimentos na produção, democratizar seu sistema tributário taxando os mais ricos e o grande capital especulativo.

Para enfrentar a crise, o Brasil precisa fortalecer a aliança produtiva entre trabalhadores, a burguesia industrial e empresários da produção, para derrotar o conluio rentista e especulativo daqueles que se locupletam com os juros que o governo é obrigado a pagar.

Esta discussão precisa ser feita com a sociedade – e o fórum mais adequado para ela é o Conselhão, sem desprezar outros instrumentos de diálogo, em especial com os movimentos sociais. Nele se reúnem representantes da sociedade civil organizada capazes de fazer repercutir as decisões lá tomadas e organizar o apoio social a elas.




Fonte: Vermelho

Jabbour: China vive transição em modelo de desenvolvimento

Dados divulgados na segunda (4) apontam que a atividade industrial da China encolheu pelo décimo mês seguido em dezembro. A notícia frustrou expectativas de analistas, causou tensão no mercado financeiro e reacendeu o debate sobre os impactos da desaceleração do crescimento da segunda maior economia do mundo.


  
Segundo o professor de Economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Elias Jabbour, além de sofrer as consequências da desaceleração da economia internacional, o gigante asiático vivencia o esgotamento de uma dinâmica de crescimento muito pautada nos investimentos e nas exportações.

O país - que passou as últimas décadas comprando commodities de países como o Brasil e exportando produtos industrializados - agora tem o desafio de transitar dessa dinâmica para outra, que privilegia o consumo interno. Especialista em China, Jabbour avalia que este será um processo longo, amparado por uma decisão política.

Ao comparar a postura da China diante da crise com a de outros países, o professor destaca que o país asiático tem sob controle do Estado todos os mecanismos necessários à elevação da demanda. “Seu sistema financeiro é estatizado, suas grandes empresas agem em combinação com os interesses do Estado. Ao contrário de muitos países europeus e dos EUA, onde o problema crônico de demanda é aprofundado pela manutenção no poder dos mesmos que criaram a crise global”, aponta.

Depois de colecionar taxas anuais de crescimento em torno de 10% durante as últimas décadas, a China deverá crescer 6,9% em 2015, segundo relatório de pesquisadores do banco central chinês (PBoC), publicado no mês passado. Questionado se é possível ao país retomar a crescimento de dois dígitos, Jabbour responde que não.

“Crescimento de dois dígitos somente em países muito pobres, onde pouco capital é suficiente para aumentar geometricamente a produtividade do trabalho. A China já passou deste estágio. A manutenção de um patamar de 6% a 7% nos próximos anos já é algo de bom tamanho”, diz.

Os impactos do crescimento mais lento da China afetam especialmente países periféricos, que dependem do mercado chinês para absorver a venda de matérias-primas. A China é hoje o maior parceiro comercial brasileiro e a desaceleração daquele país é apontada como uma das causas das dificuldades atuais na economia do Brasil.

De acordo com Jabbour, o Brasil hoje está “vulnerável às turbulências não somente chinesas, mas também da política de juros interna dos EUA”. Para ele, contudo, poderia ser pior. “Ao menos acumulamos reservas cambiais nos últimos anos”, salienta.

O professor defende que, para se proteger da redução no ritmo de crescimento chinês, o país precisa “resolver o problema político, acelerar os acordos de leniência e as concessões das infraestruturas, baixar os juros e manter a taxa de câmbio no mesmo patamar que o atual”. Mesmo assim, adverte, trata-se de atacar “somente os sintomas, não a doença”.

Para ele, “o nível do debate econômico brasileiro nunca esteve tão baixo”. Enquanto, a partir da escolha pela “estabilidade econômica”, se discute câmbio e juros, Jabbour avalia que o centro da questão deveria ser outro.

“Um país com metas de inflação anuais e abertura da conta de capitais não tem muita margem de manobra. Ou se colocam esses reais problemas em debate ou continuaremos dependendo de outro boom das commodities que, infelizmente, nunca mais ocorrerá”, opina.

Em relação ao Brics, o professor mostra-se otimista. Avalia que o atual momento econômico da China terá pouco efeito sobre o bloco. E defende a relevância do Banco do Brics. “Diante da chantagem aberta da grande finança internacional, aprofundada com a última capa da revista The Economist, empresas como a Petrobras devem olhar com mais atenção as oportunidades abertas por este banco”, sugere, referindo-se à edição da revista que tece críticas ao atual cenário brasileiro.

