sexta-feira, 15 de agosto de 2014

EUA: imigração, um problema que não termina

Crianças imigrantes nos Estados Unidos

As milhares de crianças que chegaram sozinhas à fronteira sul estadunidense põem em pauta as flutuações da política em um país que paradoxalmente foi fundado por imigrantes. No atual ano fiscal, de outubro de 2013 até agora, os agentes da Patrulha Fronteiriça detiveram 62.998 menores, ainda que seu número tenha se reduzido quase à metade no último mês, segundo relatórios oficiais.


Em julho, os agentes detiveram 5.508 crianças, cifra inferior aos 10.628 presos no mês anterior, ainda que o governo não descarte a possibilidade de um aumento em uma data posterior.

Estas estatísticas frias não refletem suas vicissitudes. As milhares de crianças latinas que buscam cruzar a fronteira só podem ser comparadas àqueles que fugiam da fome ou das guerras na Europa e que foram recebidos em Ellis Island, em Nova York, a partir de 1892 e acolhidos por famílias e instituições em todos os Estados Unidos.

Segundo um comentário do jornal californiano La Opinión, ao contrário do que argumentam alguns políticos conservadores, os menores que chegaram em épocas passadas não foram deportados.

No entanto, os integrantes da atual onda migratória são detidos na fronteira entre os Estados Unidos e o México, a maioria proveniente de Honduras, El Salvador, Guatemala e México, e convertem-se em alvo de políticos que os acusam de trazer doenças e ameaçar a segurança pública.

A este respeito, o representante democrata por Illinois, Luis Gutiérrez, lamentou recentemente que alguns republicanos tratem os menores como párias, qualificando-os como "piolhentos, bandidos, narcotraficantes, mulas de narcos ou invasores".

Esquecendo seu passado, alguns estadunidenses, como a representante republicana por Minnesota, Michele Bachmann, qualificam os adolescentes como "invasores" e levantam vozes para que sejam deportados.

E ainda representantes como Robert Goodlatte (R- Virginia) e o senador pela Flórida, Marco Loiro, pressionam para que o Departamento de Segurança Nacional identifique "quantos menores centro-americanos foram bandidos criminosos".

Nessa linha porta-vozes conservadores acusam aos recém chegados de trazer doenças contagiosas, de serem criminosos e fragilizar a segurança cidadã.

Ainda mais longe vão grupos racistas como a tristemente célebre Ku Klux Klan (KKK), conhecida por suas ações contra os negros na década de 60, incluindo linchamentos, que agora agita suas minguadas forças contra os menores.

Na cidade de Welcome, no norte do estado da Carolina do Norte, o grupo lançou sua mensagem de ódio contra os pequenos imigrantes.

Em uma entrevista concedida no mês de julho à estação de televisão Al-Jazira America, membros da KKK na Carolina do Norte sugeriram que para acabar com o problema da "invasão dos indocumentados" era necessário "deixar um par de cadáveres na fronteira".

Segundo ativistas e grupos defensores dos imigrantes, a Klan, um grupo extremista que defende a supremacia da raça branca, a homofobia e o antissemitismo, se manteve muito ativa nas duas Carolinas durante os últimos meses com o desenvolvimento de campanhas de recrutamento em cidades pequenas, sob a mensagem da necessidade de "salvar a nação" dos ilegais.

Apesar de a influência do grupo agora ser bem menor se comparada com sua atividade na década de 1960, quando chegou a ter 60 mil membros seu trabalho é seguido pelas autoridades.

Enquanto isto acontece no interior do país, mais para a fronteira o tema dos jovens refugiados desperta o pior dos extremos do espectro político nos Estados Unidos.

Nessa linha, o governador do Texas, o republicano Rick Perry, empregou US$ 38 milhões para reforçar a presença da Guarda Nacional na fronteira e deter assim o fluxo de imigrantes indocumentados.

Também uma família em San Diego foi alvo de ameaças e comentários racistas por abrigar migrantes guatemaltecos que fugiram da violência em seu país.

O empresário Mark Kane recebeu mais de 100 mensagens telefônicas, sem incluir mensagens nas redes sociais onde foi ameaçado e criticado por ajudar uma família que solicitou asilo político.

Proprietário do restaurante Poppa's Fresh Fish Company, Lane assinalou que "a cada momento que toca o telefone já não sei se é alguém que quer me ameaçar, a mim ou a minha família, se são mensagens de apoio ou se é um jornalista. Mudou muito minha vida nestes últimos dias", relatou.

Enquanto esta é uma pequena mostra do ambiente no país, com um Congresso paralisado sobre o tema, o presidente Barack Obama, de férias na ilha de Martha's Vineyard (Massachusetts) até o dia 24 de agosto, poderia perfilar os passos que anunciou para enfrentar o problema migratório.

Obama deu a conhecer sua intenção de assinar outra ordem presidencial em uma conferência de imprensa a 31 de julho -similar à de Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA por suas siglas em inglês) - a qual poderia dar permissão a milhões de imigrantes sem documentos, que atualmente vivem no país, a permanecer nele sem o temor de ser expulsos.

Não obstante, o mandatário deverá analisar se suas ações servirão de argumentos aos republicanos para demandá-lo por exceder suas faculdades presidenciais.

Apesar da possível demanda que poderiam elaborar os republicanos da Câmara contra ele pelo suposto abuso do poder presidencial, Obama assegurou que isto não lhe impedirá, e que, pelo contrário, lhe dará mais uso a sua pluma para assinar ordens executivas se é que os republicanos não fazem seu trabalho de "aprovar leis".

A assinatura da ordem poderia ser realizada antes do fim do verão durante o recesso da Câmara, cujo regresso não ocorrerá até o mês de setembro.

Pelo visto, até agora, as flutuações na política do país se manterão para sempre e mais quando os que são minorias agora, em especial os latinos, ameaçam ser maioria nas próximas décadas.

O que se passaria se as então grandes ondas de imigrantes chegassem novamente da Europa, perguntam-se comentaristas políticos internacionais.

Fonte: Prensa Latina via Vermelho

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