Nos primeiros 50 dias deste ano, 1.702 ocorrências de casos de
violência contra a mulher foram registradas nas duas unidades da
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) na capital, nos
bairros de Brotas e Periperi (subúrbio ferroviário) - média de 21 casos
por dia.
O dado equivale a 16,4% do total de 10.352 casos computados nas
especializadas em todo o ano passado. O número de queixas em 2012
cresceu 2,8%, quando comparado às 10.064 denúncias de violência
doméstica contabilizadas no ano anterior.
Coordenadora-executiva do Fórum Nacional de Mulheres Negras e membro da
União Brasileira de Mulheres, a militante Ubiraci Sodré avalia os dados
como "inconcebíveis, em pleno século XXI". Para ela, "são números
altos, que ainda não refletem a realidade, se consideradas as
subnotificações".
Ameaças, lesões corporais e agressões morais figuram no topo das
violências cometidas pelos algozes das mulheres, que, na maioria das
vezes, dividem o mesmo teto com as vítimas, a exemplo de maridos,
companheiros, pais, irmãos e namorados.
"As vítimas são, na maioria, mulheres com baixa escolaridade, sobretudo
negras, que não desenvolveram a percepção de denunciar esses crimes",
ela acrescenta.
Mudanças - Na avaliação da titular da Deam-Brotas,
delegada Heleneci Souza, a alta procura das mulheres às especializadas
ocorre por conta das mudanças de atitude das vítimas.
"Elas passaram a ter coragem para denunciar por conhecerem seus
direitos. Mesmo aquelas com pouco poder aquisitivo, que são as que mais
procuram a unidade, porque o primeiro apoio que têm vem da polícia",
diz.
Independência financeira e ascensão social da mulher, ciúmes e
possessividade são alguns dos motivos apresentados pelas vítimas no
momento de registrar as queixas nas delegacias.
"As mulheres vêm à unidade, mas nem sempre é fácil denunciar o agressor
para prosseguir com a apuração policial contra, por exemplo, o pai dos
próprios filhos", explica a titular da Deam-Periperi, Olveranda
Oliveira, sobre as dificuldades de a queixa virar processo judicial.
Vítima - Janete Santana, 44 anos, aos 18 iniciou
relacionamento marcado por brigas. Foi agredida e ameaçada de morte por
longo tempo. "Ele ia a festas e se relacionava com todas, mas não
permitia que eu saísse de casa", lembrou.
Janete nunca pensou em se calar. Enfrentou o ex-parceiro por 19 anos,
até ser orientada a procurar o Centro Loreta Valadares, órgão municipal
de acolhimento a mulheres. "Só lá me livrei das ameaças e tive
acompanhamento psicológico", recordou.
Diferentemente de outras vítimas da violência doméstica, Janete não tem
vergonha de se identificar. Pelo contrário, quer que a história dela
seja compartilhada para que mais e mais mulheres vençam o medo e
denunciem.
Fonte: Jornal A Tarde
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