quinta-feira, 19 de maio de 2016

Representante do financismo, equipe econômica tem foco no ajuste


  
A presença do economista-chefe do Itaú Unibanco e também sócio da instituição financeira, Ilan Goldfajn, no comando do Banco Central é quase como colocar a raposa para cuidar do galinheiro. A própria escolha de Henrique Meirelles, célebre representante da banca internacional, para o Ministério da Fazenda já sinalizava todas as deferências ao mercado financeiro.

E, se havia críticas de que a gestão de Joaquim Levy só falava em cortes, inúmeras já são as declarações do atual governo de que o foco será o ajuste fiscal e a busca incessante de superávits para pagar juros da dívida, doa a quem doer – e, nesse caso, doerá no trabalhador.
Emprego e valorização do salário como algozes

Goldfajn escreveu, em 2013, um controverso artigo, no qual defendia o aumento do desemprego para conter a inflação. “É necessário produzir a um custo menor (mais produtividade) para crescer sem pressionar a inflação. (...) O mercado de trabalho aquecido tem gerado aumentos de salários que, repassados aos preços, têm gerado resistência à queda da inflação”, opinou.

“Não está claro se há consciência na sociedade de que, para manter a inflação sob controle, possa ser necessário temporariamente reduzir o consumo e desaquecer o mercado de trabalho”, completava o economista. Goldfajn foi diretor do BC na gestão do guru dos tucanos, Armínio Fraga, que rejeitou convite para ser ministro da Fazenda de Temer.

O novo presidente do BC, cargo responsável por coordenar a política monetária e cambial do país, deverá ainda ter seu nome aprovado após sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Um defensor da independência do BC, Meirelles informou que o governo remeterá ao Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional para retirar o status de ministério do Banco Central, que terá autonomia técnica e de decisão.

A favor da banca

Amir Khair, consultor na área fiscal e ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, sugere que pode haver conflito de interesses na atuação de Goldfajn e Meirelles. “Não vejo com bons olhos que se coloque dois banqueiros à frente da política monetária, porque eles tendem a atender no governo aos interesses do mercado financeiro - como juros mais altos”, disse ao Terra.

Segundo ele, a nova equipe econômica tem uma mentalidade “monetarista” e continuará apostando nos juros altos para conter a inflação. “Também vai tentar equacionar a questão fiscal cortando despesas, quando hoje o maior peso sobre as contas públicas são justamente os juros da dívida pública, as despesas financeiras do governo”, aponta.

Liberais - e um tucano

A equipe anunciada por Meirelles tem perfil destacadamente liberal e não é de se estranhar que a mídia conservadora elogie o time e alardeie que ele agradou ao mercado financeiro. Em todos os pronunciamentos até então, o ministro da Fazenda disse que a prioridade é mesmo o ajuste fiscal e o controle de despesas públicas.

Outro nome anunciado por Meirelles, Mansueto Facundo de Almeida Jr será o novo secretário de Acompanhamento Econômico. Ele também já trabalhou no governo, como coordenador-geral de Política Monetária e Financeira na, de 1995 a 1997, na gestão de Pedro Malan.

Foi assessor econômico do senador tucano Tasso Jereissati (CE) e é funcionário de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Licenciou-se em 2014 para trabalhar na campanha de Aécio Neves à Presidência da República. É filiado ao PSDB desde 1995.

Em entrevista ao Valor Econômico, em abril, Mansueto Almeida afirmou que a situação complexa das contas públicas só poderia ser contornada, no curto prazo, com aumento de carga tributária. Ele contudo, avaliou que não era certo que o governo Temer teria força política para aprovar algo como uma nova CPMF.

O aumento de impostos é uma bandeira que desagrada a um dos principais parceiros do golpe, o empresariado que tem como mascote o pato de borracha da Fiesp. Autor de um blog no qual sempre teceu críticas à condução da economia no governo eleito de Dilma Rousseff, Mansueto terá como foco, segundo Meirelles, a qualidade e eficiência das despesas públicas.

Influenciador do "mercado"

Funcionário de carreira do BC, Carlos Hamilton Araújo será o novo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Foi sempre uma voz crítica com relação à política fiscal no fim do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no primeiro mandato de Dilma.

À frente da Diretoria de Política Econômica do BC entre 2010 ao início de 2015, tornou-se responsável direto pela elaboração dos principais documentos publicados pelo BC, informa o Valor. Nessa posição, ganhou tanta credibilidade junto aos agentes financeiros que suas declarações tinham o poder de provocar “imediato realinhamento dos juros e do câmbio”.

O jornal conta ainda que, em abril de 2013, ele “não hesitou em ser mais conservador que Ata do Copom que marcou o início de um ciclo de alta de 350 pontos na Selic. Poucas horas depois da publicação da Ata, Carlos Hamilton alertou o mercado, durante seminário em São Paulo, que o balanço de riscos para a inflação era desfavorável e o Copom poderia intensificar o uso da Selic na condução da política monetária”, o que terminou ajudando a jogar uma pá de cal na estratégia de Dilma de baixar os juros.

Retrocesso na Previdência 

A Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda será ocupada por Marcelo Caetano, que já trabalhou no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele irá tocar a reforma da Previdência que, no prazo de 30 dias, deverá ser enviada ao Congresso Nacional. Caetano é economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ele defende a definição de uma idade mínima para a aposentadoria, regras de transição mais curtas, a desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo e a revisão das regras para pensão por morte, que ele considera muito generosas quando comparadas às de outros países. Caetano é um dos analistas para os quais o Brasil gasta muito com benefícios previdenciários, mesmo sendo um país relativamente jovem.

Depois a Previdência ter sido incorporada ao Ministério da Fazenda, o perfil do novo coordenador da área chega para referendar o trato do benefício não como questão social, mas contábil.

Privatizações na ordem do dia

Depois da repercussão negativa da ausência da presença feminina no primeiro escalão, a indicação de Maria Silvia Bastos para a Presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode ter atendido à necessidade de o governo melhorar sua imagem, colocando uma mulher em um cargo importante.

Mas pode significar também um enorme retrocesso para o país, reforçando as suspeitas de que esteja por vir nova leva de privatizações. A economista já atuou, nos anos 1990, como assessora especial para assuntos de desestatização do BNDES, da área financeira e internacional do banco.

“Se o passado explica alguma coisa, significa que é uma volta aos anos 1990", disse o economista Márcio Pochmann ao Valor, sobre a nomeação de Maria Silvia, que teria sido indicada pela Fiesp. Ela também integrou a equipe econômica do governo de Fernando Collor de Mello.

A avaliação é a de que, com a nova titular, o banco pode interromper sua rota de incentivo às empresas e ao investimento. Para Pochhmann, o foco poderá voltar a ser, a partir de agora, as privatizações, já sugeridas por Temer. Para o peemedebista, "o Estado não pode fazer tudo". O BNDES funcionava como "um hospital do governo", socorrendo empresas endividadas, resgatou Pochmann. 


Do Portal Vermelho, com agências

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