terça-feira, 10 de março de 2015

Chico Caruso: quando um artista vende sua alma à política do ódio

  

A trajetória de Chico Caruso tem passagens pelos jornais Opinião e Movimento, ambos com relevantes serviços prestados à luta contra a ditadura. Caruso era um jovem e talentoso cartunista. Passa o tempo e em 1984 é contratado pelo jornal O Globo. Pouco a pouco, em um lento processo de degenerescência, Caruso foi incorporando toda a carga de ódio que o sistema Globo alimenta contra a democracia e a esquerda. 


Durante o processo da Ação Penal 470, que a mídia hegemônica apelidou de mensalão, o cartunista já revelava a adesão total à linha editorial dos patrões, unilateral e injusta. A história está cheia de exemplos de talentosos artistas conservadores e até reacionários. Mas, em geral, são pessoas que formaram determinadas concepções e as mantiveram ou, em alguns casos, mudaram ao longo da vida, como Raquel de Queiroz, ex-militante comunista que tornou-se defensora do golpe militar. O problema não é que Caruso tenha mudado. O problema é que Caruso apodreceu. A impressão que dá é que ele não mudou ou foi ganho por uma “causa”, mas simplesmente deixou-se decompor, acostumado aos mimos e regalias de ser um festejado homem de confiança da Globo, e isso comprometeu sua “alma” de artista. Bertold Brecht dizia que “a verdade é guerreira, não combate só a mentira, mas certos homens bem determinados que a propagam”. Caruso passou a ser propagador das mentiras. Sua charge do dia 8 de março (acima) é inqualificável. Não importa aí (e Lênin já ensinava isso) qual a intenção do Chico Caruso e sim quais as consequências do seu ato.

Chico Caruso: quando um artista vende sua alma à política do ódio II

Alguém pode alegar que ele queria mostrar a Dilma em uma situação onde ela seria refém. Nada disso. O que o cartunista fez, intencionalmente ou não, foi jogar lenha na fogueira do ódio cego contra a presidenta recém reeleita. A charge deve estar enfeitando neste momento o quarto de muito neonazista seguidor de Bolsonaros e Olavos de Carvalho. As dondocas devem rir à larga exibindo a charge para as empregadas: “olha o que vai acontecer com a sua candidata”. Caruso com certeza ganha muito com isso. Nas festas em que atua como humorista da corte global, provavelmente vão até deixá-lo entrar pela porta da frente e não mais pela de serviço e quem sabe, será tratado com carinhosa intimidade pelos super-ricos patrões da famiglia Marinho. Como bem escreveu no próprio dia 8 o jornalista Paulo Nogueira, no DCM: “como chargista sua carreira como alguém digno de algum respeito terminou hoje”. É verdade, como é mesmo aquela frase de um escritor conservador irlandês, cujo nome no momento me escapa: “não se pode esperar de um animal castrado que ele seja fecundo”.

O panelaço do ódio

Manchetes de O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira (09): “Na TV, Dilma defende ajuste; nas ruas, panelaço”, “Fala de Dilma na TV gera panelaço em 12 capitais”, “Dilma vai à TV defender ajuste e fala é recebida com panelaço”. Pelas manchetes parece que o Brasil inteiro fez um ensurdecedor panelaço durante a fala da presidenta. Experimente caro leitor, no entanto, fazer como fizemos na Redação do Portal Vermelho e saia perguntando para seus amigos se houve panelaço em sua rua. Será muito difícil encontrar alguém que diga que sim. O panelaço, amplamente convocado pelas redes e com pessoas estrategicamente espalhadas para propagá-lo, aconteceu de fato mas limitou-se a certos bairros burgueses e de classe média alta de algumas cidades. O fotógrafo Alexandre Freitas Simões, do Rio de Janeiro, pergunta em seu twiter: “PANELAÇO??? Onde aconteceu?? Em Maria da Graça, Méier, Tijuca, Maracanã não aconteceu nada, nadinha.....”.

