sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Valdir, do MST: "Sonhamos construir uma sociedade com justiça social"


Fonte: MST
 José Valdir ao ser libertado do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. José Valdir ao ser libertado do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
Um dos presos político do MST em Goiás, José Valdir Misnerovicz, foi solto na noite de quarta-feira (19), após 139 dias encarcerado no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Permanecem presos Luiz Batista Borges e Lázaro Pereira da Luz.

Valdir foi solto após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir, por unanimidade, que não havia justificativa técnico-jurídica para a manutenção da prisão durante o trâmite do processo, rejeitando o enquadramento de movimentos populares na lei de organização criminosa.

Ao sair da prisão, o militante da Reforma Agrária concedeu uma entrevista à Mídia Ninja e afirmou que nesse período de cárcere, em nenhum momento ele – e estendeu essa análise aos companheiros Luiz e Lázaro – se viu como indivíduo.

“Somos mulheres e homens que sonham em construir uma sociedade com justiça social e não tem como fazer isso sem mexer com a estrutura fundiária. Nossa causa é coletiva e não é só do interesse dos camponeses, mas do conjunto da sociedade”, declarou Valdir.

Valdir continuou e comentou que quando alguém faz essa opção de vida tem de estar preparado para tudo, inclusive para a prisão, que é funcional para o sistema vigente.

“A prisão não é lugar de gente. Muito menos de militante que quer, nada mais, nada menos, construir uma sociedade justa. Saio daqui de cabeça erguida. Sou muito grato ao apoio e à solidariedade que recebi. Foram fundamentais nesses meses de prisão”, ressaltou.

O dirigente do MST afirmou ainda que sai da prisão com suas convicções muito mais fortalecidas do que quando entrou. “Podem até prender um e outro. Mas nunca a causa, que é coletiva. Saio cheio de coragem e energia para seguir lutando”, concluiu.

Lentidão

O STJ decidiu pela libertação do Valdir por volta das 15h30 de terça-feira (18) e este só foi solto por volta das 22 horas de quarta (19).

Conforme o advogado Allan Hahnemann, existe uma resolução editada em 2010 que determina que o juiz responsável pela prisão é quem deve emitir o alvará de soltura. Só na quarta-feira (19), o STJ enviou para o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) o malote digital. O juiz foi abrir o malote apenas às 11 horas do mesmo dia.

“Não creio que essa lentidão tenha motivação política. A demora tem a ver com o fato do sistema criminal estar abarrotado”, avaliou o advogado.

Sobre medidas cautelares - deveres do Valdir na liberdade condicional -, Allan disse que o juiz impôs que ele não pode se envolver em atos políticos, da militância ou participar de manifestações. Também não pode ter contato nenhuma das vítimas e testemunhas do processo.

O advogado afirmou que será impetrado um habeas corpus a favor de Luiz Batista no Superior Tribuna Federal (STF) tão logo a decisão do STJ seja publicada.

“Esse acórdão do STJ deve demorar não mais que uma semana, uma quinzena. Para garantir a soltura do Luiz e a expedição do contramandado de prisão de Natalino de Jesus e Diessyka Lorena Santana. Estamos estudando a possibilidade de entrar com novo HC no TJ-GO para o Luiz”, adiantou Allan.

Laboratório

Allan Hahnemann ressaltou a importância desta vitória, dentro de uma conjuntura extremamente punitivista.

“É evidente que o caso de Santa Helena está sendo tratado como um laboratório seletivo da repressão penal. Assim, a gente crê que foi uma vitória muito grande soltar o Valdir, um defensor de direitos humanos”, ressaltou.

Os ministros do STJ ressaltaram que participar de movimento social não é crime, ser do MST não é prática criminosa e que os movimentos sociais são importantes para o Brasil. “Por outro lado, os ministros, ressaltaram a violência descrita nos fatos, o que é uma parte criticável do julgamento. Reproduziram a fala punitivista do delegado, do promotor, do juiz da comarca de Santa Helena de Goiás”, analisou o advogado.

Vitória parcial


Para o frei José Fernandes Alves, da Comissão Dominicana Justiça e Paz, trata-se de vitória parcial. “Há dois elementos excelentes - um é a fala do STJ de que os movimentos sociais prestam grande contribuição para a construção da democracia. O segundo é o Valdir na rua, mesmo sendo com medidas cautelares”, analisou.

“Quanto à prisão e o exílio dos demais companheiros eu penso que - peço licença a eles e às suas famílias -, têm elementos positivos: a rearticulação de várias entidades em beneficio da causa. Nossa campanha pela libertação deles ganhou um alcance nacional e internacional por serem eles quem eles são. Essa direitização da sociedade, inclusive expressa e fortalecida pelo resultado das urnas há menos de um mês, vem mostrar, eu lamento dizer, que tempos piores virão”, avaliou o frei José.

O religioso destacou que uma vez solto, Valdir tem de o ser o principal protagonista dessa campanha de libertação dos presos políticos.

“Ele está condicionalmente na rua, mas outros companheiros estão ainda atrás das grades e a causa é muito maior do que a libertação individual deste. A causa é a democratização da terra, dessa mídia poderosa e concentradora e dos poderes”.


Saiba mais sobre a Campanha Nacional e Internacional de Liberdade dos presos da Reforma Agrária do estado de Goiás
 

 Fonte: Portal do MST (Colaborou de Lizely Borges)

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