quinta-feira, 12 de março de 2015

A Petrobras e o 13 de março, há 51 anos e agora

Os mesmos argumentos usados pela elite reacionária de hoje, que irá às ruas no dia 15 de março, já ocuparam as ruas em 1964 em manifestações que apoiaram o golpe militar
Reprodução
Os mesmos argumentos usados pela elite reacionária de hoje,
que irá às ruas no dia 15 de março, já ocuparam as ruas em
1964 em manifestações que apoiaram o golpe militar

O “13 de março” que passou à história foi o do Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1964. Tínhamos um governo de centro-esquerda, a esquerda dispunha de certa força e achava que tinha mais. O movimento social crescia.

Por Haroldo Lima*, para o Vermelho


Comando Geral dos Trabalhadores, Ligas Camponesas, Sindicalismo Rural, União Nacional dos Estudantes, Frente de Mobilização Popular, tudo pleiteando as “reformas de base”. Havia exageros e ilusões, mas nada que ameaçasse as instituições democráticas da época. O que existia mesmo era a esperança de que aquelas “reformas” dariam novo impulso ao país.

Os que usufruíam de privilégios sentiram-se ameaçados. Com a grande mídia, começaram a pregar o golpe. “Marchas” foram feitas supostamente para “salvar a democracia”. Três governadores perfilaram-se nessa cantilena. O governo americano engajou-se para “restabelecer a ordem” no hemisfério.

Quem estava no Governo tinha a impressão de ter o poder. Mas não tinha. Havia um “Almirante do Povo”, Cândido Aragão, comandando os Fuzileiros Navais, um “Marechal do Povo”, Osvino Alves, presidindo a Petrobras, um “dispositivo militar”, mais ou menos desconhecido. E só. O golpismo cresceu, capitaneado pelas forças mais retrógradas do país e, dezoito dias depois, o governo foi derrubado.

Para “salvar a democracia”, destruíram-na. E destroçada ela ficou por 21 anos. Os três “chefes civis” do Golpe foram alijados. O que governava São Paulo, Ademar de Barros, foi cassado e morreu no exílio. O que governava Minas terminou isolado na Oposição. E o principal deles, Carlos Lacerda, que governava o Rio, e que denunciava o “mar de lama”, foi preso em 1968. Parte da mídia golpista passou a funcionar com censores na redação.

O cotidiano mudou. Ao invés de passeatas, discursos, reivindicações, greves, essas coisas naturais à democracia, vieram “atos institucionais”, cassação de parlamentares e juízes, perseguições, intervenção em sindicatos, fim de eleições diretas, arrocho salarial, constituição outorgada, prisões, torturas e assassinatos.

A sociedade conseguiu por fim à ditadura, duas décadas depois e a preço elevado. Discutiu e votou uma Constituição, talvez a que defina mais “direitos” no mundo. Passou às eleições diretas. Chegou a eleger um presidente operário e depois uma mulher, fatos raros no planeta. O Brasil chegou a ser a 7ª economia do mundo, com uma novidade: retiramos da faixa de pobreza algo como 44 milhões de pessoas. Multidões tiveram, pela primeira vez, acesso regular a comida, a salário razoável, a carro, a casa própria, a universidade, a viagem de avião, isto que levou a colunista Danuza Leão a escrever, irritada, que corria o risco de “encontrar em Paris o porteiro do seu prédio”.

Problemas subsistem, outros surgiram, fruto da nova conformação social e das novas exigências. A maré dos negócios internacionais passou a ser de vazante. E o velho problema da corrupção reapareceu, só que desta vez com investigações liberadas e prisões de gente que sempre fez falcatrua e nunca foi presa.

A Petrobras, a maior empresa de capital aberto do mundo em produção de petróleo, que tem uma das maiores reservas de óleo do planeta e que descobriu e desbaratou uma quadrilha de facínoras que a saqueava, de repente é apresentada como uma empresa-problema, de pequeno valor, despertando em grupos externos interesses em sua privatização.

Após o “13 de março” de 1964, onde a Petrobras foi defendida, o golpismo recrudesceu, houve até movimentação de tropa estrangeira, e o Brasil foi derrotado, em 31 de março de 1964.
O “13 de março” de 2015 defende com destaque a Petrobras, orgulho de todos os brasileiros, que querem rigor na apuração e punição do esquema corrupto ali desmascarado, e a querem ilesa.

Diferentemente de 51 anos atrás, depois desse “13 de março”, o golpismo deve ser repelido com energia. Não poderemos brincar com nosso futuro, com a quebra das instituições democráticas, com um impeachment descabido da presidenta recém-eleita, com a volta do militarismo e coisas semelhantes. Tudo isso é amálgama de discurso antibrasileiro.

*Haroldo Lima é consultor de petróleo, ex- diretor geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, ex-deputado federal e membro do Comitê Central do PCdoB


Fonte: Vermelho

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