sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Questões raciais ainda são o grande desafio social nos EUA e no Brasil

 Os distúrbios que ocorreram e ainda ocorrem na cidade de Ferguson, nos EUA, confirmam a existência de problemas profundos na sociedade norte-americana, mas eles não poderão ser resolvidos sem uma correção significativa do modelo sociopolítico existente.

Por Tayguara Ribeiro


O impulso para os confrontos na região, localizada no estado do Missouri, foi o assassinato do jovem afro-americano Michael Brown (18) pelo policial Darren Wilson (28), há cerca de um ano. Na sua justificação, as autoridades declararam que Brown e seu amigo representavam perigo para a sociedade porque dez minutos antes do assassinato eles tinham assaltado uma tabacaria. Contudo, rapidamente se descobriu que Brown foi alvejado na testa quando estava de joelhos e com os braços levantados em sinal de rendição. Em geral, os habitantes da cidade consideram o ato do policial como um abuso e um assassinato com matriz racial.

Entretanto, este caso é apenas uma pequena exemplificação da maneira como os negros são tratados, de um racismo instituído em algumas camadas da sociedade e que é ignorado ou negligenciado. Segundo dados estatísticos alarmantes, atualmente nos Estados Unidos os policiais matam um jovem negro de até 25 anos a cada 28 horas. O caso de Ferguson parece ter aberto uma úlcera antiga da sociedade, trazido à baila problemas sociais históricos e mais uma vez coloca em dúvida o modelo sociopolítico que os norte-americanos veneram como sendo o ideal e como tal tentam impor a todo o mundo.

O elevado nível de desemprego entre a população afro-americana é um outro problema latente, que só ajudou a desencadear a atual situação, pontuou, na época do assassinato de Michael Brown, o jornal estadunidense Los Angeles Times. “O assassinato de Brown apenas deu início aos desacatos que foram amadurecendo ao longo de décadas: depois do declínio industrial dos anos 80, a cidade foi abandonada, mas para a maioria da população atual de Ferguson esta cidade ainda representa as oportunidades perdidas”, diz a publicação. Desde 2000 o nível salarial médio se reduziu em 30%, considerando a correção à inflação.

A situação é agravada pelo uso de armamento pesado por parte da polícia local, como blindados de guerra. Segundo declarou o presidente da associação Veterans for Peace (Veteranos pela Paz) Gerry Condon, “aquilo que se passa em Ferguson é o resultado da ideia nacional de que a repressão resolve os problemas”.

Guardadas as características históricas de formação de cada um dos países e as devidas ressalvas necessárias pelas diferenças entre as duas nações, os negros no Brasil também são vítimas constantes de violência policial, racismo, falta de oportunidades por conta de preconceitos raciais e sócias e enfrentam problemas similares aos afro-americanos.

Rotineiramente, a polícia no Brasil, em especial a do estado de São Paulo, apresenta números alarmantes. Vários estudos já apontaram que a Polícia Militar paulista mata mais do que as forças de segurança de vários países inteiros, incluindo EUA. Mesmo quando considerados os dados de um país com altos índices de violência como a África do Sul, o número de mortes provocadas pela PM de São Paulo é superior. Não obstante, as vítimas são jovens negros na periferia.

As informações levantadas pelo Mapa da Violência 2014 apontam que morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em 2012, de forma violenta. Números tão gritantes não permitem creditar tal situação a uma mera coincidência. Entre 2002 e 2012, por exemplo, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%.

O que estes números brasileiros e a situação criada pela morte de um jovem negro em Ferguson nos mostram é que mesmo com as especificidades de cada um dos países, está claro que as duas nações ainda possuem um grande desafio no combate ao racismo e no desenvolvimento de práticas que permitam uma maior integração social e econômica da população negra, consequentemente, mitigando atitudes que culminem na perda de vidas.


Fonte: Vermelho

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