sexta-feira, 26 de abril de 2013

No Paraguai venceu o que comprou mais votos

Eleição de 2013 é a legitimação do golpe que
depôs Fernando Lugo em 2012
No bojo do triunfo da Associação Nacional Republicana (Partido Colorado), uma “sociedade anônima de delinquentes”, podemos afirmar que a sociedade política paraguaia é complacente com seus ladrões e verdugos e implacável com seus sonhadores.


Por Martin Almada, no Diálogos do Sul


Em 22 de dezembro de 1992, descobrimos três toneladas de documentos da política secreta de Alfredo Stroessner que permitiu hoje encurralar os genocidas de Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai (Operação Condor). É paradoxal que estes arquivos tenham sido considerados desde o primeiro momento como um acontecimento histórico nacional e internacional, provocando inúmeras publicações. A Promotoria Geral não investigou o conteúdo deste arquivo até hoje, consolidando a impunidade.

Veja o que já foi publicado sobre as eleições no Paraguai

Em 28 de agosto de 2008 a Comissão de Verdade e Justiça entregou aos Poderes do Estado o Informe Final com suas respectivas conclusões e recomendações. Antigos funcionários de destaque e repressores da ditadura stroessnista passaram a ser funcionários do Estado. Tampouco foram investigados pela Promotoria Geral os personagens da ditadura que atuavam através das seccionais do Partido Colorado governante durante os 35 anos da ditadura.

O terrorismo de Estado tem impressa as impressões digitais de Alfredo Stroessner e de seus sequazes. Hoje como ontem, os promotores, juízes, policiais e militares arremessam contra os defensores dos direitos humanos em vez de escutá-los e protegê-los.

Legitimação do golpe

A eleição de 21 de abril de 2013 é simplesmente a legitimação do golpe de Estado ocorrido no 22 de junho de 2012. O triunfo dos nostálgicos da ditadura permitirá a reinserção do Paraguai no concerto das nações na qualidade de Cavalo de Troia para obstaculizar a unidade latino-americana.

No Paraguai, uma vez mais a esquerda foi derrotada. O novo “patrão” dessa sociedade feudal é Horácio Cartes que durante a ditadura e depois na democracia amassou uma imensa fortuna “não santa”. Competiu com ele pelo cargo presidencial Efraín Alegre, também de tendência de direita que para fortalecer sua intenção de voto se aliou com o partido criado pelo também golpista general Lino Oviedo. Esta aliança resultou num tiro pela culatra.

O Condor continua voando

Como ha um profundo descrédito no sistema político grande parte da população compareceu a votar porque foi paga por seu voto utilizando para isso modernas tecnologias. Ganhou o que comprou mais votos ou seja, o que ocorreu em Assunção dia 21 de abril foi uma burla eleitoral.

Os graves problemas sociais não foram motivo de preocupação dos candidatos golpistas. Continuam os latifúndios, a corrupção, injustiça, o modelo político de prebendas, continua em vigência a doutrina de segurança nacional, falta de atenção médica, educação. Stroessner e sucessores escravizaram o povo paraguaio por meio do analfabetismo etc. Ademais se seguirá aplicando a receita neoliberal do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. O Comando Sul estadunidense seguirá com suas manobras antisubversivas em um país que se faz chamar democrático. É a aprova de que o Condor continua voando.

Também não se preocuparam com o que ocorreu em Curuguaty onde foram assassinados policiais e camponeses inocentes onde os conspiradores foram o Vaticano, os ganadeiros e plantadores de soja vinculados com as multinacionais como Monsanto, petroleira estadunidense Dahiva e a multinacional canadense Rio Tinto Alcan que explora o alumínio. A demanda apor terra pelos sem terra permitiu a direita desalojar sem violência do poder a esquerda com a cumplicidade do Congresso Nacional.

Só uma transformação radical da base cultural e moral da juventude permitirá ao Paraguai enfrentar o “retorno dos bruxos”.

*Martin Almada é ganhador do prêmio Nobel alternativo da paz e colaborador do Diálogos do Sul
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Fonte: Vermelho

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