Leia abaixo a íntegra da entrevista, concedida ao Portal Vermelho por e-mail, nesta terça (5):

Portal Vermelho: O que tem levado a economia chinesa à desaceleração? 
Elias Jabbour: Trata-se de um quase esgotamento de uma dinâmica de crescimento muito pautada nos investimentos e nas exportações. O desafio deles é transitar desta dinâmica a outra onde o peso do fator consumo seja maior, essa é a preocupação essencial que o 13º Plano Quinquenal deve dar respostas. Evidente que a desaceleração da economia internacional também afeta o ritmo de crescimento, e a entrada do país neste jogo da “grande finança global” enseja instabilidades a serem enfrentadas e bem enfrentadas até aqui, diga-se de passagem.

O que a China está fazendo para se recuperar e neutralizar riscos?
Certamente os mecanismos de controle sobre seu mercado de capitais deverão passar por aperfeiçoamentos. Esse é um ponto interessante diante do sobe e desce das bolsas de Xangai e Shenzen. Reformas como as ocorridas no sistema financeiro chinês em 1994, 1997 e 1999 quando o governo absorveu uma montanha de “créditos podres” e preparou o sistema bancário à abertura de seus capitais deverão ocorrer de novo no momento. O alvo deverá ser tanto o sistema financeiro “sombra”, que se alastrou nos últimos anos, quanto o que me referi mais acima sobre os mecanismos de controle de operações de seu mercado de capitais. O consumo deverá ser estimulado, como já vem ocorrendo. O problema é a transferência de recursos do investimento ao consumo. Esse será um processo longo, um verdadeiro drama. Ainda mais quando o país precisa lançar mão de mais pacotes de investimentos para segurar a demanda e manter alto o nível da capacidade produtiva instalada.

Quais as diferenças entre as bolsas chinesas e as ocidentais?
O próprio Estado é acionista na China. O próprio Estado controla a hora que começa e a hora que termina um pregão. Tem instrumentos de contenção de bolhas e tem uma dívida pública baixa em relação ao nível internacional, proporcionando maior capacidade de absorção de dívidas, por exemplo.

Que avaliação você faz da estratégia chinesa de se voltar mais para o mercado interno? 
É um estágio de desenvolvimento amparado por uma decisão política. Ao mercado interno já estão voltados há certo tempo, desde o lançamento do Programa de Desenvolvimento do Oeste em 1999. O problema hoje não é uma “volta ao mercado interno”. E sim de transitar de uma dinâmica de desenvolvimento a outra, cujo sucesso encetará a própria capacidade de governança do Partido Comunista da China. É um processo tão duro quanto a própria implantação do próprio programa de reformas de 1978.

Que comparação podemos fazer em relação à postura de outros países diante da crise?
A China tem sob controle do Estado todos os mecanismos necessários à elevação da demanda. Seu sistema financeiro é estatizado, suas grandes empresas agem em combinação com os interesses do Estado. Ao contrário de muitos países europeus e dos EUA, onde o problema crônico de demanda é aprofundado pela manutenção no poder dos mesmos que criaram a crise global. É o que tenho dito, “na Europa e nos Estados Unidos a preferência pela liquidez é uma instituição política, enquanto que na China o governo age em função da demanda efetiva”.

Que impactos a desaceleração da China tem sobre a economia global e, em especial, sobre os países emergentes como o Brasil?

O impacto é diferenciado para cada caso. Países com estrutura industrial pronta, sofrem menos. Países periféricos que dependem do mercado chinês para soja, minério de ferro, petróleo, etc , tendem a sofrer mais. A atual taxa de câmbio praticada no Brasil é boa neste aspecto, sem dúvidas.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil hoje. O país está muito dependente do gigante asiático? Está mais vulnerável às turbulências chinesas?
Evidente que o Brasil é vulnerável às turbulências não somente chinesas, mas também da política de juros interna dos EUA. Ao menos acumulamos reservas cambiais nos últimos anos. Poderia ser pior.

O que o Brasil pode fazer para se proteger da desaceleração chinesa?
É muita coisa. Resolver o problema político é essencial, acelerar os acordos de leniência e as concessões das infraestruturas, baixar os juros e manter a taxa de câmbio no mesmo patamar que o atual. Mas mesmo assim estaremos atacando somente os sintomas, não a doença. E viramos experts em atacar somente sintomas, convenhamos. O nível do debate econômico brasileiro nunca esteve tão baixo. A ortodoxia e a heterodoxia (desde a década de 1950, lembremos) se engalfinham para discutir duas coisas: juros e câmbio. Não se discute a funcionalidade destes dois preços da economia a partir do momento em que o país fez – em alto e bom som – uma escolha estratégica (na década de 1990) pela “estabilidade monetária”, onde quase todos concordaram, inclusive no campo progressista. Eu pessoalmente não quero discutir juros e câmbio. Quero discutir o próprio Plano Real e a política de metas de inflação. Um país com metas de inflação anuais e abertura da conta de capitais não tem muita margem de manobra. Ou se colocam esses reais problemas em debate ou continuaremos dependendo de outro boom das commodities que, infelizmente, nunca mais ocorrerá.

