quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Penélope Toledo: Minha Seleção é o meu clube


  
Lembro-me que quando era criança e fiquei acordada até tarde para ver o jogo do Brasil, mas só vi até o Neto ser substituído. Depois, fui dormir. Sem o jogador do meu time, a partida não me interessava. Eu nem sabia, mas estava me somando à legião dos/as torcedores/as que torcem pelo seu clube, não pela Seleção.

Clube: o primeiro amor


É compreensível, pois a relação com o clube é cotidiana, enquanto a Seleção a gente vê em intervalos espaçados de tempo. Do clube a gente sabe de cor a escalação, usa a camisa do mesmo jogador a temporada inteira, vibra e sofre duas vezes por semana, tem notícias diárias na mídia. Ou seja, o clube é parte da nossa vida.

Assim, torcer para mais alguém soa como uma traição. “Só visto a camisa do meu time”, dizem alguns/as torcedores/as. É um pacto de fidelidade.

Sem falar na indignação de ter jogador convocado às vésperas de partidas importantes e/ou de momentos decisivos do campeonato. Nas 9ª e 10ª rodadas das Eliminatórias, quatro clubes que disputavam o título ou vaga na Libertadores foram desfalcados. Agora, na 11ª, Tite tomou cuidado.

Identificação com a Seleção 


Dicotomicamente, ter poucos jogadores que atuam no país torna mais difícil a identificação com a Seleção. Do time que bateu os argentinos, eram 18 “estrangeiros”. Na Copa, foram 19 e só 4 “brasileiros”, sendo um, o Fred, que fez carreira fora do país.

Em 2014, Pelé sugeriu que o Corinthians servisse como base da Seleção Brasileira, devido ao entrosamento. Gerou polêmica. Mas isto já aconteceu. A Sele-Inter, com 11 titulares do Internacional convocados, trouxe a prata nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. Botafogo e São Paulo também já formaram a base.

Também já houve momentos em que clubes representaram o país. O primeiro foi o Palmeiras, que vestiu a “Amarelinha” e goleou o Uruguai na inauguração do Mineirão, em 1965. Corinthians (1965) e Atlético-MG (1968) são outros que já foram o Brasil.

Seleção x Brasil

Paixão ao clube e excesso de estrangeiros os/as argentinos também têm, portanto, não é só isto. Falta a associação entre as simbologias e o país. Durante a execução do hino nacional nos campeonatos estaduais, os/as torcedores/as entoam o hino de seu clube em um claro recado de que é ali que se sentem de fato brasileiros/as.

Ninguém pode acusar o nosso povo de não ser patriota. Após o golpe, está claro que muitos/as brasileiros/as estão dispostos a lutar pelo Brasil com a mesma paixão com que defendem seus clubes. Mas também está claro que não é pelo Brasil da CBF, impopular, sobretudo quando a camisa verde-e-amarela se torna símbolo de quem está contra o povo.

Não é que a gente torça contra a Seleção brasileira. É só que ela não desperta a nossa brasilidade, que por sinal, é forte e genuína. 


 *Penélope Toledo  é comunista, jornalista com passagem pelo jornal Lance!
Fonte: Vermelho

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