O panelaço do ódio II

Segundo umas das “líderes” do panelaço, ouvida pela Folha de S. Paulo, “trabalhamos muito para viralizar a convocação para o protesto”. O jornalista Altamiro Borges relata em seu Blog: “A jornalista Barbara Gancia, que participa de um programa da GloboNews e não pode ser acusada de governista, ficou impressionada com a reação de alguns bairros ‘nobres’ de São Paulo. Na sua conta no Twitter, ela registrou: ‘Barulho de bate panela e vaia ensurdecedores no Itaim Bibi. Discurso de Dilma estará sendo recebido com o mesmo 'entusiasmo' no Itaim Paulista [periferia]?’. De imediato, vários de seus seguidores descreveram a situação dos seus locais de moradia, o que confirma que as vaias, panelaços e apitaços foram ‘classistas’, da elite alienada e hidrófoba da capital paulista: Marco Barretto postou: ‘Aqui nos Jardins foi o maior barulho!’. Mari Andrade relatou: ‘Morumbi fez barulho’. E Luciana Vozza acrescentou: ‘Acabei de ver um vídeo de Moema. Muitos gritos. Aqui em Pinheiros, divisa com Vila Madalena, começando barulhinhos’. Já Marcos Alves, da região operária do ABC paulista, brincou: ‘Em Santo André só barulho da chuva, que delícia’. Rovilson de Freitas também deu seu relato da periferia. ‘Pirituba, silêncio...’. Ju Oliveira completou: ‘O bom de morar na perifa é isso. Não ouço nada’. E outro internauta ainda deu uma alfinetada nos tucanos aloprados: ‘Aqui tá normal! Mas avisa o povo para não suar muito porque não tem água para tomar banho’.”

O Panelaço do ódio III

Este pacato redator estava em um bar da Vila Madalena, São Paulo, tomando um modesto chope em comemoração pela retumbante vitória do Vasco sobre a poderosa equipe do Bonsucesso, quando apareceu nas tvs do estabelecimento a imagem da presidenta em seu pronunciamento. Como tinha som ambiente alto, pouca gente de fato ouviu, só quem estava perto, mas em nenhum momento houve qualquer gesto de hostilidade. Se o panelaço não chama atenção pela extensão, é evidentemente preocupante o ódio cada vez mais virulento de uma elite totalmente despreparada para o debate. O publicitário e blogueiro Carlos Maia estava em sua residência, no bairro de classe média de Boa Vista, Curitiba e relata que começou a ouvir barulhos que a princípio, atribuiu a latidos de cães: “percebi que os uivos e grunhidos que vinham de fora eram do sobrado (de rico) de meu vizinho. Aos berros, e gritando coisas como; ‘vagabunda, puta, escrota, vai para Cuba’ (e demais palavras desconexas que não consegui decifrar)”. Carlos Maia, militante do PCdoB, resolveu também dirigir algumas palavrascarinhosas para o vizinho que, certamente sem esperar por esta reação, bateu em retirada. Este pequeno caso encerra valiosa lição: tudo que não se pode demonstrar diante do fascismo é medo. Como disse o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, “a tarefa é ocupar as ruas, pois a contraofensiva somente será vitoriosa se o campo democrático e popular for vitorioso também na batalha das ruas”.

Para descontrair
A jornalista Mariana Serafini enviou esta foto com uma pequena cédula de propaganda do jornalista Aparício Torelly, o Barão de Itararé, então candidato a vereador do Rio de Janeiro em 1947. Seu slogan de campanha era: "Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!". Foi eleito junto com outros 17 vereadores comunistas. Certa vez foi interpelado da tribuna pelo vereador Carlos Lacerda que acusava o Barão de Itararé de estar atacando a sua honra pessoal. O Barão respondeu: “fique tranquilo vereador, tenho certeza de que você faz na vida pública, a mesma coisa que faz na privada”.


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