quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Impactos ambientais e sociais do Porto Sul


Por Jorge Barbosa*

Ao analisar friamente os benefícios do Porto Sul encontramos, segundo seus próprios idealizadores, a geração de mil e setecentos a dois mil empregos diretos e de acordo com a previsão dois empregos indiretos para cada um direto, ou seja, no máximo seis mil empregos, o que de acordo com a nossa ótica em perspectiva a tendência é de redução, uma vez que vivemos um acelerado processo de utilização da automação no processo produtivo o que tem reduzido substancialmente os postos de trabalho. Em uma grosseira comparação a hidrelétrica de Itapebi, funciona com menos de 50 empregados.
Do ponto de vista dos impactos ambientais terrestres e marítimos nos deparamos com a degradação total de 1800 hectares (18 milhões de metros quadrados) de vegetação destinados á agricultura e pequenos remanescentes de Mata Atlântica.  Ocupados pelo projeto, na realidade, a área desmatada deverá ser bem maior em função da implantação do canteiro de obras, sem falar que nas proximidades de tais projetos sempre surgem empreendimentos privados. Haverá também a fuligem do minério de ferro e seu efeito residual sobre toda a proximidade. Além disso, haverá o deslocamento de população principalmente na fase de construção o que certamente provocará novos aglomerados urbanos nas periferias de cidades como Ilhéus e Uruçuca. No mar, haverá o assoreamento de praias e as consequências das construções do quebra-mar, do píer e das necessárias drenagens, sem falar do maléfico efeito visual.
Acerca dos impactos sociais ocorrerá o deslocamento da população residente na área, trabalhadores rurais e pequenos agricultores e a transferência dos trabalhadores responsáveis pela construção, que pode favorecer ao incremento da prostituição e posteriormente de parte dos empregados contratados diretamente, fato que poderá provocar a ocupação irregular de novas áreas na periferia de cidades que já convivem com a favelização em seu entorno com Ilhéus e Itabuna. A cidade de Itacaré certamente sofrerá grande revés no seu principal produto, que é o turismo.
Não podemos esquecer que a implantação do Porto do Malhado, uma obra pequena em comparação ao Porto Sul, gerou a degradação total de duas belas praias como a Avenida e o Pontal, além da elevação do mar no bairro de São Miguel sem falar dos efeitos marítimos dos quais desconhecemos a realização de estudos. Em Pernambuco efeitos do Porto do Suape tornaram a praia da Boa Viagem, no Recife, imprópria ao banho em decorrência dos ataques de tubarões tigre.
Por isso acreditamos que o referido projeto deve ser transferido para uma área onde a degradação ambiental já está consolidada, citando como exemplo de preferência Porto do Malhado, e em segunda instância o Porto de Aratu, onde já existe um complexo bimodal. Por outro lado, é bom que fique claro que a implantação do Porto Sul não terá o caráter messiânico de redenção da região cacaueira, a não ser que acreditemos que tamanhos impactos sociais e ambientais versus a geração de no máximo seis mil empregos nos leve ao Olimpo.  O que necessitamos é de ações coordenadas e interligadas em toda a nossa região que tenham como finalidade fixar as comunidades em seus municípios de origem nas perspectivas do desenvolvimento sustentável, tanto no campo quanto nas cidades.
Finalmente cabe considerar, todo esse gigantesco empreendimento tem como objetivo o escoamento de produtos primários tanto agrícolas quanto minerais, as famosascommodities. Noutras palavras, passados mais de 500 anos perdura o modelo agroindustrial exportador.
Refletir é necessário, lutar é preciso!
 *Jorge Barbosa de Jesus – Bacharel em Direito pela FESPI/UESC

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