Para relembrar a luta pela estadualização da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), nosso blog relembra texto de Jorge Barbosa, resgatando a história da batalha inicial empreendida por ele e outros estudantes/militantes do PCdoB que culminou com a estadualização das Faculdades de Ensino Superior de Ilhéus e Itabuna (Fespi) hoje UESC. O texto foi escrito ano passado quando decorridos vinte anos da estadualização. Leia o texto de Jorge abaixo:
No dia 5 de dezembro de
1991 foi sancionada a Lei 6.344 pelo então governador Antônio Carlos Magalhães
que tornou a Fespi - Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna uma
instituição de ensino superior pública e gratuita. Contudo, a luta pela
estadualização da Fespi foi iniciada em 1982, precisamente no início do segundo
semestre quando o então diretor-geral, Dr. Soane Nazaré, utilizando-se de uma
diretriz do MEC, então Ministério da Educação e Cultura, repassou para o valor das
mensalidades o déficit acumulado pela instituição, o que provocou um reajuste
de mais de 140% (cem por cento a mais que a inflação da época). Tal medida
revoltou os estudantes que através do DCE – Diretório Central dos Estudantes
mobilizaram-se e em assembléia geral decidiram boicotar o pagamento das
matrículas.
Destacaram-se à frente do movimento os estudantes Davidson
Magalhães (teórico do boicote e da estadualização da Fespi), Marina de Souza,
então presidenta do DCE, Leonício Guimarães, Jorge Barbosa, Joabs Ribeiro, Carla
Loureiro, Elaine Carvalho, Maria das Graças, entre outros.
O boicote foi vitorioso, o
déficit foi expurgado e foi iniciada a campanha pela estadualização, com
manifestações, caminhadas, greves, contatos com deputados estaduais e federais,
audiência com o presidente José Sarney, que enviou recursos com o objetivo de
por fim uma greve prolongada. Além de, conversas com o então governador João
Durval, que disponibilizou verbas visando à redução do preço das mensalidades, audiência
com o então governador Waldir Pires, que determinou a gratuidade do ensino na
Fespi.
O curioso é que a campanha
pela estadualização inicialmente era uma bandeira apenas dos estudantes, havia
divergências dos funcionários e, sobretudo dos professores que não apoiavam a
proposta por considerá-la temerária, uma vez que várias instituições estaduais
eram mal administradas e desacreditadas. Porém, o modelo que tinha produzido a
Fespi, baseado em subvenções da Ceplac e nas mensalidades dos estudantes estava
falido. O movimento cresceu e se consolidou ganhando toda a comunidade
universitária e o apoio dos mais diversos segmentos políticos da região e
posteriormente, de vereadores, prefeitos e deputados, culminando após uma luta
de nove anos, onde os estudantes sempre estiveram na vanguarda, com a efetiva
estadualização. Foi uma luta com muitos protagonistas (dentre eles Déa Jacobina
e Davi Pedreira, ex-presidentes do DCE) e nenhum dono.
Hoje a nossa UESC é uma das
universidades estaduais mais respeitadas do Estado da Bahia e uma referência no
ensino superior no Norte e Nordeste. Pública e gratuita, aberta a todos os
filhos da região. Como era o nosso sonho.
*Jorge Barbosa, bancário e bacharel em Direito pela Fespi/Uesc
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