sábado, 23 de fevereiro de 2013

Oscar acontece cercado de polêmicas e forte conteúdo político


A 85ª edição da premiação do Oscar 2013, que esse ano teve seu nome modificado do tradicional “Academy Awards”, para “The Oscars”, acontece no próximo domingo (24) e tem como marca registrada a forte conotação política.

Por Sheila Fonseca*, para o Portal Vermelho


A edição deste ano vem cercada de polêmicas como a recente detenção do cineasta iraniano Emad Burnat, que concorre ao prêmio de melhor documentário, ao desembarcar no aeroporto de Los Angeles e o conteúdo político dos indicados à premiação como “Lincoln”, “Argo”, “Django Livre” e “A Hora mais Escura”.

Segundo Neil Meron, co-produtor do Oscar, a mudança do nome para “The Oscars” tem a intenção de modernizar a imagem da premiação que estaria antiquada "Estamos fazendo uma mudança de imagem", revelou Neil Meron ao site The Wrap. Apesar da tentativa de modernização da imagem da cerimônia, a Academy of Motion Picture Arts and Sciences optou por tocar em antigos temas políticos sensíveis aos norte-americanos, revelando engajamento em suas indicações. 

Os filmes selecionados foram exibidos durante a corrida eleitoral presidencial norte-americana, e os concorrentes às principais premiações, de melhor filme, melhor diretor, e melhores ator e atriz, tem entre os mais fortes concorrentes, filmes que abordam a temática política norte-americana. 

O crítico de cinema José Geraldo Couto ressalta a maior politização na edição deste ano da premiação do Oscar, mas aponta a boa qualidade dos filmes indicados “Aparentemente, o clima está mais político por causa da presença de filmes que abordam questões controversas e candentes, como a ‘guerra ao terror’ e a escravidão e suas sequelas na América. Acho que as indicações se devem à qualidade dos filmes e à importância de seus temas. Não sei se haveria outros melhores a escolher. 

Penso que o filme menos politizado, entre os que concorrem aos prêmios principais, é também o mais fraco cinematograficamente ("O lado bom da vida"). Dito de outra maneira: não acho que tenha havido uma intenção dos votantes da Academia no sentido de esquentar politicamente o prêmio. Talvez a pergunta a ser feita (e que é mais difícil de responder) é: por que, numa temporada, produziram-se tantos filmes sobre esses temas?”, diz José Geraldo Couto. 

Indicados ao Oscar com temática política:
A Hora Mais Escura 
Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Edição, Melhor Edição de Som e Melhor Roteiro Original.

“A Hora mais Escura”, da cineasta norte-americana Kathryn Bigelow, aborda a controversa execução do lider da Al-Qaida Osama Bin Laden. Bigelow foi ganhadora do Oscar de melhor diretora em 2010 – sendo a primeira mulher a ganhar o prêmio – com “Guerra ao Terror”, que abordava a política de ocupação e guerra de agressão norte-americana no Iraque, e este ano concorre com “A Hora mais Escura” que trata dos 10 anos da caçada e execução do chefe da Al-Qaida, Osama Bin Laden. A polêmica em torno do filme - que também fala das técnicas de tortura utilizadas pela inteligência americana-, começou antes mesmo do seu lançamento, sendo considerado propaganda política do governo Obama e alvo de duras críticas, chegou a ter sua estreia adiada para o dia 6 de novembro, depois do término das eleições.

Recentemente o filme de Bigelow foi boicotado no Paquistão, onde recebeu duras críticas da opinião pública. O jornalista e colunista do jornal britânico Dawn, Nadeem F. Paracha, revelou que os estereótipos e equívocos na linguagem dos personagens e em algumas cenas do filme têm desagradado muitos os paquistaneses "Como um sucesso de Hollywood, que coloca tanto dinheiro em suas produções, pode errar em coisas tão simples?", indagou Paracha. "Em vez de o filme ser levado a sério, tornou-se uma piada entre os paquistaneses", completa.

Ainda segundo artigo de Paracha, os paquistaneses não entendem por que os personagens do filme são retratados com o idioma árabe, se no país, a população fala diversos dialetos e a língua oficial é o urdu.

Argo
Indicações: Melhor filme, Ator coadjuvante, Roteiro adaptado, Montagem, Edição, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem.

O thriller político Argo, do ator e diretor Ben Affleck, conta a história de como a CIA, com a ajuda de Hollywood, resgatou seis diplomatas americanos escondidos na embaixada do Canadá em Teerã durante a revolução iraniana de 1979. O incidente diplomático poderia ter decidido o destino do então presidente democrata Jimmy Carter. Segundo analistas, o filme teria causado impacto negativo na corrida presidencial do ano passado.

