Militante da causa LGBT há 33 anos, Toni Reis viu um mundo em transformação. Em 1990, a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Recentemente, celebrou-se o direito à união estável e à adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Para ele, a LGBTFobia é a resposta conservadora a um novo comportamento social que não se enquadra mais no armário. Por Laís Gouveia
“A primeira inclusão é a saída da população LGBT do armário, estamos em campo, por isso esse ataque. Se não tivéssemos assumido a causa, não estaríamos sendo atacados dessa forma. A imagem do fundamentalismo religioso e da direita raivosa, é reflexo de conquistas sociais. Não tínhamos nem uma parada LGBT em 1995 e hoje são 200. Eram cinco ONGs que se multiplicaram para 450, além dos 70 grupos universitários que estudam a questão LGBT. Temos produção, discussão, 17 partidos políticos com núcleos LGBT´S. Na idade média éramos queimados na fogueira e, até 1990, tratados como doentes. Nesse contexto, há avanços históricos”, afirma.
Toni Reis, seu companheiro David Harrad com que é casado há 28 anos, e os três filhos de 11, 7 e 4 anos.
“Temer tem alianças com Bolsonaro”
Ele considera que o golpe de estado, orquestrado por setores da direita, será nocivo à população LGBT. “O grupo responsável pelo impeachment, liderado pelo presidente interino Michel Temer, reuniu-se com o pastor Malafaia, com a frente fundamentalista. Existem acordos subterrâneos para sancionar o estatuto da família, configurando um grande retrocesso. No governo da presidenta Dilma Rousseff, mesmo com parcerias com setores conservadores, a equipe dela era mais aberta ao diálogo e aos avanços”, considera Toni.
À respeito dos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, Toni avalia que, o mais nocivo aos direitos LGBT, se configura no Estatuto da Família, pois pretende definir como heterossexual a única forma válida de união. “Não queremos uma família patriarcal e machista, mas sim que respeita os negros, as mulheres. As pessoas precisam viver bem e com quem elas amam. Querem fazer famílias hipócritas? A vida é para ser vivida, isso não é um teatro”, enfatiza.
“Ideologia de gênero não é a degradação da família”
Toni denuncia a propaganda da “ideologia de gênero” veinculado por grupos religiosos e partidos conservadores, afirmando que, o debate sobre gênero nas escolas, não é a indução à pedofilia e a sexualização precoce, como esses grupos reproduzem. “Eu não conheço nenhum gay, nenhuma lésbica que bate na casa das pessoas com um livro debaixo dos braços, pregando ideologia de gênero e destruindo famílias, isso não existe. O que nós queremos é equidade, justiça e igualdade de direitos, há inclusive um consenso com os setores educacionais neste sentido”.
“É preciso parar de pregar para convertidos”
Quando questionado sobre os mecanismos de enfrentamento à LGBTFobia, Toni disse ser necessária a amplitude para a conscientização. “É preciso parar de pregar para convertidos, vamos dialogar com todos os setores, nas universidades, com os partidos abertos ao debate e mostrar quais são as nossas pautas, abrindo o nosso leque de aliados. O movimento LGBT é muito representativo nas grandes capitais, precisamos aumentar a participação nas pequenas cidades, aumentando a nossa inserção”, conclui.
Ouça a íntegra da entrevista com Toni Reis:
Toni
Do Portal Vermelho
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