Que prejuízos uma redução do crescimento chinês pode acarretar para o Brics? Iniciativas como o Novo Banco do Desenvolvimento podem ser afetadas?
Do ponto de vista estratégico, há pouco prejuízo. Os países precisam se preparar internamente às fases mais recessivas do ciclo econômico e da queda do preço de commodities. Só gente louca e despreparada para acreditar que os termos de troca aos países periféricos em relação à demanda chinesa iriam durar para sempre. Existem arranjos e rearranjos cíclicos a serem feitos em concordância com o ambiente externo. É só ter gente interessada em estudar um pouco de teoria dos ciclos e estatística. Sobre o Novo Banco de Desenvolvimento, não haverá nenhum impacto. Ao contrário, uma grande oportunidade de financiamento de grandes obras, como aqui no Brasil. Não somente isso. Diante da chantagem aberta da grande finança internacional, aprofundada com a última capa da revistaThe Economist, empresas como a Petrobras devem olhar com mais atenção às oportunidades abertas por este banco.

Você acredita que a China possa voltar a crescer como no passado?
Não, impossível. Crescimento de dois dígitos somente em países muito pobres, onde pouco capital é suficiente para aumentar geometricamente a produtividade do trabalho. A China já passou deste estágio. A manutenção de um patamar de 6% a 7% nos próximos anos já é algo de bom tamanho.


Por Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho

Movimentos sociais estão otimistas com a retomada do crescimento

Iniciativas como a retomada de um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que poderá ser anunciada ainda este mês, e a Medida Provisória sobre o acordo de leniência, assinada no final de 2015, configuram uma agenda positiva para o Brasil rumo à retomada do crescimento. A opinião é do presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) Adilson Araújo.

Por Railídia Carvalho


CTB
Adilson Araújo com a presidenta Dilma RousseffAdilson Araújo com a presidenta Dilma Rousseff
O dirigente da CTB observou que ambas as medidas fazem parte do documento “Compromisso pelo Desenvolvimento”, iniciativa das centrais de trabalhadores e das entidades patronais, que começou a ser construída em novembro de 2015, para superar a crise econômica e os impactos sociais provocados no país, como os altos índices de desemprego.
“O governo encerra o ano de 2015 e começa 2016 com agendas importantes para destravar setores da economia prejudicados pela Operação Lava Jato e retomando o investimento em infraestrutura. São medidas emergenciais sugeridas pelo ‘Compromisso pelo Desenvolvimento’, que se negou a aceitar passivamente que este ano estaria perdido. A presidenta tem respondido positivamente a este compromisso”, ressaltou Adilson.
Após encontro realizado em dezembro com trabalhadores e empregadores, a presidenta Dilma Rousseff assinou medida provisória que institui o acordo de leniência. Segundo esta medida, empresas investigadas pela Operação Lava Jato que colaborarem com a Polícia Federal e o Ministério Público poderão voltar a contratar com o poder público.
Infraestrutura
De acordo com reportagens divulgadas nesta segunda (4), fontes da Presidência informaram que Dilma deve consultar movimentos e parlamentares aliados para anunciar um pacote de medidas pela retomada do crescimento com atenção para o investimento em infraestrutura. Entre as políticas beneficiadas estaria a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida.
“O governo precisa ter fôlego para sair da crise. Esse movimento é importante para pautar o debate na sociedade, que está contaminada pelo discurso do ódio”, disse Adilson.
Segundo ele também é necessário a alteração da política macroeconômica do governo. “A mudança deve também reduzir a taxa de juros, promover a liberação dos créditos. Sem confiança o empresário não vai investir para gerar emprego”, completou o sindicalista.
Adilson lembrou também que 2016 será um ano sem descanso. “Ainda estamos no meio de uma longa crise econômica mundial que se abate sobre o Brasil. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) lembrou que em 2016 teremos mais desemprego em todo o mundo que em 2015. Por isso será um ano de luta permanente, sem descanso”, finalizou.
Prioridade
A presidenta da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conan), Bartíria Costa, disse que o movimento de luta por moradia está na expectativa de que neste início de ano possa haver algum anúncio da retomada do Minha Casa, Minha Vida 3.
Segundo Bartíria, em reunião realizada no segundo semestre de 2015 entre os movimentos e a presidenta, Dilma disse que o projeto deveria ser tratado com muito cuidado para não ser prejudicado pela crise e que se trata de um dos projetos fundamentais do governo dela.
“A possibilidade da retomada agora é uma boa notícia para o movimento. Estamos buscando consolidar as conquistas e aprimorar o projeto que ainda é pequeno para a grande demanda que temos”, avaliou Bartíria.


Do Portal Vermelho