Lincoln
Indicações: Melhor filme, Diretor, Ator, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Roteiro adaptado, Fotografia, Montagem, Figurino, Direção de arte, Mixagem.

"Lincoln", de Steven Spielberg, foi agraciado pela academia com 12 indicações ao Oscar, e retrata um fragmento da história do 16º presidente americano em busca do apoio do Congresso para sancionar a 13ª emenda constitucional, que pôs fim à escravidão. A figura do presidente Abraham Lincoln sempre esteve cercada de controvérsias, despertando ódio e veneração, e tendo a sua imagem usada como ícone do “sonho americano”. O presidente Barack Obama e o partido Democrata respaldaram em diversos momentos a trajetória de Obama e do partido na figura de Lincoln.
Recentemente o ex-presidente democrata Bill Clinton, fez elogios ao filme durante a premiação do Globo de Ouro, em janeiro deste ano. Clinton citou o embate político vivido por Lincoln no filme fazendo alusão ao confronto entre democratas e republicanos no governo Obama. 

Django Livre
Indicações: Melhor Filme, Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Fotografia, Edição de som.
Desde seu lançamento, o filme Django, do diretor Quentin Tarantino, tem sido alvo de críticas e protestos. Associações norte-americanas de defesa dos direitos dos civis e da causa negra consideram o filme ofensivo. Bonecos promocionais que representavam os personagens do filme acabaram sendo retirados do mercado.

A trama gira em torno de um escravo libertado por um caçador de recompensas nos anos que antecederam a Guerra Civil e tem abordagem violenta. O diretor norte-americano Spike Lee qualificou recentemente o filme de "desrespeitoso", chegando a aborrecer Tarantino que classificou as críticas de Lee de “ridículas”. 

Para aumentar a polêmica em torno do filme, dias antes da estreia, ocorreu o massacre de 26 pessoas, sendo 20 crianças, na escola Sandy Hook, na cidade de Newtown, em Connecticut, e “Django Livre” entrou no centro da questão sobre desarmamento e a influência do cinema na violência da sociedade americana, levando Tarantino a adiar em uma semana o lançamento do filme. 

Tarantino revelou estar chateado com a polêmica em torno do filme: "Estou muito chateado. O filme não tem nada a ver com o massacre da escola”, afirmou.

Cineasta Iraniano Emad Burnat é Detido nos EUA
Na última terça-feira (19) o diretor de cinema palestino Emad Burnat, que concorre ao Oscar de Melhor Documentário com "Five Broken Camaras", foi detido no aeroporto de Los Angeles, onde desembarcou para assistir à premiação.

Burnat é co-diretor do filme "Five Broken Camaras" junto com o israelense Guy Daividi, e ficou detido durante uma hora e meia, com sua esposa e seu filho de oito anos "Apesar de ter apresentado o convite para a cerimônia do Oscar, isso não foi suficiente para as autoridades, que o ameaçaram de enviar de volta à Palestina", disse o cineasta e ativista dos direitos civis Michel Moore em seu Twitter ao comentar sobre o incidente que ocorreu terça-feira à noite. "Os agentes de Imigração e Alfândega não puderam entender como um palestino poderia ter sido indicado ao Oscar. Emad me enviou uma mensagem pedindo ajuda", acrescentou.

O crítico José Geraldo Couto salienta a dificuldade e aparente falta de traquejo da política externa norte-americana em lidar com a população palestina que ficou clara com a prisão de Burnat “A prisão de Burnat é lamentável sob todos os aspectos, e escancara a dificuldade que as autoridades norte-americanas têm em lidar com os árabes em geral, em especial com os muçulmanos e com os palestinos (caso de Burnat). 

Talvez haja uma ligação subterrânea entre alguns dos principais concorrentes ao Oscar (Argo, A hora mais escura) e esse incidente infeliz. Tanto nos filmes como na realidade vem à tona essa dificuldade de compreender e aceitar o outro.”, ressalta José Geraldo, e acrescenta “A indústria norte-americana do espetáculo tem uma capacidade quase infinita de absorver qualquer incidente e fazê-lo jogar a seu favor, isto é, promover mais ainda o espetáculo. Vamos ver como o acontecimento será abordado durante a cerimônia, se com as piadinhas reconfortantes de praxe ou com a seriedade que merece.” 

* Sheila Fonseca é jornalista


Fonte: Verrmelho

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