quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O voto consciente exige a análise do discurso da candidatura


Por Fátima Oliveira*
Os programas de TV das candidaturas balizam o voto, inegavelmente. É senso comum que as campanhas só deslancham com o horário eleitoral em curso, que quase todo mundo acha uma chatura, mas fica de olho; não fosse assim, não dariam notícias nem comentariam as “ratadas” e as impropriedades de muitas candidaturas na TV.
O horário eleitoral nutre as conversas sobre as eleições, e são as conversas entre iguais as definidoras das escolhas entre sicrano ou beltrano na hora de votar. A propaganda televisiva é o que mais contribui para fazer a cabeça, embora, não custa relembrar, na hora de pedir o voto, alhos e bugalhos se misturam no bom-mocismo de um tanto que é preciso paciência e esperteza políticas para que o voto seja consciente, ou seja, resultado da convicção de que a candidatura é a melhor opção, depois de conhecer as propostas que apresenta, e se a sua história de vida avaliza o discurso que está fazendo.
E quais seriam as razões que nos fariam sufragar um nome numa eleição?
Luciana Fernandes Veiga, em sua brilhante tese de doutorado “Em busca de razões para o voto: o uso que o homem comum faz do horário eleitoral”, cujo resumo é o que se segue, nos dá pistas de como vota o eleitor comum (renda, escolaridade e interesse  pela política baixos): “A expansão do marketing político televisivo e a sua crescente influência no processo eleitoral têm despertado a atenção de cientistas políticos. Diante do processo de personalidade da política decorrente da exposição direta do candidato ao eleitor por meio da televisão, o meio acadêmico aponta para a necessidade de adequação dos modelos explicativos de decisão de voto existentes a esta nova realidade.
Este trabalho tem por objetivo examinar como os eleitores processam as mensagens políticas divulgadas pelo horário gratuito de propaganda eleitoral e como as utilizam na decisão do voto.
O trabalho está baseado em uma investigação empírica realizada na ocasião da disputa presidencial de 1998, quando buscamos analisar o impacto persuasivo do horário eleitoral sobre o homem comum, este
definido segundo critérios de baixa escolaridade, baixa renda e baixo interesse pela política. O trabalho valeu-se de pesquisas qualitativas, com entrevistas em profundidade e grupos de discussão, realizadas durante todo o período da disputa.
Como resultado, verificamos que o homem comum tem a capacidade de suprir a escassez de conhecimentos sobre o jogo político e o funcionamento do governo com a sua ideologia política, a soma de estoques de conhecimentos e de valores extraídos de seu cotidiano e de noções fragmentadas recebidas pela mídia e a conversação. Os resultados obtidos apontaram que, a partir de sua ideologia
política, o eleitor raciocina sobre os candidatos, os programas de governo e os temas relevantes da campanha ao decidir o seu voto.
O horário eleitoral é visto como fonte importante de informação, na medida em que aumenta a
exposição dos políticos na mídia e oferece informações mais assimiláveis. O eleitor seleciona e processa as mensagens veiculadas pelas propagandas com base em seu estoque de conhecimentos e de valores. O horário eleitoral oferece argumentos para o eleitor defender sua atitude sobre o voto nas conversas do dia a dia, onde, de acordo com os dados empíricos, as opiniões se cristalizam” (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 2001). 
Enfim, precisamos nos convencer de que o melhor cabo eleitoral é quem conversa no cotidiano com o eleitor.
* Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.

Fonte: http://centrodeestudossindicais.wordpress.com

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