quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Vinte anos da UESC: uma luta iniciada pelos estudantes


Para relembrar a luta pela estadualização da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), nosso blog relembra texto de Jorge Barbosa, resgatando a história da batalha inicial empreendida por ele e outros estudantes/militantes do PCdoB que culminou com a estadualização das Faculdades de Ensino Superior de Ilhéus e Itabuna (Fespi) hoje UESC. O texto foi escrito ano passado quando decorridos vinte anos da estadualização. Leia o texto de Jorge abaixo:

No dia 5 de dezembro de 1991 foi sancionada a Lei 6.344 pelo então governador Antônio Carlos Magalhães que tornou a Fespi - Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna uma instituição de ensino superior pública e gratuita. Contudo, a luta pela estadualização da Fespi foi iniciada em 1982, precisamente no início do segundo semestre quando o então diretor-geral, Dr. Soane Nazaré, utilizando-se de uma diretriz do MEC, então Ministério da Educação e Cultura, repassou para o valor das mensalidades o déficit acumulado pela instituição, o que provocou um reajuste de mais de 140% (cem por cento a mais que a inflação da época). Tal medida revoltou os estudantes que através do DCE – Diretório Central dos Estudantes mobilizaram-se e em assembléia geral decidiram boicotar o pagamento das matrículas. 

Destacaram-se à frente do movimento os estudantes Davidson Magalhães (teórico do boicote e da estadualização da Fespi), Marina de Souza, então presidenta do DCE, Leonício Guimarães, Jorge Barbosa, Joabs Ribeiro, Carla Loureiro, Elaine Carvalho, Maria das Graças, entre outros.

O boicote foi vitorioso, o déficit foi expurgado e foi iniciada a campanha pela estadualização, com manifestações, caminhadas, greves, contatos com deputados estaduais e federais, audiência com o presidente José Sarney, que enviou recursos com o objetivo de por fim uma greve prolongada. Além de, conversas com o então governador João Durval, que disponibilizou verbas visando à redução do preço das mensalidades, audiência com o então governador Waldir Pires, que determinou a gratuidade do ensino na Fespi.

O curioso é que a campanha pela estadualização inicialmente era uma bandeira apenas dos estudantes, havia divergências dos funcionários e, sobretudo dos professores que não apoiavam a proposta por considerá-la temerária, uma vez que várias instituições estaduais eram mal administradas e desacreditadas. Porém, o modelo que tinha produzido a Fespi, baseado em subvenções da Ceplac e nas mensalidades dos estudantes estava falido. O movimento cresceu e se consolidou ganhando toda a comunidade universitária e o apoio dos mais diversos segmentos políticos da região e posteriormente, de vereadores, prefeitos e deputados, culminando após uma luta de nove anos, onde os estudantes sempre estiveram na vanguarda, com a efetiva estadualização. Foi uma luta com muitos protagonistas (dentre eles Déa Jacobina e Davi Pedreira, ex-presidentes do DCE) e nenhum dono.

Hoje a nossa UESC é uma das universidades estaduais mais respeitadas do Estado da Bahia e uma referência no ensino superior no Norte e Nordeste. Pública e gratuita, aberta a todos os filhos da região. Como era o nosso sonho.

*Jorge Barbosa, bancário e bacharel em Direito pela Fespi/Uesc

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