Neste dia 12, Jamelão completaria 100 anos. A trajetória do tenor do carnaval carioca mostra uma face do racismo brasileiro.
Por Marcos Aurélio Ruy (*)
O tenor do carnaval e da dor de cotovelo: Jamelão
Jamelão enfrentou muitas adversidades para impor a sua voz no mundo discográfico. Mesmo com seu reconhecido talento, teve dificuldade para
Sua carreira começou em 1949, mas ganhou força a partir de 1952 quando o cantor passou a ser a voz principal em sucessão a Xandô da Mangueira. Encerrou carreira em 2006, dois anos antes de falecer. Jamelão passou a soltar a sua poderosa voz como corista de Francisco Alves nas rádios cariocas e numa noite assumiu o lugar do famoso cantor para interpretar música de Herivelto Martins. Sua voz forte e marcante jamais foi esquecida desde então.
Há duas versões para o seu apelido, contou ele. Uma afirma que um radialista lhe pôs pseudônimo, apresentando-lhe dessa forma. Na segunda versão, em entrevista ao Jornal do Brasil (1998), ele afirmou que o apelido "é coisa de garoto. Minha mãe era doméstica e trabalhava no Colégio Independência, na Rua Bela Vista, no Engenho Novo. A gente morava nos fundos do colégio, num barraco. Quando comecei a jogar futebol no Piedade Futebol Clube, a turma costumava sair e ir jantar num restaurante. Um dia me levaram para a gafieira e lá surgiu o nome Jamelão” ele acrescenta ainda que “o pessoal na brincadeira falou para o gerente que eu gostava de cantar” e acentua: “não é que eu gostasse, eu sabia as músicas da época, a gente cantava junto”, aí diz ele “o cara não sabia meu nome e foi para o microfone e anunciou Jamelão”, desde então o apelido pegou. “Quando fui para a Rádio Tupi, nos anos 1940, o Almirante, que era diretor, não queria que eu cantasse com o apelido. Queria me tirar da programação", relata Jamelão.
Além de ser o principal intérprete da Mangueira, ele passou a fazer parte da ala dos compositores da escola a partir de 1968. Quatro anos mais tarde gravaria um LP somente com músicas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues, de quem passou a ser considerado o maior intérprete. Em 1999 foi eleito por especialistas do Rio de Janeiro e de São Paulo como o “intérprete do século do carnaval carioca”.
Jamelão teve uma careira sólida com a gravação de dezenas de discos. Ele que morreu em 14 de junho de 2008 aos 95 anos; merece ser homenageado em seu centenário e nos 125 anos da Abolição dos escravos, por se um grande talento negro brasileiro e um dos nossos maiores cantores.
* Marcos Aurélio Ruy é colaborador do Vermelho
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